A revolução como estilo de vida

 

 

“An individual has not started living until he can rise above the narrow confines of his individualistic concerns to the broader concerns of all humanity.”

Martin Luther King, Jr.

 

 

Por: Samuel Reis*

08.06.2008

Revolucionário é um título pesado, embebido numa responsabilidade quase constrangedora. É um nome muito mal utilizado, poucos conseguem defini-lo quando lhes é pedido e normalmente é associado a violência, a armas e a golpes de Estado, com um tom de voz que sugere obrigatoriedade. Para mim, como na definição do dicionário, um revolucionário é alguém que inova. Pura e simplesmente alguém que inova e renova a sua mentalidade diariamente. Não é necessário que uma revolução tenha um cariz bélico, violento… E não é necessário estar relacionado com a violência para se ser um revolucionário. Ser revolucionário é libertar a mente das regras impostas por uma sociedade que vive no medo da marginalização, é pensar por si mesmo e para os outros num mundo cegado pelo egoísmo.

 Um dos revolucionários que tenho sempre em mente é Martin Luther King, e era um revolucionário não-violento, contudo contribuiu muito para mudar o rosto de uma América segregacionista, embora a América continue racista... Ghandi, outro importante revolucionário, é considerado o pai da Índia! A história da independência da Índia seria completamente diferente sem este homem. Ele inspirou o Dr. King na sua missão e ambos usaram a não-violência como arma em situações parecidas com aquela em que se encontra a Guiné-Bissau. Portanto, ser revolucionário não tem nada a ver com metralhadoras... Mas claro, não posso deixar de referir Amílcar Cabral, este sendo um revolucionário com meios violentos, mas que, por razões óbvias, eram necessários. Ainda podia referir Malcolm X, Patrice Lumumba, Huey P. Newton, Nélson Mandela… ou também há os que não ficaram nos livros e nunca serão relembrados… Mas o que todos estes homens têm em comum é a independência de pensamento. Não nasceram ensinados, claro que precisaram de exemplos e de outros homens para chegar onde chegaram, mas separaram-se do pensamento comum, separaram-se do pensamento das massas, despiram-se de egoísmo. Todos nós devemos fazer isto se pretendemos ser revolucionários. É a primeira característica de um.

 Agora vem a parte mais difícil (ainda mais difícil). O que vou dizer vai a muitos parecer absurdo. Provavelmente vou ser muito criticado porque tenho uns escassos dezasseis anos. Não tenho uma conta bancária, não tenho uma carreira profissional, ainda não constitui família, não tenho uma casa e o trabalho de uma vida nas mãos, não tenho nada a perder. Mas vou dizê-lo de qualquer maneira.

 Como ser humano sou apenas uma partícula entre mais de seis biliões de partículas similares, sujeitas às mesmas dores, aos mesmos sentimentos, às mesmas fraquezas. Todos deviam ter as mesmas oportunidades, as mesmas condições, os mesmos direitos, mas isso não acontece e poucos se preocupam com a miséria quando ela está longe. O que deveria ocupar as nossas mentes é o verdadeiro sentido da vida. Como acontece com todos nós, um dia eu vou morrer (o que parece ser a única regra que se aplica a todos) e, caso tenha vivido uma vida “normal”, serei esquecido no espaço de umas poucas gerações. Pouco sei dos meus bisavôs, é a triste verdade. Então, e evitando conflitos religiosos de maior, posso afirmar que, neste mundo, a nossa existência é fugaz e não tem impacto absolutamente nenhum caso tenhamos vivido a vida “normal”. Porquê que nos preocupamos com a conta bancária?! No fim seremos apenas pó, pelo menos nesta dimensão (como disse, estou a evitar conflitos religiosos, sigam o meu raciocínio de um ponto de vista puramente terreno).

 Irmãos, penso que temos uma escolha a fazer. Podemos escolher viver uma vida “normal” (não que considere o egoísmo normal, mas é a vida comum, indiscutivelmente) ou podemos seguir as pisadas de Cabral e escolher a vida revolucionária. Podemos ter como objectivo melhorar a vida própria, cada um por si, ou podemos ter como objectivo melhorar a vida de todos. Se vivemos para nós, vivemos para pó. Se vivemos para dias melhores, vivemos para os nossos filhos, vivemos para a vida. E só vivendo para a vida é que a vida faz sentido. Só amando os outros é que a vida faz sentido. O amor é, no fim de contas, a razão da vida.

 Sim, escrever textos é fácil, tenho consciência disso. E até agora pouco mais fiz, é um facto… Contudo, não menosprezem textos e palavras, porque a revolução é sustentada num terreno puramente ideológico, puramente mental, e estes textos são as nossas conclusões. Estes textos são a base da revolução que deve acontecer não no chão da Guiné-Bissau mas sim na mente de cada guineense. Já estamos livres do colonialismo, agora a revolução é de mentalidades! A próxima fase, a seguir a escrever textos, será a organização de manifestações não violentas. Para isso é preciso que estejamos fortes mentalmente, aí entram também as reflexões, mas, acima de tudo, é preciso que tenhamos a revolução como estilo de vida.

 Depois de acontecer a revolução nas nossas mentes, depois de o nosso estilo de vida ser a revolução, não temeremos que as nossas manifestações sejam reprimidas pelo Estado, não temeremos nenhuma perseguição. Depois de nos tornarmos revolucionários, não temeremos. Temos que mudar a nossa mentalidade porque é impossível mudar a Guiné sem mudar os guineenses! Única e somente quando não temermos será possível sermos os donos do nosso destino e resgatarmos a Guiné-Bissau da cleptocracia que se quer fazer parecer implacável e do neocolonialismo que actua calado nas sombras da mesma.

 Todo o poder para o povo!

 

* 16 anos de idade, estudante na área de Línguas e Humanidades do 10º ano com aspiração de vir a ser jornalista


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