AS CONTRADIÇÕES DA CEGA AMBIÇÃO DO PODER, OU A AUSÊNCIA DE RIGOR DE CARÁCTER?

 

 

 

 

Djodji (o primeiro)

10.04.2009
 

 

Ouvi atentamente a entrevista do Sr. Francisco Fadul à SIC Notícias que, sem rodeios, proponho aqui analisar.

 

Esse senhor apressou-se em aproveitar a oportunidade cedida pelos seus amigos portugueses, com interesses específicos na Guiné-Bissau, para aparecer na comunicação social portuguesa, em programas com considerável audiência, para fazer o aproveitamento político da sua condição e aspecto de vítima, tornando desde já pública a sua candidatura à Presidência da República, auto-intitulando-se de um político com rigor de carácter, ao mesmo tempo que lança graves acusações com evidentes contradições ao seu principal adversário político de momento, o actual primeiro-ministro guineense e, consequentemente ao CEMGFA.

 

O Sr. Fadul, no seu estilo habitual de pseudo-intelectual e politiqueiro confuso que o caracteriza, “lançou os dados sobre a mesa”, sobre uma hipotética trama, concebida pelo actual Primeiro-Ministro e o actual CEMGFA (ainda não cheguei a perceber se é interino ou não!), para a eliminação física consumada em menos de 24 horas, de Nino Vieira e Tagmé Na Waie.

Olhando para as pedras que constituíam o Xadrez político-militar guineense, ninguém pode desmentir com factos, que CADOGO era o único e principal inimigo comum dos dois malogrados. CADOGO era também uma peça importante no jogo da conquista do poder na Guiné-Bissau, poder esse que era propriedade quase privada, daqueles que outrora fizeram um pacto para o seu afastamento da cena política guineense e eventual eliminação física. Cabe a qualquer guineense fazer interrogações simples que já foram publicamente lançadas mas que ainda não mereceram esclarecimentos por parte dos dois principais sobreviventes da jogada decisiva do fatídico dia 2 de Março de 2009. Primeiro, porque é que um Primeiro-Ministro, no cenário de um atentado que vitimou o CEMGFA, recusou-se a reunir com o Presidente da República? Temia pela própria vida, ou tinha conhecimento de planos para eliminação física deste, recusando-se a comparecer no “local certo”, mas na hora errada? Segundo, porque o Sr. Primeiro-Ministro sentiu a imediata necessidade de protecção que solicitou ao actual CEMGFA? O que temia CADOGO? Defendia-se de um eventual plano para a sua eliminação física, ou da reacção dos fiéis do Tagmé que podiam ter percebido que fazia parte do plano de assassinato do mesmo? Terceira pergunta que se impõe e, julgo eu, a mais importante de todas, porque é que um Primeiro-Ministro, face ao cenário que todos conhecemos, não se pôs imediatamente em contacto com o elemento que se seguia na hierarquia da chefia militar, pedindo até a sua protecção pessoal? Porquê Zamora Induta!? Avançando para a quarta e a quinta perguntas, já antes colocadas pelo Didinho, como é que Zamora Induta conseguiu mobilizar seis dezenas de militares em tão pouco tempo, para dar protecção ao Primeiro-Ministro e, ainda, onde se encontrava o próprio Zamora Induta, enquanto o Presidente da República era barbaramente assassinado? A sétima pergunta que se impõe e deixa-nos porquanto inquietos, é o facto de ainda não ter sido explicado aos guineenses, onde se encontram as outras restantes bombas que o Zamora Induta afirmou terem sido transportadas para a Guiné-Bissau e que estariam prestes a arrebentar? Digam-nos onde estão se sabem, caso contrário, têm a obrigação política e de segurança de estado, de procurá-los e desactivá-los…

 

Com essas interrogações não pretendo dar razão à tese defendida pelo Fadul, porque, ao meu ver, é uma tese com enormes lacunas, que o próprio Fadul deixou transparecer na entrevista, sem se aperceber.

 

Só um politiqueiro como Fadul tenta esquecer o crescente braço-de-ferro para o controlo do poder, entre Nino Vieira e Tagmé. Ninguém esquece que Nino anunciou um suposto atentado à sua pessoa, na sua própria residência, como alegação para mudar e reforçar a sua guarda pessoal, tentando recuperar os fiéis “aguentas”. Logo a seguir, foi Tagmé também vítima de um suposto atentado, em frente à residência do Presidente da República, perseguindo claramente o desmontar da adulterada guarda presidencial, que tinha sido conseguida dias antes, com conluio do governo em funções.

O próprio Francisco Fadul assumiu na sua entrevista, a prévia existência dessa animosidade ou braço de ferro entre Nino Vieira e Tagmé Na Waie e relatou a preocupação do defunto Presidente sobre esse facto, chegando a enviar intermediários para tentar convencer o CEMGFA das suas boas intenções. Porque necessita de intermediários o Presidente da República, para sarar eventuais mal-entendidos entre duas instituições do estado, quando existem regras claras que regulam a relação dessas duas instituições, sem necessidade de intermediários. Por outro lado, desconhecia que Francisco Fadul continuava a ser conselheiro pessoal de Nino Vieira!!! Deve ser por uma questão de rigor de carácter!!! Mas já aí vamos…

 

Meus caros, devo dizer-vos que não conheço CADOGO como pessoa, qual a sua personalidade e qual o seu carácter. Apenas o conheço como comerciante (mais o Pai) e como político, mas custa-me muito acreditar que tenha tido a frieza e a astúcia necessária, para aproveitar a tensão que era claramente crescente entre Nino Vieira e Tagmé e orquestrar o assassinato dos dois, com vista ao controlo do poder!!! Mas, até prova em contrário, todos os cenários são possíveis.

 

Conforme relatou o pseudo-intelectual e politiqueiro, no seu diálogo com os agressores, separou claramente as responsabilidades daqueles que o agrediam naquele momento, com aqueles que detêm o poder e roubam o bem-público, sem prestar contas. Porque é que agora, o mesmo insiste em conotar esses agressores com as altas figuras do governo e da fileira castrense? Que interesses movem Fadul, para tentar a todo o custo atingir a imagem de CADOGO e do Zamora Induta? Obviamente que é a sede do poder e de claro aproveitamento dos últimos graves acontecimentos e do actual estado do país, para surgir como o principal defensor de causas públicas e de direito internacional.

 

O Sr. Fadul não hesita agora em pedir a intervenção indiscriminada dos órgãos internacionais que defendem e promovem os direitos humanos e da cidadania, na Guiné-Bissau!!! É caso para perguntar, onde estava esse homem com “rigor de carácter”, quando o espaço aéreo guineense foi violado, num acto de clara desobediência ao poder democrático instituído? Eu sei onde estava o rigor de carácter desse homem, no momento de legitimar um ditador que ele mesmo intitulou de assassino, como Presidente da República saído de umas eleições pouco claras. É óbvio que os interesses monetários falaram mais alto e não só legitimou como colaborou com esse acto, aceitando um cargo de conselheiro da presidência, equivalente em remuneração e regalias ao Primeiro-Ministro. Com esse gesto e outros que antecederam a esse, Fadul demonstrou claramente que o seu bem-estar económico e da sua família, falam mais alto que a paz e a estabilidade política de todo um povo. Com esse gesto, Fadul suicidou-se politicamente, pelo menos para os guineenses mais elucidados…

Continuo a perguntar, onde estava o Sr. Fadul, quando o Comodoro Lamine Sanhá foi vergonhosamente assassinado na presença da esposa e quando o Dr. Silvestre Alves foi brutalmente espancado? Será que o homem com “rigor de carácter” ainda não conhecia as ditas organizações internacionais a quem pede agora uma intervenção urgente na Guiné-Bissau? Porque não fez uso nessa altura das suas amizades em Portugal, para dar mais ênfase a esses actos bárbaros?

 

O Sr. Francisco Fadul já se esqueceu que foi um dos “condutores” da revolta militar promovida por Ansumane Mané, contra um Presidente democraticamente eleito? Já se esqueceu que o próprio Zamora Induta, a quem agora dirige graves acusações, era porta-voz dessa denominada Junta-Militar?

 

Senhor Fadul, as palavras do Nicolau Maquiavel (“os fins justificam os meios”) não podem ter valor no século em que vivemos. Almejar o poder não legitima o seu acto que mais não é que  lançar mais confusão num país já debilitado.

 

Concordo plenamente que a ONU deve intervir na Guiné-Bissau, não só para organizar e moderar os militares, como também para banir da senda política guineense, camaleões como o Sr. Francisco Fadul.

 

Djarama Contributo.

 

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