BOTCHE CANDÉ

Das reportagens da campanha eleitoral que tenho acompanhado através da Televisão Nacional da Guiné-Bissau, chego a questionar se o candidato presidencial é realmente Carlos Gomes Jr. ou o ministro Botche Candé... Didinho 16.03.2012

Fernando Casimiro (Didinho)

didinhocasimiro@gmail.com

25.06.2013

Fernando Casimiro (Didinho)O jornalista Umaro Djau, no seu artigo O Cinismo e as Ambiguidades dos “futuros arrependidos” trouxe à ribalta questões que se prendem com o interesse colectivo, por isso, merecedoras de um debate generalizado e participativo, sobre os diversos pontos de abordagem focados no referido texto,  pontos esses, centrados numa única causa, a Guiné-Bissau!

No que me toca opinar, congratulo-me com a reflexão de Umaro Djau e fico triste por constatar que pessoas formadas deturpam completamente o teor de um texto, no qual, o autor jamais se posicionou a favor da promoção dos menos habilitados ao desempenho de cargos públicos, como também não se posicionou, em nenhuma passagem do seu artigo, a favor do abate ilegal de árvores na Guiné-Bissau!

Umaro Djau destacou, isso sim, todos quantos ao serviço das instituições nacionais, sobretudo, a nível da governação ao mais alto nível, promoveram obras que se tornaram em património do país, bem assim, de utilidade para todos.

Que motivações serviram para a deturpação do artigo de Umaro Djau e a tentativa posterior de denegrir a imagem e a capacidade de um jornalista guineense a trabalhar há anos na prestigiada CNN?

Poderíamos enumerar uma série de motivações, mas uma, certamente se afigura como de realce, a exemplo da investida da Dra. Carmelita Pires, aquando de um texto em que se camuflou da digna heroína guineense, TITINA SILÁ, para me atacar numa alusão a factores étnicos, os mesmos factores, que, a meu ver, motivaram a sua ira contra o jornalista Umaro Djau. Na altura, a Dra. Carmelita Pires, por saber que geneticamente, sendo guineense, tenho "costela" balanta, quis sacrificar-me, como estando a defender os golpistas, dado que a maioria dos militares guineenses são de etnia balanta... como se em primeiro lugar, todos nós, não fossemos GUINEENSES!

No caso do jornalista Umaro Djau, volta a repetir-se a calúnia, associando implicitamente a relação étnica, na figura de Umaro Djau e de Botche Candé, para tão disparatada contestação a um artigo que não ofende o país e, muito menos quem quer que seja.

A contestação do texto de Umaro Djau, por Carmelita Pires, acaba por atingir mais o jornalista, que não é jornalista por se afirmar como tal, mas sim, JORNALISTA credenciado e respeitado no primeiro mundo - ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA!,  que foi desconsiderado por uma sua compatriota que, por ser Mestre em Direito, se convenceu de ser superior ao seu compatriota JORNALISTA a quem se referiu por diversas vezes, como opinante, escusando a tratá-lo condignamente e, numa atitude de confrontação e não de debate de ideias, a fechar o seu artigo com um "NÃO, NÃO, E NÃO! CHEGA de poeira e panaceias. Não aceito isto. Por favor, que ninguém aceite."

Mas será que o artigo de opinião do jornalista Umaro Djau versou assuntos da área jurídica, ou do Direito em geral, no qual, a Dra. Carmelita Pires pudesse sustentar alguma contradição teórica ou técnica?

O jornalista, sobretudo nos Estados Unidos da América e a exercer a sua profissão na CNN não é uma pessoa com formação superior e por estar há anos nesse exercício de actividade, não é alguém experimentado, na sua área?

O que seria se a Dra. Carmelita Pires se pronunciasse, ainda que num artigo de opinião, sobre assuntos da área do Direito, e fosse confrontada por um jornalista?

Certamente diria: Mas eu sou Mestre em Direito e tu, o que sabes de Direito?

Pergunto: qualquer um pode ser jornalista da CNN?

Ou será que um guineense que faça a diferença, por mérito próprio, deve ser desconsiderado, ao invés de reconhecido, como teimosamente continuamos a advogar?

Quantos guineenses, das várias profissões e áreas do conhecimento, têm feito o que Umaro Djau tem disponibilizado ao longo de tantos anos, de forma gratuita e patriótica, à Guiné-Bissau e aos guineenses?

O meu propósito com este texto, não é defender Umaro Djau, pois ele não precisa de mim para isso, mas achei que não podia deixar passar esta oportunidade, que vem mesmo a calhar, de tecer alguns pontos de vista sobre o assunto "Botche Candé", o tal ministro que se diz, analfabeto e que é um dos pontos da contestação do artigo de Umaro Djau. Sobre a questão do abate ilegal de árvores, tal como Umaro Djau, não defendo tal prática, por estarmos a falar de abate ilegal. Quando tiver mais tempo, provavelmente falarei de forma mais detalhada sobre a questão do abate ilegal de árvores.

Não conheço Botche Candé, nunca tive qualquer contacto com ele, nem sequer troca de e-mails. Desconheço por completo se é ou não analfabeto, isto por ter dificuldades em definir, no actual contexto do espaço globalizado, o que significa ser analfabeto... para lá do conceito de quem não sabe ler nem escrever; iletrado, ou pessoa muito ignorante.

Tal como o meu propósito neste artigo não é defender Umaro Djau, da mesma forma, não é o de defender Botche Candé!

Se Botche Candé sabe ler e não percebe o que lê; se sabe escrever e não passa do básico das operações com letras e números, o que posso dizer é que, aquando da campanha eleitoral para as últimas eleições presidenciais na Guiné-Bissau, o cidadão Botche Candé, que nessa altura era Ministro do Comércio Indústria, Turismo e Artesanato do Governo chefiado por Carlos Gomes Jr., surpreendeu-me pela positiva, ao ter tido oportunidade de acompanhar diversas das suas intervenções através do "Tempo de Antena" da Televisão da Guiné-Bissau (que lamento não estarem mais disponíveis no site da TGB para partilhar neste texto) na promoção da candidatura de Carlos Gomes Jr. às presidenciais antecipadas de 18 de Março de 2012.

Na altura, Botche Candé, ainda que tido como analfabeto, demonstrou publicamente, o porquê de merecer a confiança de Carlos Gomes Jr., ele que até tinha sido, no passado, candidato a deputado pelo PRS.

Um exímio falante/orador na nossa língua nacional, o kriol, com uma capacidade de sustentação de um conhecimento político, só possível, por uma facilidade de aprendizagem dos predestinados, Botche Candé, ainda que não se lhe reconheça essa qualidade, foi quem "carregou às costas" Carlos Gomes Jr. ao longo da sua candidatura nas últimas eleições presidenciais antecipadas de 18 de Março de 2012.

Poder-se-á dizer que foi utilizado por Carlos Gomes Jr. e pelo PAIGC na angariação de votos da comunidade muçulmana. Sim, também é verdade, mas o PAIGC tinha e tem dirigentes, cidadãos guineenses, praticantes da religião muçulmana e com formação superior, contrariamente a Botche Candé, considerado analfabeto. Porque não foi escolhido nenhum desses dirigentes para desempenhar o papel desempenhado por Botche Candé "analfabeto"?

Porque é que o Presidente do maior partido político da Guiné-Bissau e candidato (ilegal) às presidenciais de 18 de Março de 2012, com tantos quadros superiores no seio do partido, apostou em Botche Candé?

Aqui apraz-nos questionar: porque se critica Botche Candé e nem uma palavra de contestação se ouve, para com quem o propôs para Ministro e que o tinha como seu "homem de campanha"?

Posto isto, importa referir que o cargo de ministro, é um cargo político e não, necessariamente técnico, um cargo que pode reflectir reconhecimento de mérito, ou de gratidão.

Não há nenhum Estado do mundo que tenha, na sua Constituição, requisitos académicos, de formação em geral, para os cargos de Presidente da República, ministros ou deputados!

Na Guiné-Bissau, ainda que se possa contestar, importa saber que não podemos deturpar os direitos, em geral, e os direitos políticos, em particular, dos cidadãos.

O cargo de ministro, que fique claro, é um cargo político, da responsabilidade de escolha, de quem é indigitado para ser Primeiro-ministro, ou Chefe do Governo. Ele escolhe quem acha que é da sua confiança, sobretudo, confiança política, essencialmente, quem é do seu Partido, independentemente de ser Doutor, licenciado ou analfabeto funcional. O que lhe importa é saber que fulano ou beltrano, que escolheu, vai ser parte da sua equipa, porquanto merecer a sua confiança.

Podemos esclarecer as diferenças entre os cargos para os órgãos de soberania, que são elegíveis pelos eleitores, para demonstrar a "banalidade" dos cargos designados como de ministros.

Reparem que, todo o cidadão, maior de 35 anos de idade, filho de pais guineenses de origem, que se encontre no pleno gozo dos seus direitos civis e políticos, pode ser candidato à mais alta magistratura do Estado, ou seja, pode ser candidato a Presidente da República!

Não há, nada, mas nada, que exclua qualquer cidadão, numa alegação ao facto de ser formado ou analfabeto, de uma pretensa candidatura ao mais alto cargo do dirigismo nacional.

Isto quer dizer que, o Sr. Botche Candé, que foi ministro (ou qualquer outro cidadão tido como "analfabeto") pode, se os eleitores assim decidirem, tornar-se na primeira figura representativa do país. Onde é que está o problema?

O problema é que a Guiné-Bissau com uma herança de 99,9% de analfabetos durante cinco séculos de colonização, e ainda que com uma redução significativa - de 60% de iliteracia, nestes quarenta anos de independência, não é a Suécia, a Dinamarca, a Noruega etc., etc. onde se pode pensar que, mesmo não havendo candidatos a Presidente, analfabetos, porquanto o analfabetismo ter sido erradicado, nem todos são Doutores, mas todos têm bases a nível de uma formação cidadã numa vertente de cultura, designada como "saber", para minimamente pensarem pelas próprias cabeças e estarem á altura das exigências e responsabilidades do colectivo e em defesa do bem-comum.

No caso da eleição de um Presidente da República, pode-se decidir também, "responsavelmente", porquanto os candidatos serem dados a conhecer ao eleitorado e, assim, qualquer eleitor ter oportunidade de se inteirar melhor em quem votar, com base nos múltiplos conhecimentos que aufere dos candidatos. Aqui, podemos pensar que, provavelmente, a questão da eleição de um suposto analfabeto, à partida está fora de questão. Mas outros factores podem contrariar essa teoria!

Reparem que os deputados da Nação, também são eleitos, depois de facultadas as listas nominais dos candidatos. Todos os eleitores podem ficar a saber quem é quem e votar em quem bem entenderem.

Agora, quem sabe quem vai ser ministro?

Ninguém, pois o eleitorado, não vota directamente no Governo!

O Partido que tiver mais deputados, facto que lhe permite formar Governo, é que decide quem será o Primeiro-ministro, que, por sua vez, escolhe a sua equipa. O eleitorado não sabe quem vai fazer parte dessa equipa, fica a saber quem é ministro, depois da promulgação do decreto presidencial, tendo em conta a proposta de nomeação dos membros do Governo, pelo Chefe do Governo!

Chefe do Governo que escolhe quem bem entender, ainda que possa haver rejeição de nomes por parte do Presidente da República, o que, por uma questão de cordialidade, boas relações institucionais, normalmente não acontece.

Porquê, então, tanta polémica pelo facto de Botche Candé ter sido ministro?

Talvez se deva criticar as nomeações que deveriam ser de cariz técnico a nível das Instituições Públicas, onde se deveriam realizar concursos públicos de ingresso e nomeações com graus de reconhecimento, em função dos requisitos estabelecidos.

Um ministro que tutela um determinado ministério, não tem que ser necessariamente um técnico, um formado, na área afecta ao ministério que dirige. Por isso haver assessores para várias áreas, não só nos ministérios, mas na Presidência da República.

Um ministro da Saúde, não tem que ser necessariamente um médico, como um ministro da Defesa não deve ser necessariamente um militar. Importa sim, que os ministérios tenham assessores, técnicos, que façam com que toda a equipa que representam, funcione! O ministro, por ser um mandatado político da confiança do Chefe do Governo, pode estar um mês no cargo e ter que sair do governo, ou mudar para outro ministério; já os técnicos, que por serem técnicos, não são certamente analfabetos, esses, são a essência das instituições, independentemente da formação superior de cada um deles!

Agora perguntamos: Porque há tanta disputa para cargos de ministros, secretários de Estado ou Directores-Gerais?

Em tempos, a senhora ex-ministra da Justiça, já numa outra missão, a nível da CEDEAO, disse-me que, se lhe dessem dois mil e quinhentos euros por mês, mais todas as regalias de ministra, largava o cargo de conselheira do Presidente da Comissão da CEDEAO para assuntos do crime organizado e voltava para a Guiné-Bissau para ser ministra, não importava do que fosse...

Isto, para quem estava a ganhar , segundo as suas palavras, cerca de sete mil euros mensais, na CEDEAO!

Não é de admirar que todos queiram ser ministros na Guiné-Bissau, pois por uma base de dois mil e quinhentos euros, e tudo o resto... num país onde os médicos, os professores, os agricultores, os pescadores, ganham e vivem miseravelmente...como se os técnicos, com formação superior, não fossem capazes de se realizar na vida, ajudando o país e a eles próprios, investindo no sector privado! É só encostar ao Estado e tudo se resolve...

Se a Dra. Carmelita Pires questiona o facto de Botche Candé, um analfabeto ter sido ministro, o certo é que, publicamente, enquanto Carlos Gomes Jr. foi Chefe do Governo, nunca o questionou sobre o porquê de ter um ministro "analfabeto" no Governo. Porquê agora?

Mais, que requisitos acha a Dra. Carmelita Pires que qualquer cidadão deve preencher para ser ministro?

Perguntamos à Dra. Carmelita Pires quais foram os argumentos que nortearam a sua nomeação como ministra da Justiça e posteriormente, a sua designação para o cargo de Conselheira especial do Presidente da Comissão da CEDEAO para assuntos relacionados com o Crime Organizado?

Será por ter estudado em Harvard e obtido nota máxima numa tese de Doutoramento?

Será por ter obtido formação como Mestre em Direito, antes de tantos outros guineenses, com nota mais elevada e numa melhor Instituição Universitária?

E se aqueles que, por também terem formação superior na mesma área que a Dra. Carmelita Pires; que por também acharem que deveriam ser ministros da Justiça, ao invés da Dra. Carmelita Pires, reivindicarem os seus argumentos, em que é que ficaremos?

Os que hoje se insurgem contra o Sr. Botche Candé, ridicularizando-o, são os que ontem, enquanto apoiantes de Carlos Gomes Jr., jubilavam com a mais que provável vitória de Cadogo nessas eleições. Sabiam ou não que Botche Candé era o motor da campanha eleitoral de Carlos Gomes Jr.?

Claro que sabiam e todos puderam ver e ouvir Botche Candé, que com tanta bagagem nas suas intervenções, parecia ser ele próprio o candidato!

Que os preconceitos, os complexos de superioridade, não se instalem na sociedade guineense, pois, há espaço para todos, sobretudo, para os que se dizem mais capacitados. Esses, é que não deveriam reivindicar "lugar cativo" no Estado, mas sim, dedicar-se ao empreendedorismo, criando novas entidades, ajudando o país e não colar-se ao país, para a satisfação das suas "mistidas".

Haja dignidade, haja respeito por milhares que têm dado tudo, a troco de nada, na Guiné-Bissau, porquanto nunca terem sido ministros, ou conselheiros especiais em organismos internacionais/regionais, mesmo julgando ter competências para tal, quando ficam a saber que fulano ou fulana, é que ocupou tal cargo, sem concurso, porquanto, ser um cargo, meramente político, de gratidão publicamente reconhecida e, sabe-se lá de outras gratidões...

Obrigado pela atenção.

Sejam livres para discordar, com civismo e sustentação!

Didinho

O Cinismo e as Ambiguidades dos “futuros arrependidos”

BASTA DE SER "SACO DE PANCADA"! 26.10.2012

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