A SAÚDE DOS GUINEENSES NA GUINÉ E NA DIÁSPORA

Prof. Joaquim Tavares

Prof. Joaquim Silva Tavares (Djoca)

joaquim.tavares15@gmail.com

14.03.2010

 

 

 

 

Editorial de Março

 

O País onde o tempo parou!

 

Há 3 dias atrás, recebi imagens de uma equipa de médicos italianos em missão de solidariedade na Guiné; das muitas imagens “chocantes”, mesmo para quem pratica medicina há mais de 20 anos, uma se destacou: se tivermos a permissão da dona Clementa e da equipa médica italiana, vamos ilustrar este editorial com a fotografia do que penso ser um caso avançado de Condiloma Acuminado (HPV Wart - Human Papilloma Virus).

Desde já agradecemos à Dona Clementa e à equipa médica italiana pelo brilhante trabalho de caráter humanístico e de solidariedade que fizeram (infelizmente, é o que a Guiné tem vindo a fazer desde a independência: agradecer, agradecer, agradecer); Penso que já era tempo de fazermos mais por nós próprios, do que esperar eternamente por caridades…

Como é que um caso como este chegou a esse extremo?

1-  Falta de prevenção: Sabemos que, devido às carências sociais inerentes a uma sociedade permanentemente em conflitos sociais e políticos, a promiscuidade sexual se tornou numa prática tolerável e remunerável; e na maioria das vezes, ninguém usa proteção (condoms, preservativos).

 

2-  Tabu (preconceito, vergonha, chamem-lhe o que quiserem): por vergonha ou receio, ela não deu a conhecer ao médico/enfermeiro a sua aflição até chegar a um estado avançado.

 

3-  Condições económicas: Por se ter relegado a Saúde a uma importância mínima nas prioridades do País, a carência de infra-estruturas, a falta de aposta no incentivo (monetário, didático), levou muitos guineenses a apostarem mais em “check ups” (visitas periódicas aos médicos) no Senegal ou Portugal; Obviamente, só os que têm meios podem fazer essas visitas; o que cria um paradoxo: acumula-se capital com mão-de-obra,”suor” guineense e grande parte desse capital serve para melhorar a qualidade de vida, a promoção intelectual e profissional de cidadãos/médicos desses países…. Fuga de divisas, fuga de divisas, fuga de divisas…

 

4-  Se a maioria dos médicos guineenses que decidiram ficar nos países onde se formaram, tivesse decidido voltar à Guine praticar medicina, poderíamos evitar o catastrófico estado em que se encontra a Saúde na Guiné-Bissau? DUVIDO, aliás, NÃO: acredito do fundo do coração que o nível de conhecimentos adquiridos nos 5 a 7 anos de estudos é mais ou menos equivalente em qualquer parte do mundo; neste momento, temos muitos médicos guineenses a trabalhar na Guiné e se lhes fossem dadas as mínimas condições de trabalho, poderiam desempenhar um grande papel na prevenção e tratamento de inúmeras doenças; No meu caso concreto, sei por experiência própria, quando tomo férias de 2 semanas e volto para o trabalho, perco um pouco das minhas habilidades e fico desatualizado em certos aspectos, porque durante esse período surgiram novas recomendações…

Imaginem um colega na Guiné, sem acesso à Internet, sem bibliotecas nos hospitais, sem possibilidades de pagar despesas par ir a conferências médicas para se poder atualizar e, ainda por cima, sem materiais e medicamentos com que trabalhar.

Necessitamos de muita reflexão, ideias, reuniões de “cabeças”, e, acima de tudo, consciencialização das nossas autoridades governamentais no sentido de se priorizar a Saúde e a Educação como verdadeiros veículos da RECONCILIAÇÃO; sem mente sã e sem corpo são, qualquer conversa de reconciliação ou desenvolvimento será pura especulação.

Como se pode falar de reconciliação quando para um simples controlo da diabetes, temos que ir ao Senegal (are you kidding me? estamos a brincar? Que tipo de País é este?); E os que não têm dinheiro par ir ao estrangeiro? Morrem de coma diabético? Amputam-lhes os dedos, porque deixaram avançar as complicações da Diabetes até muito tarde e médicos Italianos, em missão de caridade, tiveram que os amputar.

Não tenhamos ilusões meus amigos: Guiné ka sta sabi, como alguns comentadores nos têm estado a sugerir. A Guiné está moribunda e vai exigir muito sacrifício de todos nós para se poder curar.

Desde já, convido/desafio qualquer colega ginecologista a fazer um artigo sobre o Human Papilloma Virus (genital warts), porque juntamente com o HIV, é um problema grave de Saúde Pública - a nossa Epidemia Silenciosa.

Apresento algumas imagens desta calamidade e, se tivermos autorização da equipa acima mencionada, disponibilizamos também imagens desse caso Guineense (para os que se impressionam facilmente, peço-lhes para não verem as imagens.

Obrigado!

De um Guineense Desiludido mas Esperançado!

Djoca!

 

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