A JUVENTUDE GUINEENSE ENTRE

O DESESPERO E A ESPERANÇA

 

 

“Os bons pensamentos produzem bons frutos, os maus pensamentos produzem maus frutos e o homem é seu próprio jardineiro”. James Allen

 

 

 

Por: Adulai Indjai

 

tokatchur02@hotmail.com

 

01.09.2008

 

Adulai Indjai, jornalista guineenseHá três anos, concretamente no dia 14 de Agosto os citadinos da Cidade de Bissau ganharam um novo vizinho; vizinho que tem como nome RÁDIO JOVEM, um projecto concebido e implementado por jovens adeptos da verdade e alimentados pela ambição de criar uma vida nova e melhor para a nossa Querida Guiné-Bissau.

 

Voltei a escrever depois de ter feito um bom tempo sem poder lançar a minha contribuição neste espaço de troca de ideias; não por falta de temas para tratar ou, de tempo, mas sim por causa da tristeza que me invade o coração com as sucessivas notícias tristes da minha Querida Guiné-Bissau.

 

De regresso ao convívio, dirijo-me hoje aos meus camaradas (principalmente Jovens), a camada deixada à sorte do destino, cujo futuro ninguém se preocupa em garantir. Hoje fico contente ao ver que esta camada está-se afirmando, mostrando aos mais velhos os caminhos que devem seguir, caminhos para a saída da crise. Com a participação no Projecto contributo (www.didinho.org), temos os casos de Rui Jorge Semedo, Ricardino Teixeira, Ussumane Keita, Edson Incopté, Helmer Araujo, de momento são estes nomes que me vêm à memória, mas não quer dizer que não dou valor àqueles cujos nomes não citei aqui, que em nome de um futuro melhor decidiram abraçar este projecto, trocar ideias e aprender com os mais velhos como é o caso do criador deste Projecto, Fernando Casimiro (Didinho) sem deixar de falar do Professor Mamadu Lamarana Bari e da nossa Querida Mana Filomena Embaló, e o nosso esclarecedor das histórias mal contadas, Norberto de Carvalho (Cote).

 

Quando recebo artigos publicados no contributo, tomo o tempo necessário para lê-los. Procuro analisar cada mensagem desses artigos, e no fim, a energia que me anima volta à carga e a esperança de quem não acreditava mais na Guiné-Bissau renasce no meu coração. Hoje sinto-me confiante no futuro vendo os jovens dando lições de governação à classe política Guineense. A prova da maturidade dos jovens que é espelhada em cada artigo publicado neste projecto ilustra o grande desejo de ver o desenvolvimento do nosso país e faz encher os corações de todos os verdadeiros filhos da Guiné-Bissau de um sentimento de vitória no futuro, por isso convido os jovens a acreditar neste slogan do Didinho Vamos Continuar a Trabalhar”.   

 

Jovens o motor do desenvolvimento: 

 

A Juventude não é apenas uma correia de transmissão colocada no ponto de encontro entre a herança do passado e as perspectivas do futuro. Os Jovens, assim como os mais velhos, têm a responsabilidade de construir e projectar uma sociedade futura onde os direitos humanos serão respeitados, a justiça exercerá o seu papel de regulador do Estado de direito, as guerras das armas serão trocadas por debates de ideias, as tentativas de golpe de Estado ficarão apenas registadas na história e desaparecerão do cenário político guineense… Tudo isso são grandes sonhos dos jovens guineenses.

 

Com abertura política nos meados 90 os jovens prontificaram-se a fazer parte da nova fase da vida política da Guiné-Bissau com a criação nas regiões e em Bissau de associações de base, e grandes congregações de Jovens como o Conselho Nacional da Juventude (CNJ), Rede Nacional das Associações Juvenis (RENAJ). O único objectivo dessas organizações é servir bem o povo com a total colaboração das entidades governativas, no que concerne às políticas sociais ligadas à camada juvenil, projectando e desenvolvendo actividades nas regiões e nos bairros da capital, participando activamente na sensibilização da sociedade face aos novos desafios do milénio.

 

O tempo passa e tudo muda. Mudam-se os políticos, as pessoas mudam de partidos, os jovens mudam de objectivos, e, consequentemente, hoje ninguém fala mais do patriotismo, e do voluntarismo nem tão pouco da solidariedade. A sociedade guineense perdeu todos os seus valores, e, em consequência, a juventude Guineense não é excepção. As consequências das mudanças negativas da sociedade protagonizadas pela falta de projectos de desenvolvimento fiáveis a todos os níveis, constitui hoje um grande handicap ao movimento Juvenil criado em meados de 90. Presentemente, a juventude guineense tem que lutar muito para não se afundar em desespero por falta de garantias de um futuro melhor.

 

PROSTITUIÇÃO JUVENIL, A TRISTE REALIDADE

 

“Eu namoro com um “tio”, não o amo mas ele é que me compra roupas e jóias.”

“O outro “tio” é que paga a renda da casa onde moro.”

“Outro “tio” é que financia o meu sustento. Quer dizer da minha família.”

“Tenho “amigo” que paga a minha escola” - palavras que as moças trocam entre si. 

 

Quando se fala de pobreza, deve-se em primeiro lugar pensar no seu combate, na concepção de bons projectos de desenvolvimento, em que a formação dos recursos humanos ocupa lugar de destaque. Nunca se combate um mal, sobretudo a pobreza, com meios parcos, sem projectos concretos, sem metas fixadas apenas com iniciativas para iludir as pessoas.

Ao lado de tudo isso, a prostituição infantil ganha terreno a cada minuto que passa. Numa sociedade agora sem referências, que lugar ocupam as crianças? O que é que os homens que agora dirigem o país dão como exemplo às crianças?

Em qualquer parte do mundo luta-se afincadamente para garantir às crianças a paz, estabilidade, sossego, um meio adequado para viverem e crescerem sem traumatismos.

 

Num espaço onde impera a lei da sobrevivência, “cada qual por si Deus por todos nós”, onde cada um procura uma alternativa, sem se preocupar com a forma de conseguir os seus intentos, que passa simplesmente por encontrar soluções para os problemas, o mínimo que se pode dizer é que é difícil projectar um futuro risonho para todos.

 

O meu povo tem tido sempre a consciência da importância da educação. Mas hoje em dia a pobreza tirou-lhe a capacidade de dar a educação de base, a boa educação ao “fidju di tera” que lhe permite saber entrar e sair, comportar-se em qualquer sociedade com aprumo e dignidade. Hoje tudo mudou. Há uma inversão total de valores.

 

A justificação que é dada por muita gente, que eu contrario com muita dor, é esta: tudo está assim por causa da pobreza”. Mas a pobreza não pode servir de justificação para a desordem que impera nas famílias e na sociedade em geral. Será que ser pobre implica jogar a vida na lama? Não!

 

A pobreza é um problema cuja solução tem que ser encontrada para que a sociedade viva em paz e na maior tranquilidade. No nosso caso o combate à pobreza ganha dimensão maior porque significa parte da solução dos problemas que desembocam nas cíclicas alterações da ordem constitucional.

 

A educação de base desapareceu na sociedade guineense, os pais perderam o estatuto de chefes de família. Na família cada um faz o que quer sobretudo as filhas, porque são elas que abastecem a casa. Onde e como conseguem fazê-lo, não interessa, o que interessa é conseguir.

 

Este é o fenómeno que os nossos “politiqueiros” criaram no seio da nossa sociedade. São eles os maiores beneficiários desta situação, porque enquanto a educação e a saúde não estiveram ao alcance do povo, os salários no final do mês não contam; enquanto houver falta de pão nas mesas, os pais andando de bolsos “cheios de vazio”, o país viverá sempre em desordem; continuará a haver ausência de Estado e a mediocridade continuará a vincar a governação. É triste, mas é a realidade da nossa Guiné-Bissau

 

A Juventude Guineense encontra-se à beira do colapso. A ilusão invade-lhe a alma, os indivíduos que tiram proveito de toda a situação causada pela pobreza não pensam em projectos de médio e longo prazo. Assim, a droga vai ganhando espaço no país. Os jovens mais bem sucedidos são os que estão implicados no tráfico de drogas. São eles qe andam em carros de topo da gama; são eles que constroem mansões em Bissau; são eles que têm maior acesso junto aos chefes. Por outro lado, gente fina que circula na órbita do poder vai usando e abusando de tudo (meninas, dinheiros do Estado) adiando sempre o progresso do país.

 

Na sociedade guineense tudo se tornou banal. Ascender a um cargo de responsabilidade sem qualquer formação é muito normal. Até o que era considerado importante, sagrado, transformou-se numa borga: quantos candidatos presidenciais concorreram nas últimas eleições?

 

As coisas estão tão banalizadas nesta terra que até analfabetos chegam a ministros; analfabetos chegam ao parlamento para fazerem leis (e fiscalizarem a governação).

 

Como é que a juventude, a camada que é o garante, o futuro do país, pode ocupar o seu devido lugar nas preocupações dos detentores do poder?

 

O que se vê hoje nossa Pátria Amada é a fabricação de males para criar monstros que serão difíceis de combater no futuro.           

 

 

FORMAÇÃO, A CHAVE DO PROGRESSO 

 

Trata um homem de acordo com o que ele é, ele continuará na mesma; trata-o de acordo com o que pode e deve ser, e ele converter-se-á no que pode e deve ser.

(J. W. Goethe, escritor alemão)

 

A conversão do indivíduo tendo em conta as suas qualidades, é o factor chave para o combate ao subdesenvolvimento e aos grandes males que afectam o mundo e que se destaca o flagelo que assola o mundo, sobretudo os países mais pobres, que o HIV/SIDA. É lógico que travar o HIV/SIDA passa pela mudança de mentalidades, mas não devemos esquecer que a pobreza é o maior veículo na propagação desta doença. Por isso, o combate à pobreza é a chave de ouro neste processo.

 

A educação, formação dos recursos humanos, a formação de uma opinião pública forte a favor da luta contra o subdesenvolvimento, que passa essencialmente pela promoção da competência, que reflecte automaticamente na melhoria da qualidade do ensino e na edificação de uma elite qualificada e eficiente, são, em conjunto, os alicerces para o combate à pobreza.  

 

Quem pensa que estando no poder está a tirar proveito da pobreza dos outros para satisfazer as suas necessidades pontuais engana-se redondamente porque, antes pelo contrário, está a fabricar o mal que pode também vir a atingir o seu próximo, porque o poder muda de mão camaradas.

 

Educando um homem educa-se uma pessoa; educando uma mulher educa-se uma nação inteira e protege-se uma família de vários problemas no que concerne à saúde e à educação de base dos mais pequenos, porque a mulher é mãe, irmã, camarada de todos os momentos e sobretudo a protectora...

 

Vamos todos continuar a fazer barulho, no bom sentido, antes que seja tarde, mostrando aos nossos políticos que a desordem, o deixa-andar, a promoção da incompetência, a promoção de preconceitos étnico-tribais, um dia vai acabar. A juventude vai mudar o curso da água para que o navio do progresso e desenvolvimento possa atracar no bom porto. Quem viver verá.

 


PROJECTO GUINÉ-BISSAU: CONTRIBUTO - LOGOTIPO

VAMOS CONTINUAR A TRABALHAR!

Associação Guiné-Bissau CONTRIBUTO

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