A ocidentalização e alienação do Africano
 

 

Por: Samuel Reis*

24.02.2008


 É fundamental compreender que a escravatura acabou há cerca de um século apenas e o colonialismo há pouco mais de três décadas, continuando contudo as duas práticas em uso, mas agora de formas mais inteligentes e menos perceptíveis. Vê-se facilmente que, de uma forma ou de outra, os tempos do colonialismo e os tempos da escravatura feriram os povos africanos e as lembranças do sofrimento ainda assombram a memória colectiva de todos nós, africanos e afro-descendentes. Ainda há os que olham para irmãos em África como indígenas, enquanto se consideram assimilados, ainda há os que lutam pelo estatuto de assimilados e tratam irmãos como indígenas.
 Hoje em dia as culturas africanas são encaradas com um exotismo exagerado, num misto de admiração e inferiorização, da mesma forma como se olha para comunidades de uns quaisquer primatas selvagens! Nas salas de aula ou em conversas informais, na televisão ou em qualquer outro meio de comunicação social, falar de África é falar de povos "mais atrasados" e "em desenvolvimento". A história africana foi quase totalmente apagada e a filosofia africana é completamente ignorada nos livros e nas escolas, sendo no entanto muito mais antiga e tão ou mais fascinante do que a grega, que assume todo o protagonismo! Mas ainda eles só sabiam que nada sabiam já o homem africano atingira a consciência necessária para compreender a filosofia Ubuntu!
 Hoje culturas inteiras perecem frente ao fenómeno da ocidentalização (e recentemente americanização), numa imitação de um exemplo péssimo! Esta destruição de identidades foi causada pelo "homem branco" que agora reaparece como o salvador em cimeiras que fedem de tanta hipocrisia, depois de muito generosamente conceder a liberdade (ou a fachada da liberdade) aos povos oprimidos, como se não se tratasse do mesmo que os oprimiu, roubou, escravizou e condenou à mais profunda ignorância e ódio próprio.
 Este ódio próprio é o veneno que pais dão de beber aos filhos, e filhos dão de beber aos netos, como uma herança. Somos ensinados a ter vergonha do sangue africano que corre nas nossas veias, a considerar ser branco o "normal" enquanto nós somos uns humanos com excesso de melanina ou algo parecido. Eu tive a sorte de não sofrer isto "na pele", pelo menos com regularidade, mas os efeitos destas mentalidades cercam-me de perto...
 Asfixiados por uma atmosfera racista, os guineenses (e africanos em geral) que emigraram rejeitam, a maior parte das vezes, toda a sua cultura e origens numa tentativa desesperada de serem aceites pela sociedade ocidental. Nunca o fomos, e não digo que a Europa nunca se verá livre do racismo, mas, se isso acontecer, não vai ser em breve... Podem ter a certeza! Ainda somos distinguidos e discriminados, ainda somos considerados "invasores", ainda somos estereotipados, só é bom ser africano quando é para dançar, cantar ou fazer desporto e só somos respeitados quando sabemos correr e marcar golos ou ganhar medalhas para o país que nos maltrata.
 Aprisionaram as nossas mentes com propaganda racista. Aliás, aprisionaram igualmente a de todos os outros, independentemente cor da pele ou nacionalidade. Há coisas para pretos e há coisas para brancos, ultrapassar a linha resulta normalmente na marginalização por parte das duas "facções" em guerra. E agora, completamente alienado da sua cultura, que repudiou com todas as forças, o africano, que muitas vezes se considera europeu, é inimigo de si mesmo. Nega a sua cultura, maldiz os seus compatriotas, está cegado pelo ideal de beleza ocidental pré-concebido, desprezando a mulher negra. Quantos não odiaram e odeiam a pele castanha que Deus lhes deu? E as feições africanas? E os cabelos crespos?
 Orgulhem-se irmãos, a pele castanha, as feições africanas, o cabelo crespo, tudo isso é belo, quão belo! Porquê que se deixam formatar por uma cultura racista e um ensino eurocêntrico? Rejeitem essas mentiras, não a vossa cultura!
É necessário amar o povo guineense, quando se é guineense (e de preferência até quando não se é, porque amar nunca é de mais). A nacionalidade e a cultura fazem parte da identidade do indivíduo. Cada um de nós deve amar, depois da humanidade, os irmãos da nação com a qual nos identificamos.
 Jamais podemos repudiar as nossas origens.

 
Nô Djunta Mon!

* 16 anos de idade, estudante na área de Línguas e Humanidades do 10º ano com aspiração de vir a ser jornalista


 

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