CONFERÊNCIA: “CABINDA, OS CAMINHOS PARA A PAZ”

 

Sociedade Portuguesa de Geografia, 23 de Novembro de 2007

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Subsídios para uma reflexão sobre a importância da paz para o desenvolvimento.

 

 

João A. Conduto Júnior *

 

 

Resumo

 

 

As Guerras de uma forma geral, violam a ordem moral e social, e os caminhos para o restabelecimento dessa ordem requerem o concurso de bom senso e espírito positivo e criativo. O estabelecimento de plataformas para fazer vincar a paz social não deve nunca partir de pressupostos negativos, mas sim da oportunidade para que a qualidade humana se possa exaltar. Assim constrói-se a confiança, porque sem esta não há paz e qualquer aproximação é uma pura ilusão.

 

A paz social não se consegue apenas com a ausência da guerra, a verdadeira paz é invariavelmente fruto da justiça, da equidade, da virtude moral e da garantia legal na perspectiva de assegurar a manutenção do respeito pleno de direitos e deveres assim como da equilibrada distribuição dos benefícios e encargos. Tudo o resto é uma pura ilusão. A ordem, na sua completa dimensão pode por vezes ser inoportuna, mas é condição do progresso.

 

É preciso notar que a injustiça propicia a emergência conflitos e a violência atrai violência, numa trágica e medonha espiral que pela sua natureza arrasta também as gerações mais novas, que vai herdando assim o ódio que esteve na génese das desavenças precedentes. E é mais fácil herdar o ódio do que os próprios bens materiais.

 

A pobreza é outro factor que ameaça a paz. Se olharmos para o mundo e nos detivermos por instantes sobre o desequilíbrio que se verifica na distribuição do rendimento, podemos de certa forma, compreender as razões de tormentos incessantes a que assistimos um pouco por toda parte.

 

Para construir uma paz alicerçada no espírito dos homens, é necessário encontrar formas de criar oportunidades para que as pessoas possam ter uma vida decente. Só assim poderemos todos desfrutar em paz e harmonia deste maravilhoso mundo da ciência e da tecnologia.

 

O caminho para a paz verdadeira e profícua, passa forçosamente pela compreensão de que é necessário perdoar. O perdão não se opõe necessariamente à justiça porque não consiste em deferir as exigências objectivamente legitimas de reparação da ordem violada ou conspurcada, mas aspira sobretudo a plenitude da justiça que por seu turno engendra a tranquilidade da ordem, a qual é bem mais do que uma frágil e provisória cessação das hostilidades, porque consiste na cura em real profundidade das feridas que sangram nos corações. Para tal cura, ambas, justiça e perdão são essenciais, sempre.

 

 

 

Experiência Guineense

 

Num debate desta natureza e porque o efeito do binómio paz – desenvolvimento, produz as mesmas repercussões em qualquer sociedade e em qualquer época, permito-me deter sobre um caso concreto, a Guiné-Bissau, o meu país.

 

A Guiné-Bissau é um país cuja história das últimas três décadas ilustra um caso tipo de como sem a paz social não se consegue gizar e concretizar o mais elementar trajecto para o desenvolvimento sustentado.

 

A nossa experiência mostra-nos de forma cruel, que a inexistência da guerra não significa necessariamente a paz e que a violência que emana do espírito humano se pode revestir de formas diversas, por vezes estranhas a condição humana.

 

O meu país é seguramente dos países de todo o mundo, onde se verificou maior regressão em quase todos os domínios da vida da sociedade. Falhou-se em todos os aspectos fundamentais. A batalha para a concentração de esforços para a construção de uma sociedade de bem-estar foi perdida.

 

Porquê? Porque os homens que estiveram na vanguarda não conseguiram compreender a dimensão histórica e humana da missão a qual estavam entregues.

 

Toda a energia que se poderia concentrar nos esforços de desenvolvimento, foi desviada para gestão de conflitos e para supostos reforços da segurança para se proteger de fantasmas, de ameaças fictícias e diabólicas. A desconfiança entre os homens instalou-se dando espaço a emergência teimosa da lei do mais violento e/ou do mais insensível.

 

Como de resto já referi, a violência puxa violência, irremediavelmente. A injustiça e a impunidade arrastaram a nossa comunidade para vivências carregadas de ressentimentos, ajuste de contas fortalecendo assim o espírito de vingança. Toda esta situação levou a desarticulação do sistema e ao enfraquecimento dos alicerces firmados na génese da fundação da nacionalidade. Com o enfraquecimento do Estado na sua autoridade, o poder passou também a ser exercido por gente sem preparação e sem a mais elementar noção da organização e da perenidade do Estado. Refiro-me preparação cultural, política e técnica. E julgo que até já haja quem esteja com vontade de anunciar a morte da elite!

 

Os valores da solidariedade, próprios da nossa tradição, assim como os da palavra, da família, enfim, tudo o que de nobre existia, foram descontinuados.

 

Tudo isto tolhe o desenvolvimento, porque propicia a morte do Estado Normativo, porque propicia a corrupção e o banditismo de Estado, no limite, faz erguer tudo o que afugenta o capital, quer humano, quer material. A inexistência da paz e da justiça social provoca a distorção na alocação de recursos escassos, assim como leva ao empobrecimento do espírito empreendedor. Portanto não há criação da riqueza porque não se investe para tal. Não havendo criação da riqueza não pode haver a redistribuição, e nesse continuum não há lugar para o desenvolvimento sustentado. É a estagnação e depois a decadência. E é mais conflito e violência nas suas diversas geometrias. É este o panorama.

 

Por tudo isto, penso que os homens bons têm que reagir!

 

E porque a ausência da guerra não significa existência da paz, é preciso acreditar na capacidade do homem, e na sua bondade. 

 

(*) – Engenheiro químico e Mestre em Economia

PROJECTO GUINÉ-BISSAU: CONTRIBUTO - LOGOTIPO

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