Prof. Doutor Mamadu Lamarana Bari

EDITORIAL EDUCAÇÃO no. 4

 01.02.2010

O MAIOR JUIZ DOS NOSSOS ATOS DEVE SER NÓS MESMOS E NÃO A SOCIEDADE*

Caros Compatriotas

No editorial número 3 da página Educação havia analisado resumidamente as Leis que regem o universo e procurando destacar de que é necessário fazer prevalecer o perdão na Guiné para que possamos ser perdoado por este país que clama pelos seus dias de Paz e da Glória.

Por essas razões este editorial terá como tema Central a Consciencialização e a força motriz os Pensamentos de Dalai Lama.

Certa feita alguém perguntou a ele sobre o que o surpreendia do mundo, ele respondeu que era o homem, resumindo em seguinte frase:
 

“O que mais surpreende é o homem, pois perde a saúde para juntar dinheiro, depois perde o dinheiro para recuperar a saúde. Vive pensando ansiosamente no futuro, de tal forma que acaba por não viver nem o presente, nem o futuro. Vive como se nunca fosse morrer e morre como se nunca tivesse vivido”. Dalai Lama

Como esta frase está cada vez mais atual. Não precisamos fazer grande exercício da mente para tirar ilações sobre o que tem acontecido na Guiné nos últimos 29 anos.

Ato 1 – A Consciência

"Mantenham a mente aberta, assim como a capacidade de se preocupar com a humanidade e a consciência de fazer parte dela”. Dalai Lama.

O ato de se doar ao serviço da nossa sentida Guiné é, sobretudo, o de contribuir para o despertar da consciência cidadã, com a qual, todos possam se empenhar ao trabalho cívico de consolidar a edificação desta nação de cidadãos livres em todos os sentidos, pelo crescimento e melhoramento do grau de escolaridade da nossa população. Este despertar cidadão não se resume apenas a um dever cívico, mas também a uma atitude moral vinda da nossa reflexão para alertar que algo precisa ser feito para que tudo funcione na mais perfeita harmonia. Chamo, a esta reflexão, o estado de CONSCIÊNCIA. A cobrança moral, para a concretização dessa atitude chama-se a AÇÃO. Portanto, é sob esta simbiose consciência-ação que nós devemos trabalhar a consciênciologia como despertar do ser cidadão - eu não posso ser o que não desejo que o outro seja. Todos nós fazemos parte do processo.

Nesta base quero parabenizar Didinho pela atitude de não fazer questão de disputar privilegiadamente o lugar no encontro entre o Primeiro Ministro com a comunidade guineense em Portugal, mas de ficar fora junto aos seus conterrâneos para escutar e ver através do telão as palavras do Primeiro-Ministro da Guiné-Bissau. Meus parabéns também por ter colocado de lado as divergências e aceitar os cumprimentos do Primeiro-Ministro e do seu Ministro de Recursos Naturais. São esses pequenos atos de civismo que fazem diferença.

"Fale a verdade, seja ela qual for, clara e objetivamente, usando um toque de voz tranqüilo e agradável, liberto de qualquer preconceito ou hostilidade." Dalai Lama

Ato 2 – Consciência-Ação

A Consciência-Ação resume não apenas em atitudes trabalhadas frente ao às mudanças do dia-a-dia do ambiente que nos rodeia, mas também no civismo e na tolerância com os outros.

"Aprimorar a paciência requer alguém que nos faça mal e nos permita praticar a tolerância." Dalai Lama

Por isso, de igual modo aos que manifestaram os seus pontos de vista em favor da continuidade do Didinho no Projeto, quero também encorajá-lo a repensar a atitude manifestada anteriormente em favor da continuidade no trabalho que vinha fazendo a frente do Projeto CONTRIBUTO. Têm-se declarado que somos afinados com os ideais e os Pensamentos de Cabral, então um ventozinho desse não deverá nos abalar ao ponto de deixarmos o barco à deriva. Já imaginou se Cabral tivesse se afastado nos períodos de guerra que antecederam ao Congresso de Kassacá? Alguém imagina quanto custou levar para paredão os valentes camaradas e companheiros da primeira hora da guerrilha, mas inflexíveis com Programas do PAIGC e que estavam pondo em perigo de união do próprio Partido? E, durante a Luta, quantas revoltas sufocadas não aconteceram? O que originou o 20 de Janeiro de 1973? Essa história ainda está para ser contada.

O processo de luta para a independência parou?

Ficam essas questões para a nossa ponderação quanto à caminhada que estamos empreendendo. Não pensemos que nunca deixaremos de ser atacados. É a estratégia do inimigo insistir em ofensas morais para enfraquecer o lutador, porque sabem que nós os guineenses não suportamos ofensas e, procuramos logo partir para a briga, logo colocamo-nos ao ridículo e eles de vitima. Não se deve ter pressa para quem bate e esconde a mão. Essa coisa de falar mal de todos é para nos enraivecer e nos fazer afastar do projeto.

Ato 3 - O Perdão, Não a Vingança

O perdão é uma palavra pequena fácil de pronunciar, mas difícil de por em prática porque se insiste com a idéia de vingança camuflada de sentimento da justiça.

"A vingança não vai reduzir ou prevenir o mal, porque ele já aconteceu." Dalai Lama

Afastemos do nosso meio a Lei de Causa-Efeito. Avancemo-nos para a Lei da Evolução a fim de chegarmos a de Misericórdia. Esta última é que nos faz a imagem e semelhança de DEUS. Nós os guineenses precisamos nos perdoar para que o nosso país caminhe para a evolução perdoando todos os seus filhos pelo atraso que a submeteram. Em razão disso anexarei o endereço do portal de um casal brasileiro que mostrou alguns aspectos da Guiné no passado e no presente. A idéia que ficou em entrelinhas é de que se trata de uma pessoa identificada com o país e com a causa do seu povo, mas que se inconforma com estado depauperado que a Guiné se encontra.

http://www.medeirosfranke.com/africawww/indexafrica.html.

Faz pena, ver como o nosso país regrediu. Será que valeu a pena?..... Como um humilde simpatizante do PAIGC que, no passado, nos momentos difíceis da nossa Luta, entrincheirado na cidade, procurando disfarçar-se de fiel cidadão de Portugal sentia-se no dever de ser militante deste partido. No momento faz a seguinte pergunta... e agora José? Estive a bem pouco tempo em Luanda-Angola, o país que se submeteu a 30 anos de guerra civil, e vi com os meus olhos que a maioria dos acervos históricos coloniais está devidamente preservada. Há uma viva preocupação de reconstruir o país. Todo país está em obra. Obviamente que não se trata apenas das obras de construção civil, mas da implementação de medidas rumo ao crescimento e desenvolvimento da Angola.

Eu sei que muitos podem perguntar com quais recursos a Guiné pode contar. Mas eu respondo de antemão que temos recursos humanos que podem gerar recursos. Pensar não dói à cabeça. O lema é Pensar, Planejar e Executar. Vejamos o exemplo do nosso co-irmão da Luta.

Cadê o Palácio Presidencial da Guiné? Cadê o Parque XX Aniversário? Cadê a Praça das Alfândegas com seus belos jardins que serviram de biblioteca para muitos da nossa geração? Cadê a Avenida Marginal com seus coqueiros e bancos onde sentávamos para apreciar o rio Geba e o ilhéu dos reis? Cadê Bissau Velho? Cadê a nossa imponente Avenida da República hoje Av. Amilcar Cabral que deveria estar mais bela do que na era colonial? Cadê a nossa cidade de Bissau que foi considerada a mais limpa e bem estruturada de toda a África Ocidental? Cadê o brilho nos olhos da nossa juventude?

Muitas vezes a má conservação e a preservação de símbolos históricos que marcaram épocas não se tratam somente de descaso com coisas públicas (pouco interesse), mas, sobretudo pela falta de idéias e a incerteza de contar com os que podem opinar e que não se encontram no país por motivos vários.

Reflitamos nas palavras deste grande pensador do nosso século.

“Só existe dois dias no ano que nada pode ser feito. Um se chama ontem e o outro se chama amanhã, portanto hoje é o dia certo para amar, acreditar, fazer e principalmente viver”. Dalai Lama.

A reconstrução do país virá também da reconstrução da nossa mente. Por isso empreendamos essa tarefa não esperando que sejamos chamados. Quem sabe faz na hora e não deixa acontecer. Essa é a razão do Projeto Contributo.

Ato 4 – A Reconstrução

“Determinação coragem e auto confiança são fatores decisivos para o sucesso. Se estamos possuídos por uma inabalável determinação conseguiremos superá-los. Independentemente das circunstâncias, devemos ser sempre humildes, recatados e despidos de orgulho”. Dalai Lama
 

O Projeto Contributo de igual forma que vem fazendo com a ajuda de seus colaboradores criticando e sugerindo, deve neste momento procurar colocar-se ao lado da atual gestão governativa da Guiné para ajudar a buscar melhores alternativas para o desenvolvimento do nosso país. Nesta base, a nossa cobrança agora aos governantes é de que repensem em Planos Diretores para a reconstrução do nosso país em todos os sentidos:

a) Criar infraestruturas que dinamizem o crescimento econômico do país;

b) Criar e garantir as infraestruturas sociais que devolvam aos guineenses a cidadania (educação, saúde, moradia, emprego e lazer);

c) Criar condições de contatos e estabelecimento de vínculos com a Guiné para todos os cidadãos destes pais que estão na Diáspora;

d) Assegurar a lei que devolva aos guineenses a Liberdade de expressão e do pensamento;

e) Estabelecer projetos de intercâmbio cultural, técnico e científico com os países que acolhem os imigrantes guineenses providenciando que os técnicos e cientistas guineenses que aí se encontrem integrem esse projeto;

f) Implementar mecanismos de suporte aos estudantes guineenses que se encontram em situação de abandono no exterior. Para isso, as Nações Unidas, através de suas Delegações específicas devem ser o nosso principal parceiro;

g) Reeditar e atualizar o Programa de Investimento estrangeiro no país;

h) Enfim, tocar a trombeta para que todos possam se reunir rumo a uma Guiné realmente melhor e próspera.

i) Fazer as Leis funcionarem em todos os sentidos (dar combate acirrado ao narcotráfico e a corrupção);

j) Que a lei seja para todos e que ninguém esteja acima dela. Nem os representantes dos Poderes da República devem se sentir imunes a Lei.

O fecho desta nossa análise sobre atitudes, de hoje, requer um profundo exame de consciência sobre tudo que pensamos e fazemos daqui para frente. Transformemos nossos corações e mentes para melhor compreendermos como funcionam os pensamentos e emoções (Dalai Lama).

Entendo que a Educação também é ato de sugerir, aconselhar e dividir com o próximo as inquietações e alegrias, não apenas o ato de aprender ler e escrever. Por isso o tema deste editorial foi direcionado ao assunto consciência e ação.

Muito obrigado a todos

Nha Mantenhas

* Este titulo é paráfrase do pensamento de Dalai lama

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