“Alcaida em Bissau, a utopia ou a profecia da desgraça”?

 

 

 

 

Djodji (o primeiro)

29.01.2008

 

Fazendo o uso do direito que a democracia e a liberdade me conferem, em todo o sentido, “meto o nariz” onde não fui chamado, mesmo sabendo que posso ficar sem resposta. Mas, o direito de não responder, também faz parte de um direito de qualquer cidadão numa sociedade livre e democrática. O que poderá ser condenável é o uso desse direito de não responder de forma arrogante, demonstrando uma certa superioridade, quando no âmago da questão está sim, a necessidade de um escudo, que evite a exposição das próprias fraquezas e incapacidades.

 

Contrariamente àqueles que adiantam inclinações e interesses políticos dos autores dos dois textos em análise, atrevo-me a adiantar que não acredito que um seja Ninista, nem que o outro seja anti-Ninista. Julgo serem apenas dois grandes patriotas. Mas, penso existirem sim, questiúnculas ou animosidades do passado, mal resolvidas, entre eles. Julgo que só um ingénuo consegue ver casualidade na sistemática resposta de um ao texto do outro, independentemente do assunto que o outro abordar. Também não consigo encontrar casualidade no silêncio ou ausência de resposta, sistemática, do autor dos textos permanentemente contrariados! Será que existe um ascendente intelectual ou de outra ordem do segundo sobre o primeiro? Eles lá saberão!

 

Independentemente das razões e motivações dos dois protagonistas daquilo que devia ser um debate aberto, em que cada um defendesse a sua dama até às evidencias do contrário, sou da opinião que a vontade do segundo em contrariar o primeiro, conduz-lhe de forma inevitável a alguma falta de honestidade intelectual, chegando a negar factos internacionalmente conhecidos e definidos por indivíduos cuja profissão é analisar esses fenómenos…

 

 Apesar de haver autores que defendem o contrário, consta de forma clara e inequívoca, nos relatórios das Nações Unidas, que a pobreza nalgumas zonas do planeta serve de caldo para a proliferação do terrorismo mundial. É mais que sabido que é entre os mais carenciados de pão e privados de direitos humanos mais básicos que é mais fácil despertar o sentimento contra os poderosos, os ricos, em suma, contra o mundo ocidental. Também é verdade incontestável que a Guiné-Bissau figura na lista dos países mais pobres do mundo, onde existe carência de quase tudo e onde a lei existe para não ser cumprida e nem existem meios para a sua aplicação por parte das autoridades.

 

Aliar esses factos, ao facto de quase metade da população guineense ser de origem muçulmana, restam dúvidas a alguém de que temos um meio de cultura perfeito para a instalação e proliferação da ideologia dos talibãs na Guiné-Bissau? Conforme o próprio autor do texto “a utopia ou a profecia da desgraça”, “Alcaida está onde quer estar, embora nem sempre consiga estar quando quer estar”.

 

Alguém tem dúvidas de que a Alcaida tem, neste momento, todas as condições para estar e proliferar na Guiné-Bissau a seu belo prazer? Será que o autor deste texto ainda tem dúvidas que Alcaida opera com a colaboração de alguns membros na Guiné-Bissau?

 

Não se pode, nem se deve falar no hábito da transitoriedade no nosso país, sem falar das razões da facilidade com que ocorre essa transitoriedade, esquecendo que o nosso país tem um estado débil, chegando o seu próprio governo (o anterior e o actual) a assumir a total ausência de capacidade de controlar as fronteiras, sejam elas terrestres, marítimas ou aéreas. Houve um representante da dita comunidade internacional que se preocupa com os reais problemas do país, que afirmou que se ele fosse traficante de droga, escolheria a Guiné-Bissau para exercer a sua actividade. Eu digo-lhe que se tivesse que escolher um país para montar uma base de operação da Alcaida, escolheria a Guiné-Bissau, pelas mesmas razões que ele escolheria o nosso país para o trânsito e tráfico da droga.

 

Alguém tem dúvidas que o financiamento do terrorismo internacional provém essencialmente de actividades ilícitas? E, alguém tem dúvidas que uma boa fatia (não me atrevo a dizer a maioria, porque não disponho de números) desse financiamento provém do narcotráfico? Alguém tem dúvidas sobre a proliferação dessa actividade ilícita no nosso país? Vamos contrariar relatórios de entidades internacionais ou seja, “daquela comunidade internacional consciente da estabilidade da Guiné”?

 

Alguém acredita que a comunidade internacional está apenas interessada no combate ao narcotráfico na Guiné-Bissau, sem ter em conta o perigo da instalação de uma base de operação e de angariação de novos membros da Alcaida? Ainda querem continuar a ser ingénuos e a acreditar no espírito do tempo, seja ele Hegeliano ou não, sem se consciencializarem que esse espírito do tempo não surge do nada, mas sim, resulta de uma cadeia de acontecimentos que convém interromper, quando consiste numa ameaça à estabilidade e a paz mundial?

 

É pura demagogia dizer que os Estados Unidos, Inglaterra e Espanha não são países pobres, mas têm a Alcaida nos seus meios, sem separar a actividade de angariação e preparação de novos terroristas da Alcaida com aquilo que representa o alvo da Alcaida – os interesses desses mesmos países. É perfeitamente natural que, se a Alcaida quiser atingir os interesses ocidentais, faça infiltrar os seus membros nesses países, não só para atacar, mas também para estudar com antecipação, a melhor forma de actuação. Pode ser desonestidade intelectual falar das actividades da Alcaida nesses países ditos desenvolvidos, sem no entanto fazer menção às actividades muito mais significativas e enraizadas da Alcaida no Sudão, Bósnia Herzegovina, Afeganistão e Iraque. Quando falamos dos atentados, não podemos lembrar apenas o de Londres, o 11S, ou ainda o 11M. Devemos lembrar também os atentados atribuídos à Alcaida e ocorridos no Quénia, Tanzânia, Iémen, Somália, Jordânia, Egipto, Argélia, Marrocos, entre outros. Repito, os alvos foram, são e serão, interesses ocidentais, dentro ou fora do ocidente e perpetrados, na sua maioria, nos países não desenvolvidos e de segurança interna duvidosa.

 

Pode ser perigoso ignorar que a própria comunidade internacional (sim aquela interessada na estabilidade da Guiné), já afirmou que o nosso país está à beira de ser considerado um Estado falhado. Julgo que todos nós sabemos que, nos dias que correm, os destinos de um povo responsável pelo fracasso do próprio Estado poderá ter de ser conduzido por entidades internacionais (aquelas interessadas na estabilidade do país!!!), que agora estão a injectar capitais, como a última oportunidade de provarmos que não somos uns autênticos falhados. Esse é um dos sinais do tempo, não-Hegeliano, que convém, os guineenses não descurarem!

 

É um enorme erro fazer uma leitura entusiasta da actual injecção de capitais no nosso país. Insisto que, mais vale estar atento a esse espírito do tempo e todo o processo que o envolve, sem no entanto dormirmos à sombra de uma grande árvore filosófica… Adormecemos uma vez ao som de folclores filosóficos e acordamos com o barrete vermelho enfiado. Que essa realidade não mais se repita na nossa terra… Vamos sim, discutir o país com objectividade, mesmo quando não temos direito à resposta.

 

Djarama Guiné-Bissau

 

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