A METAMORFOSE

 

 

 

 

Por: Alai Sidibé

 

Alai Sidibé

 

Londres, 08 Janeiro 2007

 

“Nenhum argumento racional terá um efeito racional num homem que não quer adoptar uma atitude racional”.

Karl Popper (Filósofo de origem austríaca)

 

“O mais nobre prazer é a alegria de compreender”.

Leonardo Da Vinci (Pintor italiano do renascimento – 1452 – 1519)

 

“Até eu sou capaz de chegar a conclusões mais sensatas e equilibradas do que o humano Inácio Valentim”.

Dell 610 LATITUDE (O Computador pensante do Alai Sidibé)

 

Admito que se torna deveras desafiante escorrer sobre Inácio Valentim. Nunca se sabe a quem se dirigir. Se ao Inácio, aspirante a analista; se ao Inácio, pensador intermitente ou se ao Inácio na tentativa de moderação. Há ainda um outro que se revelou no último artigo, o Inácio à procura de redenção (e eu como sou uma alma nobre, perdoo-lhe), isto para usar uma linguagem religiosa tão do seu agrado. Mas apesar da constante metamorfose, vou arriscar, dando um «tiro» no escuro, falar de um outro Inácio: o líder tribal, pois é desta forma que o Senhor mais se auto-identifica.

Muito sinceramente, por mim, julgava esta polémica já ultrapassada, mas tanta é a sede desesperada e desesperante de publicidade e de auto-promoção, que o Senhor não desarma.

Meu caro (já não tenho a ousadia de me dirigir a si como compatriota, até porque não sei se ainda me considera guineense), é com todo o gosto que mais uma vez vou ao encontro das suas palavras, apesar da renovada desilusão. Já que, mais uma vez o Senhor se alheia ao tema, também prometo não falar muito, mas tão somente acordá-lo da sua amnésia. No entanto, já reparei que o Inácio não desarma e é persistente, contudo, espero que oiça a proclamação do meu pensante computador que, pelos vistos é mais sensato do que o Senhor: ponha fim a sua agonia.  De recordar que esta polémica (por si provocada), teve como ponto central uma acusação - que não consegue nem conseguirá fundamentar, porque falsa - ao actual titular da pasta da educação do nosso país. Mais do que tal, um rancor primário em relação ao povo Fula. No seguimento das suas primeiras acusações, o Senhor reforça com as seguintes:

 

* Ditadura da etnia Fula no Ministério da Educação da Guiné-Bissau

* Responsabilidade directa dos Fulas no caso conhecido como ‘17 de Outubro’

* Um tridente formado por Nino Vieira, os povos Mandinga e Fula, tendente a propiciar um clima nocivo e retardador do desenvolvimento no nosso país

* Um alheamento – para não falar de desprezo da parte do Senhor – em relação ao papel que coube aos povos Fula e Mandinga, sobretudo os primeiros, na afirmação da identidade do nosso país, etc., etc. É a estas acusações que ao Inácio é pedido dar consistência, o que, repito, ainda não fez nem tenciona fazer. Ao não ter sido capaz de dar resposta a estas questões, revela ter-se curvado perante o terrível peso da verdade. Tais acusações, baseadas na infâmia, são susceptíveis de reavivar crispações no já de si frágil ambiente socio-político guineense.

QUEM FALA DE NEGRITUDE?

O termo Negritude foi pela primeira vez proferido num poema da autoria do antilhano Aimé Cesaire. Depois deste evento, Senghor ficou tão encantado que cedo lhe deu uma definição, assente no conjunto dos valores culturais dos povos negros situados nos quatro cantos do mundo. A partir daí, passou a ser um conceito de reivindicação literária e de proclamação da auto-determinação dos povos colonizados e o respectivo combate à alienação dela inerente. Aliás, num documento no jornal Le Monde, de 4 de Setembro de 1957, Senghor deixaria bem claro que o “combate ao colonialismo é um combate a todas as tipologias de preconceitos, de todo o complexo de superioridade na mente do colonizador, e de todo o complexo de inferioridade na mente do colonizado”. Em traços gerais, a negritude passaria, deste modo, a ser uma precursora e ao mesmo tempo que uma pedra angular naquilo que se queria como uma Civilização do Universal. Este conceito está acima (aliás pretende ultrapassar) de toda e qualquer barreira de carácter étnico-linguística. É a concepção duma África que conseguisse ultrapassar os preconceitos tribais. Mas proclamação das culturas negras já havia sido dado no séc. XIX, precisamente em 1888. Este ano irá marcar o reconhecimento definitivo ao papel que coube as culturas negras na edificação da civilização universal. Assim, temos Henry Bergson, a que já fiz referência, no campo filosófico; O dramaturgo Paul Claudel no plano da representação com a obra Cabeça de Ouro; na poesia encontraremos Rimbaud, que não teve nenhum complexo em se definir como negro na obra, Uma Temporada no Inferno; já no plano da pintura encontraremos Picasso e Braque, cujas obras se inspiram na arte do mundo negro, mais propriamente, africana. Antes ainda destes, e recuando mais no tempo, Goethe, o maior vulto das letras alemãs, já se rendera ao encanto do mundo negro, ao qual embelezou com palavras que só ele sabia proferir. Negritude e Humanismo, caso não saiba, mais do que uma reivindicação tribal, como o Inácio pretende, é um chamamento de todos os povos e de todas as micro-culturas negras numa confraternização humanista. Por isso é que eu aqui defendi que o meu projecto é aquele que conseguisse ultrassar os provincianismos de carácter étnico, ainda muito presentes no nosso continente. Pelos vistos, o Inácio espalha-se todo, não consegue captar o espírito da mensagem. Por isso, para seu bem, abandone o seu autismo e abrace estas obras no sentido de as compreender, tal como aconselha Da Vinci. Ao povo Fula deve ser dado o respeito que ele merece, tal como aos povos Manjaco, Papel, Mancanhe, Biafada, Balanta, guineense de ascendência caboverdeana, etc., etc., etc. O Inácio diz que conhece a História do seu país e do seu continente. Mas como dizia um sábio, não basta apenas conhecer, é preciso conhecer com simpatia, conhecer com gosto, com vontade, ou então qualquer esforço será em vão. Além do mais, insiste no fanatismo me definir como suicida islâmico e recruta da Al Qaeda. Eis uma faceta minha que ainda não tinha descoberto. Obrigado pelo palpite. Anteontem, Sábado, um oficial das forças armadas foi assassinado em plena rua de Bissau, à frente de crianças e mulheres, e toda a culpa tem de ser imputada ao humilde povo Fula. Foi assim que se deu início ao Holocausto.

Já que o Senhor não consegue resistir às recomendações bibliográficas,  Robert Kagan: “Of Paradise and Power: America and the Europe in the New World Order”. Já viu? É capaz, pois a obra não é extensa. Para finalizar, simplesmente reparo que as recomendações que fiz no último artigo, mais do que bibliográficas foram chamadas de atenção. Bibliografia seria: Humphrey J. Fisher, 2001: “Slavery in the History of Muslim Black Africa”, London, C. Hurts & Co. (Publishers) Ltd.

Ah, não se estranhe se na próxima vez ficar a falar com o computador. O pensante.

 

Tudo de bom para si.

Londres, 08 Janeiro 2007

Alai Sidibé

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