EL KADY
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À memória de Mário Pinto de Andrade
Oh! a Mulenga gritou
quando lhe disseram que o seu filho escapou
e que no convés do inesperado horizonte os escravos da aventura cósmica
lhe davam as chaves do reino de Shanti
para que ela se escondesse no ventre quente da Sereia
que nadando andava à procura dum porão ainda liberto das forças maléficas do Chão.
No porto de Bubaque
o administrador já bêbado e descalço ria como os palhaços da comédia mundializante
e então frustrados…
Os macacos - nossos últimos descendentes da razão humana
nos acolheram para nos dizerem singela e decentemente - bom dia irmãos!
Nesse dia memorável comemos chabém ku mafé séku
visitámos Goré e no choro silenciado dos imbondeiros em desfolhagem
dansámos e cantámos como que hipnotizados pelos ritmos “ assicot “
da região de Kassa di Mansa - pois que a floresta acolhedora nos enviava
uma promessa de pérolas ainda vivas e maduras para acalmar nossas dúvidas.
À chegada da geada na manhã morna do Fouta…
Tagore nos apareceu de repente na penumbra duma luz celeste inocente
para nos dizer simplesmente - « Mé… ki noba di curpu nha ermons »?
E então ao longe ouvimos uma imensa sinfonia de pássaros cantando
as últimas recordações melódicas de nossas vidas perdidas estilhaçadas
esquartejadas na vergonha mundial antagónica.
No fundo duma calabaça ancestral procurámos a resposta aos nossos anseios
e no triste anoitecer…
Só o canto da velha coruja do Pidjiguiti nos respondeu!
E o seu canto dizia - Lavem vossos corpos nos rios da verdade
porque os Cânticos da saudade crioula serão para vós
as últimas Nascentes dum novo Mundo de Fontes Fecundas
dando e recebendo amor de par em par.
Os paladinos da noite chegaram à ilha em canoas
os búzios do Chão troaram como imensas trompetas
despertanto crocodilos gazelas zebras e leopardos
que se meteram a correr como possessos dum novo despertar.
O despertar do amor…
quando me dizias NADA
o despertar da seiva quando te dava água
o despertar da nossa amizade quando na ternura do teu olhar despertavas
sem provocar a minha sede de te amar.
No sal quente do meio dia
as vozes da tabanka anunciavam a chegada a Damão de Tagore
e aí… Ao som de tablas mridangam doumbecks balafonds e koras
o poeta dançava e sorria ao povo
como se com ele…
Nas vibrações mágicas das cordas dum imenso e antigo oud nubiano
o poeta se tranformava em dádiva de vida no Milagre de Pão
que faltava cruelmente ao fugaz Centeio das nossas vidas.
No esconder do sol a Damão
nadámos nas águas da nossa infância
visitámos a gruta dos elefantes mágicos
e nas paredes dum templo antigo
rezámos por uma renascença criativa de paz em osmose com os milagres de Shanti.
Na penumbra da noite calada…
Nossos sonhos eram pedaços de véus – grinalda
dormias como uma rainha no País de Bissalanka - Sutra
e então aí…
Voavamos de novo juntos corpo no corpo
mergulhando sem resistência nas nossas novas Nascentes.
E na paz calma dessa noite…
Os contornos sublimes de teu corpo em calor
incendiando minhas labaredas silenciosas
transformaram em fogo os meus antigos lamentos.
No nosso amanhecer erótico…
Nus e rolando na areia ainda fresca
tragámos sem pudor
água de côco e vinho de cajú
para que enlouquecidos de paixão adormecessemos
com o sorriso cansado mas feliz e abençoado pelos Deuses – Criança no Reino
das Sandálias de Shanti.
Dezembro de 2009
A TER SEMPRE EM CONTA: Objectivos do Milénio
VAMOS CONTINUAR A TRABALHAR!
Projecto Guiné-Bissau: CONTRIBUTO