“Dianty ki caminho”

um apelo da Gumbé Stars System Orquestra

 

 

 

 

 

 

 

Filomena Embaló

fembalo@gmail.com

07.05.2009

 Filomena EmbalóDianty ki caminho (para a frente  é que é o caminho), dizem-nos os irmãos Soares, Bêbo e Herculano, da Gumbé Stars System Orquestra, ao intitularem assim  o disco que lançaram recentemente em Paris. Um trabalho musical que vai buscar às raízes do gumbé os ritmos que nos transportam até à Guiné-Bissau. Vinte e dois anos depois de terem deixado a terra natal, os meninos do Bairro de Coburnel continuam fiéis aos acordes que embalaram a sua infância e adolescência e de que são exímios intérpretes.

Tendo iniciado a carreira musical ainda com 12 anos de idade, Bêbo e Herculano evoluíram em vários conjuntos nacionais como os Águias Negras, Jovens Dilolos, Cobiana Djaz e Capas Negras. Em 1973 participaram num grande festival organizado em Bissau no que veio a ser o Estádio Lino Correia depois da independência nacional. Em meados da década de setenta, Herculano e Bêbo, com uma carreira já afirmada, integraram conjuntos diferentes, o primeiro N´Mbaranço e o segundo N’Kassa Cobra.

 

Estrearam-se na cena internacional em 1976 com uma deslocação a Portugal, onde realizaram várias actuações e gravaram 2 discos. Nesse mesmo ano, Bêbo actuou com os Sabaminiamba de Sidó na Festa do Avante. Em 1979, com o grupo  Djorçon de Ernesto Dabô, considerado na altura como uma das mais belas vozes de África, participaram num encontro musical na ex-URSS, país que os acolheu também em 1981 para o Festival Mundial da Juventude, desta vez com o N’Kassa Cobra, declarado o grupo revelação desse festival. Foi ainda com este mesmo conjunto que nos anos 1983-1984 participaram no Festival da África Oeste realizado em Dacar, com a consagração do conjunto que conquistou o título do 5° melhor grupo.

 

De destacar ainda o troféu de melhor artista de um concurso musical organizado em Bissau atribuído ao Herculano, tendo ficado em 3° lugar depois do Justino Delgado e o Miguelinho N’Simba.

 

Em Julho de 1987, Bêbo e Herculano partem para novos horizontes com uma primeira paragem em Portugal, instalando-se depois em França. Entre 1987 e 1988, gravaram, com Naka Ramiro, o disco N’Kassa Cobra Lundjissi.  

 

Por duas vezes actuaram na Festa da Música contemporânea na Suíça, da primeira com Sidó e da segunda com Ramiro Naka. Foi também com este último que em 1999 participaram no Festival da Canção organizado pela Culturgest em Portugal. Em 2001 acompanharam num festival musical o cantor e músico cabo-verdiano Nando Cruz, membro do grupo Cabo-Verde Show.

 

Foi na edição de 2003 do Festival Victoires de la Musique de Paris, que Bêbo foi consagrado um dos melhores guitarristas africanos do evento, tendo sido considerado “le petit Franco” e “le Petit Dibala Diblo”, os grandes guitarristas de todos os tempos.

 

O duo  Gumbé Stars System Orquestra foi criado pelos dois irmãos na sequência da dissolução do N’Kassa Cobra, ocorrida pouco depois da chegada a França dos membros do grupo. Hoje, ao brindarem-nos com este novo trabalho, Bêbo e Herculano confirmam uma vez mais, o enorme talento revelado ao longo das suas já longas carreiras.

 

Dianty ki caminho, uma compilação de 12 canções, revela um cruzamento feliz dos ritmos da terra com melodias de outras paragens, como demonstram, em particular, o estilo langoroso da sublime orquestração do tema Kunô e os sabores latino-americanos da canção Manana.

 

A temática das letras das músicas do CD mostra a preocupação dos autores/intérpretes pela situação do país natal, lamentando a guerra sem motivo provocada pelo desejo de uns de chegarem à reinança[i] à força. A saudade da terra daquele que partiu ou o amor distante de uma flor de Bandé, traduzem o dilema do emigrante entre o ficar e o voltar ao chão onde foi enterrado o seu umbigo.

 

Dianty ki caminho, que contou, entre outros, com a participação de Tony Dudo, Nununo Delgado, Tony Reis, leva-nos à Guiné-Bissau, ao seu  coi-coi[ii]  do dia a dia na luta pela sobrevivência, mas canta também a esperança num futuro melhor.

 

Dinâmico e empreendedor, para além da música e da sua actividade profissional, Bêbo participa activamente na vida associativa da localidade de Sarcelles, onde reside na França. É o presidente desde 2001, data da sua criação, da Associação ALMS-TV (Association des locataires du monde à Sarcelles-Tour Valadon), sindicato de co-propriétarios. Trata-se de uma associação de defesa dos inquilinos e de ajuda às pessoas em dificuldade, sem casa, jovens sem trabalho, com problemas de inserção social e no mundo do trabalho. A associação desenvolve actividades de formação, nomeadamente nas áreas de informática, alfabetização, culinária e musical. A associação é também a pioneira do projecto de criação da Rádio de Sarcelles.

 


 

[i] Exercício do poder

[ii] Labuta, canseira

 

OS IRMÃOS SOARES NO MYSPACE.COM

 

 

 

 

 

 

 

DEIXE O SEU COMENTÁRIO

A TER SEMPRE EM CONTA: Objectivos do Milénio

PROJECTO GUINÉ-BISSAU: CONTRIBUTO - LOGOTIPO

VAMOS CONTINUAR A TRABALHAR!

Projecto Guiné-Bissau: CONTRIBUTO

www.didinho.org