A SAÚDE DOS GUINEENSES NA GUINÉ E NA DIÁSPORA

Prof. Joaquim Tavares

Prof. Joaquim Silva Tavares (Djoca)

joaquim.tavares15@gmail.com

08.04.2008

Editorial de Abril

 

 1- Não podia deixar de agradecer ao site CONTRIBUTO por nos continuar a dar esta oportunidade de divulgar casos clínicos, abordar temas ligados ao campo da Saúde e publicar biografias de conterrâneos.

Já lhe disse anteriormente, mas não sei como é que o Didinho consegue fazê-lo; eu sempre me orgulhei do seu sentido de organização, sempre conseguindo fazer coisas a tempo, mesmo se tiver que "esticar" o dia para além das 24 horas...

Há dias, aconselhei-o, como médico, a descansar uns dias por causa da gripe que o atacara, mas um dia depois, fazendo o meu "surf" na Internet, lá estavam mais publicações por ele editadas no site...

Podemos concordar ou discordar da sua forma de abordar os problemas da Guiné ou das críticas a alguns governantes, mas temos que reconhecer que ele está a fazer um trabalho extraordinário de reunir pessoas, incentivar indivíduos a fazerem algo para a nossa querida Guiné.

Eu aqui confesso: Até ao período que ele começou a enviar-me artigos do site CONTRIBUTO através do meu e-mail que obteve por intermédio de um irmão meu, eu tinha desistido, perdido a esperança na nossa Guiné.

À medida que me empenhava e triunfava na minha carreira médica e familiar, a Guiné era, a cada dia, como que uma memória longínqua que, mais dia, menos dia se iria dissipar na neblina da minha memória...

Ele consegue fazê-lo à custa de muitos sacrifícios pessoais e não só!

 2- Gostaria de apresentar os meus pêsames à família do Dr. Aguinaldo Embaló que faleceu prematuramente, constituindo uma grande perda para o nosso povo, porque ainda tinha muito para dar.

A confirmar-se a notícia oficial da sua morte (ataque cardíaco), gostaria de abordar dois tópicos que julgo serem importantes para os guineenses em geral e, para a família da Saúde em particular:

a) SISTEMA NACIONAL DE EMERGÊNCIA MÉDICA

Desconheço as circunstâncias da sua morte mas, em casos de ataque cardíaco, AVC e embolia pulmonar, não é demais salientar a importância de um Serviço Nacional de Emergência Médica, na redução das probabilidades da morte.

Falamos de um Serviço Centralizado (Quartel General) que tem à sua disposição: ambulâncias, helicópteros e Técnicos de Saúde disponíveis 24 h/dia, 7 dias por semana, o que contribui para a redução do tempo entre a paragem cardíaca e a ressuscitação.

Os mais cépticos dirão que estou a sonhar...Como é que um país pobre como a Guiné pode disponibilizar tantos meios?

Podem ter razão, mas para salvar, nem que seja apenas uma vida, temos que juntar cabeças e pensar em várias soluções possíveis. Uma delas é aproveitar o sentido organizacional, de disciplina e obediência aos comandos centrais dos militares.

Com ajudas externas, podem-se treinar militares como paramédicos e aproveitar a logística das Forças Armadas (camiões, helicópteros etc.), incorporando-as a bem da Saúde.

 Quando se fala na reintegração dos militares na vida pública, fala-se da agricultura, mas a Saúde podia ser uma das opções; falo por experiência própria: No início da guerra do Iraque, trabalhei como médico intensivista numa Base da Força Aérea e Hospital Militar, durante 1 ano e nunca vi homens/mulheres mais motivados a trabalhar/aprender, como os Enfermeiros/Paramédicos/Técnicos de Saúde militares; e a disciplina era incomparável.

 b) Ainda como parte deste Sistema Nacional de Emergência Médica, treinar indivíduos nos locais de trabalho, nas tabancas, ensinar-lhes os princípios do "Suporte Básico de Vida" - Basic Life Support, por exemplo: compressão cardíaca, respiração e uso do desfibrilhador automático (disponibilizar nos locais de trabalho, nos centros de saúde e locais isolados como praias etc.), assim sendo, caso alguém tenha uma paragem, os amigos ou familiares podem acudir de imediato e, acreditem-me, muitas vidas poderão ser salvas!

Estes pontos poderão ser motivo de debate, sendo que podemos aproveitar indivíduos com vasta experiência no campo do Serviço de Emergência Médica, tais como o Vivaldo e o Augusto Cassius, que trabalham no INEM  (Instituto Nacional de Emergência Médica em Portugal), há cerca de 17/18 anos.

Antes da minha vinda para os Estados Unidos em 1991, fiz um curso de preparação no INEM e eles já lá estavam a trabalhar.

3- Outro assunto que gostaria de abordar prende-se com a necessidade de um Hospital Moderno, com todas as comodidades e meios de diagnósticos disponíveis em Hospitais do Mundo dito avançado; Não sou chauvinista, mas quando penso na enorme "fuga" de divisas, quando muitos guineenses se deslocam ao estrangeiro para se tratarem, ou simplesmente realizar um exame físico anual, perco sono. Algum desse dinheiro podia ser canalizado para a melhoria dos nossos Hospitais, compra de medicamentos, pagar melhores salários aos nossos médicos/enfermeiros, que assim poderiam estar mais apetrechados e motivados para trabalhar e tratar dessas enfermidades e exames físicos anuais, localmente!

Alguns dos colegas/amigos e outros, têm-me telefonado ou contactado por e-mail, como que dizendo: Estás a sonhar? PCR´S, MRI´S e TAC´S na Guiné?

 Quero dizer o seguinte: O objectivo dos casos clínicos, temas de prevenção, etc. é para ilustrar a forma ideal de diagnosticar e tratar casos da vida real mas, dependendo dos meios disponíveis, colegas em diversas partes do Mundo (principalmente na Guiné), podem adaptar-se às circunstâncias e usar o senso clínico.

À medida que, a quem de direito se vai inteirando da necessidade de adquirir os materiais/meios necessários para tratar/diagnosticar, assim se vai melhorando o nível de tratamento das nossas populações.

4- Uma palavra de louvor aos médicos treinados em Cuba. Tive a oportunidade de ter internos/residentes que já eram médicos em Cuba e que vieram para os Estados Unidos para trabalhar, depois de passarem o exame para estrangeiros.

Para mim, estão entre os melhores residentes que tenho tido oportunidade de ensinar (e aprender com eles/elas), nos meus 12 anos de ensino; muito bem preparados, conhecimento básico excelente e extremamente competentes.

Um deles, antes de começar o Internato Complementar, trabalhou no nosso Consultório como Técnico de Radiologia e Enfermeiro Auxiliar. Quando começou o Internato, era tão bom, que eu e mais alguns professores fizemos a proposta de o passar para o segundo ano em apenas 6 meses, ao invés dos 12 meses habituais.

 5- Por último, vou bater outra vez na mesma tecla: vejo na RTP África muitos governantes obesos. Temos que começar a pensar seriamente em inverter essa tendência, com o risco de sermos dizimados pela diabetes, ataques cardíacos, AVC´S, etc.

Façamos exercício físico, dieta e  pouco álcool.

 

J.TAVARES, MD, FCCP, FAASM

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