A SAÚDE DOS GUINEENSES NA GUINÉ E NA DIÁSPORA

Prof. Joaquim Tavares

Prof. Joaquim Silva Tavares (Djoca)

joaquim.tavares15@gmail.com

11.02.2009

Editorial de Fevereiro

 

Editorial de Fevereiro

                                         

  A recompensa final

Ontem, sentado a rever radiografias e TACs na unidade de cuidados intensivos, alguém começou a fazer-me perguntas sobre uma paciente que iria ser transportada, num curto espaço de tempo, para a sala de operações: porque é que achas que a paciente tem hiponatremia (baixo nível de sódio)? Achas que é prudente cancelar a cirurgia? Que tipo de tratamento recomendas etc. Nesse momento, como os anestesiologistas nunca fazem este tipo de perguntas, ”sempre sabem tudo”, parei o que estava a fazer, virei a cara para enfrentar a autora das perguntas e: Dr. Tavares? Não te lembras de mim? Foste meu professor de cuidados intensivos em 2003; ainda fiz um ano de medicina interna, mas como gostei tanto das tuas rondas de cuidados intensivos, das entubações, das linhas venosa centrais, decidi mudar para Anestesia. Logo de seguida, tudo me veio à memória: lembrei-me dela, era originalmente de Provo (estado de Utah) e não era somente uma estudante inteligente, era também muito aplicada. E veio-me essa satisfação interior de”missão cumprida”; quando se pode influenciar alguém positivamente, é sempre uma recompensa. Não estou nada arrependido de dedicar horas e horas a ensinar, porque a cada semana, antigos alunos, já bem formados, telefonam de Nova Iorque, Los Angeles, Boston etc., para discutirem casos e pedir a minha opinião sobre diagnósticos, tratamentos etc.

 

                             

 De Cuba, com competência

Prometi a estes 3 pupilos meus (ex pupilos dentro de 5 meses) Cubanos, que ia escrever dois parágrafos sobre eles no Contributo. A brincar, tenho uma palavra de código comum para todos eles: “a luta continua”, porque o pai de um deles esteve em Angola nos anos setenta.

1-     E De Enero: Há 3 anos atrás, no nosso consultório, trabalhava uma senhora de origem Cubana; trabalhava como auxiliar de enfermagem; era muito acanhada e competente; um dia, acercou-se de mim e pediu-me uma carta de recomendação: olha, realmente, era médica urologista em Cuba, tive que emigrar para os EEUU, fiz os 3 exames e passei, agora estou a concorrer para um lugar no vosso programa de medicina interna; não hesitei e ela conseguiu ser colocada no nosso programa, portou-se com excelência e agora vai acabar o internato geral e começar a trabalhar.

   2-J.Lopez: Também trabalhou no nosso consultório, como auxiliar de enfermagem; era médico especialista em Cuba e teve que emigrar para os EEUU; o desempenho dele no nosso programa foi tão extraordinário, que depois de 6 meses, foi promovido para o Segundo ano do internato complementar (em vez de 12 meses); este ano, foi promovido a residente chefe e “está a dar cartas”

 

3-António S: emigrou de Cuba para o México, acabou o curso de medicina no México e depois de passar os 3 exames, veio para os EEUU; enquanto estava à espera de vagas para o internato complementar, trabalhou como técnico de radiologia e auxiliar de enfermagem. Termina o internato complementar em Julho.

Para todos eles, os meus parabéns: prova viva de que o espírito Humano é imbatível quando se sonha, quando se tem ambição e perseverança.

 

     A Propósito das Jornadas Médicas Científicas na Guiné

 

Encheu-me o coração de alegria quando recebi o correio electrónico do Didinho sobre estas jornadas: Outra vez, parabéns ao governo Cubano por ter estado a “aguentar” e a salvaguardar o futuro da nossa medicina.

Aos jovens estudantes de medicina na Guiné: o que sempre digo: Devido à crescente paridade do ensino e da prática da medicina a nível mundial, a diferença faz-se com o espírito de sacrifício; a vontade de trabalhar; a necessidade interior de fazer mais e mais; a curiosidade intelectual que nos faz estudantes para além das salas de aula; fazer perguntas,”apertar os calos” aos professores; consultar revistas médicas nacionais e internacionais; trocar ideias com colegas estudantes ou médicos de outros países. Esse sacrifício significa, por vezes, em vez de perder 1 hora a ver telenovelas (pão doce), aproveitar para ler 1 artigo científico, por exemplo. Posso-vos garantir, que se fizerem esse esforço extra, não devem temer o futuro e poderão discutir casos clínicos com qualquer um….

 

          Trabalhos de investigação em Portugal

Recomendo a leitura crítica de um excelente trabalho de investigação na revista Critical Care Medicine (Fevereiro 2009, volume 37, número 2- pagina 410 Pedro Póvoa, António Carneiro - All Influence of vasopressor agent in septic shock).

 Há 10, 17 anos atrás, muito poucos trabalhos científicos na área da medicina vinham de Portugal. Actualmente, é com prazer que vejo mais e mais artigos vindos da Lusitânia….Agora não tenho que ouvir dos meus “amigos” daqui que andavam sempre a cismar: então? Não fazem investigação no País em que fizeste o teu curso?

 

    Ainda o Contributo

 

Mais uma vez: tem sido uma experiencia didáctica e educativa para mim, conviver com indivíduos extraordinários como os participantes do Contributo: extraordinários artigos, didácticos, com poder de desafiarem-me intelectualmente e ao mesmo tempo, porem-me a par dos problemas da nossa Pátria- Mãe.

Estudantes de medicina, médicos, sei que têm muito que fazer, mas escrevendo dois parágrafos, podem incentivar os nossos jovens e ao mesmo tempo, enriquecer o vosso currículo.

Em anexo vai uma carta de recomendação escrita por um dos meus “padrinhos” desde o primeiro dia que pisei o solo de Las Vegas (Sin City/Cidade do Pecado; como o Ito Belazco sempre me diz: O Ito é que devia ter vindo a Las Vegas e o Djoca ido Cuba! Essa cidade não foi feita para ti, pá!); dos muitos parágrafos que o Dr. Turner escreveu, para ele o número 4 é que vai fazer a diferença (CONTRIBUTO).

 

Dedico este editorial à colectividade do Sport Bissau e Benfica, da época por que lá passei, porque com todos aprendi o outro lado da vida e no processo tornei-me num Homem melhor (desculpem-me, já não me lembro de alguns nomes: Sr. Marcelino Cassamá, Cipriano Jacinto, Parente, Sr. Herbert -Búfalo Bill -, Tio Balimbas, Fanghal, Sr. Humberto Pereira, Abel, Abelha, Agostinho, Popo, Mansinho, Iano (craque Ianito va a Paris), Niná, N’Pinté, Sana, Djabelo, Pita, Carlos Mané, Paulo Malaca, Nhu Rey, , Marta, Júlio “inimizade”, Nhama, Zeca Mateus, Wilson Boy)

Djoca

 

 

 


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