A SAÚDE DOS GUINEENSES NA GUINÉ E NA DIÁSPORA

Prof. Joaquim Tavares

Prof. Joaquim Silva Tavares (Djoca)

joaquim.tavares15@gmail.com

13.06.2009

Editorial de Junho

 

Editorial de Junho

Estive numa conferência da American Thoracic Society em San Diego 3 semanas atrás e estive tão entusiasmado e excitado no regresso, tomando notas para mais tarde compartilhar alguns conhecimentos e inovações no campo da medicina com colegas médicos e leitores do Contributo em geral.

Depois, foi como um banho de água fria: acontecimentos tristes, vergonhosos e selvagens outra vez a ensombrarem a nossa terra. Pus esse projecto na gaveta até mais tarde…

No meu carro, geralmente tenho músicas de vários artistas guineenses e cada dia tenho que ouvir pelo menos um (a) deles (delas) a cantar/tocar: Nas últimas 3 semanas, nem por isso…

Sempre prometi à minha esposa e ao meu filho que um dia, brevemente, íamos passar uns dias na minha terra natal, e estavam todos entusiasmados com isso: festejar o Natal como só nós sabíamos; caminhar por todos os cantos da minha saudosa Bissau (Varela, Chão de Papel, Rua de S.Tomé, Rua de Angola, Pilum, Sta. Luzia, Reno, Bairro de Belém, Bairro D'Ajuda, Mindara…); um plano adiado, talvez para sempre…

Não estou reconhecendo esta Guiné e estes Guineenses: parece que o nome Guineense está contaminado pelo vírus do ódio, da barbaridade, da inveja, do negócio sujo e da total falta de respeito pela vida e dignidade do próximo…

É que não basta só ser político ou traficante de drogas para ser alvo do ódio visceral de certos indivíduos: pelos emails (justamente não publicados pelo editor principal do Contributo e que ele me tem estado a enviar) apontar, escrever o que vai de mal com a Guiné (Educação, Saúde, tráfico de drogas, abusos de poder), é motivo para suscitar ódio e ameaças de morte; ter sucesso no campo profissional, também é motivo para ser alvo de ódio; porque, infelizmente, quando se é incompetente, tornamo-nos inseguros e a insegurança leva ao ódio e na Guiné, odiar alguém, significa eliminá-lo fisicamente.

É um ciclo vicioso: matas um familiar ou sócio meu, vou-te matar, e assim vamos caminhando para o precipício…. Infelizmente, desde 1974, as crianças cresceram e estão crescendo com a mesma mentalidade: de ser natural eliminar fisicamente quem não está de acordo com as nossas ideias.

Podem-me chamar de naïve, mas sou de um tempo (que já me parece da pré-história) em que o Aureliano Mané (Garandi) convidou o Caíto para se encontrarem no campo do Ciclo para “resolverem os seus problemas como Homens” (na altura pensava e hoje ainda, que isso era uma forma extrema e selvagem de resolver problemas); às 2 da tarde, lá estava o Aureliano, com os seus calções de Caqui e botas da tropa colonial, à espera do Caíto, que, nunca compareceu ao encontro…Desde então, os Guineenses encontraram uma forma mais “fácil” de resolver diferenças” balas, catanas…

E com todas estas conturbações, será que o ano lectivo vai começar a tempo; será que as nossas crianças nos serviços de pediatria vão ter leite; será que as nossas parturientes vão descansar num quarto limpo?

Enquanto ocuparmos o tempo e energia a chacinarmos uns aos outros, parece que responder a estas perguntas será o mínimo das nossas preocupações.

Este espaço era suposto ser de Saúde, mas neste momento, não estou com disposição para falar de assuntos tão “triviais) como temas de Saúde; Vou tentar concentrar as minhas energias e inteligência para refinar técnicas de eliminação física do meu próximo: só assim me tornarei numa pessoa importante e famosa e todos vão ter medo de mim….

Uma nuvem negra abateu-se sobre a Guiné e, infelizmente, as fileiras das “Mindjeres de Pano Preto” estão-se a engrossar… Aonde quer que estejam Armadinho Salvaterra e José Carlos Schwarz, peço-vos para mudarem a letra: em vez de “bô ba ta raça pa é tisino no cassa” estarão de acordo com “bô ba ta raça pa é ka tisino no cassa pa matano”

Temos que respeitar a vida dos nossos compatriotas.

Um filho da Guiné de luto por TODOS que viram o seu sangue derramado no solo Guineense (bons, maus, traficantes de droga, honestos); se não demos a vida a alguém, não temos direito a tirá-la!

 


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