De: beatriz vaz araújo friman beatrizfriman@hotmail.com


Enviada: terça-feira, 1 de Julho de 2008 15:55
Para: didinho@sapo.pt

Caro Fernando Casimiro (Didinho),
 
Tomo a liberdade para lhe dirigir esta mensagem, anexando um relato pormenorizado da minha situação, solicitando que a divulgue no seu site CONTRIBUTO, e, outrossim, endereçar-lhe um pedido de ajuda naquilo que for possível.
 
Depois de estar de mãos atadas, sem saber o que fazer e nem a quem recorrer, decidi partilhar o meu sofrimento com todos, esperando que surja alguém que me possa ajudar a esclarecer todo este meu processo, porque desde há muito que não tenho recebido qualquer informação do Inspector da PJ de Setúbal que está a investigar o caso.
 
Aguardando um melhor acolhimento, subscrevo-me com elevada consideração.
 
Beatriz Friman

A minha trágica história

 

               Chamo-me Beatriz Vaz Araújo Friman, mais conhecida por Rosinha, nasci na Guiné-Bissau, sou mãe de quatro filhos, mas neste momento dada a minha trágica história, fui forçada a vir morar em Portugal deixando para trás toda a minha vida construída à base de muito sacrifício e os meus restantes três filhos, vivendo por isso numa permanente angústia, sem saber o que fazer.

              Antes de relatar de uma forma relativamente detalhada a razão porque vim parar a Portugal, queria só referir que, após apresentar queixa à Polícia Judiciária, que pouco ou nada tem feito para o cabal esclarecimento da minha situação, estando o meu processo no preciso momento num autêntico impasse, e sem ninguém a quem recorrer para ver se o mesmo tem um rumo diferente, muito menos tenho disponibilidade financeira para contratar um mandatário judicial que poderia pressionar as autoridades judiciárias a imprimir uma outra dinâmica à investigação, decidi partilhar a minha tormenta e o meu sofrimento com todos, esperando assim encontrar alguém que me possa ajudar a esclarecer todo este imbróglio.

             Na verdade, alimento ainda a ilusão de que com este passo, que muito me custou a dar, possa constituir um momento de viragem em todo este processo que tanto sofrimento me tem causado, ao qual, pelo menos até agora, não vislumbro qualquer solução.

            Tudo começou com falecimento do meu marido, em 1999, vítima de doença, pai dos meus quatro filhos, única fonte de sustento de toda a família. Enquanto doméstica, limitava-me a cuidar deles ficando o meu falecido marido com o encargo de angariar rendimento para sustentar a família.

           Após esse desgostoso acontecimento, a minha vida familiar ruiu como um castelo de cartas. Só o nosso bom Deus sabe as dificuldades por que passei para garantir a educação das minhas crianças. Passamos por diversas provações, mas no entanto, sempre tive apoio de familiares e amigos, pessoas que conheciam o meu marido, e que, naquele momento de dor não regatearam esforços em minorar o meu sofrimento e o dos meus filhos.

            Foi nesse período que, manifestando a intenção de ajudar, surge a figura central de todo este meu drama (a senhora Maria Augusta Almada Correia de Mesquita, vulgo ETA). Aproveitando-se das dificuldades que estava a experimentar, sem condições para aguentar, sozinha, a árdua tarefa que me estava pela frente, e uma vez que a aludida senhora, que é um familiar meu - neste caso minha prima -, tem nacionalidade portuguesa, propôs-me trazer um dos meus filhos para Portugal, no caso concreto uma menina, garantindo-me que cá ela teria uma vida bastante folgada e que cuidaria dela como se de uma filha tratasse.

          No início fui contra a ideia, porque não queria que a minha querida filha fosse educada longe de mim, para mais era pouco crível que conseguisse reunir meios que me permitissem deslocar a Lisboa para a vir visitar. No entanto, a intervenção de familiares mais próximos fizeram-me mudar de ideia, uma vez que viam naquele gesto uma oportunidade única para que a minha filha tenha uma outra educação e qualidade de vida que muito dificilmente teria caso continuasse a viver em Bissau.

         Após o registo da criança com um nome e apelido diferentes àqueles que lhe foram atribuídos pelo pai (concretamente, Tatiana Paula Mesquita Mendes), isto é, como sendo sua filha, só possível porque sendo o meu marido quem costuma tratar do registo dos nossos filhos, quando ficou doente não conseguiu proceder ao registo da nossa última filha, que teria o nome de Idalécia Friman Araújo, pelo que a tarefa do registo da criança estava, à partida, facilitada.

      Depois de todo o documento ter sido feito, a menina viajou para Portugal na companhia da minha prima, a suposta mãe, no dia 27 de Maio de 2004.

       Tendo em conta a minha relação com a senhora Maria Augusta, que foi sempre bastante boa, nada me fazia prever que volvido um ano após a chegada da criança a Lisboa acontecesse o que aconteceu. Isso porque, até esse período, a minha prima ligava-me regularmente para poder falar com a pequena, porque sabe que só assim poderia ficar tranquila, isto é, sabendo que a menina está bem.

       Mas, desde sensivelmente Maio de 2005 que não consigo falar com a criança e desconheço completamente o seu paradeiro.

       No início, uma vez que estranhei o facto de ter passado muito tempo sem me ligar, resolvi ligá-la eu, mas sempre arranjava desculpas para evitar que eu conseguisse chegar à fala com a minha filha, ora dizendo que a menina tinha ido à escola, ora apresentando outras justificações para adiar o assunto.

      Como a minha inquietação era tanta, razão pela qual praticamente todos os dias insistia com ela para me explicar porque razão não me deixava falar com a Idalécia, e, como as histórias que ela inventava já não me convenciam e aumentavam cada vez mais o meu desassossego, lá veio ela com uma justificação simplesmente aterradora: disse-me, com uma frieza que expunha com uma nitidez impressionante toda a sua insensibilidade, que a minha filha falecera num acidente de viação em Badajoz (Espanha). Nem mais!

        Fiz questão de sublinhar este facto porque ele representa tudo o que menos esperava, foi como se o mundo todo decidisse virar-se contra mim, porque o desfecho que ela fez questão de me comunicar foi como se me tivesse dado um muro no estômago.

        Mal me comunicou isso entrei logo em estado de choque. Não imaginam o sofrimento que tal notícia me causou! Depois de alguns dias completamente fora de mim, e uma vez recomposta do choque inicial e de me ter convencida de que caso fosse essa a vontade de Deus ao menos que ela me enviasse os restos mortais da minha menina para ao menos poder ‘despedir-me’ dela com alguma dignidade, fui surpreendida com facto de que fora ela mesma, dado o mau estado do cadáver em resultado do acidente, a proceder ao enterro da criança. Sozinha e sem comunicar o facto a qualquer familiar cá em Portugal!

         Uma vez solicitado o certificado de óbito da criança ela não o tinha!

        Comecei a desconfiar, porque achei estranho que, primeiro, acontecesse um acidente com aquela gravidade, para mais com um óbito e envolvendo uma cidadã portuguesa – sim, porque a minha filha entrou em Portugal como portuguesa –, mesmo que em território espanhol, e que ninguém tenha tido conhecimento de tal acidente; segundo, como é possível liberar-se um cadáver para enterro sem que tenha sido feita a autópsia e passado o competente certificado de óbito! Havia alguma coisa, aliás como pude comprovar mais tarde, que não batia certo naquele emaranhado de factos!

         Inconformada com as respostas que ela me dava, fui apresentar queixa à Polícia Judiciária da Guiné-Bissau. Esta por sua vez entra em contacto com a sua congénere portuguesa, relatando sinteticamente alguns pormenores deste caso, na tentativa de, ao menos, ver esclarecidas as dúvidas que subsistiam nas informações que a minha prima (será mesmo?) vinha me prestando.

       Feitas as primeiras averiguações pela PJ portuguesa, isto é, solicitando informações às autoridades espanholas em Badajoz, chegou-se à conclusão de que na data em que ela me disse que a minha pequena faleceu não aconteceu nenhum acidente de viação naquela província espanhola que envolvesse cidadãos portugueses, pelo que a primeira mentira acabou por vir ao de cima.

      Como ainda me encontrava em Bissau, a Polícia Judiciária portuguesa alegou que não podia prosseguir com as investigações uma vez que a queixosa (que sou eu) se encontrava num país diferente daquele onde as mesmas decorriam, pelo que seria fundamental a minha presença cá em Portugal.

      Foi-me então enviada toda a papelada necessária à obtenção do visto pela PJ portuguesa, para que eu pudesse deslocar-me a Lisboa, tendo cá chegado em Dezembro de 2007, a fim de acompanhar mais de perto as investigações e prestar mais esclarecimentos àquela instituição portuguesa.

      O processo foi então entregue à PJ de Setúbal na pessoa do Inspector Simões, que foi encarregue de investigar o meu caso.

      A primeira contradição surge quando a PJ de Setúbal confronta a senhora com o facto de não ser verdadeira a afirmação segundo a qual a criança terá morrido num acidente de viação em Badajoz, uma vez que a polícia daquela localidade espanhola desconhece em absoluto tal facto, ao que ela inventa mais esta história: ‘diz que trouxe a criança para Lisboa com a minha autorização para que a menina seja entregue a uma tal senhora chamada Guida’! Mais uma inverdade, porque eu nem sequer conheço a referida senhora!

          A versão que ela apresenta à PJ, como se pode ver, é completamente diferente daquela que me tinha apresentado a mim. 

         Muitas questões poderiam ser levantadas a este respeito, mas deixo só duas que espelham duma forma sintomática o quão falsa ela tem sido em todo este processo: então por que razão ela afirmou no início que a criança falecera se de facto fui eu que autorizei para que ela fosse entregue à senhora Guida? Mas se isso for verdade, bastava só que indicasse a morada da aludida senhora para que todos os factos fossem cabalmente esclarecidos, e porque não o fez? Respondo eu mesma às questões: porque sabe que tudo é falso, e não passa de mais uma criação da mente dela

         E qual tem sido a actuação da PJ portuguesa perante toda esta contradição? Impõem-se fazer esta pergunta, porque houvesse alguma pressão da PJ à senhora, ela teria desde há muito esclarecido a verdade dos factos, o que manifestamente não tem acontecido, pelo contrário...

        É bom esclarecer contudo que, se no início do processo a actuação da PJ portuguesa foi de uma correcção à prova de bala, pelas diligências que efectuou e pela sua intervenção possibilitando a minha vinda a Portugal, o que é louvar, nos últimos tempos essa actuação tem deixado muito a desejar, sendo mesmo estranha uma certa letargia que se tem verificado ultimamente. É o mínimo que se pode dizer.

      Senão vejamos:

      Em primeiro lugar, desde há muito que o Inspector da PJ de Setúbal encarregue de investigar o caso pouco ou nada tem feito, pelo menos ao que sei, e nem sequer tem dado notícias quanto ao rumo das investigações, e muito menos tem pressionado a senhora Maria Augusta ‘obrigando-a’ a justificar a referida contradição.

      Um outro aspecto revelador desta estranha situação, para além daquela inércia referida anteriormente, foi a solicitação feita pelo próprio inspector para que seja eu a procurar informações sobre a senhora e a respeito do paradeiro da criança e trazê-las à polícia!

       Aliás, muito recentemente, a meu pedido, uma prima minha ligou ao senhor inspector para saber se ele tem alguma novidade sobre o caso, ao que ele respondeu não ter nenhuma notícia nova a dar, pedindo-me para que eu aguardasse assim que tiver qualquer coisa entraria em contacto comigo. Até quando, pergunto eu? Já não basta todo o sofrimento por que tenho passado? Perdi a minha filha e o meu sossego, e como se não bastasse, tenho que aguardar uma eternidade para ver o assunto ser esclarecido?

      Sei que, quiçá, tenha sido algo ingénua ao confiar a guarda da minha filha a uma terceira pessoa. Mas que mãe colocada perante as dificuldades em que eu me encontrava, com quatro filhos, sem a única fonte de sustento de toda a família (que era o meu marido), e perante uma possibilidade de, pelo menos, proporcionar uma outra qualidade de vida e uma outra educação à minha filha, não tomaria a decisão que tomei?

      Neste momento vivo num estado de permanente angústia! Não sei o que fazer e nem tenho condições económicas para contratar um advogado que me possa ajudar.

      Daí que, como último recurso, decidi partilhar esta minha história com as pessoas e pedir encarecidamente ajuda. Lanço um grito de socorro a todos que estejam em condições de me estender a mão, que o façam, porque sozinha dificilmente estarei em condições de desvendar este mistério que me tem causado tamanho sofrimento.

      Interessa-me acima de tudo saber o que na verdade aconteceu à minha menina. Por isso, qualquer ajuda é bem-vinda!

      Eis a razão porque me desloquei do meu país para Portugal, com a esperança de reencontrar a minha filha, porque, como mãe, não acredito que ela esteja morta, e estou decidida a mover montanhas, a fazer tudo o que estiver ao meu alcance para a encontrar e trazê-la para junto de mim.

     Só de imaginar que neste preciso instante ela estará a precisar de mim, do meu afecto, do carinho que só uma mãe consegue dar a um filho, deixa-me devastada de dor… Mas tenho fé, tenho esperança que com a ajuda de todos conseguirei trazer a minha querida filha de volta.

 

    MUITO OBRIGADA A TODOS!

    BEATRIZ VAZ ARAÚJO FRIMAN

01.07.2008

Obs: Deixo o meu contacto para caso alguém me quiser contactar:

E-mail: beatrizfriman@hotmail.com

Tel: 962273563 ou 969049960 (Hermínia)

              

                 

Nota do editor

O relato da senhora Beatriz Vaz Araújo Friman, não pode deixar ninguém indiferente.

Apesar de ser um caso de polícia,  devemos denunciar e divulgar o relato ora publicado, pois a solidariedade é sempre uma força para estas situações.

Acabei de telefonar à senhora Beatriz Vaz Araújo Friman, a quem transmiti toda a solidariedade deste mundo, tendo-lhe pedido que envie uma foto da sua filha para que seja divulgada no nosso site, o que acontecerá brevemente.

Aproveito para informar que o Projecto Guiné-Bissau: CONTRIBUTO está a elaborar um extenso trabalho sobre as Comunidades Guineenses onde quer que se encontrem, no sentido de  recolher e fornecer  informações, tendo em vista informar, sensibilizar, acompanhar e apoiar, numa palavra: SERVIR, guineenses e seus descendentes, em relação aos seus direitos e deveres, numa perspectiva de integração local, que lhes permita saber o que fazer, como e quando fazer, sempre que surjam situações complicadas nas suas vidas (ou sempre que tenham dúvidas sobre algo), já que, por constatação, o governo da Guiné-Bissau não é capaz de prestar nenhum apoio, nem sequer informativo, aos cidadãos guineenses no exterior e, muito menos, incentivar a criação de Comunidades organizadas de guineenses e seus descendentes, para benefício do nosso próprio país, pois a diáspora guineense, bem organizada, pode ajudar a Guiné-Bissau a resolver muitos dos seus problemas de sempre!

Fernando Casimiro (Didinho)

didinho@sapo.pt

01.07.2008

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