EM JEITO DE DESPEDIDA AO NOSSO IRMÃO JOSÉ RAMOS-HORTA

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Fernando Casimiro (Didinho)

didinhocasimiro@gmail.com

29.05.2014

Fernando Casimiro (Didinho)Aqui estou, de novo, a escrever sobre o Dr. José Ramos-Horta, "em jeito de despedida", citando o assunto da simpática mensagem que ontem me endereçou, a propósito do término, para breve, da sua Missão na Guiné-Bissau, enquanto Representante Especial para a Guiné-Bissau, do Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas Ban Ki Moon.

Desde que nos conhecemos pessoalmente em Julho de 2013 no nosso encontro de Lisboa, que mantemos contactos regulares, tendo como tema de fundo a Guiné-Bissau e os guineenses.

Pessoalmente, é uma honra ter um amigo como o Dr. Ramos-Horta; numa abrangência colectiva, é um orgulho ter um irmão como o Dr. Ramos-Horta!

Em jeito de despedida, de uma despedida que será sempre um "até já", quero aproveitar para render a minha justa e merecida homenagem ao nosso ilustre irmão timorense/guineense, a quem num dos meus anteriores artigos designei como "(...)  a PONTE, pela qual os guineenses podem atravessar para a outra margem, aquela onde, juntos, unidos e comprometidos pela causa e pela casa comum, faremos da nossa Guiné-Bissau, a GUINÉ-BISSAU POSITIVA, o PARTIDO DE TODOS OS GUINEENSES!"

Desde que chegou à Guiné-Bissau em Fevereiro de 2013 para uma Missão considerada por muitos, de impossível, o Dr. Ramos-Horta nunca deixou de TRABALHAR, envolvendo-se para lá dos pressupostos protocolares da sua Missão, contagiando todos, directa ou indirectamente, na busca de melhores vias; de melhores soluções, com base no diálogo, no respeito pela diferença, na tolerância, na inclusão de todos, sempre num clima de Paz e Harmonia, visando a retoma da confiança entre os guineenses, por um lado; e, por outro, entre a Comunidade Internacional e a Guiné-Bissau.

O Dr. Ramos-Horta foi excepção à regra do típico Representante Especial do Secretário-Geral da ONU que tem passado pela Guiné-Bissau ao longo dos anos e que de certa forma, simboliza os sucessivos falhanços da actuação das Nações Unidas no nosso país.

Um Prémio Nobel da Paz digno da atribuição que lhe foi conferida em 1996, que comprovou, nesta sua Missão na Guiné-Bissau, que é mesmo uma Pessoa de Paz!

Não se cultiva, nem se promove a Paz e muito menos a reconciliação entre irmãos desavindos num país como a Guiné-Bissau, no conforto do Gabinete de trabalho do Representante Especial do Secretário-geral da ONU e tendo como interlocutores apenas o corpo diplomático acreditado no país, em jeito de "encontros conspirativos", ou as principais figuras do Estado.

Não se cultiva, nem se promove a Paz e muito menos a reconciliação entre irmãos desavindos, num país como a Guiné-Bissau, tomando partido deste ou daquele; desta ou daquela organização; ou fazendo das Forças Armadas a razão de todos os problemas do país.

O Dr. Ramos-Horta fez a diferença, TRABALHANDO para a Guiné-Bissau e para os guineenses; indo ao encontro das pessoas, viajando pelo país, misturando-se com as populações, inteirando-se dos seus problemas, dos seus desabafos, em jeito de trabalho de campo, recolhas fundamentais para avaliações, tendo em conta a viabilização da sua Missão na Guiné-Bissau.

O nosso ilustre irmão timorense demonstrou inteligência e coragem nas abordagens delicadas que nunca deixou de fazer, sempre que achou que era oportuno fazê-las, a bem de todo um processo visando a edificação e sustentação de um clima de Paz,  lembrando a TODOS, como escreveu em tempos A PAZ TEM QUE NASCER NOS NOSSOS CORAÇÕES: Não tenho outra agenda senão contribuir com algo tendo em vista lançar e fazer germinar na Guiné-Bissau as sementes de uma cultura e prática de diálogo, tolerância e reconciliação, para que a tão desejada paz não seja aquela linha no horizonte que ilusoriamente parece próxima mas que se afasta à medida em que temos a ilusão de que estamos a chegar lá. A paz tem que nascer nos nossos corações, nas nossas casas, tabancas, escolas, bairros, província. E isto é um processo educativo e transformativo moroso que requer compromisso e paciência.

Foi um grande desafio para o Dr. Ramos-Horta TRABALHAR com as autoridades de Transição da Guiné-Bissau, para a reposição da ordem constitucional no país.

Questões de fundo, numa perspectiva de fraternidade e solidariedade para com a Guiné-Bissau e para com o povo guineense foram determinantes no posicionamento que marca toda a sua Missão, a meu ver, na Guiné-Bissau. Perante um bloqueio internacional imposto ao país devido ao golpe de Estado de 12 de Abril de 2012, bloqueio esse compartilhado pela CPLP como seria possível viabilizar a organização e realização de eleições presidenciais e legislativas na Guiné-Bissau, sendo que, antes disso e o tempo estava a passar sem nada feito, era preciso criar condições e realizar o recenseamento eleitoral no país e na diáspora?!

O Dr. Ramos-Horta entra em cena e convence os seus/nossos irmãos timorenses da necessidade de se apoiar o processo de transição na Guiné-Bissau, mesmo contrariando o posicionamento da CPLP, pois caso contrário, não seria possível ultrapassar uma série de obstáculos, não só para a viabilização das necessidades para a concretização do processo eleitoral, mas igualmente sobre aspectos de ordem humanitária, agravadas com o bloqueio, com as sanções impostas à Guiné-Bissau.

Timor Leste, que merece igualmente o meu agradecimento, fez tudo o que foi solicitado financeiramente; fez tudo o que era suposto fazer a nível diplomático, para tentar esclarecer, sobretudo no âmbito da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) que era preciso compreensão, tolerância, solidariedade e apoio à Guiné-Bissau, para que, de facto, a reposição da ordem constitucional fosse uma realidade.

Vários governantes, entre eles o Primeiro-Ministro de Timor-Leste, o Comandante Xanana Gusmão visitaram a Guiné-Bissau, ajudando na sensibilização, na partilha de experiências com políticos e militares guineenses, tudo, porque acharam e bem que não se devia virar as costas a um país e a um povo irmão num momento que mais precisavam de solidariedade!

Timor-Leste,não se ficou pelo apoio material e financeiro, pois enviou equipas de técnicos que montaram/monitoraram toda a estrutura de suporte e realização do processo eleitoral conjuntamente com as estruturas institucionais da Guiné-Bissau!

O Dr. Ramos-Horta, foi capaz de fazer entender, de forma sustentada, em momentos de disputas e em diversos palcos, para diversas plateias, que ainda que a CPLP seja uma Comunidade da qual a Guiné-Bissau é um Estado-Membro, não deixa de ser uma realidade significativa, quanto baste, o facto de a Guiné-Bissau estar inserida numa Comunidade Regional, a CEDEAO da qual é igualmente um Estado-Membro e à qual a ONU atribuiu a liderança na busca de saídas para a crise político-militar resultantes do golpe de Estado de 12 de Abril de 2012.

Foi capaz de defender o bom nome da Guiné-Bissau, em matérias tão delicadas, como o narcotráfico, a criminalidade acentuada, por exemplo, o que, por si só, contribuiu para a limpeza de imagem da nossa terra perante um mundo desconhecedor da verdadeira realidade da Guiné-Bissau, desinformado ou manipulado!

Foi capaz de desbloquear diversas situações de ruptura negocial entre o Governo de Transição e os sindicatos, sobretudo nos sectores chave, como a Saúde e a Educação.

É óbvio que todo o processo de Transição na Guiné-Bissau, entre altos e baixos, como não podia deixar de ser, mas que culminou com sucesso, foi fruto de TODOS, mas dentre TODOS, para mim, a figura chave de todo o processo, foi sem dúvida, o Dr. José Ramos-Horta!

No meu artigo de 06.07.2013 OBRIGADO IRMÃO JOSÉ RAMOS-HORTA! escrevi o seguinte: Hoje, 06.07.2013, finalmente, tive oportunidade de conhecer, pessoalmente, o Dr. José Ramos-Horta, que vejo e sinto que é de facto, mais do que um amigo, um apaixonado, pela Guiné-Bissau. O Dr. Ramos-Horta, é um verdadeiro irmão dos irmãos guineenses, por isso, lanço o desafio às autoridades da Guiné-Bissau de concederem a cidadania honorária da Guiné-Bissau, ao nosso ilustre irmão José Ramos-Horta!

Hoje, 29.05.2014 tendo em conta o sucesso da Missão do Dr. José Ramos-Horta na Guiné-Bissau, a todos os níveis e que culminou com a realização de eleições presidenciais e legislativas, e a poucas semanas do final de uma Missão demonstrativa de que, nada é impossível quando há determinação, capacidade de liderança, colaboração/entreajuda das pessoas, quero acrescentar ao desafio lançado em Julho de 2013 às autoridades de Transição da Guiné-Bissau (e incluir no pedido de hoje às autoridades eleitas nas recentes eleições presidenciais e legislativas), que seja atribuída a mais alta distinção da República da Guiné-Bissau, a Medalha Amilcar Cabral, ao nosso ilustre irmão timorense/guineense, Dr. José Ramos-Horta e que uma menção especial, de referência fraterna seja dedicada a Timor-Leste, em jeito de promoção da criação de uma Associação de Amizade Guiné-Bissau/Timor-Leste!

Ao meu amigo e irmão Dr. Ramos-Horta, muito obrigado e até já!

De: Jose Ramos-Horta

Para: Fernando Casimiro

Data: 28 de Maio de 2014

Assunto: Em jeito de despedida

Meu Caro Amigo Didinho,

Não sei se teve acesso a minha "Carta Aberta aos Irmãos Guineenses".
Era a minha última mensagem.

Agora estou mesmo a começar a arrumar as malas; estou a poucas semanas de
deixar o chão sagrado desta Terra de Deus.

Tendo-o conhecido não quis deixar de enviar uma pequena mensagem. Espero
poder vê-lo em pessoa em Lisboa quando por la passar, provavelmente no dia
-- de Junho.

Só queria dizer que de tantos escritos que fui lendo ao longo de meses, os seus
foram sempre os mais sóbrios, equilibrados, revelando muita ética, sensibilidade.
Pena que não esteja na GB para dirigir uma revista, a Rádio Nacional ou a TV,
para oferecer a esta sociedade um espaço e oportunidade de informação e debate
sérios, pedagógicos, que informam e formam.

Por mim, fiz o que soube (pouco) e pude (também pouco) para "empurrar" o processo de transição até a sua conclusão, o regresso a Ordem Constitucional.

Os Irmãos Guineenses deram lições de civilidade impar; as muitas centenas de observadores eleitorais que acorreram a esta bela Terra para monitorar os atos eleitorais terão regressado aos seus países (e meu), inspirados pelo comportamento exemplar, cívico, dos Guineenses; alguns terão ficado embaraçados quando comparam as eleições nos seus próprios países com o que testemunharam aqui na Guine-Bissau.

Meu Caro Amigo, obrigado pelas suas palavras amigas, pela confiança e compreensão reveladas em relação a minha pessoa.

Não pude fazer melhor. Pelos erros penitencio-me. O que importa é que os Irmãos Guineenses têm uma nova oportunidade, um presente menos pesado, um futuro mais prometedor.

Uma parte de mim ficará aqui.

J. Ramos-Horta

 

Carta Aberta aos Irmãos Guineenses

A PAZ TEM QUE NASCER NOS NOSSOS CORAÇÕES José Ramos-Horta 13.07.2013

OBRIGADO IRMÃO JOSÉ RAMOS-HORTA! 06.07.2013

José Ramos-Horta

PARABÉNS AO DR. RAMOS-HORTA 22.06.2013

A Guiné-Bissau é a soma dos interesses de todos os guineenses E NÃO DOS INTERESSES DE UM GRUPO OU DE GRUPOS DE GUINEENSES! Didinho


VAMOS CONTINUAR A TRABALHAR!

Cultivamos e incentivamos o exercício da mente, desafiamos e exigimos a liberdade de expressão, pois é através da manifestação e divulgação do pensamento (ideias e opiniões), que qualquer ser humano começa por ser útil à sociedade! Didinho

O MEU PARTIDO É A GUINÉ-BISSAU!

 

MAPA DA GUINÉ-BISSAU


VAMOS CONTINUAR A TRABALHAR!

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