EDUCAÇÃOREFLEXÃO PARA O DEBATE INEVITÁVEL NA PROJECÇÃO DO DESENVOLVIMENTO
 

Prof. Mamadu Lamarana Bari

mlbarry1@gmail.com

14.10.2007

 

                 “A Educação é sempre um investimento de longo prazo e que reverter políticas e planos nunca avaliados e sempre interrompidos é ainda mais longo e pesado”.

Dulce Borges 
 

Estimados concidadãos, com a abertura de um novo espaço cidadão para refletir problemas educacionais guineenses, abre-se uma nova era de discussão sobre o assunto muito importante na vida de uma nação e do seu povo, sobretudo no que respeita à valorização profissional e à formação da consciência cidadã.  

A Educação é um bem social, cujo investimento tem como retorno a prática da cidadania, a tolerância democrática, o cultivo da verdade, enfim, a edificação do templo da virtude humana que vencerá o mal de todos os males - o vício. É do vício que se atrai o culto da mentira, da corrupção, da desonestidade. Em síntese, o vício conduz à falta do compromisso cidadão. Portanto, o dever cidadão é combatê-lo com a arma do Saber. 

Prescindir a Educação a um povo é como apostar na edificação de uma nação sem infra-estrutura social e política, base para a formação de um cidadão consciente do dever pátrio. Ao se rever as estatísticas sobre a Educação na Guiné-Bissau, verifica-se que pouco ou nada se acrescentou ao longo destes 33 anos da sua emancipação política, apesar do país hoje contar com quadros formados em número suficiente para suprir a carência que apresentava antes e depois da independência, até o final da década de 80.

Se numa primeira fase, nos cinco anos do pós-independência, havia poucos quadros formados, depois dessa altura a situação inverteu-se positiva e gradualmente, de ano para ano, quer a nível de quantidade, quer a nível de qualidade e diversidade das áreas de formação dos quadros guineenses” (Didinho, 2006).

Enquanto isso, as pedras bases que são o Ensino Básico e o Ensino Médio e Fundamental continuam se definhando, esperando por políticas públicas que venham contemporizar as carências que neles se avolumam a cada dia. “Hoje em dia, os indicadores sociais da Guiné-Bissau, em especial da Educação,  são dos mais baixos da sub-região. Em cada 100 mulheres, 85 são analfabetas, enquanto que 53 homens em cada 100 são analfabetos (Geraldo Martins, 2001). Embora tenha havido um progresso enorme entre o período de meados de sessenta (11.514 alunos) para meados de dois mil (123.307 alunos (Huco Monteiro, 2005), em termos de efectivos no ensino básico, o grande problema continua a ser a permanência das crianças nas escolas e a qualidade da docência. A diferença entre os ingressos e aqueles que completam o ciclo completo do ensino básico é ainda abismal, muitas crianças abandonam a escola (em particular as raparigas) antes de completarem todo o ciclo (6ª classe, em virtude da unificação do ensino). Um outro problema é a qualidade dos professores. Mais de 50% professores que leccionam nas escolas primárias não têm formação para o cargo da docência” (Didinho, 2006)1.

Em 1976 falava-se sobre o alcance da meta de 10% da taxa de escolaridade, após dois anos de independência, taxa essa maior que a de toda a África Ocidental acima do Equador. Entretanto, a taxa de analfabetismo ainda não havia saído do umbral dos 95%.

Grandes investimentos foram realizados no setor da Educação. O país chegara a concentrar o maior número de especialistas internacionais na área. Técnicos de altos gabaritos vieram de todos os cantos do mundo: de Cuba, da então República Democrática da Alemanha – RDA, da então União das Repúblicas Socialistas Soviéticas – URSS, das ONG´s, uma das quais era dirigida pelo saudoso e eminente cientista social brasileiro, o Pedagogo Paulo Freire, além da presença de um número substancial de professores brasileiros, portugueses e russos.  Enfim uma gama de valiosas contribuições foram deixadas na Guiné-Bissau, mas poucas puderam ser aproveitadas para que hoje em termos de uma política educacional se pudesse dizer que frutos foram colhidos das sementes ontem lançadas.

Posto isso passa a pairar no ar algumas indagações sobre o porquê desse atraso no setor educacional se o país conta hoje  com um grande número de quadros, muitos dos quais atuando como professores em outros países?  A resposta certamente virá através de uma outra pergunta formulada. Quantos destes quadros formados encontram-se hoje na Guiné, e quantos dos que lá estão são empregados?  

É louvável investir em criação de Universidades ou conceder autorização para a saída de jovens que pretendem se formar no exterior, mas de nada adianta se não houver uma política educacional criteriosa e capaz de reintegrar os egressos das universidades nacionais e estrangeiras, no país. Esta lacuna além de não trazer nenhuma perspectiva para o desenvolvimento do que se almeja, cria a revolta e a frustração justificativas de acesso à porta de saída para muitos jovens recém formados em busca da suposta sorte que julgam ser-lhes negada no país. Com a fé de se tornarem vencedores em terras alheias, muitos acabam se resignando com a primeira sorte que lhes aparece, trocando muitas vezes seus diplomas conquistados à custa de muitos sacrifícios nas mais conceituadas universidades estrangeiras por um cartão de ponto na construção civil (obras), em cidades europeias, algumas das quais de onde são originários seus diplomas. Tem-se aí o que pode ser chamado de Paradoxo do Diploma2 . Além de não se esquecer que a base educacional de um país deve se assentar em Ensino Básico, Médio e Fundamental. Uma boa estrutura universitária é conseqüência de um bom investimento nessas três pedras basilares da educação. 

Caros concidadãos, por estas razões, conclama-se a todos para uma reflexão tomando como ponto de referência este pensamento de Dulce Borges, uma educadora guineense, como bem afirmou Didinho, ela foi positiva no período positivo em que todos nós sonhávamos com uma pátria ideal e um futuro melhor. Não apenas convidam-se a todos para esta reflexão, mas também se incentivam para que os temas de debates possam guardar relação com este assunto de suma importância em termos de compromisso educacional e de formação da consciência cidadã. Tem-se a plena convicção de que a contribuição de cada um não só irá somar, mas também transformará o seu gesto num efeito multiplicador de valores éticos e morais, bases para a formação de cidadãos compromissados com o ideal de servir e amar a sua pátria, visto só conciliando estes dois atributos é que se constrói o Progresso e atinge-se o Desenvolvimento que tanto se almeja. Nesta base, lança-se um apelo cidadão a todos os que desejam fazer desta terra a sua pátria querida, a darem seus contributos, levando em conta a seguinte reflexão da cidadania. 

“Partindo do princípio que a cidadania deve ser a referência motivadora da participação dos guineenses no debate sobre a situação do país, a "Partilha de Ideias" que me foi apresentada deve ser uma causa pela qual é preciso um envolvimento amplo da sociedade civil (aberta a experiências e participações de amigos da Guiné-Bissau) na busca de respostas e soluções para os problemas que continuam a afectar o nosso desenvolvimento”. (Didinho, 2006). 

Que sirva esta reflexão como um balão de oxigénio para o nosso trabalho em prol do Progresso e Desenvolvimento da Guiné.

 

Temas a título de sugestões para debate: 
 

  1. A Educação e a Responsabilidade Social: um exercício na reconstrução de sujeitos;
  1. Tecnologia, Educação e o Processo do Desenvolvimento: idéias e debates;
  1. A Educação no Contexto Global: Os interesses econômicos (re)orientam o perfil do mercado;
  1. A Formação Superior, sinônimo ou antônimo da empregabilidade;
  1. A Modernidade e a Educação: um olhar singular ou plural do mundo global;
  1. A Educação e a Consciência: um elo na formação cidadã.

PROJECTO GUINÉ-BISSAU: CONTRIBUTO - LOGOTIPO

VAMOS CONTINUAR A TRABALHAR!

Projecto Guiné-Bissau: CONTRIBUTO

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