BREVES CONSIDERAÇÕES

 

 

 

Alai Sidibé [*]

Alai Sidibé

alt0154@londonmet.ac.uk

alaisidibe@blackberry.orange.co.uk

Londres 06 Abril 2009

 

“Uma palavra de verdade vale mais que o mundo inteiro”.

 

 

As palavras supra citadas, foram repetidas, até ao último suspiro, pelo escritor russo, Alexandre Issaievitch Soljenitsyne (1918 – 2008). Vamos ver porquê!

 

1. Quem com ferro mata...- Os reincidentes acontecimentos político-militares ocorridos recentemente na Guiné-Bissau (por isso mesmo), longe de constituírem surpresa, requerem, contudo, duma vez por todas, uma abordagem, ao menos desta vez, diferente - por parte de todos aqueles que sentem o país – do que aquela que tem sido habitual até agora. A nova abordagem a que aqui se refere, deve fundar os seus alicerces pelo facto de a tropa ter ido longe demais. Mas já que na vida tudo tem os seus limites, no caso concreto da Guiné, estes limites há muito que foram ultrapassados.

 

A abordagem que se requer para esse país, e na linha daquilo que já foi aqui proposto, implica, agora mais do que nunca, uma convergência de esforços da parte de todos aqueles que não estão satisfeitos com o rumo do país; por outras palavras, todos aqueles que, como eu, recusam a ditadura militar que se desponta. Neste prisma, mais do que nunca, urge à diáspora assumir a sua quota parte de responsabilidade para com a terra que ama, na linha daquilo que deve ser um sentimento telúrico sem precedentes.

 

Face ao exposto, também se torna de farta importância criar condições tendentes à efectivação das reformas necessárias que possam pôr um travão ao selvático sector das forças armadas, ainda mais quando se revela de supra importância que a tropa entenda que não pode dispor de todo um país à sua inteira mercê, muito menos tomar de refém todo um povo que, nos últimos vinte e nove anos, das autoridades político-militares do país, só tem merecido humilhação e degredo.

Escusado será, no entanto, alongar-se muito mais nesta matéria, até porque a ocasião requer mais acção do que produção simples de propostas teóricas. Ajamos já, antes que seja irremediavelmente tarde.

 

É um chefe da tropa que sofre um atentado na sua própria oficina; é um Presidente que é desfeito aos bocadinhos no laser da sua própria casa. Face a tudo isto pergunta-se: Onde se esconde a Comunidade Internacional (CI, para abreviar)? E a ONU que assiste a tudo, impávido, sem mexer um único dedo; enquanto a CPLP – esse corpo inerte e inexistente, ao espelho do seu secretariado executivo incompetente – que se multiplica em constantes visitas patéticas a Bissau, sem que até agora tenha produzido um único resultado palpável. A CI, no caso do nosso país, mais não tem feito do que revelar a sua falta de capacidade (por clara ausência de vontade) de exercer uma influência consequente perante um país tão insignificante quanto problemático, como é o nosso. (Mas nem por isso se tem abstido de produzir relatórios que a nada levam). É óbvio que esta observação não pretende desresponsabilizar os guineenses da precária situação com que o país se depara, muito menos se pretende pôr nos ombros da CI, erros que são da nossa inteira responsabilidade. Daí o entendimento de que a responsabilidade maior na solução dos graves problemas que sobre nós se abateram, embora requeira uma estreita colaboração externa, deve recair sobre os nossos próprios ombros.

 

Contudo, à CI, é pedida que assuma a quota-parte da sua responsabilidade; mas infelizmente não é isso que se verifica. Ora na Guiné, assistimos a uma CI em pleno tempo de férias; a ONU e a União Europeia em claro regime sabático.

 

Muitas vozes têm-se multiplicado na condenação à actuação do Governo. A meu ver, tais críticas, embora tenham algum cabimento e razão, por um lado, deixam de os ter, por outro. Esta visão centra-se no facto de não se poder responder radicalismo com radicalismo; barbárie narco-armada com barbárie de Estado, até porque a correlação de forças é desproporcional. Entende-se que a moderação, a concertação e o diálogo, embora possam ser morosos e requeiram paciência, são os únicos instrumentos de paz de que se dispõe. Quem não percebe isto não percebe NADA. Deste modo, parece-nos haver necessidade desmedida, como se tem verificado, de censurar o Governo de Carlos Jr., ainda mais de forma tão atempada como se tem verificado. O nosso Primeiro-Ministro pode ter na sua equipa Ministros palermas, muitos deles a ele impostos por chantagem e condicionamento politiqueiro (basta olharmos para o currículo e nível de alguns) mas não é um governante qualquer, apesar de não se lhe poder atribuir o cunho de santo. Há que reconhecer o esforço que este governo tem empreendido, apesar das constantes facadas à Constituição e à ordem.

 

2. A Gelatina política. – Os espancamentos dos últimos dias, respectivamente, ao Dr. Pedro Infanda e ao senhor Francisco Fadul, devem merecer por parte de todos uma reprovação sem equívocos, por não serem dignos duma sociedade civilizada e próspera que se quer para a Guiné. Uma inequívoca solidariedade deve ser dirigida às duas vítimas e às respectivas famílias. Aos visados, deseja-se-lhes a mais rápida recuperação, física e emocional.

Mas também há que notar que as declarações, e, sobretudo, intenções do senhor Fadul não cabem num meio cujo equilíbrio social se quer reerguer. A pretensão deste senhor de processar o Governo guineense, na sequência da selvática agressão de que foi vítima, não pode senão cair em saco roto, porquanto não haver nenhuma acção do governo no que lhe aconteceu. Torna-se necessário, como já se referiu, solidarizar-se para com a figura em causa, mas ao mesmo tempo, opor-se ao seu rancor pessoal contra o actual Primeiro-Ministro, pois só motivos pessoais não esclarecidos podem ter levado o senhor Fadul a exprimir a intenção acerta dum hipotético processo-crime. É óbvio que esta animosidade não vem de agora. Já tem barbas. Ainda permanece fresca na memória de todos os guineenses a contribuição mafiosa do senhor Fadul na demissão do Governo de Carlos Gomes em 2005 - numa altura em que este nem havia atingido o equador da sua governação – resultado de um acordo de malandros que então estabeleceu com o antigo presidente ‘Nino’ Vieira.

 

Por outro lado, as palavras proferidas, hoje, pelo senhor Francisco Fadul a uma estação de rádio portuguesa – que eu ouvi com os meus próprios ouvidos - de que “Foi a mando de Carlos Gomes Jr. e de Zamora Induta que Nino Vieira foi assassinado”, também não ajudam a apaziguar o clima de reconciliação que se pretende. É-se de opinião de que ao Francisco Fadul (um autêntico demagogo de taberna, disfarçado de político), faz falta um sentido de estado minimamente aceitável.

 

3. Fernando Casimiro. – Há uns bons anos atrás, em Lisboa, era frequentemente “borbardeado”, por um conhecido meu, com nomes de pensadores ocidentais que se haviam destacado no ramo das ciências sociais e políticas; esse, que foi um breve companheiro de andanças universitárias, não se cansava de me desafiar com citações, em claras tentativas de intimidação intelectual rasca. Desde cedo me apercebi que tão ilustres nomes que saiam das suas fossas nasais, longe de terem constituído objectos de conhecimento minimamente profundo, resultavam de nomes que na aula anterior ele ouvira dos seus “Profs”. As cenas desafiantes repetiam-se quase diariamente, apesar de resultarem, sempre, em frustrações renovadas. É óbvio que já ouvira falar dos autores que ele me propunha; mais, eu até lhe dava uma “mãozinha” nomeando uma ou duas obras dos autores proferidos a um ritmo diário, sempre que os conhecesse, fruto, penso eu, duma preparação secundária razoável (sem falsas modéstias).

 

Infelizmente, este meu conhecido, apesar de ter frequentado uma instituição de ensino que é um dos cumes da educação portuguesa, nunca teve nem engenho, nem a audácia de concluir a Licenciatura (ficando-se pelo segundo ano... incompleto), razão porque havia sido atribuído uma bolsa de estudos, sorte a que muitos – como eu – não tiveram. A bazófia falara mais alto.

 

À semelhança deste camarada, tive a infelicidade de presenciar uma outra cena que não me deixou menos triste, passada com um outro conterrâneo que sempre fez questão de ser tratado de senhor Doutor, mesmo que não preenchesse - como ainda não preenche - tal requisito. Havia-me dirigido à secretaria da faculdade para tratar de assuntos relacionados com propinas, quando, de repente, ouço do outro lado, uma voz feminina a pronunciar-se bem alto (naquela típica ‘manha’ portuguesa de querer humilhar o preto), tentando explicar ao meu camarada/amigo da impossibilidade de, segundo os estatutos da faculdade, se efectuar seis exames na época “especial” de Setembro. Dito doutro modo, a senhora funcionária tentava explicar, repito, em voz desproporcional, de que o senhor estudante não teria outra solução que não a de repetir o ano: o chumbo estava consumado, infelizmente.

Confrontado com tão “hercúlea tarefa”, o presumível ‘Doutor’ não teve outra saída que não a de desistir do curso e abalar para a Guiné, onde, segundo consta, é “Doutor” com “D” maiúsculo. A Guiné-Bissau, nos dias que correm, é farta em quadros com valor acima de qualquer suspeita, formados, tanto em instituições de ensino local como no estrangeiro. Mas infelizmente também existe uma minoria, aliás como em todo o lado (mas que no caso do nosso país, pasma) que, apesar de duvidosa formação, anda de boca cheia e passeia pelas ruelas de Bissau.

 

O leitor desculpar-me-á tão longa narração, mas era por demais necessária, porque vai ao encontro, e traz-nos de volta os ataques baixos de que Didinho tem sido alvo por parte de licenciados auto-inflamados: é a tal paranóia do licenciado-espantado, que julga que uma simples obtenção de um diploma (em muitos casos deficiente) é sinónimo de saber. Enganam-se.

 

O cidadão Fernando Casimiro escolheu um rumo: o rumo da verdade; aceitou um desafio, predispondo-se a abraçar um projecto para nele empenhar de corpo e alma sem quaisquer contrapartidas pessoais, pondo sempre os interesses da Guiné e do seu povo acima de quaisquer outros. O que começou como um simples projecto, de cunho pessoal, mas de carácter altruísta, veio a ultrapassar todas as suas expectativas iniciais.

 

Longe de se estar aqui a comparar as duas figuras, foi como o nosso herói, Cabral, que ao encetar o projecto libertador, com certeza, não esperava toda a onda de solidariedade, tanto interna como internacional em que a sua iniciativa veio a resultar. Hoje, o Projecto ‘CONTRIBUTO’ ultrapassa todas as fronteiras possíveis. Conhecido e reconhecido por autênticos Santuários do saber como é o caso da Royal Institute of International Affairs (vulgo, Chattan House); o CONTRIBUTO é reconhecido por todos aqueles para quem a Liberdade, a Solidariedade, a Igualdade, a Oportunidade e desenvolvimento sustentado, não são vãs palavras deste mundo. O CONTRIBUTO fala por todos aqueles que acreditam que “yes we will ”. Aliás, caso não fosse essa a minha convicção, não me empenharia em referenciá-lo a ‘Think Tanks’ de relevo como é o caso da International Centre for Democracy and Development.

 

Como tal, deve-se admitir que nem toda a gente vê com bons olhos, muito menos de bom agrado, sucessos em casa alheia. Tanta animosidade em relação ao Didinho, só se justifica porque ele tem continuado fiel ao seu estilo: um mestre exímio daquilo que faz, da sua arte e da sua paixão: a Guiné-Bissau. Aqueles que o atacam que apresentem OBRA, porque a produção literária do nosso autor fala por si, pelo que ele escusa em perder tempo com mesquinhez e a mentalidade tacanha, tipicamente guineenses.

À semelhança do que o próprio Didinho nota, e com razão, para que o nosso conhecimento e valor se revelem, não precisamos de nos mergulharmos em penosos processos de auto-mutilação e masturbação intelectual, em citações de autores, de forma desordenada e incontextual.

Pessoalmente, por mais que procure, sinto-me incapaz de encontrar uma conexão entre a lógica hegeliana do Absoluto e o narcotráfico de Estado na Guiné-Bissau. Acaba-se, esta semana, por se descobrir uma pista de aterragem clandestina em Beli, Madina de Boé; mas só não sei o que tem este facto a ver com o racionalismo hegeliano.  

 

Ao invés, o Didinho é realista naquilo que escreve, e escreve como ninguém sobre os problemas do seu país e do seu povo, a ponto de unanimemente ser considerado, por muita gente, como a voz primeira do jornalismo de ideias guineense; uma autêntica bibliografia andante de tudo o que se passa no seu país; um homem de contrastes, como só o pensamento livre consente. Nem toda a gente se alegra com isso.

 


[*]  Mestre em Estudos Europeus (União Europeia)

 

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