AMIGOS, MAS “NEGÓCIOS À PARTE” (CDEAO/CPLP).

 

 

 

Filomeno Pina  *

filompina@hotmail.com

14.06.2012

Há pouco mais de dois meses de um conflito político militar na Guiné-Bissau, o mundo todo foi sacudido para mais um golpe de Estado, que mais não trouxe do que uma guerra de palavras, por conflito de interesses, mais parecendo um concurso de mister na passerelle da diplomacia internacional e, mais não trouxe do que a separação entre organizações com alguns anos de relacionamento diplomático frágil, que agora, ansiosas, em crise de valores “na cama com" transferem ou projectam "culpas", distribuindo soluções com ou sem sentido, mas pouco inteligentes e frias por uma das partes com maior resistência para negociar uma saída da crise..

Esta separação psicológica não se sabe se terminará em divórcio entre CEDEAO e CPLP, ambas foram "amiguinhas" até há bem pouco tempo, mas na falta de resultados materiais dantes havidos, perderam a confiança uma na outra, por causa da Guiné-Bissau. Esta “separação” colocou cada uma das partes a desabafar aos ouvidos dos "amantes" escondidos nos quatro cantos do mundo. Nota-se que a passerelle, de repente engrossou sua fila, com uns "jeitosos" das diplomacias de cada país, tentando seduzir parceiros num jogo de cintura que não tem conseguido atracção suficiente para o “engate”, ninguém lhes "pega", porque já gastas as suas ideias numa redundância pobre e de fraca criatividade, que giro, pena é porque nem todos mereciam uma plateia de cegos, surdos e desdentados, onde o efeito narcísico esperado não passou, nem com manteiga, escorrega numa mente mais aberta e tolerante.

Assistimos a posturas de arrogância, frieza e ignorância disfarçadas em citações conventuais do léxico jurídico, lançadas como defesa, por preguiça, quiçá ignorância, por arrastamento em matérias específicas de conflito, subjacentes num golpe de Estado. Mesmo um culpado tem o direito à defesa, é preciso ser ouvido, os motivos levados em conta para uma análise política e à luz do direito internacional ou dos acordos e estatutos comuns as organizações. Não se mexeram (CPLP), porque não foram ouvir uma das partes, passaram a utilizar o que ouviram de terceiros e tirar as suas elações, um erro crasso e arrogante, nunca se deve evitar ouvir uma das partes, porque agimos por pré-conceitos, logo não somos mais isentos para testemunhar uma sentença mais justa possível, só.  

Na Guiné-Bissau, logo no início deste conflito político/militar, muitos analistas políticos conhecidos da praça e organizações políticas internacionais, quiseram avançar com uma sugestão de envio de uma força de interposição e não de intermediação do conflito (operações de manutenção da paz).

Na altura, muitos de nós questionamos o porquê de uma força de interposição, se o País não está em guerra (um facto evidente mas abandonado nas suas considerações), o que aliás anteviu a pouca vontade por parte da CPLP em entrar no terreno e fazer a constatação e recolha de argumentos, todo o material para uma análise exaustiva do conflito que, ainda fresco, facilitava uma melhor leitura.

Mas escolheram então o passeio aéreo por "bandas" com montras mais atractivas e não o lamaçal deste conflito que ia ganhando raízes pós-golpe de Estado no País. Foi o primeiro erro crasso cometido contra o tempo, evitaram pôr o dedo na ferida e preferiram analisar discursos e fotos online. Mas que pena, se são pagos para muito mais, enfim, batendo no ferro ainda quente, facilmente seria moldado a gosto, porque frio é mais custoso e difícil, é o que está a acontecer. Houve, portanto, uma falta de sentido de oportunidade dos diplomatas, alguns preferiram o frio artificial dos gabinetes em vez de arregaçar as mangas no calor tórrido deste conflito no terreno.
É de realçar um factor importante aqui, não vemos duas forças militares em guerra aberta, mas tivemos um golpe militar sem derramamento de sangue e com duas prisões efectivas, tornadas públicas até hoje. Continua num impasse o que toca a soluções definitivas que englobem a totalidade das forças políticas no território, auto – exclusão do maior partido político no terreno (PAIGC). Uma guerra de palavras substitui as balas no teatro das operações, um combate em duas frentes, nacional e na Diáspora, uma falta de harmonia nos objectivos traçados, com ambas as partes em perfeita surdez propositada, que aponta para um impasse de longa duração nesta resolução que se pretende positiva e mais justa, de acordo com uma paz possível a conquistar num período de transição.

Mas, meus compatriotas e amigos, "onde houver mel, mete-se o dedo e chupa-se" dizia o outro, e porque não, perguntamos nós. Só se houver o controle desta riqueza que todos cobiçam e ninguém dispensa para a sua saúde física e financeira reconhecidas no futuro, na biodiversidade, na existência de muitas outras riquezas no mar e no subsolo deste território hoje cobiçado por "aves" de rapina, que em voo parado de reconhecimento aguardam por um momento certo, quando já estiverem cadáveres os nativos, para baixar as âncoras e subtrair o que puderem. Chegam trazidos nas costas de alguns Guineenses inconscientes da sua ligação “sanguínea” à Terra, e fazendo tudo para vender a Mãe a preço de saldo, e tudo o que não teria preço, pela sua natureza visceral do afecto, respeito pelo Povo, culturas, patrimónios físico, material e humano deste Povo.

Na Síria, infelizmente a situação do conflito atinge proporções desastrosas. Há já alguns meses que se previu esta evolução galopante para uma guerra civil, como todas elas, com resultados imprevisíveis, na única certeza porém de nada travar as mortes, assassinatos, abusos e barbárie, acostumados a rever cenários de chacina, e como se não bastasse, a comunidade internacional aguarda calma, numa estratégia algo duvidosa e expectante, quando as potências que costumam policiar o mundo, até hoje nada fizeram para travar militarmente esta situação. Dá para perceber que só chegam quando o que lhes interessa assim o exige, tudo leva a crer que esta afirmação militar acontece sempre com contrapartidas materiais e económicas à vista. Como exemplo temos  o caso Líbia, que em poucas semanas, numa gigantesca operação militar, aviões descolaram vinte e oito mil vezes para bombardear esse território, hoje basta ver, pensarmos, sabemos que benefícios estiveram por trás destas intervenções rápidas. Perguntamos, porque ainda não foram intervir na Síria, onde morrem crianças, mulheres e velhos todos os dias.

Posto isto, recorda-me que em jeito de reflexão, ter lamentado numa ocasião neste site, as incompatibilidades das duas organizações (CDEAO E CPLP) no que concerne às disputas da “razão” em campos diferentes neste conflito político/militar. Não se tem conseguido demonstrar a isenção esperada, verificamos uma confusão total de papéis que cada uma das partes desempenha, e acabando por meter os pés pelas mãos sem reconhecer o erro de “identificação” negativa cometida contra os estatutos, neste caso da CPLP por exemplo (objectivos para que foi criado) os estatutos previstos para esta organização no seu desempenho, nos campos de acção em que deveria actuar, sem se imiscuir no que não lhe diz respeito, no tempo e no espaço da sequência dos conflitos politico militar na Guiné-Bissau, demonstrou ter dois pesos e duas medidas, pondo em causa todo a seu método e pedagogia utilizada até aqui.

Estas duas organizações pouco têm feito, na prática, pelo Continente Africano, em várias situações onde podiam “medir” forças e fazer vincar as suas opiniões, nada se ouviu, foram sempre a reboque das potências, principalmente a CPLP, chegamos a não perceber o que faz ou tem feito, não há nada para ser exibido como “troféu”, é muito pobre a sua história até hoje, é preciso ser mais interventivo, ter voz própria, mostrar carácter e personalidade colectiva dos que vem dizendo que representam. Vejamos, por exemplo, no caso do conflito na Líbia, era esperado muito mais da CDEAO na sua voz activa, uma forte opinião sobre tudo o que se passou na Líbia, mas, nada, apenas apareceram para assistir ao “velório”, sem a presença do corpo. É preciso maior dignidade e carácter no desempenho e actuação destas diplomacias no terreno, só.

A CPLP e CEDEAO apresentam uma interacção com muitas dificuldades, são variáveis difíceis de medir, o sentido e valor do empenho de cada um. Um desconhecimento traiçoeiro para os políticos de “transição” neste momento. Aparentemente separados mas inter-relacionados nos assuntos fazem um bloco-problema para as nossas cabeças, convém não descurar este aspecto, deve ser equacionada, sempre que se justificar, uma avaliação concreta sobre este conflito.

Esta realidade, passando despercebida, pode ser traiçoeira para a Guiné-Bissau, porque na verdade não há uma fronteira estanque entre as duas organizações, isto que acabo de afirmar é subliminar, por isso, Guiné-Bissau deve agir em "relaxe", manter o estado de profunda racionalização, numa atitude de pensar os problemas sem perder de vista os seus interesses, e só os seus, repito como prioridade máxima. Todas as outras organizações são como que Clubes de futebol num campeonato “mafioso” com árbitros comprados e a peso de ouro, com a única diferença a nosso favor, o facto do campo de jogo ser nosso, a chave sermos nós que a temos com se espera (alguns de nós).


O mal é que não existe uma única cópia da chave principal. Neste momento foi poli copiada e ninguém sabe quantas se encontram espalhadas em mãos alheias, o que é revoltante, tornando difícil a estrutura do vínculo entre irmãos, com isto, outros adversários ganham terreno, isto é, outras equipas que já têm "comprados" alguns "pontas de lança" disfarçados, mas Guineenses, a pactuar com "treinadores" da equipa adversária, levando recados que nos são retirados sem sabermos quantos segredos já estarão do outro lado. É de realçar que não estamos todos no mesmo barco, o que nos fragiliza bastante numa altura destas que deveríamos estar mais unidos entre os líderes.

Temos muitas informações que passam de um lado para o outro sem controlo, de certeza absoluta, visto que temos irmãos “desavindos” e com “guarda-costas” oriundos de Países do estrangeiro, interessados nas mesmos conteúdos em discussão e análise, um verdadeiro obstáculo e quebra-cabeças que tem vindo a castigar tudo e todos…

Sabemos que negociar sem ter "o segredo" a sete chaves trancado, é obviamente trazermos um rótulo na testa, em que toda a gente, sabendo ler, antecipa o que queremos ou o que vamos dizer, eis a pior dificuldade neste momento para a Guiné-Bissau.
Repito, CPLP, CEDEAO, são dois principais adversários dos reais e profundos interesses da Guiné-Bissau, mas igualmente nossos parceiros, porque estamos representados no seu interior. Aparentemente um deles (CEDEAO) está melhor posicionado neste momento, mais próximo e deve ser encarado como uma relação com os dias “contados”, um casamento a curto prazo, quase uma "rapidinha" relação de interesse no nosso País. Mas todos nós sabemos que na "prostituição" não existe amor (e é bem feito para os seus clientes), porque o amor não é uma fricção de mucosas, e aqui, nestas organizações muitos esfregam as mãos, já coça, todos “excitados” pelo mesmo (com alguns chulos à mistura) oferecem compensações aos seus "pontas de lança" que são nossos irmãos Guineenses, que jogam nessas equipas (CEDEAO/CPLP), para marcarem o máximo de golos possíveis. Temos muita dificuldade todos, para lidarmos ao mesmo tempo e, perigosa se torna quando perdemos o controle da chave mestra, mas, tudo passa pelos níveis de alerta máximo, que trazemos dentro de Casa, até porque estes pontas de lança que são nossos irmãos, pode até ser que aceitem "subornos" no bom sentido (aconselhamento) para marcarem na própria baliza, o que seria muito bom para a Guiné-Bissau, neste período de debate, de consciência nacional na resolução definitiva desta crise. Senão, cada vez mais, temos quase tudo perdido, há que renegociar muita coisa e com a cabeça fria, sem partir do princípio que temos "amigos" pré-estabelecidos (CDEAO/CPLP), nunca porque não se pode acreditar, aqui só a Mãe é amiga, os outros, às vezes, são muito esquecidos e podem mudar de estratégia, de interesses e até de “identificação”.

Um político não tem amigo noutra “bancada”, cada um defende os seus interesses, o segredo é a chave para se ganhar a questão, quanto mais bem guardado, melhor. Perante as ideias somos adversários, no domínio de interesses que cada um defende, há que não misturar emoções pessoais ou princípios de orientação traçados a partir dos nossos objectivos gerais e específicos.

A CPLP e CDEAO são dois organismos distintos dos quais fazemos parte integrante, mas que cada um dos seus membros defenda a sua “casa”, em cada casa um presidente com o seu governo, na mesma cama, o amor e o ódio dormem lado a lado, mesmo que a roçarem-se, são igualmente distintos, por isso, o segredo é a alma do negócio, sempre que os interesses venham à tona, estamos pelo que nos interessar mais…

Esta crise é profunda e traz um golpe igualmente profundo, temos muitos pontos internos e externos que vão aguardar a cicatrização por muito tempo, neste período de convalescença devemos aproveitar para visitar as ideias dos nossos irmãos “zangados”, discutir com todos, ser tolerantes e saber ceder, encontrar soluções de paz, esperança e de confiança, baseados na transparência e nas lutas comuns que venham a dignificar as nossas escolhas, como Povo da Guiné-Bissau. Para isso, devemos hoje estar ligados sem hesitar, assinar por baixo, nos compromissos que não mais podem esperar por, tarde de mais, a sua exigência no espaço e tempo das necessidades, este futuro é hoje, só.

Viva a Guiné-Bissau livre, democrático e progressista.

Djarama. Filomeno Pina.

 

Filomeno Pina

* Psicólogo clínico

 

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