A SAÚDE DOS GUINEENSES NA GUINÉ E NA DIÁSPORA

Prof. Joaquim Tavares

Prof. Joaquim Silva Tavares (Djoca)

joaquim.tavares15@gmail.com

05.05.2010

 

 

Editorial de Maio

Não podia começar este editorial sem dar os meus parabéns à Associação Contributo pela sua criação. Faço votos para que concretize a faceta Humanista e Altruísta que levou à sua formação. É altura de olhar em frente e contribuir para que a Guiné seja outra vez vista como um exemplo de Carácter, de Dignidade, de Justiça e não, um covil de traficantes de drogas e promotores da barbaridade!

Há momentos na vida que determinam o destino (fate) de um ser Humano: essa encruzilhada em que se determina se estamos destinados a triunfar ou “perder-se” na vida...

Numa manhã de Verão de 1991, sentado no banco de um jardim em Toronto (Canadá), foi esse pensamento que me veio à mente. Sem Visto (Visa) para regressar aos Estados Unidos, sem dinheiro para regressar à Guiné para obter o visto de reingresso nos States, parecia que o meu destino estava selado, rumo ao falhanço, com tudo o que isso significava: toda a esperança (Hope) depositada em mim pelos meus pais, familiares e amigos, estava em vias de ser só isso: Esperança.

Felizmente, as coisas melhoraram desde então...

Um dos aspectos positivos das sociedades como a Americana, é o constante incentivo moral e não só, aos profissionais da área da Saúde, com o intuito de extrair o máximo do seus potenciais a nível intelectual e cientifico. No convite de candidatura a “Fellowship”no Colégio Americano de Médicos de Medicina Interna que recebi o ano passado (junto vai a cópia), ao lê-lo, pensei para comigo: devem estar a referir-se a uma outra pessoa! Não sou tão bom como eles me querem pintar!!!

Mas, ao ler as passagens, percebe-se que o objectivo é fazer qualquer um tentar viver à altura da ”pintura” que fazem de si... Assim avança a ciência, assim se melhoram os profissionais.

Assim deveríamos fazer na Guiné, em vez de perdermos tempo e energia matando uns aos outros, ameaçando fuzilar mulheres e crianças, e adiando o nosso lugar no seio de sociedades onde os cidadãos têm opinião e são julgados pelas suas competências técnico-profissionais e não pela quantidade de drogas que podem distribuir ou pela capacidade de de tirar a vida ao vizinho.

Quando recebi esse convite (fellowship representa  a consagração, a coroa de glória para qualquer médico  nos Estados Unidos), não hesitei :

1 - Tinha absoluta confiança de que a minha candidatura iria ser aprovada;

2 - Sabia que essa viagem a Toronto iria ser a minha jornada de reconciliação com  a cidade de Toronto (a minha última visita deixou-me um sabor amargo, de quase derrota, na boca...e sou dos que nunca se conformam com a palavra derrota....

Para fazer justiça a esse período de 3 dias de Verão (o meu “Verão do nosso descontentamento”) houve aspectos positivos, como ver o “lado bom dos Guineenses”. Três compatriotas nossos (Epifânio, Tcherno e Geraldo Furtado) receberam-nos de braços abertos (eu e mais um colega Argentino), compartilhando a pouca comida que tinham e dando-nos alojamento. Também tive oportunidade de ver e jantar com o meu “long lost tio” Sebastião de Carvalho, que não via há mais de 10 anos...e desde então, nunca mais voltei a vê-lo.

Os canadianos (ao contrario dos americanos, que vivem para trabalhar), trabalham para viver: por isso, as pessoas são mais “civilizadas” no Canadá, onde não estão sempre com pressa; onde ainda conseguem arranjar tempo para fornecer informações quando uma pessoa se perde nas ruas! Neste aspecto, gosto do Canadá...

A cerimonia de convocação foi extraordinária e tive uma surpresa: o meu nome lá estava nos painéis, juntamente com o nome do Dr. Eugene Speck (Governador do capítulo do Colégio de Medicina no Estado de Nevada - que, com mais de 70 anos, ainda está dotado de uma pujança física e intelectual invejáveis), por termos sido galardoados com o “ Prémio de Excelência” em Medicina Interna.

Para terminar, veio a parte do Juramento (Pledge), cujo conteudo partilho neste trabalho, aproveitando para analisar de seguida, alguns excertos, que julgo, serem pertinentes para a sociedade médica Guineense:

“I therefore reaffirm my dedication to the practice of Medicine, to act always in the best interest of my patients…”

 

Cedo nos esquecemos desta verdade: o papel do médico é o de ser advogado de defesa do doente, proteger o doente a qualquer preço, mesmo em tempos de crise, mesmo significando que a consulta e o tratamento vão ser gratuitos; por isso, deu-me um nó na garganta quando alguém me confidenciou que certos “colegas” na Guiné violavam este código, aproveitando-se da vulnerabilidade dos pacientes para intimidades sexuais/românticas. A confirmar-se isto, é moralmente errado, sendo um acto criminoso que merece ser denunciado.

 

“To supplement my own judgment with the counsel of others when the occasion requires...”

 

Falamos deste ponto no editorial anterior: em caso de dúvidas, em casos complicados, devemos sempre consultar, discutir, pedir segunda opinião a colegas da mesma especialidade ou sub-especialistas, para melhor servir o doente. Perguntar, discutir, não é sinal de ignorância, pelo contrario, é sinal de muita sabedoria e sinal de que nos preocupamos com o bem-estar dos nossos pacientes.

“To increase my medical knowledge and understanding by continuing study...”

 

É o nosso destino como médicos: estudar, estudar, estudar, estudar até ao último suspiro: terminar o curso de medicina não é uma meta. É só, o início de uma longa, por vezes tortuosa, jornada de enriquecimento científico e intelectual que contempla, de forma permanente, seminários, simpósios, leituras, e , estudos, estudos, estudos… Longa, dura, tortuosa, mas Gratificante Jornada...

 

Para os jovens e crianças Guineenses que aspiram a algo na vida:

Não desistam de lutar para concretizarem os vossos sonhos; Mesmo quando parece que tudo está contra, não desistam;

Podem ser “atropelados” física e psicologicamente, não parem!

Enquanto o coração bater, enquanto o diafragma tiver forças, não parem!

uma recompensa, um Holy Graal à vossa espera. O vosso papel é reclamar essa recompensa! Não a receberão de bandeja...go and get it!

Nada cai do céu: sim, podem olhar à volta e ver indivíduos ostentando sinais exteriores de riqueza: propriedades, carros, etc., por causa dos negócios da droga e podem sentir-se tentados a seguir o mesmo caminho! Mas, há 3 coisas certas na vida: morte, impostos e, para quem se meter no negócio da droga: mais dia, menos dia, desgraça para ele e os que o rodeiam (morte por ajuste de contas, morte nas prisões americanas ou europeias, morte por danos causados pela droga, deterioração física e intelectual causadas pela droga)!

 

Deve haver lugar para homens honestos na Guiné, homens que acreditam no trabalho sério e no respeito pela liberdade dos outros. Havemos de lá chegar!

O CÉU É O LIMITE...

 

Djoca!

 

 

PROJECTO GUINÉ-BISSAU: CONTRIBUTO - LOGOTIPO

VAMOS CONTINUAR A TRABALHAR!

Associação Guiné-Bissau CONTRIBUTO

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