DA GUINÉ-BISSAU

 

 

 

 

Padre Celso Corbioli

celsocorbioli@omimissio.net

Bissau, 15.04.2012

Pe. Celso CorbioliCaros amigos,

Desta vez escrevo-vos da Guiné-Bissau, onde cheguei há três semanas atrás. Como muitos sabem, passei 8 meses em Itália e isto porque, no final de Julho de 2011 tive de deixar a Guiné-Bissau por causa de uma febre persistente; a estadia em Itália foi mais longa do que o previsto. Agradeço aos médicos do hospital de Negrar (Verona) que me seguiram, aos meus familiares e aos meus confrades, especialmente aos da comunidade de Florença, onde passei a maior parte deste período.

Agradeço também àqueles de vós a quem tive a alegria de encontrar. Experimentei que há imensas coisas de valor na vida, e que “tudo concorre para o bem dos que amam a Deus” (Rom. 8,28). Na verdade, durante o tempo que passei em Itália recebi imensos dons: tive a oportunidade de participar na beatificação dos 23 mártires oblatos em Madrid, pude seguir cursos de discernimento e de reflexão, encontrei tantas pessoas corajosas que me marcaram pelo seu empenho, confirmando uma vez mais o quanto vale a pena entregar a vida por Cristo e pelo Seu Reino.

Regressei à Guiné-Bissau com a companhia aérea marroquina. Tive a possibilidade de ficar alguns dias em Marrocos, hóspede de Claude Gamble, um amigo focolarino com quem partilhei diversas experiências durante o tempo que passei nos Camarões. Pude admirar o trabalho maravilhoso que o Claude está a fazer no diálogo com os muçulmanos. Através dele pude ainda encontrar-me com algumas famílias e ter a confirmação do quão belo seria o mundo se todos desejassem o bem e se respeitassem.

Quando cheguei à Guiné-Bissau, fui acolhido pelos confrades da minha comunidade, o pe. Giancarlo e o pe. George. No dia seguinte ao meu regresso, pude encontrar-me com os três bispos da Guiné-Bissau e com o pessoal da Cúria.

Durante a missa Crismal na catedral, tive a oportunidade de cumprimentar muitos religiosos, religiosas e fiéis que conheci durante estes anos. Foi belo o reencontro; parecia um regresso à família, um regresso a casa.

Antes da minha partida para Itália, o bispo de Bissau tinha-nos atribuído a função de ocupar-nos de uma paróquia que se encontra entre a periferia e o centro da cidade, uma vez que no momento não tinha sacerdotes suficientes. As nossas ocupações então, para além daquelas no Centro de Espiritualidade de N’Dame e do trabalho de administração na Cúria, compreendiam agora também o serviço pastoral nesta paróquia chamada Antula. Por ser uma paróquia bastante antiga, não tem agora uma igreja. Todas as celebrações são feitas fora. As pessoas são muitas, entre cristãos e catecúmenos. Na noite de Páscoa tivemos a alegria de baptizar uma centena deles. O nosso trabalho consiste então em seguir toda esta população; esperamos agora poder construir em breve uma igreja onde se possa celebrar a Eucaristia e facilitar o anúncio da Palavra de Deus.

Como de outras vezes, a Guiné volta agora a encontrar a sua fisionomia devido a uma situação política e social instável. Temos necessidade de pessoas novas. A igreja pode formar estas pessoas, se tem facilidade, nas suas estruturas, para anunciar o Evangelho.

Eu estava para concluir esta carta, quando voltámos a experimentar mais uma vez a frágil estabilidade desta nação. Ao final da tarde de quinta-feira dia 12 de Abril, ao regressar a Bissau depois de alguns dias passados no Senegal com os nossos confrades, encontrámos uma surpresa. Quando chegámos perto das 20:30 à periferia de Bissau, vimos militares no meio da estrada que nos intimidavam a voltar para trás. Não sabíamos por que razão. Um deles, um tanto irritado, dizia: “riba pa tras!” (voltem para trás!)

O pe. Giancarlo estava para pedir explicações, mas aquele agora mais agitado, repetia continuamente: “riba pa tras!” Percebemos que se teria passado algo. Depois de voltarmos alguns kms para trás, telefonámos ao pe. Domingos, vigário geral, que nos disse que estava em curso uma tentativa de golpe de estado. Pensámos então que era melhor ficarmos na missão de Safim (a 10 km), que pertence às Irmãs de S. José, de origem angolana. Fomos muito bem acolhidos. Estávamos o pe. Giancarlo, o pe. George e eu. Elas, que tinham visto de todas as cores em Angola durante a guerra civil, não pareciam muito preocupadas. Prepararam o jantar e o local para dormir. Brincando, dizíamos que éramos refugiados!

As únicas rádios que transmitiam eram estrangeiras: a portuguesa e a francesa. As locais, incluindo a rádio católica “Sol Mansi” foram encerradas pelos militares.

No dia seguinte pudemos chegar à Cúria sem problemas. As notícias eram bastante confusas. Dizia-se que os militares tinham prendido o Presidente interino, Raimundo Pereira, e ainda o Primeiro-ministro, Carlos Gomes  Júnior. E depois anunciaram a detenção do Chefe do Exército, António Indjai.

Ainda que a situação permaneça confusa, há calma no país. Há uma tentativa de diálogo entre os militares e as forças políticas. Esperemos que se chegue depressa a uma conclusão positiva.

Acabámos de celebrar a Páscoa. Na sua primeira aparição aos apóstolos, Jesus saudou-os dizendo: a paz esteja convosco. Peçamos a paz também para este povo.

E peçamo-la ainda a Maria, Rainha da paz.

Cumprimentos a cada um de vós e a todas as vossas famílias.

Pe. Celso

Junto envio uma foto com o pe. Giancarlo e com o pe. George

 

P. Celso Corbioli, omi
Centro de N'Dame
C.P. 20
1001 Bissau Codex
Guinea Bissau
tel.00245 6615927
E-mail:
celsocorbioli@omimissio.net 

 

 

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