Caro Casimiro,

 

Mantenhas e parabéns por teus esforços ao serviço da informação e sobretudo da informação denunciante.....

JGalvão Borges 

 

 


 

A propósito de "5 de Julho, Mandjacos & Intelectuais"

 

João Galvão Borges

 

 

            Com vossa permissão,


           Que o teor de minha reacção ao artigo do Sr. Eng.º Armindo Ferreira – 5 de Julho, Mandjacos & Intelectuais – publicado no Expresso das Ilhas a 13.06.07, me situe de forma inequívoca.  Não posso ser indiferente ao artigo do  Eng.° Armindo Ferreira. Sou até, se ele mo permitir, solidário! E por duas razões!


          A primeira confere-me legitimidade: sou filho de emigrantes Cabo-verdianos que se radicaram na Guiné-Bissau em princípios dos anos 30 do século passado.


          A segunda também me confere legitimidade: enquanto Guineense sinto-me ferido e triste por saber que meus conterrâneos são expatriados de Cabo-Verde por terem cometido o "hediondo crime" de se furtarem à vigilância das autoridades para procurarem uma vida melhor, para procurarem o ancestral "pão-nosso de cada dia..." que lhes é "recusado" em solo pátrio.... Ninguém abandona sua Pátria se não for, por dispares razoes, coagido. E o Povo Cabo-verdiano, emigrante por excelência, sabe-o bem.

          Mar ê morada di sôdadi, êl ta lêvano pa terra longe!... E a Guiné-Bissau já foi terra longe!..., que o digam, entre saudosos e presentes, os, Manuel 'Djinha', Antero 'Bubu', Armando 'Tina', Manuel 'Tuboca', 'Tita Gote', 'Joãozinho Burgo', Sérgio Centeio, João 'Coronel', 'Beirona', César Alves, 'Nhanduco', Mário Lima 'Pobre', 'Mexicano', João Capristano, Alberto Borges, 'Chamano', 'Agustôn', 'Antoninho Griga', Silva 'Matador' 'Dja Bô N'Gli', Pedro Moreira, Anselmo Mariano, Quirino Spencer, Aristides Pereira, Pedro Duarte, 'Toi' Cabral, Aguinaldo Almeida, 'Tcheca', Nicolau Dias, Zeferino Macedo, Armando 'Búfalo Bill' e os de "boa pena" como Henrique Ribeiro, Pedro Andrade, Pedro Delgado, 'Administrador' Garcia, Marcelino Moreira, vindos do Seminário de São Nicolau em Cabo-Verde!, e o ex- Banco Nacional Ultramarino servido massivamente por "Insulares", e muitos, mas mesmo muitos outros que escapam à protecção de minha memória. Que a memória, a verdadeira, não se perca!...

 

          Não há movimento migratório sem subjacente necessidade. A necessidade é o móbil e o "carburante" de qualquer fluxo migratório. Não acredito que em tempos de "fartura", as naus portuguesas deixariam os portos de Lisboa e de Sagres para darem "Novos mundos ao Mundo"!...

          E ainda sobre esse tema, não fosse a "Phytophtora infestas", um fungo que dizimou a cultura da batata na Irlanda em fins (creio!) do século XVII, os "Mayflower" e congéneres não tomariam certamente rumo para as Américas!...

          Posso também afirmar-vos que, ver um camponês Guineense deixar sua terra, para um país com solos de morfologia, textura, estrutura, topografia e aptidão cultural diferentes, para um país de pluviometria periclitante; vai ao de lá do credível! é quase ficção!...

           Para vos poupar, tempo e paciência, procurei ser inciso, conciso, sendo exaustivo.
          Congratulo-me que na terra de meus Pais se possa, de forma responsável, veicular um vasto espectrum de correntes de pensamento e pronunciar vozes discordantes. Bravo, e que dure!

           Vivi a Guiné colonial, vivi a Guiné pré e pós independência pelo que me permito pronunciar sobre alguns aspectos de minha vivência no Pais.

          Até 14 de Novembro de 1980 era, na Guiné-Bissau, politicamente pouco aconselhável e susceptível de consequências falar do Homem Guineense. Pela ideologia vigente o Homem Guineense e o Homem Cabo-verdiano não eram senão duas cotilédones de uma única variedade de  semente – Unidade Guiné Cabo-Verde! Falar portanto do Homem Guineense dissociado do Homem Cabo-verdiano denunciava uma certa "afeição" pela FLING (Frente de Libertação Nacional da Guiné), o que não era naturalmente de se aplaudir...

          Em contrapartida chegavam-nos das Ilhas ecos de homéricos discursos sobre a identidade do Homem Cabo-verdiano. Como compreender? De um lado se nutria de elogios o Ego do Povo das Ilhas e de outro procurava-se (com certa subtileza mas não sem empenho) temperar o Ego do Povo Guineense. Porquê e com que intenção?

           Creio hoje compreender, e bem, o móbil desse desfasamento. Questão de EGO!

          Durante a Luta Armada de Libertação Nacional, a Guiné-Bissau era considerada o Vietname das colónias portuguesas em guerra, o que era obviamente uma referência extremamente elogiosa para qualquer Povo que luta pela sua liberdade.

          Por alguma razão o 25 de Abril em Portugal foi conduzido pelos militares vindos da frente da Guiné.

          Ora essa exaltação e esse enaltecimento estão, convenhamos, por conta da tenacidade, da coragem, do heroísmo do guerrilheiro Guineense, do combatente Guineense, do Homem Guineense (permitam-me poder, quanto a este singular exemplo, finalmente falar do Homem Guineense, sem receio e sem modéstia), que se bateu, em seu solo, pela Liberdade de duas Pátrias!... Porém não posso, não devo e muito menos quero, deixar de mencionar, reconhecer e enaltecer as valiosas, contribuição e participação da diáspora de Nacionalistas Cabo-verdianos a essa nobre causa.  

          Entretanto o palco das violentas operações de guerra foi a Guiné; dai que, logicamente, o preço de sangue vertido e de todas as nefastas consequências de uma guerra foram suportados pelo Povo Guineense. Essa irrefutável realidade histórica é extremamente mal vivida por essa diáspora de Nacionalistas Cabo-verdianos que participaram na Luta Armada de Libertação Nacional, em solo Guineense.

          Essa diáspora gostaria de poder falar de UMA Luta Armada de Libertação Nacional NA Guiné e EM Cabo-Verde e não DA Luta Armada de Libertação Nacional DA Guiné E Cabo-Verde, em solo Guineense.  Como disse, questão de EGO!

           Tendo em conta a Luta Armada de Libertação Nacional e a especificidade de seu contexto, gostaria de pedir se pronunciem com frieza, serenidade e sobretudo HONESTIDADE sobre um "tema-questão" quase tabu!

          QUEM OUSA DIZER, sem ferir susceptibilidades e sensibilidades diferentes, QUE A ESTRATIFICAÇÃO HIERÁRQUICA em todas, repito, em todas as instâncias DO ENTÃO SUPRANACIONAL PARTIDO, a indicar: Comissão Permanente do Bureau Politico do Conselho Executivo de Luta, Conselho Executivo de Luta e Conselho Superior de Luta REFLECTIA (com justiça e isenção )  AS CONTRAPARTIDAS  (da Guiné-Bissau, de Cabo-Verde, de seus respectivos Povos)   à LUTA ARMADA DE LIBERTAÇÃO NACIONAL. O silêncio tem respondido esta questão incomodativa...!

          Quantos Cabo-verdianos foram fuzilados em Cabo-Verde por terem servido o exército colonial e por se terem oposto em armas aos Movimentos de Libertação Nacional das ex-colónias? Se nenhum, como compreender e/ou aceitar que, pelas mesmas razoes, medidas diametralmente opostas foram preconizadas e implementadas na Guiné-Bissau sob a égide do mesmo Partido?

          Fuzilaram, entre outros, Baticâm Ferreira, iminente autoridade tradicional, PUBLICAMENTE, em Canchungo, em sua terra natal !!!...Que barbaridade e que monstruosa cegueira politica. E também, que estranha forma de promover a Reconciliação Nacional!...

Não fui o único a compreender os dizeres do Eng° Armindo Ferreira. Convenhamos porém, que uma redacção estruturada, cuidada, elaborada e sobretudo fundamentada pode incomodar certos leitores quando inadvertidos!... E para substanciar, duvido que todo o Espartano compreendesse seu conterrâneo Ateniense e que todo o Ateniense compreendesse seu conterrâneo Espartano. Mas, como não passei pelas Termópilas, a resposta a quem de direito!...

          Há-os que se fundamentam para argumentarem. Há-os porém que só fazem ECO e, porque "apodos" de ideias, precisam incessantemente de "promotores de ideias..." Concordo que é extremamente difícil ser-se indulgente e tolerante face a verborreias irresponsáveis e incongruentes. Coragem!

           E, por tudo quanto disse;

          Não será que os cidadãos Guineenses MERECEM da Nação Cabo-verdiana, do seu Povo e do seu Estado, e que não seja por pudor, por RESPEITO a um PASSADO demasiadamente recente para ser olvidado,  mas por RESPEITO à MEMORIA desse PASSADO, por RESPEITO da MEMORIA desse PASSADO, um tratamento efectivamente preferencial, mais consentâneo e coerente com esse PASSADO e sobretudo com essa MEMORIA?!...

          Quanto sangue Guineense, estoicamente, generosamente vertido para que a LIBERDADE fosse Também extensiva a Cabo-Verde, beneficiasse Também seu Povo, então IRMÃO!!!. Ainda oiço os cânticos de "dus curpu um corçon!....

          Esse tratamento preferencial, que não chocaria o mais exigente dos racionais de Lineu, só poderia a meu ver, enobrecer a Nação Cabo-verdiana e seu Povo. Questão de bom senso!

          Seria entretanto bom saber quais os interesses subjacentes a essa nutrida amnésia e quem os interessados em fragilizar e/ou definitivamente desactivar essa MEMORIA.

 

          Meus irmãos Cabo-verdianos,

          Peço-vos com sinceridade e com humildade que doravante, em nome desse PASSADO, em nome dessa MEMORIA, e até pelo sangue que nos corre nas veias..., tratem melhor nosso irmão "Mandjacos". E sobejam-vos razões...!

           Antecipo-me ao 5 de Julho, vossa Festa Nacional, para vos desejar Saúde, Paz e Progresso.

           Com modéstia,

 

         João António Galvão dos Reis Borges

 

 

 

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