A LÍNGUA, ENTRE O OFICIAL E O NACIONAL - DA CULTURA  À IDENTIDADE - DA SOBERANIA DO ESTADO - A GUINÉ-BISSAU E A NECESSIDADE DE AFIRMAÇÃO NAS COMUNIDADES ONDE ESTÁ INSERIDA (1)

 

Fernando Casimiro (Didinho)

didinhocasimiro@gmail.com

14.07.2012

Fernando Casimiro (Didinho)Aproveito este artigo para voltar a escrever em português, depois de muitas "reclamações" algumas positivas outras nem por isso, recebidas, ainda que apenas tivesse postado duas pequenas notas em kriol.

Não me oriento por impulsos de terceiros, não tomo decisões para agradar a quem quer que seja, ainda que, tenha em conta a utilidade dos pontos de vista divergentes, desde que suficientemente fundamentados, com substância, que possa considerar como valor acrescentado no constante exercitar da mente, da memória, que a interligação entre a vertente humana e social, me proporciona no dia-a-dia.

Não que não haja necessidade de irmos ao encontro do nosso kriol, enquanto língua nacional, para mais, nesta desnecessária e desprestigiante disputa no seio da Comunidade de países de língua oficial portuguesa - CPLP - de o estruturarmos convenientemente, o que será um árduo trabalho de estudo, concertação e enquadramento linguístico, mas acima de tudo, por uma questão, óbvia, de sustentação e de afirmação da identidade nacional do povo que somos.

Estou numa linha cruzada de fogos, consoante interesses e conveniências, dos atiradores, mas, apesar de respeitar a todos e a cada um em particular, confesso que não é fácil, não tem sido fácil, em nome de uma causa, no sentimento dessa causa, enquanto filho da Guiné-Bissau, independentemente de outras proveniências na estrutura da minha génese identitária, independentemente de poder ter várias nacionalidades, porquanto, ao abrigo da consanguinidade versus território, na disposição legal por que regem a maioria dos países do mundo, puder ser contemplado com nacionalidades outras que não apenas, da República da Guiné-Bissau, meu berço, minha terra, minha amada, não deixo, não deixarei jamais, na dúvida, quem quiser saber qual é a minha Pátria, aquela onde, como se diz, o meu cordão umbilical foi enterrado!

Sou fruto da mestiçagem de povos, de territórios distintos, entre a Guiné-Bissau, Cabo Verde, Portugal e Cabinda, por conseguinte, produto de cruzamento de culturas, que , no entanto, não me fazem diferente para melhor ou para pior em relação aos meus irmãos guineenses, ou outros, caracterizados com outros registos genealógicos.

Face às disputas, de vária ordem, que têm dividido os guineenses desde 12 de Abril passado, não tenho dúvidas de que, caso o meu posicionamento fosse outro, que não o de sempre, o de ter a Guiné-Bissau como meu partido, minha terra, minha amada, teria sido acusado de ser tudo, menos guineense e de estar ao serviço de, por exemplo, Portugal, Cabo Verde ou Angola (outros territórios que contribuíram para a minha árvore genealógica), para prejudicar a Guiné-Bissau.

Os meus irmãos guineenses podem estar descansados, pois antes de tudo e independentemente de tudo, sou guineense!

O kriol não nos dá, directamente, afirmação no mundo, mas consequentemente, ajuda os estudiosos, os especialistas, aqueles que reportam, registam estudos específicos sobre países e povos, entre a realidade e a necessidade, a melhor conhecerem a Guiné-Bissau, melhor compreenderem o povo guineense, se tiverem em consideração como dever mínimo, essencial e objectivo, a  necessidade e a razoabilidade da valorização dos povos e de suas culturas, o conhecimento e a compreensão, pelo menos, do kriol, enquanto veículo de comunicação directa entre o interessado e o visado; entre o estudioso e o objecto de estudo.

Não teremos presente a Nação, na definição conceitual que as teorias do conhecimento sustentam, caso não tivermos, em consideração e em cadeia, um dos elos da sua sustentação comum a todos: a língua, numa abrangência comunitária, partilhada por todos, numa perspectiva da família entre o biológico e o social, dos filhos da terra, ou de todos aqueles que se identificam, através de outros laços, no caso concreto, com a Guiné-Bissau. A língua nacional é o elo comum na comunicação oral e, ou escrita, entre povos, não por imposição de um qualquer decreto, mas pela consistência das afinidades sociais e culturais, numa estrutura identitária, humana, envolta em particularidades várias que o distinguem de outras estruturas consequentes.

Tivemos cinco séculos para aprender, assimilar, enfim, aculturarmos com a diversidade cultural partilhada pela vivência e convivência colonialistas. Muitas coisas boas, muitas más, sem nos esquecermos dos prejuízos do corte radical (imposto pelo colonizador) dos nossos valores, da nossa cultura, a cultura africana de berço, da nossa diversidade e que hoje pesam na tentativa de uma nova configuração identitária assente no aproveitamento de variáveis não fáceis de gerir num percurso histórico flutuante e em permanente disputa pela hegemonia do poder, ou seja da construção do telhado e o descuidar dos alicerces do edifício que é a Nação, que não se constrói de cima para baixo, mas no sentido contrário.

É bom que se comece a escrever em kriol, até porque, por exemplo, em Cabo Verde, ramal identitário, por consanguinidade com os povos da Guiné-Bissau - reza a escravatura -  há muito que se está a desenvolver mecanismos para a "certificação" científica do crioulo de Cabo Verde, com todos os apoios institucionais para isso e com o apoio de todos os caboverdianos!

Amilcar Cabral afirmou e bem, que a língua portuguesa era a maior herança que tínhamos herdado do colonialismo. Concordamos e concluímos que ainda hoje é actual a afirmação do nosso líder imortal!

Sem divergir desse propósito, o pedagogo brasileiro Paulo Freire, que participou activamente na estruturação da Educação Nacional, pós-independência, sobretudo no âmbito da alfabetização, não deixou de dar orientações no sentido de se valorizar os dialectos locais em função da geografia e da língua nacional, como factores de identidade  e subsídios a ter em conta, como imprescindíveis para a sincronização do processo evolutivo dos povos, neste caso, concreto, do povo da Guiné-Bissau, livre e independente, com dados estatísticos que caracterizavam, à época a Guiné-Bissau como um país com 99,9% de analfabetos.

É a língua o veículo principal do suporte de qualquer aprendizagem. Na Guiné-Bissau temos tido imensas dificuldades de dar o passo em frente ou atrás, consoante os casos e as necessidades, principalmente por falhas de comunicação, no que à componente estrutural linguística diz respeito.

Tenho presente que esta matéria é importante e inesgotável, mas fico por este primeiro capítulo, prometendo voltar tão breve quanto possível.

Não posso finalizar sem voltar a lamentar a deselegância dos sete outros países membros da CPLP (Angola, Brasil, Cabo Verde, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor) que decidiram excluir a Guiné-Bissau do fórum de diálogo, de concertação que deveria ser a CPLP, pois independentemente das razões, não deveriam penalizar ainda mais, o país, a Guiné-Bissau e o povo guineense com acções de exclusão, que tendem a "legitimar" mais desvios, do que correcções, propriamente!

No passado, de memória colectiva, a Guiné-Bissau ajudou e de que maneira, através da luta de libertação nacional levada a cabo pelo PAIGC, superiormente liderado por Amilcar Cabral, na libertação de Portugal e do povo português, face ao regime fascista, que culminou com a revolução de 25 de Abril de 1974 e a consequente auto-determinação, reconhecimento de independências das ex-colónias.

Talvez seja necessário a Guiné-Bissau, num outro contexto, dos nossos dias, voltar a ajudar a libertar uma Comunidade de países unidos pela língua oficial comum, sustentada por padrões ditatoriais e paternalistas que constituem obstáculos aos verdadeiros interesses e necessidades dos povos que compõem os territórios afectos à Comunidade dos Países de Língua Oficial Portuguesa - CPLP.

Vamos continuar a trabalhar, em português, pois , na verdade, é uma língua de todos nós e da qual não temos complexos em assumir a nossa identidade guineense, não em função da língua oficial, que é o português, mas, em função do nosso contributo para a sua expansão e afirmação no mundo!


VAMOS CONTINUAR A TRABALHAR!

Cultivamos e incentivamos o exercício da mente, desafiamos e exigimos a liberdade de expressão, pois é através da manifestação e divulgação do pensamento (ideias e opiniões), que qualquer ser humano começa por ser útil à sociedade! Didinho

O MEU PARTIDO É A GUINÉ-BISSAU!

 

MAPA DA GUINÉ-BISSAU


VAMOS CONTINUAR A TRABALHAR!

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