A INFRAESTRUTURA LOGÍSTICA DE TRANSPORTE COMO VETOR PARA O CRESCIMENTO ECONÔMICO DA GUINÉ-BISSAU

 

 Hedeler Benício *  

 hedenhana@hotmail.com

01.07.2010             

Hedeler BenícioA Guiné-Bissau compreende uma parte Continental e uma parte Insular, isto é, propício à prática de Logística e Transporte – a natureza foi generosa com o País – possui uma rede hídrica favorável a essa atividade, o que leva vantagens sobre os demais Países da Sub-Região, em disponibilidade superficial, além de contar com uma localização que é estratégica para a integração com mercados externos (CEDEAO/UEMOA, UNIÃO EUROPÉIA e MERCOSUL).

Apesar de todos os problemas que vêm a adiar o País, entre eles, o não Comprometimento dos políticos com as suas responsabilidades, Corrupção Generalizada, Clima de Impunidade, Assassinatos, Instabilidade Política e Econômica, que têm contribuído de forma negativa no estímulo aos investimentos estrangeiros e na composição do PIB, o País precisa adotar uma postura construtiva.

 Nesse contexto, concordo plenamente com CALHEIROS (2000) quando afirma que: “sem justiça não há cidadania”. O País carece da aplicabilidade da Justiça, portanto, nessa ordem de ideia, é necessário lembrar que: não há democratização sem justiça; não há modernização sem justiça; não há equidade social sem justiça; não há sequer desenvolvimento econômico sustentado sem justiça, pois a solidez, previsibilidade e credibilidade da ordem jurídica é o sustentáculo maior da confiança de empresários, trabalhadores e investidores em uma economia.

É de fundamental relevância que todos os guineenses continuem a repensar o País, e abraçar a palavra “reconciliação”, caso contrário, estaremos a conviver com situações alarmantes que possam contribuir para levar o País ao abismo.

Em virtude do crescimento da demanda mundial, as condições econômicas tornarão a logística um campo mais atrativo do que ele é hoje. Para tanto, cabe destacar que adequar a infraestrutura de transporte da Guiné-Bissau às novas exigências da nova economia mundial deve ser de alta prioridade para o País, uma vez que o fenômeno chamado globalização está em permanente transformação e se não prepararmos para enfrentá-lo, com certeza estaremos sem mínimas condições para acompanhá-lo. A infraestrutura de transporte é um componente vital para a economia, e que vem sendo apontada nos últimos anos como um dos instrumentos fundamental para a redução de custos e aumento da competitividade. A Guiné-Bissau com todas as suas potencialidades irá demandar sem dúvida desta atividade para o escoamento da sua produção.

Muito tem se falado sobre o crescimento econômico, e este, por sua vez, se caracteriza como componente fundamental para qualquer País. Diz-se que um País cresce quando torna dinâmicas as suas potencialidades. Mas para que isso aconteça é preciso à reunião de vários factores. Por exemplo, o nível educacional da população, a existência de pessoas com condições de tomar iniciativas, assumir responsabilidades, empreender novos negócios e apostar em um caminho de mudanças. Crescer e se desenvolver implica sempre mudar, mas mudar com a participação da sociedade.

Para promover o crescimento é preciso que um conjunto de factores de crescimento seja estimulado. FRANCO (2000), na sua obra intitulada “porque precisamos de Desenvolvimento Local Integrado e Sustentável – DLIS” afirma que é preciso que as pessoas tenham acesso à renda, à riqueza, ao conhecimento e ao poder para que uma comunidade ou País se desenvolva.

Portanto, a retomada do seu crescimento econômico demanda de ações que visam à implementação de políticas macroeconômicas relevantes que atendam todos os setores da economia. Por outro lado, a Guiné-Bissau carece de reformas na Administração Pública, que é um dos segmentos indispensável nesse processo. A modernização da gestão pública será crucial para dar sustentabilidade à retomada do crescimento, uma vez que pode proporcionar um clima de confiança no ambiente empresarial. Sabe-se hoje em dia que além do crescimento econômico, existem muitos fatores que determinam o investimento privado num País. Os riscos e as expectativas contam muito nesse processo. Nessa ordem de idéia, diante do ambiente hostil (sucessivos golpes de Estado, a crise político-militar, baixo desempenho económico, etc.) que o País vem demonstrando evidencia-se enorme dificuldade de investimento de peso quanto a nível interno e externo, sem contar com a grande margem de incerteza, bem como um déficit expressivo de confiabilidade no tangente a garantia ou defesa da propriedade privada.

Guiné-Bissau é um País com enorme potencial para incrementar a capacidade produtiva e alcançar um crescimento económico sustentado.  Para promover o crescimento é necessário investir em Agricultura, Infraestrutura e Energia que deve ser prioridade número um (1) uma vez que não há crescimento sem energia, modernizar o ambiente de negócios, explorar o seu potencial turístico e mineral, além de outras potencialidades.

Advogo sempre que o problema central do País com exceção da instabilidade político-militar se assenta na escolha de uma estratégia de modificação das estruturas, ou seja, passará por uma análise profunda associada ao conhecimento da sua real situação e não pela formulação de planos convencionais de desenvolvimento, apesar de ser um instrumento de grande relevância no direcionamento de muitas economias.

Como podemos cumprir com os objetivos e metas do Milénio?

País que não sabe para onde vai e que não define sua rota, não tem mínimas condições de chegar à parte alguma. A função de planejamento, a sua prática e aplicabilidade são fundamentais em qualquer gestão pública. No entanto os sucessivos governos não refletem este paradigma, fato esse que pode comprometer seriamente o futuro do País.

O crescimento e o desenvolvimento do país somente irão ocorrer quando a gestão pública estiver embasada no equilíbrio dinâmico de três (3) marcos: Legal, Institucional e Técnico, isto é: Marco Legal (legislação) corresponde ao conjunto de leis existentes em um País e sua evolução, estando subdividido em marcos legal setoriais ou marcos regulatórios, os quais são os conjuntos de leis que regem um determinado setor das sociedades. Marco Institucional corresponde ao conjunto de instituições Públicas e Privadas e suas redes de relação entre diversos níveis de governo e as atividades privadas – empresas – e de cunho social (ONGs, Associações etc.). O marco institucional é, em essência, o circuito integrado de organização dos meios de produção e serviços de uma sociedade e seu território. Marco Técnico (científico e lógico) corresponde ao conjunto evolutivo das orientações geradas pelas diversas formas de ciências e tecnologia e suas relações sociais, econômicas e territoriais, formando um contexto norteador das necessidades e perspectivas temporais – passado, presente e futuro – a serem realizadas pela nação, buscando reduzir e resolver ao máximo as dificuldades gerais e específicas existentes via processos de produção, geração de emprego e renda e gestão ambiental, dentre diversos outros fatores.

A Guiné-Bissau é um dos países com pior distribuição de renda do planeta, fato esse, que pesa vergonhosamente na imagem do País, e que gera uma repercussão notória na tomada de decisões dos investimentos externos, uma vez que reflete o baixo nível de IDH, o que constrange o crescimento, mão-de-obra especializada, infraestrutura básica ou de modo geral, o capital social básico.

Como o País pode atingir ou cumprir com esses objetivos se ele é altamente endividado, com péssima credibilidade na esfera internacional, ainda que, o desempenho da economia é interrompido constantemente por clima de instabilidade político-militar.

Há necessidade de reformular a gestão pública e incrementar a cultura empreendedora, assim como, fomentar a criação de APL’S (Arranjos Produtivos Locais) como mecanismos de alavancagem da economia, de modo a proporcionar aos seus cidadãos emprego e renda que ao longo dos anos têm sido um dos freios da recuperação da economia, além de melhorar a qualidade de vida da população por meio de boa educação, saúde, alimentação, habitação etc.

Atualmente, tendo em vista o moderno ambiente empresarial e um mercado globalizado, as organizações são desafiadas a operar de forma eficiente e eficaz para garantir a vantagem competitiva aos olhos de seus clientes e uma posição duradoura no mercado. Porém, a logística tem se tornado para as organizações, um dos caminhos essencial para alcançar esta posição duradoura no mercado por meio de oferta de um nível de serviço diferenciado frente aos concorrentes, redução dos custos e para agregação de valor, o que acaba proporcionando sem dúvida, melhoria na rentabilidade.

A ausência de investimentos em infraestrutura de transporte no País ao longo de décadas e os altos custos do mesmo, têm prejudicado a sua competitividade face aos outros Países da Sub-Região, que dispõem de uma infraestrutura de transporte de melhor qualidade e maior eficiência, a exemplo dos Portos do Senegal e da Costa do Marfim. Sánchez  al (2003) afirma que os maiores custos de transportes levam a níveis mais baixos de investimento estrangeiro, uma menor taxa de poupança, a redução de exportações de serviços, redução do acesso à tecnologia e ao conhecimento, e um declínio no emprego.

Para estimular o crescimento econômico, é indispensável que se considere a variável exportação e os meios de escoamento da produção, isto é, elas assumem grande relevância nesse processo, tendo em conta o ambiente globalizado cada vez mais competitivo, que exige das empresas elevado nível de capacitação para atender as necessidades do setor produtivo e enfrentar a concorrência. Pois, a porta de entrada e de saída de muitas mercadorias comercializadas entre os países são sem sombra de dúvida os Portos. Por isso, há necessidade urgente de repensar o sistema portuário do País uma vez que se pense em explorar minério e outras commodities, assim como no crescimento económico e competitividade. ANTHONY GIDDENS (1999), em A terceira Via deixou a recomendação de que: “o combate à pobreza requer uma injecção de recursos econômicos, mas aplicados para apoiar a iniciativa local”. Portanto, ao se pensar em tornar dinâmicas outras potencialidades, a exemplo do turismo é preciso pensar em injetar recursos na construção de estradas, na oferta de energia eléctrica, no incentivo ao empreendimento hoteleiro, na capacitação dos recursos humanos do sector, na aquisição dos meios de transporte, no saneamento básico, e outras variáveis que são fundamentais na promoção do turismo. É necessário ressaltar a importância dessas variáveis, porque dispor só de recursos naturais sem contar com elas inibe sem sombra de dúvida o desenvolvimento do setor. Portanto, não adianta pensar só nos recursos naturais e fazer propagandas no estrangeiro sobre os potenciais que o País dispõe como tem sido evidenciado, convidando os empresários sem antes ter criado condições e ambientes propícios para os investimentos estrangeiros.

Ter uma infraestrutura de transporte eficiente e compatível com as exigências do setor produtivo irá contribuir muito na alocação dos recursos para o País, tendo em conta a sua localização que é estratégica para integração com os países da Sub-Região e as suas potencialidades, considerando também outras variáveis que são imprescindíveis para o fomento do crescimento econômico.

Porém, todo esse processo demanda fundamentalmente de um planejamento sistemático de ações que visam à elaboração de um grande diagnóstico para tentar explicar as carências e oportunidades de investimentos na infraestrutura logística de transporte do País. Este diagnóstico poderia ser feito dentro de um Plano Diretor de Logística e Transporte, ou seja, um Plano Nacional de Logística e Transporte (PNLT), que irá nortear todo o processo de infraestrutura logística de transporte do País, visando integrá-lo com a Região e o Mundo incrementando o turismo, o comércio exterior e local.

 

Obs: É importante que todos os guineenses principalmente os dirigentes lembrem que a maior riqueza da nação é o povo GUINEENSE, e que o interesse do povo está acima de qualquer outro interesse. Vamos abraçar a prática e aplicabilidade da democracia porque só assim poderemos construir uma nação verdadeira, uma nação que o Amilcar Cabral sonhou um dia quando muitos deram as suas vidas e muitos adormeceram na esperança de verem uma GUINÉ livre da opressão, um País melhor e uma pátria gloriosa.

 

 * Graduado em Economia pela Universidade Federal de Alagoas – UFAL

Pós-Graduando em Consultoria e Assessoria Empresarial pelo Centro de Estudos Superiores de Maceió – CESMAC

 

  

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

CALHEIROS, Renan. Sem Justiça não há Cidadania. Brasília – DF: Senado Federal; Secretaria Especial de Editoração e Publicações, 2000; 2ª Edição.

 

FRANCO, De Augusto. Porque Precisamos de Desenvolvimento Local Integrado e Sustentável. Brasília – DF:Instituto de Política; Millennium, 2000. 2ª Edição.

 

 GIDDENS, Anthony. A Terceira Via. São Paulo: Editora Record, 1999.

 

SÁNCHEZ, Ricardo J; HOFFMANN, Jan; MICCO, Alejandro; PIZZOLITTO, Georgina; SGUT, Martin; Wilmsmeier. Eficiência dos Portos como Determinate dos Custos de Transporte Marítimo. Disponível em: < www.palgrave-journals.com/mel/free_articles.html> .Acesso em: 26 de Jun. 2010.

 


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