DICÇÕES GUINEENSES: A CONVIVÊNCIA DO CRIOL E DO PORTUGUÊS NA ESCRITA POÉTICA DE ODETE COSTA SEMEDO

Amarino Oliveira de Queiroz [1]

amarinoqueiroz@yahoo.com.br

 

Na kal lingu ke n na skirbi (Em que língua escrever)

Ña diklarasons di amor? (As declarações de amor?)

Na kal lingu ke n na kanta (Em que língua cantar)

Storias ke n kontado? (As histórias que ouvi contar?)

 

Na kal lingu ke n na skirbi (Em que língua escrever)

Pa n konta fasañas di mindjeris (Contando os feitos das mulheres)

Ku omis di ña tchon? (E dos homens do meu chão?)

Kuma ke n na papia di no omis garandi (Como falar dos velhos)

Di no pasadas ku no kantigas? (Das passadas e cantigas?)

Pa n kontal na kriol? (Falarei em crioulo?)

Na kriol ke n na kontal! (Falarei em crioulo!)

Ma kal sinal ke n na disa (Mas que sinais deixar)

Netus di no djorson? (Aos netos deste século?) ...

 

Ña rekadu n na disal tambi na n fodja (Deixarei o recado num pergaminho)

N e lingu di djinti (Nesta língua lusa)

E lingu ke n ka ntindi (Que mal entendo)

 

    Publicados em versão bilíngüe portuguesa e criol, ou língua guineense, versos como estes da epígrafe, de autoria da poeta, ficcionista, pesquisadora, ensaísta e educadora Odete Costa Semedo (1996:10), colocam-nos concretamente diante daquela que é uma questão comum a diferentes escritores contemporâneos da África oficialmente falante de línguas européias: preocupados não apenas com o trabalho de afirmação das identidades literárias nacionais, muitos destes autores se movimentaram e se movimentam no sentido de instrumentalizar as línguas locais, lado a lado com a língua do colonizador, na condição de veículos de comunicação interétnica e de elaboração estética, sinalizando ainda para uma maior visibilidade internacional das chamadas “literaturas menores” ou “periféricas”. Na kal lingu ke n na skirbi (Em que língua escrever?), indaga a autora nas duas línguas, provocativamente, como que tentando incorporar, através delas, as muitas outras vozes que compõem o diversificado panorama etno-lingüístico e a diversidade cultural de seu país.  

 

    O uso de línguas européias como língua de literatura, em detrimento dos idiomas locais configurou, por um bom tempo, questão bastante delicada por dividir a opinião de alguns realizadores, críticos e observadores da cultura, tanto dentro como fora da realidade africana. Os argumentos favoráveis a esta utilização foram rechaçados por escritores como o queniano Ngugi Wa Thiong'o, que chegou mesmo a reivindicar no livro intitulado Decolonising the Mind – The Politics of Language in African Literature, de 1986, o recurso exclusivo das línguas africanas para a produção literária escrita do continente. Descrevendo as razões que o motivaram a substituir o inglês pela sua primeira língua, o gikuyu, Thiong'o baseia seu argumento numa possível maior capacidade de apreensão da cultura africana através das próprias línguas autóctones, isto agravado pelo fato de que é supostamente na Europa e nos Estados Unidos que se encontra a maior parte do público das literaturas anglófonas e francófonas. Esta atitude foi contestada por vários autores e críticos literários, inclusive do universo lusófono, como é o caso do angolano João Carlos Venâncio, para quem:

 

Ngugi esquece-se, contudo, que o imperialismo cultural manifesta-se no domínio lingüístico, propriamente dito, e também noutros, como o da publicação, publicidade e difusão da obra literária.  Ele que o diga. Que nos diga por que razão as suas últimas obras, Devil on the cross (romance) e I Will Marry when I want (drama, co-autor), contrariando - de certa forma - o que defendeu no seu ensaio Decolonising the Mind, foram imediatamente traduzidas do gikuyu para o inglês?

Na verdade, não é propriamente o uso do idioma herdado do colonizador como meio de expressão literária que torna as literaturas africanas culturalmente inautênticas ou mesmo as circunscreve aos domínios urbanos ou alfabetizados. Os próprios livros de Ngugi, tais como The River Between ou Weep not, child, escritos ainda em inglês, são exemplos perfeitos de como a ficção africana nada perde em autenticidade cultural por utilizar idiomas da colonização como meio de expressão literária. (VENÂNCIO, 1992, p. 61).

 

    De acordo com grande parte da crítica literária africanista que adotou opiniões concordantes, o argumento defendido por Ngugi Wa Thiong'o não chegaria a estabelecer um consenso sequer entre seus pares, já que, em linhas gerais, a posição dos escritores africanos francófonos admite a legitimidade e reivindica o uso dos dois procedimentos, disposição também compartilhada pela maioria dos escritores anglófonos. (LEITE: 1998: 23). Nisto se baseia a assertiva de Salvato Trigo, ao avaliar a polêmica na condição de um suposto “drama lingüístico”. Este pensamento reflete a crítica empreendida pelo autor à problemática levantada pelo escritor tunisiano Albert Memmi (1974:51), envolvendo uma possível estrangeiridade do colonizado na própria terra, fenômeno ocasionado pelo advento do bilingüismo colonial. Entende Trigo (1981:58) que a proposta teórica de Memmi não poderia aplicar-se à África como um todo por ter sido construída sobre uma situação histórica específica, isto é, a partir da realidade cultural da África berbere e mulçumana, onde uma antiga e profusa civilização escrita não se submetia pacificamente ao domínio de uma outra civilização escrita, a européia, não se prestando a funcionalidade deste argumento à realidade de povos africanos do sul do Saara em seu processo civilizatório essencialmente oral. Tomando outros exemplos africanos da literatura escrita anglófona contemporânea, Salvato Trigo assegura que

 

Chinua Achebe, escritor nigeriano e nome cimeiro na literatura anglófona, representa bem a posição do colonizado de expressão inglesa perante o discutido problema do “drama lingüístico”. Para Achebe trata-se de um falso “drama”: “A língua inglesa será capaz de transportar o peso da minha experiência africana. Mas será preciso que seja um inglês novo, certamente em relação ainda estreita com a pátria de seus antepassados, e todavia transformado de tal modo que possa adaptar-se ao seu novo meio africano”.

Opinião convergente possui o seu compatriota e companheiro de geração literária, John Pepper Clark, que considera como uma falsa questão o conflito latente que o bilingüismo geraria no africano. Por isso, escreve: “O africano do oeste é moderno e tradicional ao mesmo tempo e isso faz dele cidadão de dois mundos. O africano do oeste nada numa dupla corrente: uma é tradicional, a outra é moderna”.

Como se vê, Achebe e Clark defendem a existência duma situação de equilíbrio entre as duas componentes culturais do homem africano moderno, já que, para eles, elas não são opositivas, mas complementares. Este é, de resto, o entendimento que se vai enraizando por toda a África, mesmo nas áreas francófonas onde o radicalismo rejeccionista foi, em tempos, bem acolhido. (TRIGO,1981, pp. 55-56).

 

    Nas modernas literaturas da África, do Caribe e da América Latina produzidas em línguas européias, é cada vez maior o registro de experiências estética e politicamente inovadoras, revelando caminhos diversificados e abrindo espaço para interessantes soluções não só no fazer literário como na própria estrutura das línguas “tomadas de empréstimo”. Para trazer outro importante nome da literatura nigeriana escrita originalmente em inglês, destaque-se o exemplo do poeta, romancista e crítico Woyle Soynka: primeiro escritor da África negra a conquistar, em 1986, o prêmio Nobel de Literatura, Soynka empreende em seu exercício poético e ficcional uma combinação entre técnicas assimiladas do Ocidente e o expressivo universo cultural iorubano, recorrendo à memória e às tradições orais bem como a um profundo engajamento social e político. Neste sentido, atendo-se ao modo pelo qual a utilização das línguas tomadas de empréstimo legitima o exercício criativo desses autores, é pertinente a constatação do escritor e crítico literário guinéu-equatoriano Donato Ndongo Bidyogo:

Dicen los expertos que el francés en que escribieron Amadou Kourouma o Sony Labou-Tansi no es el de París, sino el que se habla en los suburbios de Abidján o Brazzaville; que el inglés de Amos Tutuola, Chinua Achebe o Ben Okry no es el de Oxford, sino el de los obreros de Lagos; que el portugués de Luandino Vieira o de Pepetela no es el de Coimbra o Lisboa, sino el de la gente iletrada de Luanda o Maputo; y que, como ya sucede en Hispanoamérica, el español de María Nsue y de Maximiliano Nkogo no es el de Burgos o Madrid, sino el de Malabo y Bata. ¿Por qué no reconocer entonces que la lengua, todas las lenguas, son, ante todo, instrumentos de comunicación, y lo importante es cómo y para qué se usan? (NDONGO-BIDYOGO, 2006, p. 3).

 

    Vale ressaltar que, pelo questionamento que engendra já a partir de sua disposição bilíngüe, ora em paralelo ora em simbiose, vários momentos da obra de Odete Costa Semedo, como a de tantos outros autores africanos colocam em cheque a generalidade de assertivas como a de Ngugi Wa Thiong'o, comprovando que à produção literária em línguas européias na África, de maneira assemelhada à ocorrida nos países americanos, vêm se alinhando soluções e registros inovadores, resultantes do entrecruzamento de línguas e culturas e de diferenciadas percepções de mundo. Nesta direção, atentando-nos às experiências que envolveram preferencialmente os idiomas românicos nas Américas, poderíamos incluir desde os créoles do Haiti, da Martinica e de Guadalupe, nas Antilhas de colonização francesa, até os crioulos de Cabo Verde, da Guiné-Bissau ou de São Tomé e Príncipe; desde o papiamento de Aruba, Bonaire e Curaçau, nas Antilhas Holandesas, ao spanglish, ou espanglis, dos chicanos e porto-riquenhos dos Estados Unidos da América. [2]

 

    Experiências desta natureza começam a ocupar um significativo lugar na recente produção cultural e literária das Américas e da África em sua quase totalidade, despertando a atenção do público e da crítica, mas é particularmente sobre a Guiné-Bissau, de onde vem o trabalho poético e ficcional de Odete Costa Semedo, que concentraremos a partir de agora a nossa investida. A simbiose entre idiomas, característica peculiar à prosa desenvolvida pela escritora, tem como espaço de experimentação uma língua literária que ultrapassa a sua condição de portuguesa e que traduz, poeticamente, o seu compromisso político de intérprete das diferenças num país cujo perfil sócio-cultural se define sob o signo da diversidade étnica, religiosa e lingüística.

 

    A concomitante produção em crioulo e português constitui, dentro do universo cultural africano lusófono, uma peculiaridade das experiências literárias na Guiné-Bissau, em Cabo Verde e, possivelmente com menor projeção, no arquipélago de São Tomé e Príncipe. O criol, ou língua guineense é por muitas vezes referido, juntamente com um enorme conjunto de manifestações lingüísticas "periféricas", na condição de mais um registro dialetal, sendo seu estudo via de regra circunscrito ao universo das ciências da linguagem. Esta é, evidentemente, uma abordagem imprescindível. Gostaríamos de destacar, no entanto, após discorrer superficialmente sobre algumas de suas características gerais, a sua condição de língua literária ao lado da língua do colonizador, ressaltando especificidades que, no ambiente cultural do país, se fizeram registrar ao longo dos tempos. Conforme reitera a escritora Filomena Embaló, ainda que a língua portuguesa continue a predominar na poesia da Guiné-Bissau, o recurso ao crioulo vem se tornando cada vez mais freqüente, tanto pela sua utilização direta na escrita poética como pela sua progressiva presença nos textos produzidos em português. Ao empregarem o crioulo, defende a autora, os criadores evidenciam a grande riqueza metafórica dessa língua enraizada nas manifestações da cultura dita popular. [3]

 

    Em estudo dedicado às diversas manifestações das línguas crioulas ocorridas em várias regiões do mundo, o lingüista brasileiro Hildo Honório do Couto (1996: 53-70) assegura que os crioulos quase sempre estão inseridos em comunidades multilíngües, como é o caso da Guiné-Bissau ou, pelo menos, em áreas bilíngües, situação em que se enquadra o arquipélago de Cabo Verde.  Na Guiné-Bissau, informa o autor, a língua de união nacional é o crioulo, embora sua realidade lingüística se desenhe de modo ainda mais complexo e diferenciado. Pese à já referida oficialidade, à sua prevalência como língua literária e a despeito de seu crescimento, o português ainda é um idioma minoritariamente utilizado no país, convivendo com variantes do crioulo tradicional, ou kriol fundu, com o crioulo aportuguesado, ou kriol lebi, e com uma quantidade razoável de línguas nativas, contabilizadas em torno de vinte e equivalentes às diversas etnias que compõem a sua população, dentre as quais se especificarão, pelo quantitativo de falantes, as mais representativas: fula, balanta, mandinga, manjaco, papel ou pepel, felupe, beafada, bijagó, mancanha e nalu.

 

    Na poesia e na prosa desenvolvidas por Odete Costa Semedo, como dissemos, alguns destes idiomas vernáculos vêm marcando presença pela sua contribuição no trabalho empreendido pela autora com vistas à renovação estética do português. É conveniente lembrar que a Guiné-Bissau, justamente pelo fato de fazer fronteiras e compor uma zona monetária transnacional com a Guiné-Conacri e o Senegal, ex-colônias da França, registra uma forte presença desse outro idioma europeu, o francês, cuja influência faz-se notar ainda pela sua utilização como língua literária por vários de seus poetas, convertendo-se mesmo, alguns destes, em autores trilíngües (português, crioulo, francês), como é o caso da fase inicial da obra de José Carlos Schwarz, ou ainda de Jorge Cabral e Carlos Edmilson Vieira. Esta complexidade lingüística é assim referida por Hildo Honório do Couto:

 

A conseqüência natural, para os povos africanos em geral e para os guineenses em particular da retalhadura feita pelos invasores europeus de seu território não é uma coincidência entre, de um lado, o domínio das etnias e línguas locais e, de outro lado, o domínio dos países/estados a elas impostos. Com isso, todo país africano - e não apenas a Guiné-Bissau - compreende várias línguas. E o que é pior, praticamente todas elas são faladas além-fronteiras. Assim sendo, qual será a língua nacional e/ou oficial do país? Será o balanta? Os mandingas e as outras etnias não o aceitariam, e vice-versa. Com isso só resta a língua do ex-colonizador, exatamente como ele queria. Por outras palavras, os colonialistas dividiram para governar, ou seja, criaram uma situação lingüística complexa a fim de impor sua própria língua. (COUTO, 1996, p. 77).

 

    Há, porém, uma contrapartida lingüística a favor dos povos colonizados, que consiste numa apropriação transgressora dessa mesma língua, enriquecendo-a estruturalmente não apenas em seus aspectos morfossintáticos, fonéticos e semânticos como também em sua expressão literária, hibridizando-a em novas experiências criativas. Algumas questões se levantam, contudo: como reverter ou pelo menos minimizar impactos potencialmente "negativos” desta realidade no que diz respeito à Guiné-Bissau em particular, com sua pluralidade lingüística em convívio direto com a oficialidade de uma língua minoritária que, no entanto, serviu de base para um crioulo em franca expansão? E como ficam as línguas nacionais, concorrendo entre si, com a língua portuguesa e ainda com um crioulo que cada vez mais funciona como língua de comunicação para um contingente humano que gira em torno de dois milhões de habitantes? Esta não será uma solução fácil. 

 

    O aproveitamento do crioulo parece ser, pelo menos em caráter oficial, a proposta eleita, incentivada pelo seu uso no processo de alfabetização entre as várias etnias, pelo investimento na pesquisa lingüística e na sua normatização ou, ainda, pelo incentivo ao registro impresso de manifestações da oralidade, seus desdobramentos e diálogos com a escrita nacional, o fortalecimento na mídia impressa, radiofônica, televisiva, além do incremento da produção fonográfica e audiovisual. O trabalho poético desenvolvido por autores locais acabaria por nobilitar o criol já não apenas como uma língua cifrada, "menor", através da qual se poderia resistir politicamente contra a censura exercida pela administração colonial sobre os poemas e letras de canções nos tempos mais difíceis. Pelo contrário, a continuidade de experiências como estas, em diversas etapas da literatura, das artes e da cultura do país, vêm apresentando respostas bastante interessantes no sentido de afirmá-lo também como veículo de expressão cultural lado a lado com o idioma do colonizador.

 

    A tradição oral em versos e prosa constitui um dos temas investigados por Odete Costa Semedo em seus artigos e estudos críticos. Esta preocupacão pode ser avaliada, por exemplo, em “A problemática do registo da oratura guineense”, publicado no número 1 da revista  guineense Tcholona, ou em “Um canto para as cantigas de ditu”, divulgado no número 6/7 da mesma revista. As manifestacões da oralidade guineense conhecidas como cantigas di ditu, ou di mandjuandadi, constituem inclusive objeto de sua pesquisa no doutoramento em Literatura pela Universidade Federal de Minas Gerais. A própria escritora, ao assumir a condição de contadora de storias e passadas de tradição guineense, busca incorporar ao seu texto escrito elementos identificadores da polifonia e da gestualidade dos antigos contadores e contadoras de histórias, os griots, nele retrabalhando códigos da oralidade como o onomástico, o musical e o lingüístico, na tentativa de aproximação do texto escrito à performance verbal do contador. Em criol, ditu, reforça Semedo (1996c: 24), "e mais especificamente bota ditu", sugere entre outras interpretações "a crítica dirigida directa ou indirectamente a alguém", o que enriquece sobremaneira, pelo diálogo entabulado a partir das cantigas introduzidas no conjunto textual, a interlocução poético-musical entre as vozes narrativas.

 

    Moema Parente Augel,  referência obrigatória na investigação literária desenvolvida em torno da experiência guineense, fez uma ligeira apreciação sobre o trabalho de pesquisa empreendido por Odete Costa Semedo a respeito da tradição caracteristicamente guineense das cantigas di ditu:

 

As cantigas de ditu ou mandjuandadi, esclarece Odete Semedo, são textos em geral muito breves, cantados quase sempre por mulheres, muitas vezes improvisados, presentes em certas ocasiões específicas (...). Chama-se cantiga de ditu porque geralmente se trata de uma resposta a alguma situação; é composta, por exemplo, quando se vê necessidade de acabar com algum desentendimento ou contenda. Uma terceira pessoa interfere em versos com intenção apaziguadora (e é então denominada canção de harmonia), ou para retratar uma ofensa ou intriga domésticas (ora ku bu obi pa algin), ou ainda para chamar a atenção de uma situação desestabilizadora, tanto a nível familiar, conjugal ou relativo ao clima entre colegas de trabalho. Odete Semedo aproxima certas canções de ditu às cantigas de escárnio ou de maldizer, dada a semelhança com essas cantigas medievais. Essas canções são muitas vezes cantadas - e dançadas - em reuniões de mandjuandadi, que são agrupamentos de indivíduos de ambos os sexos, da mesma faixa etária, de uma determinada etnia, mandjacos ou balantas, por exemplo, com uma estrutura social específica e hierarquizada, que promovem a tradição da etnia e se confraternizam em festas e encontros sociais. (AUGEL, 1998, p. 40).

 

    Nas cantigas di ditu ou mandjuandadis guineenses, a figura feminina desempenha papel de destaque através de uma presença de poetas cantadeiras, responsáveis pela reprodução ou pelo improviso dos versos no desenrolar da função. A recorrência, por parte de Odete Costa Semedo, a este universo da tradição poética oral bissau-guineense, tanto prestigia e divulga as personalidades a ele relacionadas como serve de incentivo à sua continuidade. A "rainha" da mandjuandadi de Bolama, Antera Inácia Gomes, popularmente conhecida, na histórica cidade guineense, como Tia Antera Gumi, foi uma das personalidades entrevistadas por Odete Costa Semedo para a elaboração de estudo sobre o tema.  Através do depoimento da poeta cantadeira, não somente se efetivou uma descrição da estrutura e do funcionamento interno dessas manifestações, com suas cortes de "rainhas", "reis", "meirinhas", "meirinhos", "cordeiros", "ajudantes" e "soldados", como também se fez reproduzir, de memória, uma expressiva quantidade de cantigas em crioulo, nas suas mais variadas modalidades, permitindo assim o registro impresso de exemplares como este, conhecido como Pé-di-Kraki:

 

Kamba Sandjon pa n bai muri

Nin si n ba muri

Ami n bai

N na bai kamba Sandjon

Ami n na bai,

 

(GUMI in SEMEDO, 1996b, p. 9) [4],

 

que é bastante antigo e, caracteristicamente, uma cantiga de amor entoada pelas garandi, ou seja, pelas mulheres idosas, detentoras de sabedoria, reiterando o caráter positivo que envolve o conceito de velhice nas sociedades africanas tradicionais. Ditus, cantigas di mandjuandadi, adivinhas, lendas, crenças e costumes das diversas etnias, por um lado, e mais cartas, expressões idiomáticas, provérbios, neologismos, vocábulos em línguas estrangeiras, onomatopéias ou interjeições, por outro, constituem uma solução constante incorporada à obra ficcional da escritora, numa utilização performatizada e simultânea do criol e da língua portuguesa em sua modalidade guineense. Tais procedimentos contribuem para conferir ao corpo textual expressiva heterogeneidade.  Além de realçarem a graça e a musicalidade dos relatos, as cantigas di ditu ou mandjuandadi fazem com que a poesia alcance significativa condição de visibilidade entre as diversas vozes narrativas, caracterizando, por conseguinte, uma escrita poemática, uma prosa de feição marcadamente poética.

 

    Um aspecto relevante do crioulo, representado pela sua condição de língua de comunicação interétnica, sobretudo no espaço urbano da Guiné-Bissau, encontra dentro da obra de Odete Costa Semedo importante veículo. O seu livro de poesias No fundo do canto é introduzido com outro significativo exemplo de uso simultâneo português/crioulo: a disposição bilíngüe do poema inicial, precisamente intitulado “Bu tcholonadur”, ou seja, “O teu mensageiro”, parece querer traduzir a necessidade e a emergência que a voz enunciadora tem de superar os conflitos tribalistas, de se fazer ouvir por todas as etnias guineenses e, evidentemente, pelos leitores ali invocados:

 

Ka bu larsi (Não te afastes)

Pertu mi (aproxima-te de mim)

rasta stera bu sinta (traz a tua esteira e senta-te) (...)

 

Pertu mi (Aproxima-te de mim)

bu puntan n kontau (pergunta-me e eu contar-te-ei)

Puntan pa moransa di kasabi (Pergunta-me onde mora o dissabor)

pidin pa n mostrau (pede-me que te mostre)

kaminhu sin susegu (o caminho do desassossego)

kurba di sufrimenti (o canto do sofrimento)

paki ami i bu tcholonadur (porque sou eu o teu mensageiro) (...)

 

Pertu mi (Aproxima-te de mim)

ka bu larsi (não te afastes)

bin... (vem...)

sinta, paki storia ka kurtu (senta-te que a história não é curta)

 

(SEMEDO in “Bu tcholonadur” [O teu mensageiro], 2003, pp. 16-17).

 

    Dividido em três partes, para além de se debruçar sobre a tumultuada história recente e a experiência traumática da guerra civil, o livro em questão configura poeticamente o desenho de um outro mapa cultural da Guiné-Bissau, regido pela busca de unidade na diversidade que se traduz pela reunião simbólica das várias etnias que o compõem. Dotados de humanidade e de voz, manifestam-se ao longo dos poemas tanto os animais totêmicos, representativos das várias linhagens étnicas guineenses, como a própria Guiné e a cidade de Bissau, alçadas à condição de personagens. Em colóquio com os irans, as divindades protetoras, este conjunto de vozes empreende, num determinado momento, um esforço coletivo de pacificação e reconstrução nacional que nos remete à própria situação política do país e à sua história pós-independência marcada por tantos conflitos e instabilidades.

 

    Derivado de tcholona, nome da revista de artes e literatura onde Odete Costa Semedo aparece como co-fundadora e colaboradora, o termo tcholonadur serve para designar a figura de um mediador entre aquele que fala e aquele que ouve, ou seja, um mensageiro, um intérprete, papel desempenhado por Odete Costa Semedo na realização de sua obra escrita. Através deste texto poético em particular, no qual o narrador principal convoca em crioulo as etnias diversas, falantes de diferentes línguas e linguagens, para um entendimento comum, Odete Costa Semedo sinaliza com um procedimento recorrente em grande parte de seu trabalho literário, levando para o público leitor, em criol e em língua portuguesa guineensizada, uma possibilidade de leitura da Guiné-Bissau que não se delineia apenas através da re-apropriação lingüística do idioma do antigo colonizador: busca revelar, reinterpretadas poeticamente a partir de suas semelhanças e diferenças, as múltiplas falas que se fazem ouvir pelo país. Na tradição cultural guineense, o tcholonadur apresenta-se como uma

figura necessária, mesmo indispensável, com significados diversos, tanto nas culturas com base nas chamadas religiões naturais, como nas coletividades muçulmanas. Quando há algo a tratar entre dois contraentes, muitas vezes falantes de diferentes línguas, segundo os costumes locais, não é possível que os dois dialoguem diretamente, tornando-se necessária a presença de um terceiro, tradutor, mediador ou intermediário, que então passa para cada um o que o outro diz ou responde. A posição dos oponentes, muitas vezes sentados de costas viradas um para o outro, simboliza a distância, o antagonismo que o tcholonadur tenta superar. (AUGEL, 2003, pp.188).

    Ao desenvolver este papel em “Bu Tcholonadur” como em tantos outros momentos de sua trajetória literária, Odete Costa Semedo parece querer se posicionar, ainda segundo Augel (p.189), “entre os acontecimentos e o público ledor”, transmitindo para “os de fora”, na forma de um testemunho bastante particular, a memória ficcionalizada dos fatos. Seja num português impregnado de expressões, recursos e vocábulos retirados dos idiomas autóctones, seja numa cada vez mais nacionalizada língua crioula guineense, a escritora nos convida a “tomar de nossa esteira” porque muito há para contar, muito há por se fazer e “a história não é curta”. Para além de funcionar como meio de comunicação entre as diversas etnias e alternativa concreta dentro do fazer literário de Odete Costa Semedo, o criol da Guiné-Bissau, ao lado do português e das outras línguas nacionais se estabelece, portanto, como um espaço de afirmação identitária, literária e cultural, configurando assim um poderoso vetor de experimentação e criação artística.

    Nascida em Bissau a 7 de novembro de 1959, ou seja, em meio a uma geração que vivia a adolescência quando da proclamação da independência política nacional, Maria Odete Costa Soares Semedo se dedicaria à atividade docente, graduando-se em Línguas e Literaturas Modernas pela Universidade Nova de Lisboa. Paralela a essa experiência como educadora, veio se desenvolvendo uma carreira pública onde a autora teve a oportunidade de assumir importantes cargos como o de Diretora Geral de Ensino, ministra da Educação e, posteriormente, ministra da Saúde da Guiné-Bissau. A publicação em meados da década dos 90 de Entre o ser e o amar, livro composto por poemas de temática intimista, escritos anos antes de seu ingresso na carreira pública, surpreenderia grande parte da população guineense, acostumada com a imagem de intelectual, educadora e estadista, além de investir numa vertente até então pouco exercitada dentro da trajetória literária do país, que é o da poesia confessional, e desta feita disposta sob a ótica do feminino. Sua inventiva poética, seu pioneirismo e sua importância para a literatura da Guiné-Bissau receberam de Moema Parente Augel o seguinte comentário:

 

a poesia feminina africana tem em Odete Semedo uma representante muito expressiva. Ela vem ampliar a fileira de mulheres escritoras africanas de expressão portuguesa, ao lado das são-tomenses Alda do Espírito Santo e Manuela Margarido, de angolanas como Alda Lara, Ermelina Xavier, Lília da Fonseca, das moçambicanas Noémia de Sousa, Irene Gil, Glória de Sant' Ana, Paulina Chiziane, das cabo-verdianas Yolanda Morazzo, Vera Duarte, Orlanda Amarílis, alguns nomes entre muitos outros. Deve-se ressaltar que Odete Semedo é a primeira mulher a dar à estampa um livro individual no campo da poesia. (AUGEL, 1998, p. 265),

 

feito que, pelo pioneirismo editorial, perfila o seu nome junto ao de outras escritoras da África de colonização ibérica, tanto em língua espanhola (Fatma Ghalia e Zahra El Hasnaui Ahmed, do Saara Ocidental; María Nsúe, Raquel Ilonbé, da Guiné Equatorial) como portuguesa (Orlanda Amarílis e Dina Salústio, de Cabo Verde; Alda Espírito Santo e Manuela Margarido, de São Tomé e Príncipe; Noémia Sousa e Paulina Chiziane, de Moçambique) em seus respectivos contextos nacionais. Num país de forte tradição poética e com predominância autoral masculina, é relevante o fato de que outra mulher escritora, Domingas Samy, tenha sido a pioneira na publicação de contos que se debruçam exatamente sobre a condição feminina dentro da sociedade nacional (A Escola, de 1993). Anos mais tarde apareceria o primeiro romance de autoria feminina na Guiné Bissau: Tiara, publicado em 1999 e assinado pela angolano-guineense Filomena Embaló. Intermediando estas duas iniciativas, veio se somar o registro, em 1996, do já referido primeiro livro de poesias de Odete Costa Semedo.

 

    O desempenho criativo com o criol e, ao mesmo tempo, com a língua portuguesa, que Odete Costa Semedo experimenta largamente em seu trabalho poético, prossegue na direção de sua prosa. Ali delineia-se, e com traços igualmente bem marcados, a opção deliberada pelo duplo exercício de escritora que se apresenta como contadora de storias e passadas, ou vice-versa. Conforme ela mesma esclarece, as passadas guineenses podem ser interpretadas como uma forma de "reconto, narração de acontecimentos feita com ênfase", mas também como um "relato de bisbilhotices; fofoca". Sua atividade narrativa compõe-se basicamente de

 

histórias, algumas delas inspiradas em histórias tradicionais que muitos de nós tiveram o privilégio de ouvir em criança; umas basearam-se em piadas, ditos ou provérbios escutados aqui e ali (...), às quais banhei de alguma fantasia. Outras foram simplesmente inventadas. A expressão ouvi contar traduz um pouco a tão cultivada cultura guineense de N obi kuma  - ouvi dizer -, em que jamais se sabe a origem daquilo que alguém diz ter ouvido. Porque, no fundo, quem diz ter ouvido dizer, ter ouvido contar, é na maioria dos casos o autor da passada, mas que, no entretanto, não quer assumir a responsabilidade ou as conseqüências que a repercussão dessa passada pode vir a ter. (SEMEDO, 2000, p. 15).

 

    Investindo na tradição dos contadores e contadoras, e revestindo-se da condição de re-inventora da palavra que se vai fixar pela escrita, Odete Costa Semedo opera uma espécie de relação maior entre o oral e o escrito que carrega em seu bojo uma série de outras aproximações igualmente interessantes, revelando-nos uma vontade consciente de afirmar, através deste recurso, as dinâmicas do universo cultural africano contemporâneo e, como conseqüência, a híbrida condição em que se funda e se apóia o seu discurso literário particular: na confluência entre Ocidente e Oriente, representados, respectivamente, pelo seu letramento e formação acadêmica européia em consonância com a própria substância cultural africana de que se alimenta a sua habilidade de contar e de fazer poesia:

 

Da bu mon, mininu (Dá-me a tua mão, menino)

Abo ku ka ten rostu (Criança sem rosto)

Bin no bai (E caminha comigo)

No bai ianda mundu di  palabra (Nesta aventura de palavras)

No ba diskubri (Nós vamos descobrir)

Storia di pon (O enredo do pão)

 

 

REFERÊNCIAS

 

AUGEL, Moema Parente. Cantopoema do desassossego. Posfácio in: SEMEDO, Odete Costa. No fundo do canto. Viana do Castelo: Câmara Municipal, 2003.

 

AUGEL, Moema Parente. A nova literatura da Guiné-Bissau. Bissau: Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa (INEP), 1998, Col. Kebur.

 

COUTO, Hildo Honório. Introdução ao estudo das línguas crioulas. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1996.

 

EMBALÓ, Filomena. Breve resenha sobre a literatura da Guiné-Bissau. Disponível em: http://www.didinho.no.sapo.pt/resenhaliteratura.html

Acesso em: 19 dez 2004.

 

EMBALÓ, Filomena. Tiara. Lisboa: Instituto Camões, 1999.

 

LEITE, Ana Mafalda. Oralidades e escritas nas literaturas africanas. Lisboa: Colibri,1998.

 

MEMMI, Albert. Retrato do colonizado precedido pelo retrato do colonizador. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1977.

 

NDONGO-BIDYOGO, Donato. Literatura guineana: una  realidad emergente. Conferencia en Hofstra University. 3 de abril, 2006. Disponível em:

http://www.hofstra.edu/PDF/lacs_event_040306.pdf. Acesso em: 5 mai 2006.

 

QUEIROZ, Amarino Oliveira de. As inscrituras do verbo: dizibilidades performáticas da palavra poética africana. Recife: UFPE, Programa de Pós-graduação em Letras, 2007. Tese de Doutorado.

 

SAMY, Domingas Barbosa Mendes. A Escola. Bissau: Edição da autora, 1993.

 

SEMEDO, Odete Costa. No fundo do canto. Viana do Castelo, Portugal: Câmara Municipal, 2003. Edição brasileira: Belo Horizonte: Nandyala Editora, 2007.

SEMEDO, Odete Costa. DJÊNIA - Histórias e passadas que ouvi contar II. Bissau: INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa, 2000, Col. Kebur.

SEMEDO, Odete Costa. Entre o ser e o amar. Bissau: INEP -Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa, 1996, Col. Kebur.

SEMEDO, Odete Costa. Um dedo de conversa com a Tia Antera sobre as mandjuandadi. In: Tcholona, Revista de letras, artes e cultura. Bissau: GREC / INEP, Ano 2, n. 6-7, Abril-Julho 1996 (b), pp. 5-9.

SEMEDO, Odete Costa. Um canto para as cantigas de ditu. In: Tcholona, Revista de letras, artes e cultura. Bissau: GREC / INEP, Ano 2, n. 6-7, Abril-Julho 1996 (c), pp. 24-25.

THIONG’O, Ngugi wa. The language of African Literature. The post-colonial studies reader. Bill Ashccroft et alii (Ed). London: Routledge, 2002, pp. 285-290.

THIONG’O, Ngugi wa. Decolonizing the mind: the politics of language on African Literature. London: J. Curry; Portsmouth, N.H.: Heinemann, 1986.

THIONG’O, Ngugi wa. A Grain of Wheat. London: Heinemann, 1967.

THIONG’O, Ngugi wa. The River Between. London: Heinemann, 1965.

THIONG’O, Ngugi wa. Weep Not, Child. London: Heinemann, 1964.

TRIGO, Salvato. Luandino Vieira, o logoteta. Porto: Brasília Editora, 1981.

VENÂNCIO, José Carlos. Literatura e poder na África lusófona.  Lisboa: Ministério da Educação - Instituto de Cultura e Língua Portuguesa,1992.

 


 

[1] Doutor em Letras (Literaturas Africanas, UFPE). Mestre em Literatura e Diversidade Cultural (Poéticas da Oralidade, UEFS). Bacharel em Língua Estrangeira (Espanhol, UFBA). Professor da Universidade Estadual de Feira de Santana (Departamento de Letras e Artes).

[2] O spanglish é uma variante língüística híbrida de espanhol e inglês, assim como o pachuco, ou pochismo, língua de contato e gíria cultivada por jovens de ascendência mexicana observada em áreas do Arizona e da Califórnia. Formatado estrategicamente pela necessidade de comunicação imediata entre as populações hispanófonas e anglófonas num âmbito maior e estadunidense, o espanglis apresenta expressivas formas literárias em prosa e em poesia, a exemplo das chamadas literaturas chicana (mexicana-estadunidense) e nuyorican (porto-riquenha/nova-iorquina), para dar dois dos exemplos mais conhecidos. Já o papiamento é uma língua crioula, baseada no português e no espanhol, resultante da mescla destas com o aruaque autóctone, mais alguns idiomas africanos de origem banto e kwa e, ainda, elementos do francês, do holandês e do inglês. Há inclusive teorias que reivindicam a inclusão do papiamento no universo luso-falante, apoiando-se, entre outras razões, na base predominantemente portuguesa de sua estrutura e em sua semelhança com o crioulo cabo-verdiano. O próprio termo designativo para a língua provém de papia, falar, verbo que ocorre igualmente nos crioulos de Cabo Verde e da Guiné-Bissau. Em detrimento da oficialidade da língua holandesa, o papiamento vem se fixando como idioma preponderante na região antilhana holandesa, apresentando inclusive uma literatura escrita fortemente influenciada pela tradição oral, no que se aproxima dos créoles de base francesa falados na Martinica, em Guadalupe e no Haiti, ou do kaboverdianu, da língua guineense e do forro, ou santomé, de São Tomé e Príncipe.

 

[3] EMBALÓ, Filomena. Breve resenha sobre a literatura da Guiné-Bissau. Disponível em: http://didinho.no.sapo.pt/resenhaliteratura.html. Acesso em: 19 dez 2004.

 

[4] O texto da canção anuncia que "a amada jura que vai atravessar o rio para ir a São João, ao encontro do seu amor". E que, ainda que ela venha a "morrer pelo caminho, no mar, valerá a pena, pois morrerá porque saiu para ir ao encontro do seu amor".