EL KADY

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Dezembro de 2009

AS SANDÁLIAS DE TAGORE

 

                                                                                                       À memória de Mário Pinto de Andrade

 

Oh! a Mulenga gritou

quando lhe disseram que o seu filho escapou

e que no convés do inesperado horizonte os escravos da aventura cósmica

lhe davam as chaves do reino de Shanti

para que ela se escondesse no ventre quente da Sereia

que nadando andava à procura dum porão ainda liberto das forças maléficas do Chão.

 

No porto de Bubaque

o administrador já bêbado e descalço ria como os palhaços da comédia mundializante

e então frustrados…

 Os macacos - nossos últimos  descendentes da razão humana

nos acolheram para nos dizerem singela e decentemente - bom dia irmãos!

 

Nesse dia memorável comemos chabém ku mafé séku

visitámos Goré e no choro silenciado dos imbondeiros em desfolhagem

dansámos e cantámos como que hipnotizados pelos ritmos “ assicot

da região de Kassa di Mansa - pois que a floresta acolhedora nos enviava

uma promessa de pérolas ainda vivas e maduras para acalmar nossas dúvidas.

 

À chegada da geada na manhã  morna do Fouta…

Tagore nos apareceu de repente na penumbra duma luz celeste inocente 

para nos dizer  simplesmente - « Mé… ki noba di curpu nha ermons »?

E então ao longe ouvimos uma imensa sinfonia de pássaros cantando

as últimas recordações melódicas de nossas vidas perdidas estilhaçadas

esquartejadas na vergonha mundial antagónica.

 

No fundo duma calabaça ancestral procurámos a resposta aos nossos anseios

e no triste anoitecer…

Só o canto da velha coruja do Pidjiguiti nos respondeu!

 

E o seu canto dizia - Lavem vossos corpos nos rios da verdade

porque os Cânticos da saudade crioula serão para vós

as últimas Nascentes dum novo Mundo de Fontes Fecundas

dando e recebendo amor de par em par.

 

Os paladinos da noite chegaram à ilha em canoas

os búzios do Chão troaram como imensas trompetas

despertanto crocodilos gazelas zebras e leopardos

que se meteram a correr como possessos dum novo despertar.

 

 

 

 

 

O despertar do amor…

quando me dizias NADA

o despertar da seiva quando te dava água

o despertar da nossa amizade quando na ternura do teu olhar despertavas

sem provocar a minha sede de te amar.

 

No sal quente do meio dia

as vozes da tabanka anunciavam a chegada a Damão de Tagore

e aí… Ao som de tablas mridangam doumbecks balafonds e koras

o poeta dançava e sorria ao povo

como se com ele…

 Nas vibrações mágicas das cordas dum imenso e antigo oud nubiano

o poeta se tranformava em dádiva de vida no Milagre de Pão

que faltava  cruelmente ao fugaz Centeio das nossas vidas.

 

No esconder do sol a Damão

nadámos nas águas da nossa infância

visitámos a gruta dos elefantes mágicos

e nas paredes dum templo antigo

rezámos por uma renascença criativa de paz em osmose com os milagres de Shanti.

 

Na penumbra da noite calada…

Nossos sonhos eram pedaços de véus – grinalda

dormias como uma rainha no País de Bissalanka - Sutra

e então aí…

Voavamos de novo juntos corpo no corpo

mergulhando sem resistência nas nossas novas Nascentes.

 

E na paz calma dessa noite…

Os contornos sublimes de teu corpo em calor

incendiando minhas labaredas silenciosas

transformaram em fogo os meus antigos lamentos.

 

No nosso amanhecer erótico…

Nus e rolando na areia ainda fresca

tragámos sem pudor

água de côco e vinho de cajú

para que enlouquecidos de paixão adormecessemos  

com o sorriso cansado mas feliz e abençoado pelos Deuses – Criança no Reino

das Sandálias de Shanti.

 

 

El Kady

Dezembro de 2009

 

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