Prof. Joaquim Tavares

J.TAVARES, MD, FCCP, FAASM

joaquim.tavares15@gmail.com

 

DE BOLAMA A BISSAU - ACREDITAR NO POTENCIAL DO GUINEENSE

Continuando com a biografia de médicos guineenses, é com grande honra e prazer que publicamos esta biografia de um compatriota nosso, que apesar das dificuldades que enfrentou na vida antes e depois independência, conseguiu triunfar e, ainda mais impressionante, praticando medicina na Guiné.

Conheci o Elísio através do meu irmão mais novo (), do Santinho, Jofre, Zezinho e outros).

Sem mais, ao som do “The Boxer” da autoria de Simon & Garfunkel” deixemos o Dr. Elísio relatar a história do seu percurso; que sirva de exemplo a todos os jovens Guineenses: o trabalho árduo ainda compensa...

Djoca - 30.06.2010

 

 

Em Bafatá

 

 

Equipa da clínica ABC

 

 

AUTOBIOGRAFIA

Elísio Bento de Carvalho

Dr. Elísio Bento de Carvalho

 

PRIMEIRA INFÂNCIA

Quando as pessoas que me rodeavam diziam <<Elísio>> eu reagia, inicialmente olhando para elas e depois respondia, dirigindo-me para elas. Foi assim que descobri que o <<Elísio>> era eu. As pessoas que assim me chamavam, estavam sempre (ou quase sempre) perto de mim. Mais tarde aprendi a distingui-las: a uma chamava de Vovó e, a outra de Papai. Havia uma outra pessoa, para a qual eu balbuciava a palavra Sussa Mon. Era a Sussa Mon que me dava comida, banhos e que me embalava para dormir.

Mais crescidinho, conheci outras pessoas. De vez em quando me levavam para a casa de uma outra senhora, a qual aprendi a designar de tia Balbina. Mas também me levavam ainda para uma outra casa, onde havia alguém que devia ser chamado de papá, outra de mamá. Nessa casa também havia 2 crianças: eu devia chamá-las de Sara (a mais velha) e Fatinha (a mais nova). Mas eu era bem mais <grande> do que elas. Curioso mesmo com tenra idade recusei a chamar essa mulher de mamá, chamava-lhe de <Nha> Pequena (o seu nome). As recusas em pronunciar a palavra mamá custavam-me caro. Bem cedo comecei a sentir na pele alguns castigos (açoites, palmatórias, etc). O porquê da recusa não tinha explicações, ela foi instintiva, mas porquê? Na altura não podia explicar, coisa de sangue?!!.

Eu era feliz, sempre limpo, bem vestido e calçado. Também tinha alguns brinquedos, tais como o triciclo, carro infantil que provocava admiração, inveja, mesmo por parte de crianças brancas. Era invulgar uma criança africana ter brinquedos.

Tudo isso se desenrolava na bonita ilha de Bolama, primeira cidade-capital da Guiné Portuguesa. Cidade linda, famosa pelas suas praias, com um belo parque infantil, onde havia baloiços, escorregas, piscinas, labirintos, etc. Tudo o que era necessário para que a criançada se sentisse feliz. Foi assim a primeira fase da minha infância, antes da existência daquela mulher, a que instintivamente recusei chamar de mãe.

Com o pai

Essa pessoa a quem devia chamar de pai, com as pessoas com os quais vivia nessa casa para onde me levavam esporadicamente, e onde, mesmo sendo ainda uma criança não me sentia bem, sem saber porquê, mudou entretanto, por motivos profissionais, para a nova Capital da Guiné. A Imprensa Nacional mudava-se para Bissau.

Desde então os momentos mais felizes de que me recordo, eram quando a Vovó abria as encomendas que chegavam de Bissau contendo brinquedos, roupas e sapatos lustrosos, que eram religiosamente guardados para os dias de festas, principalmente o sempre aguardado <<dia de Natal>>. Esse dia tão esperado tornava-se no pior dia do ano, quando se constatava que nem os sapatos, nem as roupas serviam, pois tinha crescido mais um bocadinho.

Recordo dos dias da matança de porcos (actividade profissional da Vovó), com saborosos almoços, chouriços, torresmos, linguiças, etc., e das idas com a Vovó à Câmara Municipal de Bolama, onde todas as manhãs se podia comprar leite. Era também na Câmara que os veterinários procediam ao controlo da carne do porco abatido. Outros momentos felizes eram as visitas à nossa <<Horta>>, <<Ponta>>, onde o Papai me dava a comer as mais variadas frutas.

Também me recordo como eram maravilhosas as viagens de barco para a cidade de Bissau, em visita à família, onde sempre ficávamos hospedados em casa da filha primogénita da Vovó, a Tia Tchentcha.

É com saudade que me recordo dos barcos que faziam a ligação de Bolama a Bissau, com duração de 4/5 horas (“mar de dentro”) ou mesmo, de mais de 6/8 horas (“mar de fora”), 2ª via, em caso de maré baixa. Os barcos eram o <<Corubal>>, a <<Formosa>> e o mítico <<Bor>>, uma espécie de jangada com 4 motores (segundo se dizia), famoso porque podia andar em todas as direcções.

Curiosamente, Bissau nunca me seduziu, nem tão pouco os familiares que la viviam. Queria sempre regressar com a minha Vovó a Bolama.

Quem era afinal o Papai? Ele se chamava Pedro Bento de Carvalho, funcionário da Imprensa Nacional, meu avô paterno. Ele tinha 2 esposas e muitos filhos.

A Vovó era a Sra. Domingas Pereira Tavares, doméstica, minha avó materna, mulher rigorosa, ríspida, trabalhadora incansável que educava os filhos à custa do seu trabalho.

 

A pessoa que me ensinaram logo cedo a chamar de pai, era realmente o meu progenitor, com o nome de Armando Bento de Carvalho, que depois de ter concluído a escolaridade obrigatória de 4 anos (segundo grau) foi aprender uma profissão qualquer na Imprensa Nacional, ao lado do pai (o meu querido Papai).

Atingi os 6 anos de idade, fui inscrito na Escola Primária de Bolama, onde aprendi que o meu nome completo era Elísio Bento de Carvalho, nascido no dia 6 de Julho de 1959, filho de Armando Bento de Carvalho. Lembro-me perfeitamente do meu primeiro professor, um senhor rigoroso, <<mau>> na gíria estudantil, amigo de palmatórias.

Entretanto a Vovó, alegando a existência de melhores condições em Bissau, falava sempre da minha mudança para essa cidade, que coisa horrível, eu nem queria ouvir falar nisso. Durante as viagens para a capital, eram muitas as suas tentativas para me deixar lá, mas eu estava sempre atento, estava sempre colado à minha querida Vovó.

 

Mudança para Bissau

Aos 8 anos de idade, já aluno da 2ª classe, no decorrer de mais uma visita aos familiares em Bissau (durante as <<férias grandes>>), na véspera do esperado regresso a Bolama, embarque marcado para o dia seguinte às 5 horas de manhã, a minha Vovó alertou-me: se não acordares a tempo, ficas em Bissau. Respondi que nem pensar, estaria pronto. Infelizmente não resisti ao sono, e quando acordei, eram 9 da manhã. Nem sinais da Vovó. De nada me valeu chorar. Foi assim que fiquei definitivamente em Bissau, uma transição dolorosa, traumatizante. E também foi o início de uma outra fase, muito má de vida, cujos sinais os meus olhos de criança nunca conseguiram detectar. Pairavam no ar, eu sentia-os, mas moldaram-me para sempre o carácter, tornando-me num <<Resistente Clandestino>>, silencioso, um Lutador contra tudo e todos, e um Vencedor.

 

Segunda infância em Bissau

 

Em Bissau, passei a morar no Bairro de Pefine, em casa da tia Tchentcha, irmã mais velha do meu pai, mãe dos meus primos Anita, Zinda, Cuca, Nadjo, Lili e Betinha. O relacionamento com os meus primos foi bom. Fui inscrito na Escola Primária D. Manuel primeiro, curiosamente na primeira classe, eu que já tinha frequentado a segunda classe em Bolama. Porquê, não sei dizer.

A minha turma era mista com alunos da 1ª, 2ª, 3ª e 4ª classe, ordenados em filas. Como já sabia escrever, ler, fazer contas, mudava simplesmente de fila, à medida que <<acabava o livro>> (Programa). Foi assim que no final do ano lectivo já estava na fila da segunda classe, tendo feito e passado o exame da 2ª para a 3ª classe. Também nessa escola, distingui-me no desporto, nomeadamente nas corridas de curta distância (50-100 metros).

Ingressei na <<Mocidade Portuguesa>>, onde aprendi muitas coisas.

Frequentei a Catequese na capela do Hospital de Bissau, e recordo-me do vaticínio de uma irmã, professora de catequese, que disse o seguinte: <<Elísio, serás um grande homem>>. Fiz a 1ª comunhão no dia 8 de Dezembro de 1968.

Aos domingos, dia de missa, era obrigatório aplicar na pele uma porção de urina, excretada pela tia, para nos defender contra os maus-olhados, contra os feitiços. Lembro-me dos concursos de bailes, organizados pela tia, que nunca ninguém ganhava para além de uma sua filha preferida. Nada lisonjeiro era o título a mim atribuído pela familia de <<Rei dos Mancanhas>> devido ao meu circulo de amizade ser na maioria com a rapaziada da tribo Mancanha. Nós supostamente pertencíamos a uma outra condição social, os <<assimilados>>. Nesta fase da minha vida ajudava nas lides da casa, como sabia fazer bem as contas, ajudava a encher garrafões de vinho, aguardente a partir dos dos barris e tanques vindos de Portugal. Foi nessa altura que certa senhora, mãe de 2 colegas meus, me obrigava a retirar dinheiro da caixa registadora, sob ameaças de feitiços. Isso foi caso para Polícia, que conseguiu recuperar alguma quantia.

 

 1º Grande trauma na minha vida  -  Maria Isabel Cabral Moreno

Mãe NetaMãe e amigas

Foi como aluno, prestes a concluir a 4ª classe, que fui merecedor da confiança da Professora, ao ser incumbido de um trabalho sério, que exigia sigilo: consistia em separar os Boletins de nascimento dos alunos escolhidos para o exame final. Ao separar os Boletins de nascimento, deparei-me com o meu próprio. Ao lê-lo tive o grande choque da minha vida: no documento, vinha o seguinte: <<Elísio Bento de Carvalho, filho ilegítimo de Armando Bento Carvalho e de Maria Isabel Cabral Moreno (FALECIDA)>>. Foi assim que sozinho soube pela 1ª vez o nome da minha mãe e o pior: ela tinha falecido.

Até esse dia, vagamente pensava o porquê de nao ter ninguém a quem chamar de mamá como todas as crianças. Nunca ninguém me tinha dito uma só palavra sobre esse assunto. Chorei durante muitos dias, sem dizer a ninguém quais eram os motivos.

Em 1971 os meus tios anunciaram-nos que em breve iríamos todos prosseguir os estudos na Metrópole. Primeiramente iriam as duas filhas, Anita, a mais velha, aluna do 2º ano do Ciclo Preparatório (CIPES) e a Zinda, da minha idade, e que tal como eu, tinha concluído a 4ª classe. E que no ano seguinte iríamos nós os 3 rapazes. Como aguardávamos por esse momento de voar de avião para Lisboa… Esse grande dia chegou, mas de uma forma dolorosa para mim. Cerca de uma semana do dia da partida, soube que não iria, e fui <<arrancado>>, <<expulso>> dessa casa, da minha 2ª família, no seio da qual me tinha integrado em pleno, depois da dolorosa e involuntária mudança de Bolama para Bissau. Levaram-me então pela primeira vez na minha vida, para casa do meu pai, no Bairro de Ajuda. Foi então que começou um dos piores períodos da minha vida. Antes de iniciar o relato minha infeliz vivência na casa do meu próprio pai e da sua esposa, ao lado dos meus irmãos, quero dizer o seguinte: os meus tios queriam o melhor só para os seus filhos, dando-lhes o melhor que se pode dar a uma criança: a educação. O sobrinho que fosse para a casa do pai.

 

A minha vida em casa do meu pai

 

 Com os irmãos

Eis-me aos 11 anos de idade, a conviver com aquela que devia ser a família natural, em casa do meu pai, ao lado dos meus meios-irmãos, da minha madrasta.

Não foi muito calorosa a recepção por parte da minha madrasta. Eis as suas palavras, em tom ameaçador, logo após a minha chegada: Elísio, isto não é como lá, onde não fazes nada; toca a trabalhar. Pôs à minha frente uma pilha de louças sujas, caçarolas inclusive, para eu lavar.

Chorando, com muito medo, pus-me a cumprir o mandado. E em casa, havia uma empregada doméstica. Durante algum tempo, fiz todo o tipo de trabalho, de forma humilhante, até que um dia, o meu pai veio de repente, e me viu nesse trabalho. Então zangado, pela 1ª e única vez em toda a vida, ele repreendeu a esposa e determinou as minhas funções em casa: subir as árvores de frutas no quintal, ir de bicicleta fazer algumas compras, recados, etc. Que as empregadas e meninas se encarregassem da lavagem das louças.

A minha relação com a primogénita da madrasta, mais nova do que eu uns 4 anos nunca foi fácil, com brigas frequentes, que ela sempre perdia, o que irritava a mãe. Mas eu sabia que depois de cada briga, incentivada por ela, eu recebia algumas palmatórias. Foi assim de 1971 até 1974, altura em que solenemente a minha madrasta propôs que deixássemos de falar, ou de manter qualquer tipo de relação. Sublinhe-se que foi mesmo assim, nenhum tipo de conversa, até 1988 (ano em que regressei dos estudos, já com 28 anos de idade), depois de ter recebido uma carta da minha irmã propondo o fim das hostilidades.

Os castigos não eram só corporais. Eram também no campo da alimentação. Por exemplo, à mesa, as melhores porções, depois dos adultos se servirem, eram para os filhos da madrasta. Eu era sempre o último a servir. No vestuário também era penalizado, chegando ao ponto de não ter sequer sapatos para calçar e ir à escola. A falta de vestuário adequado condicionou a minha ida em 1972 para a Escola Técnica, onde se podia desde o início aprender uma profissão. Frequentei o então curso de Agricultura. Ir para o Liceu <<Honório Barreto>> era  para mim uma miragem.

Entretanto na <<rua>>, eu era muito acarinhado pelos colegas, amigos e mesmo por  adultos. Fui sempre um menino tranquilo, respeitador dos mais velhos. Destaquei-me muito cedo na prática desportiva, jogava nada mal o futebol, nadava muito bem, era rápido nas corridas, etc.

Fui Campeão de Corridas de bicicleta no Bairro da Ajuda, por duas vezes, e fiquei no final do ano lectivo de 1971/72 em 2º lugar no Grande Concurso de Ciclismo que era organizado no CIPES anualmente e onde concorriam os melhores ciclistas de Bissau. É também com orgulho que destaco o facto de ter sido o autor do 1º golo da equipa de juvenis do Ajuda Sport, no torneio de inauguração das instalações desportivas na sede da UDIB. A nossa equipa venceu esse torneio e levamos para o nosso bairro o primeiro troféu da história do Ajuda Sport.

Se a minha vida em casa era só apenas o início de uma longa travessia do inferno, na rua era como se estivesse no paraíso.

Em 1974 chegou a independência nacional do nosso País e no mês de Dezembro, mudamos de casa e de Bairro.

Fomos para o famoso Bairro de Chão de Papel/ Varela.

No mesmo dia da mudança, lembro-me perfeitamente, 30 de Dezembro, conheci aquele que veio a ser um dos melhores amigos de infância, de nome , 2 anos mais novo do que eu. De repente vejo-o sentado no muro da vedação da Escola <<Patrice Lumumba>>, a tocar guitarra. Um miúdo a tocar guitarra?! Novidade! Aproximei-me, apresentei-me e pedi-lhe que me ensinasse também a tocar. Esse miúdo, o , era irmão mais novo do famoso Djoca, o melhor aluno do Liceu na altura, hoje um grande médico nos EUA.

Conheci outros colegas do novo bairro, com os quais fiz excelentes amizades, pois eu era de trato fácil, vivendo com eles grandes momentos, cheios de façanhas desportivas e não só.

A minha vida na família tornava-se cada vez mais insuportável, as relações com a madrasta cada vez pior. Nem sempre tinha comida, não tinha roupa nem calçado. Nem podia sequer utilizar a casa de banho para as necessidades fisiológicas, esperando por isso a chegada da noite, para que na sua calada, nos mais diversos locais de Bissau (Estádio Lino Correia, campo de rádio, estrada de SACOR, etc.), satisfazer as minhas necessidades.

Foi um dos períodos mais penosos e humilhantes da minha vida, porque tendo concluído a Escola Técnica, ingressei no Liceu para prosseguir os estudos. Se o Liceu era um estabelecimento de Ensino, também era o local mais indicado para se roncar, exibir a moda (boca de sino, camisas apertadas). E eu que não tinha roupa! Cheguei a ir para a escola de calções e camisolas da equipa de futebol da Imprensa nacional, local de serviço do meu pai. O equipamento era guardado em nossa casa. Era o bombo da festa, fui gozado pelos colegas porque andava mal vestido.

Eis que finalmente concluo o Liceu. Em 1978/79 consegui uma vaga de professor na Escola de Peré, onde leccionei a disciplina de Física.

Em 1979 fui trabalhar para a minha cidade natal, Bolama, tendo leccionado novamente a disciplina de Física na Escola Piloto, tendo, julgo eu, tido um bom desempenho.

Foi nesse período que tomei a decisão mais importante da minha vida: comuniquei aos meus pais que a partir dessa data eu tomava a minha independência, iria sair de casa.

 

 

Academia de Medicina Militar

Cheguei à Rússia no dia 4 de Outubro de 1980

Depois de uma semana passada em Moscovo, viajamos de comboio para a cidade de Leninegrado. Foram 8 horas de comboio, viagem nocturna, tranquila. Fomos recebidos na Estacão por oficiais soviéticos e alguns compatriotas guineenses que lá se encontravam a estudar. Causei admiração total quando indagado acerca da bagagem apontei para a pequena bolsa. Sô isso, Elísio? Foi a pergunta dos meus compatriotas. Eu disse que sim, calmamente.

Dirigimo-nos para a sede da Academia, por sinal muito perto da estação de comboios para o 1º contacto com as chefias. Posteriormente, conhecemos a nossa futura residência, e fomos instalados em grupos de 2 nos nossos quartos, por sinal arrumadinhos, limpos e confortáveis.

A nossa Academia era constituída por 5 faculdades, conforme o ramo das Forças Armadas: Exército, Marinha, Força Aérea, Faculdade de Aperfeiçoamento (Doutoramento) e uma Faculdade especial para os estrangeiros.

Nesse mesmo dia, recebemos o fardamento especial para os alunos estrangeiros. No dia seguinte conhecemos a nossa professora de língua russa, a querida e inesquecível Galina Alexandrovna, senhora enérgica, que viria a desempenhar, entre os muitos competentes professores que conheci, um papel importante no processo do meu desenvolvimento intelectual, apurando-me ainda mais o gosto pela leitura. Ela fez-me conhecer os grandes clássicos da literatura russa, o que me facilitou bastante na integração a essa nova cultura, sociedade.

Durante cerca de 3 meses, apenas estudamos o russo, e a partir do 2º trimestre iniciamos o estudo da Anatomia, Biologia, Física e Química. Foi gratificante o convívio com estudantes doutros países.

Passaram-se assim os anos e eis que chega finalmente o dia 21 de Julho de 1987.

Foi esse o grande dia, em que foram entregues os diplomas. Destaco o facto de não ter sentido nenhuma sensação especial, estive bem lúcido, calmo e pensativo, o que causou admiração dos meus chefes russos, porque toda a malta restante festejava de forma muito exuberante o facto de serem a partir desse dia, Médicos. Porque tal reacção?

Acho que compreendi desde essa altura, que a verdadeira caminhada para ser um verdadeiro médico, só então começou, e posso adiantar que mesmo passados 23 anos, ainda não me sinto realizado e por isso nunca utilizei, nunca escrevi a palavra Dr. à frente do meu nome. Eu me considero (com o nível de conhecimentos que possuo, apesar de estudar ainda mais) com maior responsabilidade no tempo presente, mais do que me era exigido pelos professores. Considero-me ter sido um bom aluno, aplicado e esforçado. Mas ainda não me sinto Doutor.

Para o meu azar, no próprio dia de embarque para Bissau, foi-me comunicado que iria ficar mais 6 meses para frequentar um curso de Medicina de Aeronáutica. Chorei, tal era o meu desejo de regressar à pátria, pois os 7 anos passados no estrangeiro, foram anos felizes, mas igualmente muito penosos.

E por lá fiquei até o mês de Janeiro de 1988, tendo-me tornado Médico especialista em Medicina de Aeronáutica e finalmente, eis-me no avião de regresso à minha terra, pisando o solo pátrio no dia 21 de Janeiro de 1988, cheio de ilusões, ideias, projectos…

 na companhia de Bebé e do Sr. Lu

 

Falecida Puntcha, minha 1ª secretária

Irmã Helena, grande amiga

 

 

Brevemente -   Guiné-Bissau - Hospital central das FARP 

EBC


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