Criança NÃO É UM ADULTO PEQUENO...

 

 

Sandra Cardão *

www.bemestarmenteealma.pt.vg

13.05.2010

Dra. Sandra CardãoLembrei-me das crianças-soldado, das crianças-fome, das crianças abandonadas, infelizes… Da forma como temos descuidado as nossas crianças por todo o planeta…

Criança não é um adulto em ponto pequeno. Nem tão pouco é um ser que até aos 6 ou aos 7 anos de idade, nada compreende ou sente. Muito menos é uma criatura sem mente, que não pensa ou que não consegue pensar.


Lawrence Frank, foi um dos pioneiros sobre a importância do desenvolvimento infantil, que documentou um conjunto de crenças inter-culturais do género, apontando que estas beneficiaram sempre mais o adulto do que a própria criança. Crenças que prevaleceram durante vários séculos em muitas culturas, até que Sigmund Freud (médico neurologista e fundador da psicanálise) vem revolucionar toda a concepção do mundo infantil ao suspeitar de que muitos dos problemas dos adultos teriam raiz nos seus tempos de criança.

Daí a sua conhecida frase de que a “criança é o pai do homem”, porque a forma como a criança é educada, amada ou não, as experiências pelas quais passa na infância, a forma como constrói laços de afecto com as figuras privilegiadas do seu mundo, normalmente os pais ou outras figuras parentais (avós, tios, irmãos…), irão influenciar em larga escala o adulto em que se tornará.

Hoje sabe-se que a criança é um ser humano que demora o seu tempo a desenvolver-se até ser adulta, e que em cada fase do seu desenvolvimento vai adquirindo um conjunto de capacidades e de potencialidades. Sabemos que enquanto se desenvolve gosta de ter um colo aconchegante, gosta de ser tranquilizada, que brinquem com ela, que riam e sorriam, que lhe ensinem coisas e lhe apontem caminhos… Que a deixem descobrir coisas novas ao seu redor, que a deixem brincar, que a deixem maravilhar-se e usufruir do seu direito a ser criança. Enquanto se desenvolve não pensa como um adolescente, nem sequer como um adulto. Pensa como uma criança, sente como uma criança. Mas não é por isso que os seus pensamentos e sentimentos têm menos valor, só porque provêm de pessoas mais pequenas. Criança sabe muito bem quando é amada, quando é tocada de forma correcta, quando lhe falam direito, quando a tratam bem, quando se é verdadeiro com ela, porque absorve muito rapidamente tudo o que está à sua volta, porque nasce com a intuição aguçada.

Mas sabemos também, hoje melhor do que nunca, que apesar de todo o conhecimento que se reuniu sobre a psicologia da criança e do adolescente, sobre o desenvolvimento infantil, há ainda certas crenças que não beneficiam em nada o crescimento das crianças. São crenças que hoje só podem ser baseadas na ignorância, no obscurantismo, e que ainda prevalecem em muitas culturas espalhadas pelo nosso mundo.

Não existe nenhuma magia para fazer passar uma criança saudável a adulto saudável, assim como não existe magia para transformar uma criança perturbada e sofrida num adulto equilibrado. A magia depende de nós adultos, depende da forma como percebemos o desenvolvimento infantil e fazemos o melhor que podemos para que a criança tenha o direito a ser pequena, com as características que lhe são próprias em cada idade. Depende do respeito que temos pelos seus direitos de criança, a quem se deu voz:

- Temos direito a ter um nome e um país;

- Temos direito a ter o amor e a compreensão de todos e uma família feliz;

- Temos direito a aprender e a brincar, a saber e a participar;

- Temos direito a uma infância feliz;

- Temos direito a viver, a comer, e a ter uma casa;

- Temos direito a ser respeitadas;

- Temos direito a ser sempre os primeiros a receber ajuda;

- Temos direito a crescer contentes e livres;

- Temos direito a crescer na fé e a aprender a ser amigos de todos;

- Temos direito a não trabalhar como faz o adulto;

- Temos direito a ser protegidas contra toda a espécie de torturas e abusos: físicos, morais, sexuais.

- Temos direito a sermos apoiadas pelo Estado.

- Temos o direito a não tomar parte das hostilidades da gente graúda, inclusive a fazer parte de forças armadas;

- Temos o direito a estatuto de refugiado, a assistência e protecção humanitária sempre que necessário;

E muitos mais direitos têm. Estão consagrados na Declaração Universal dos Direitos da Criança; na Carta Africana sobre os Direitos e o Bem-Estar da Criança, que todos os estados membros da União Africana – UA - se obrigaram a assinar até 2009; estão ainda consagrados em todas as mentes, culturas, sociedades, que promovem os valores éticos mais elevados.

A criança não é um adulto pequeno.., e tem os seus direitos.

Sandra Cardão


 

(Imagem da World Wide Web)


Referências

Sprinthall, N.A., Sprinthall, R. C. (1993). Psicologia Educacional. McGraw- Hill.

Gleitman, H. (1999). Psicologia. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian.

UNICEF, (1959). Declaração Universal dos Direitos da Criança.

Organização da Unidade Africana, (1990). Carta Africana sobre os Direitos e o Bem-Estar das Crianças.
 

(Imagem da UNICEF)

 

* Sandra Cardão nasceu em Angola, é Licenciada em Psicologia Clínica, fez estágio na área da Psicogerontologia e tem trabalhado no âmbito escolar com crianças do Ensino Básico (integração de minorias, crianças carenciadas). Também é Facilitadora de Grupos de Jovens para a Promoção do Desenvolvimento Pessoal. É Autora e Formadora Certificada.

 

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