A SAÚDE DOS GUINEENSES NA GUINÉ E NA DIÁSPORA

Prof. Joaquim Tavares

Prof. Joaquim Silva Tavares (Djoca)

joaquim.tavares15@gmail.com

28.02.2010

Editorial de Fevereiro

 

 

Editorial de Fevereiro

Questões, Questões, Questões...

Com a calamidade que acometeu os nossos irmãos Haitianos, muitos dos colegas intensivistas e Enfermeiros intensivistas decidiram ir colaborar com as autoridades haitianas para tentarem salvar o que se podia salvar. Começaram a levantar-se questões sobre a estruturação dos Serviços de Emergência Médica no Haiti, da existência (ou falta) de ambulâncias, hospitais, número de camas dos cuidados intensivos, etc.

Questões que começaram a revisitar a minha massa cinzenta, questões reforçadas por mais questões levantadas pelos mesmos colegas: (quando se trata de ajudas humanitárias, nada se compara com os americanos, quer como Estado ou pessoas individuais/grupos; Não sei se isso será uma forma de confissão e tentativa de obter perdão por “pecados” cometidos ou não, mas a realidade não se pode negar: Ajudamos!

1 - Em caso de calamidade natural (cheias, surtos de malária ou outras doenças infecto-contagiosas, etc.) ou provocada pelo homem (conflitos armados), quem é o responsável principal pela organização de resposta à calamidade, organizando os primeiros socorros, coordenando as ajudas externas com “mão-de-obra”, ambulâncias, hospitais postos à disposição dos nossos compatriotas vitimados?

2 - Temos um Serviço Nacional de Emergência Medica, com uma sede e organização mínima (administradores, médicos, paramédicos) para iniciar os primeiros Movimentos de Primeiros Socorros”, que aqui chamamos de “Golden Hour”- hora de ouro e que se não for aproveitado, significa que o doente vai morrer?

3 - Quantas ambulâncias com o mínimo de equipamentos necessários para primeiros socorros temos à disposição em tempo de normalidade;

Temos capacidade para triplicar ou mais, os números, em caso de Desastre? Helicópteros à disposição para transporte urgente de doentes a centros com material e pessoal qualificado?

4 - Quantas camas de cuidados intensivos existem neste momento no Pais (ventiladores, monitores, soros, etc.)?

5 - Quantos médicos/enfermeiros intensivistas ou com treino básico (suficiente para prover 24 horas de cuidados intensivos) temos no País?

Mesmo em tempos baixos, sem calamidades, aqui nos Estados Unidos, temos uma deficiência de 20-30% de médicos intensivistas; não quero imaginar qual será a deficiência em tempos de desastres, naturais ou não.

6 - O Senegal ou Portugal vão ser a nossa eterna solução em casos de doentes graves?

Leva-se pelo menos entre 1 a 4 horas para evacuar doentes para esses países (em que condições, com que pessoal?), sabendo que 1 hora já é uma eternidade em cuidados intensivos…

Por muito que se goste desses países, temos que apostar nos nossos médicos, apoiá-los com materiais e condições para tratarem os Nossos Conterrâneos, na Nossa Terra.

Isso pode prevenir a fuga de divisas e ao mesmo tempo, elevar o nível de auto-estima dos nossos médicos.

É fundamental não esquecer os 4 componentes essenciais que nos ajudam a enfrentar e vencer calamidades Médicas:

A - Material Humano;

B - Material Médico (ambulâncias de emergência, ventiladores, medicamentos, etc.);

CEspaço (hospitais, tendas, etc.);

D - Organização e Estrutura.

São estas questões com que me atormento e com que os meus colegas me atormentam frequentemente e que gostaria que alguém me respondesse.

 Se o convite que me fizeram para ir à Guine trocar experiências com os meus estimados colegas se concretizar, terei a oportunidade de fazer estas perguntas no terreno e tentar emprestar os meus conhecimentos e experiência na área de cuidados intensivos com cursos de formação em cuidados intensivos e mais. Por isso, não queria “apressar” a minha ida (sei que gostariam que eu fosse lá o mais depressa possível; mas queria que esta visita fosse intelectualmente lucrativa para todos e que não se tornasse num circo (tenho que angariar livros e outros materiais didácticos, preparar slides e muito mais).

Um Segundo ponto que queria abordar:

Quando criticamos algo aqui, não estamos a alvejar ninguém em particular. Estamos a alvejar um sistema em que ainda há pessoas que pensam e sentem que têm o direito de matar, tirar a vida a um outro ser humano!

Que humilham o próximo, porque têm a autoridade de o fazer (para mim, que já vivo fora da Guiné há mais de 30 anos, é incompreensível, que este tipo de coisas ainda aconteça. É desumano, é humilhante!

 Sei que muitos dos meus (muitos) amigos que ainda lá vivem, pensam que são “coisas da vida”, porque quando vemos e vivemos algo diariamente, ficamos hipnotizados, anestesiados e só nos concentramos em “sobreviver” e prover para as nossas famílias; e quando se tenta ser Honesto, Justo, no meio de tanta Desonestidade e Injustiça, és visto como um “outsider”, uma ameaça para o “status quo” e entras logo para a lista negra.

Lembro-me do que o Dr. Procópio Pinhel (Gungo), que não me canso de repetir, é um Sábio (se vivesse nos tempos da Grécia Antiga, seria um Sócrates ou Platão) me contou: Um primo dele (que conheço bem) muito honesto, justo (do tipo que se lhe dás 51 dólares e 23 cêntimos para guardar, mesmo ao fim de 20 anos, quando vieres buscar o dinheiro, lá vais ter os 51 dólares e 23 cêntimos), trabalhava numa empresa em Bissau, em que muita vigarice e trafulhice pululavam; desvio de ajudas internacionais, amantes a torto e a direito, etc., ele nunca vacilou: a cada fim do mês, a única coisa que levava para casa era o seu salário.

Um dia, ao chegar a casa para almoçar, para seu espanto, encontrou a esposa e os filhos a comer produtos caríssimos, caixas de bebidas caríssimas; Aonde é que compraram tudo isso?

- Oh! Um dos teus empregados veio de manhã trazê-los e disse que tu os enviaste! A partir daquele momento, querendo ou não, ele também já fazia parte do Gang… Sem mais comentários!

Para terminar, um alô para o Adriano Atchutchi: sei que sempre manda um alô através dos meus irmãos/Irmã: estou de saúde, felizmente vai tudo bem com a família: É tudo o que podemos desejar.

Espero que o teu génio musical e organizativo nos continue a iluminar forever!

Djoca!


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