A SAÚDE DOS GUINEENSES NA GUINÉ E NA DIÁSPORA

Prof. Joaquim Tavares

Prof. Joaquim Silva Tavares (Djoca)

joaquim.tavares15@gmail.com

26.07.2010

 

 

Editorial de Julho

 

Passamos por tempos difíceis na nossa Terra e precisamos do esforço de todos para que as coisas melhorem….

Pude seguir atentamente todos os artigos e comentários postados neste excelente exemplo de panteão dos tempos modernos, que é o Contributo, e pelo menos, uma coisa positiva temos: mentes brilhantes que ainda me dão esperança de que a Guiné tem futuro (já venho dizendo isto há mais de 30 anos e apesar de tudo, ainda tenho esperança…).

 Um artigo que li com particular atenção, foi o artigo do nosso Helmer, brilhante e bem estruturado; só num ponto é que tenho as minhas dúvidas: “O Guineense não é genuinamente MAU”! Cresci com essa convicção, de que o Guineense é genuinamente BOM, ALTRUÍSTA, etc; mas tomando em conta os acontecimentos dos últimos 36 anos, uma parte da minha consciência diz-me que essa verdade não é mais verdade.

Mesmo Pablo Escobar, o consumado mestre Drug Lord, com todos os assassinatos, crimes que cometeu, ainda teve a “bondade” de construir escolas, hospitais, igrejas, campos de futebol em Medellin e muitos beneficiaram com essas obras; se na verdade temos Drug Lords na Guiné, nunca pensaram em renovar o Hospital Militar, Escolas, Igrejas, Mesquitas? Será que não existe um mínimo de BONDADE nas suas almas?

Não sei, Helmer! Mas parece que os Guineenses se transformaram nos últimos anos: há uma MALDADE enraizada nas nossas almas, um ódio contra tudo e contra todos que nos criticam e nos querem mostrar os perigos das drogas, da ignorância, dos assassinatos políticos! Vamos precisar de um milagre para nos salvar do inferno de Dante; Porque no Purgatório já vivemos há tanto tempo, que para nós tornou-se uma forma de vida habitual…

O mês de Junho foi e o de Julho tem sido caótico para mim: Na vida, temos sempre que ir à procura de desafios, para testarmos a nossa capacidade intelectual e física; Neste período de 2 meses, tenho estado a fazer uma transição de um Hospital (que chamo de Beverly Hills de Las Vegas, que é “chique”, alta classe, etc., mas que deixou de me apresentar os desafios que, penso, necessito para Voar mais alto) para um outro Hospital na mesma cidade (que chamo de Compton ou Harlem de Las Vegas, que é mais para os pobres, minorias e que me apresenta mais desafios que vão testar as minhas capacidades físicas e intelectuais ao máximo). Como dizemos aqui: I am looking forward to this challenge. Junto vai um postal de boa sorte, com a assinatura das 4 enfermeiras-chefe da Unidade dos cuidados intensivos.

Por outro lado, o meu filho está de férias escolares e tento passar o máximo de tempo possível com ele: não há tempo mais precioso do que o tempo que passamos com a nossa família, acreditem-me.

Outro aspecto que queria abordar é o de comentários sobre imagens dermatológicas e não só, que me foram enviadas da Guiné, doentes reais, que padecem de patologias reais. Uma coisa que sempre me apavorava na Guiné era o mito dos feiticeiros, cortés e djambacusses. Quando não havia explicações para alguma doença ou morte, era: “É bassal corté dja” ou “É ba andal muro” ou “É ba iran pa el”!!!

O objectivo da publicação e comentários dessas fotos é mais para educar e eliminar o” medo do desconhecido”; não há nada mais perigoso do que uma mente ignorante! Lembro-me dos anos setenta, depois de ir a um filme na UDIB e sair de lá à meia-noite; no caminho para casa, na altura no Bairro de Belém, tinha medo da minha própria sombra, com medo dos “feiticeiros” “irans”etc. Espero que os jovens de hoje em dia tenham ultrapassado essa mentalidade de voodos, do sobrenatural e busquem explicação científica para certos fenómenos ditos paranormais e que por muito tempo nos fizeram reféns dos “mouros”, djambacusses, curandeiros.

Ainda durante este mês ou no início do próximo, vamos finalizar a autobiografia do Dr. Elísio, um dos nossos pilares de Medicina na Guiné e que encorajamos a continuar o excelente trabalho que tem estado a fazer com os nossos compatriotas.

Uma última nota sobre alguns comentários feitos sobre o Soares Sambu: podemos estar no lado oposto em relação à política da Guiné; do que é melhor para a Guiné; da forma de fazer política, etc., mas não lhe chamem de burro ou ignorante: a não ser que tenha mudado. O Soares Sambu foi dos mais inteligentes, brilhantes e clarividentes dos nossos contemporâneos na altura em que éramos estudantes no Liceu Kwame N’Krumah e tal como a maioria da nossa geração, foi ao exterior tirar um curso superior. Por isso, peço um pouco mais de consideração e moderação na crítica da pessoa Soares Sambu.

Como político, penso que ele sabia em que águas iria nadar, por isso todas as críticas valem! Não vejo problemas com elas! Como dizia o antigo dirigente político Almeida Santos: “a política é um assador de patos...”!

Chamem-lhe de traidor, maquiavélico, oportunista, que estamos num mundo livre e a liberdade de expressão tem que ser respeitada! Mas de burro, ignorante, não concordo! Só quem não o conhece pessoalmente! Já não o vejo ou falo com ele há mais de 30 anos, mas a inteligência não se perde…

Um abraço a todos!

Djoca!

 

PROJECTO GUINÉ-BISSAU: CONTRIBUTO - LOGOTIPO

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