CONTINUAMOS SEM SABER QUE OS CONFLITOS EVITAM-SE, SOBRETUDO, COM A PREVENÇÃO!

 

 

 

 

Por: Fernando Casimiro (Didinho)

didinho@sapo.pt

15.05.2009

Fernando Casimiro (Didinho)Está na hora de mudar, está na hora de todos falarmos, de todos dizermos o que pensamos, de todos também poderem defender-se, quando acharem que o que se diz deles não corresponde à verdade.

Temos que aceitar as diferenças, temos que saber reconhecer os nossos erros, as nossas falhas, as nossas carências. Temos que pedir desculpa ao nosso povo quando esse mesmo povo, através de várias vozes, mostra-nos a sua indignação pelos nossos actos negativos, por terem directa ou indirectamente prejudicado a Guiné-Bissau e os guineenses.

Para ajudarmos os políticos, temos que lhes dizer a verdade, mesmo que seja a nossa verdade, mas é sempre uma alternativa para que não pensem que, para além deles, mais ninguém pensa.

Por outro lado, eles devem ser humildes, ter respeito pelas opiniões que são produzidas sobre eles, pois só assim poderão melhorar as suas posturas e ir de encontro ao que se pretende deles. Caso contrário, jamais conseguirão libertar-se da tendência demagógica.

A Guiné-Bissau perdeu uma grande oportunidade de mudança rumo à estabilidade e à Paz duradoura, devido à renitência de uns e conivência de outros, de uma extensa rede envolvente do mal, entre os directamente culpados ou indirectamente implicados e merecedores de responsabilização pelo estado crítico em que se encontra o país, ao se pronunciarem contra o envio de uma justificada e oportuna Força Militar e Policial das Nações Unidas, face aos acontecimentos de 1 e 2 de Março de 2009, que culminaram com os assassinatos de Tagme Na Waie, então Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas e de João Bernardo Vieira, então Presidente da República.

Haja alguém a decidir, mas ciente de que doravante, deverá ser responsabilizado quando agir em prejuízo da Guiné-Bissau e dos guineenses. Se a Justiça institucional não consegue acabar com a impunidade, o povo, verdadeiro dono do poder deve agir para que se ponha fim à impunidade e para que a Justiça na Guiné-Bissau passe a ser um instrumento do bem e não do mal!

Quero, antes de desenvolver este meu raciocínio sobre esta matéria, dizer que respeito todas as opiniões contrárias à minha, das muitas pronunciadas por políticos, governantes, militares, candidatos às próximas presidenciais e simples cidadãos como eu.

Quero dizer que discordo completamente dos parcos argumentos apresentados pelos que são contra a presença de uma Força Multinacional na Guiné-Bissau e assentes na lógica de que os guineenses entendem-se entre eles... São muitos, cíclicos e péssimos exemplos ao longo de 36 anos de independência e nada faz crer que se fique pelas barbáries de 1 e 2 de Março ou pelos desmandos havidos nas semanas seguintes...

A classe política e militar na Guiné-Bissau tem-se posicionado contra uma eventual Força Militar e Policial Multinacional na Guiné-Bissau, sob um pretenso e descabido patriotismo, contraditório até, pelas diversas Missões do género e no âmbito das Nações Unidas, em que a Guiné-Bissau participou, com orgulho, através das nossas Forças Armadas. Estivemos em vários países e para participarmos nessas Missões, para ajudarmos esses países a obterem estabilidade, foi preciso esses mesmos países reconhecerem não estar à altura de resolver os seus cíclicos problemas, apesar de também saberem que a eles competia e compete essa tarefa, mas, sabendo que não poderiam continuar a adiar o futuro, acreditando simplesmente na boa vontade de cada um, assente nas pretensões de defesa dos interesses pessoais e não de todo um povo.

Seremos mais patriotas do que os cidadãos, políticos, governantes e militares de todos esses países onde participamos em Missões das Nações Unidas?

Somos "autores" de algum estudo ou experiência prática positiva sobre a prevenção de conflitos, nós que somos um caso real de verdadeira necessidade de estudo, análise, avaliação e ajuda sobre conflitos resultantes da disputa pelo poder, para acharmos que não devemos seguir os passos e as experiências positivas de outros povos e países?

Quando num país de permanente instabilidade, com exemplos repetitivos de golpes de Estado, de assassinatos de Chefes do Estado-Maior General das Forças Armadas e agora de um Presidente da República, para além da rotineira matança, perseguição, espancamento, prisão e tortura de cidadãos incómodos por serem divergentes, sem que alguma vez alguém tenha sido responsabilizado e punido por actos tão bárbaros e condenáveis a todos os níveis, diria, quem pode acreditar que há garantias de segurança no país, ou que o fim das matanças foi declarado com as mortes de Tagme Na Waie e Nino Vieira?!

Quem é o actual Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas interino, Zamora Induta, para se opor ao envio de uma Força Multinacional para a Guiné-Bissau, senão por ser alguém que participou em golpes de Estado, que directa ou indirectamente prejudicou o país e provavelmente participou em acções bárbaras contra cidadãos guineenses?

Ao Zamora Induta que tanto diz que a segurança na Guiné-Bissau é preocupante por haver muita gente com uniforme militar e armamento, mas que, na verdade não são militares das nossas Forças Armadas, deve-se questionar como rejeita uma Missão Militar Internacional para a Guiné-Bissau, quando as nossas Forças Armadas não assumem responsabilidades quando alguém é espancado ou morto por indivíduos fardados e armados!

Quem não vê que uma Missão Militar e Policial Multinacional, solicitado pela Guiné-Bissau e mandatado pelas Nações Unidas iria impedir o eterno envolvimento das Forças Armadas no dirigismo nacional, garantindo igualmente a operacionalidade estrutural atribuída às Forças Armadas, promovendo o cultivo de boas práticas na instituição castrense, como também, de certo modo, impedir a participação das Forças Armadas no narcotráfico?

Quando Zamora Induta se opõe, sabe que está a salvaguardar os seus interesses, pois será sempre (...) o expoente máximo do poder das armas, num país em que todos temem um poder que não faz parte dos órgãos de soberania, o poder militar, que continua a ser a razão principal da impunidade no país!

Quem são os políticos e governantes que se opõem ao envio de uma Força Militar Multinacional para a Guiné-Bissau, senão todos aqueles que querem estar bem com o "sistema", ainda que sabendo que um dia poderão vir a ser vítimas desta conivência com o mal, na tentativa de garantirem os seus sustentos através de um poder a cair de podre, mesmo conscientes de que estão a prejudicar, uma vez mais, o povo guineense?!

Tem-se ouvido posicionamentos categóricos de candidatos às próximas Presidenciais, que se esquecem, no entanto, de que desde que Nino Vieira regressou ao poder em 2005, não se ouviu a voz deles condenando actos bárbaros contra o nosso povo; a falta de segurança, o narcotráfico, a falta de emprego, a degradação da Saúde, da Educação, o incumprimento de salários, e tudo de negativo que se passou ao longo desse período...! Não vou perguntar onde estavam, pois sabe-se onde estavam, nem vou dizer que tinham medo de falar. Vou apenas dizer que se remeteram ao silêncio, ou tornaram-se indiferentes...

É fácil rejeitar uma Força Militar e Policial Multinacional para o país, depois de se ouvir o NÃO da boca do actual "chefe" das Forças Armadas, Zamora Induta; ou algum candidato  às próximas presidenciais tem coragem para discordar da opinião do "chefe"?

É fácil rejeitar uma Força Militar e Policial Multinacional, quando se tem "estatuto", esquecendo-se que esse "estatuto" não é para todo um povo que ao longo de 36 anos tem sido massacrado por políticos, governantes e militares, chegando ao ponto de não ter em quem confiar, em quem recorrer para a defesa dos seus direitos, liberdades e garantias, porquanto o país ser dirigido por demagogos e oportunistas!

É fácil rejeitar uma Força Militar e Policial Multinacional porque ganhando ou perdendo as eleições, fica o registo do "contra", que garante protecção e segurança destes contras, mas nunca do povo guineense, que se abrir a boca para se manifestar contra os atropelos de que tem sido vítima, sabe o que lhe acontece na Guiné-Bissau e aí, os senhores candidatos, o que vier a ser Presidente da República e todos os demais, remeter-se-ão, de novo, a um "silêncio ensurdecedor" .

E quem acudirá ao povo guineense, quando alguém resolver pegar em armas para mudar algo em seu favor, como tem acontecido ao longo dos anos e sabendo que recentemente foram detidas muitas pessoas por uma alegada conspiração visando eliminar o novo "chefe" das Forças Armadas, Zamora Induta?!

Ao longo dos anos, de promessa em promessa, feita aos guineenses e à Comunidade Internacional, pelos diversos actores políticos e militares de que não voltaria a haver instabilidade, que não voltaria a ser disparado um único tiro, etc. fomos assistindo a disputas de vários contornos, mas nenhuma motivada pela defesa do interesse nacional e, por assim dizer, do povo guineense, disputas essas "acompanhadas" por todos, mas com poucos a alertarem para a previsibilidade de conflitos de grandes e graves proporções resultantes dessas disputas em torno dos poderes de um poder ditatorial e eternamente impune na Guiné-Bissau.

Nunca houve preocupação para a prevenção de conflitos na Guiné-Bissau. Todos acham, porque alguém de bom senso alguma vez o disse e, por soar bem, que os problemas da Guiné-Bissau devem ser resolvidos pelos guineenses. Concordo e tenho transmitido insistentemente esta forma de encarar o patriotismo, mas entre o que os guineenses devem fazer e o que os guineenses podem ou não fazer, existe espaço e razão para análise e avaliação dos prós e dos contra, tomando em consideração os assuntos cujas complexidades ultrapassaram, há muito, os caprichos de um patriotismo incoerente e que chega a ser prejudicial ao interesse nacional.

O tempo saberá, uma vez mais e na devida altura, mostrar de que lado está a razão entre os que são a favor e os que são contra o envio de uma Força Militar e Policial Multinacional para a Guiné-Bissau, se é que se trata de ter ou deixar de ter razão...

Vamos continuar a trabalhar!

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