A SITUAÇÃO DA GUINÉ

 

Matteo Candido *

05.03.2010

A Guiné parece estagnada, bloqueada por forças opostas mas interdependentes, cautelosas, para evitar passos em falso. Embora do interior e do exterior surjam protestos e reivindicações, permanece a falta de transparência e de normalidade para o país poder viver uma soberania inquestionável do direito. Como sair do impasse?

Acho que para obtermos respostas devemos ir além das controvérsias da atual situação da Guiné, e investigar as verdadeiras causas.

Na minha opinião, deve-se recuar ao período antes da independência, analisar a composição/formação da Guiné.

Suas fronteiras, em primeiro lugar. Elas não foram definidas pelos Guineenses. Foram impostas pelo colonialismo, o qual certamente não seguiu os interesses do povo, provocando assim, uma miscigenação.

De seguida, a expulsão do colonialismo Português e a conquista da independência não foram conseguidas com a participação massiva de todas as etnias: a iniciativa, meritória, foi dirigida e conduzida por uma minoria, e não chegou a todas as áreas do território. Muitos guineenses foram basicamente espectadores e não atores. As estas duas condições naturais e históricas, julgo ser importante acrescentar também o factor cultural.

O que marcou de maneira drástica a mentalidade dos dirigentes e combatentes pela independência foi a ideologia marxista. Ainda que pouco, a meu ver, com graves consequências práticas, sofridas em primeiro lugar, pelos próprios militantes do Partido único.

A verdadeira natureza do marxismo passa facilmente despercebida, como aconteceu com muitas pessoas no Ocidente durante as guerras de libertação.

Além dos resultados - 'gloriosa' porque ela levou à libertação do colonialismo - a "práxis marxista" (práxis) não é uma mera ação política, como a de outros partidos, mas produz uma reação na mente e no ánimo da pessoa em que atua a práxis: ela determina uma "mentalidade" que se opõe e destrói os princípios e comportamentos que, 'por natureza', 'costume', 'instinto', 'espontaneamente, "normal" as pessoas sentem e seguem nos seus percursos diários em todos os cantos do globo. O marxismo, de facto, não se destina a ajudar o homem, mas a transformá-lo. Não fala de liberdade, mas de libertação. A libertação da escravidão em que todos os brancos e negros, sábios e ignorantes, ricos e pobres, europeus e asiáticos ou africanos involuntariamente estamos, enganados por todas as tradições e religiões, que até agora têm guiado os povos e civilizações do mundo.

Muitas coisas estão distorcidas e por isso, devem ser corrigidas. É a revolução com um R maiúsculo a Revolução que fará surgir um Homem “Novo”, mais perfeito, mais justo, tão logo consiga destruir o “velho” Homem. Nada será poupado, nem instituições, nem indivíduos, estando contra.O que importa é o futuro, o futuro que aguardamos com confiança e que virá tão depressa quanto mais cedo for destruída a ordem anterior, que é o presente em que vivemos.

Essa "fantasia fanática", que tem encantado muitas pessoas em muitas partes do globo, não se baseia em provas filosóficas, científicas ou históricas, ela declarou guerra a todo o mundo, a todas as civilizações, a todas as tradições, a todas as religiões sob o pretexto - dogma a aceitar pela fé - para ser a "solução" para todos os problemas sociais, para ser realmente a última revelação do mistério da história.

Aqueles que estão possuídos por esta “ideologia do ódio” não hesitam  perante pessoas que consideram como obstáculo às suas "causas", ou melhor, do circulo restrito do “iluminismo”, de quem são apenas servidores e executantes, por isso, eliminam-nas.

Se considerarmos tudo isso encontramos paralelo no pós-independência da Guiné e por isso, ainda hoje, o país continua num impasse permanente. É possível que ninguém acredite na 'Causa', mas a velha mentalidade marxista continua a conduzir o pensamento e o comportamento da corrente dominante na Guiné-Bissau.

Uma mentalidade que não aceita nenhum cidadão/candidato apenas como adversário a combater de forma "legal, mas como inimigo a eliminar fisicamente, para não se correr o risco de ser eliminado antes por esse cidadão/candidato, conhecendo bem a mentalidade  e a forma de agir dos "amigos".

Penso que isto explica, em parte, a situação na Guiné e que é fundamental para nos orientarmos em direcção ao diagnóstico de outras causas.

Acho que não sairemos facilmente nem rapidamente do impasse. Certamente, o tempo conduzirá inevitavelmente ao desaparecimento dos velhos actores. Mas quem, entre os guineenses, tiver mais sabedoria e moralidade, não pode ficar parado no tempo, mas sim, preencher o seu círculo de vida e de trabalho, para determinar o retorno definitivo, mesmo à custa de perder alguma coisa, afim de reavivar o que a humanidade recebeu da natureza e da tradição, para que possa também ser vivida e sentida por pessoas simples nas aldeias.

* Pedagogo italiano, amigo da Guiné-Bissau.


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