A Guiné-Bissau em desenvolvimento…

 

 

Por: Filipe Sanhá*

 

Filipe Sanhá

 

filipesanha@iol.pt

 

17.02.2008

 

A temática do desenvolvimento é muito abrangente. Ocupa quilómetros de papel, em livros, e preenche os corações dos povos. Fóruns, seminários, congressos e outros eventos científicos têm-se debruçado e destinado uma grande parte das suas agendas a essa enigmática designação, que metamorficamente foi, terceiro mundo, em vias de desenvolvimento e actualmente é o que se sabe: países em desenvolvimento. Perguntamo-nos, reflectindo sobre o porquê de tantas mudanças para o mesmo fenómeno. A razão é simples: pela sua delicadeza, complexidade e dificuldade na sua abordagem. Como se desenvolve um país? Ninguém sabe! Os percursos são tão tangentes e específicos de cada realidade, que assusta a maioria dos académicos e políticos em traçar uma via conducente à sua consecução. Não há manuais que ousem fazê-lo. Há tentativas de alguns estudiosos, aventurando-se nesta caminhada, mas não são mais do que presunções, estimações e hipóteses. Então, perguntamo-nos: o que é o desenvolvimento? Não sei responder a esta pergunta e, seguramente, quem o fizer merecerá um prémio Nobel! Também podemos interrogar-nos se o desenvolvimento depende das riquezas naturais, de decisões políticas assertivas, cultura de um povo, modelos económicos e sociais dos mais desenvolvidos tecnologicamente, formação de quadros para todos os sectores estruturantes da economia nacional ou será tudo isso adaptado à realidade de cada um e mais qualquer outra coisa que ainda não conhecemos, nem sabemos?

A simbiose, meio -  homem, é uma relação muito forte, cuja manutenção conduz aos equilíbrios necessários, com tendência decisiva para o homem. Todas as lições do passado, dos países desenvolvidos económica e tecnologicamente, são importantes e podem servir de referência, mas nunca adaptados na íntegra ou aplicados cegamente. O estudo e a investigação da realidade total de cada país deve preceder qualquer investida desenvolvimental. Sem isso sujeita-se e condena-se a emendas perpétuas, que não conduzirão a nada. Há países com grandes níveis de recursos naturais e que não são desenvolvidos, nem económica, nem tecnologicamente, nem socialmente. O momento chave do arranque dos países, hoje considerados desenvolvidos foi a partir da revolução industrial no século XIX. Por que será que esse surto de desenvolvimento só tivesse acontecido a partir desse momento histórico? Será que a idade cronológica dos países pesa no seu desenvolvimento, como se a idade conduzisse a uma maturação, tal como acontece no desenvolvimento do ser humano: criança, adolescente, adulto e morte? Não creio, porque os países podem desaparecer, associando-se ou federando-se aos mais fortes e consequentes, economicamente, mas a sua realidade cultural persiste e  tende a preservar-se. Há países cuja independência nacional de jure, remontam a muitas centenas de anos, que se encontram económica e tecnologicamente, atrás das actuais economias emergentes, e que são países muito recentes, comparativamente. Se os países jovens, como a Guiné-Bissau (32 anos), não identificarem, num debate sério e colectivo, os sectores e subsectores estruturantes do seu desenvolvimento e aplicar programas equilibrados, com objectivos/metas e execução controlados, podemos estar a condenarmo-nos a seguir os passos da histórica do desenvolvimento dos países que mencionei, porque países como o nosso não se podem dar ao luxo de um projecto de  desenvolvimento aritmético mas sim, a nossa aposta deve ser geométrica, para reduzir o fosso que nos separa dos que estão na linha da frente.

Atendendo que o pragmatismo deve vingar nestes debates, em 2004, apresentei no site www.agenciabissau.com , dois projectos, a que dei os nomes de FUTURGEST (gestão de carreiras) e MICROGEST (formação de jovens empresários para a criação de micro e médias empresas). Estes projectos eram oferecidos a quem se disponibilizasse a aplicá-los, exclusivamente, na Guiné-Bissau. Volvidos poucos dias recebi, de uma ONG, que trabalha no Pais a candidatar-se. Cedi os dois projectos, gratuitamente, a essa Organização, que se comprometera a cumprir os objectivos neles consagrados, tentando conseguir os respectivos financiamentos, junto dos seus  parceiros.

O FUTURGEST (Gestão de carreiras), é um género de projecto que urge implementar, porque se trata de orientação vocacional dos nossos jovens no 9º ano, para que quando tivessem que se inscrever no 10º ano, objectivassem uma opção pela área a escolher e, consequentemente, o curso profissional, médio ou superior que quisessem seguir, evitando-se assim, as indecisões nefastas para qualquer jovem, nessa etapa da sua vida e que ao país só traria benefícios acrescidos, em termos de motivação, competência e envolvimento emocional destes futuros quadros. O MICROGEST (formação de jovens, futuros empresários para a criação de micro e médias empresas), seria uma aposta no recrutamento, selecção, formação, financiamento, acompanhamento e avaliação destes  jovens empresários, de forma a desenvolver e renovar o nosso embrionário tecido industrial e comercial, proporcionando  a sua multiplicação a curto prazo, com a consequente elevação do índice de empregabilidade. Todos os formandos seriam seleccionados com base em projectos específicos, individuais, em todas as áreas percebidas como estruturantes do nosso desenvolvimento.

Esta parece-me a forma a que podemos também CONTRIBUIR, apresentando propostas  de soluções práticas para os nossos actuais problemas de desenvolvimento, independentemente, do sector que percepcionássemos como tal.

A importância deste espaço traduz-se também nas reacções que possamos causar nos intervenientes ou leitores do site. Há dias, a propósito de um dos meus artigos, em que abordava a questão da língua, recebi do Brasil, de um professor catedrático em linguística, da Universidade Federal de Brasília, o pedido dos contactos das duas Universidades Guineenses a que fazia referência, nesse meu artigo, porque é um académico que já tem trabalhos e outros em preparação sobre o crioulo guineense. Fiquei muito satisfeito, porque este é um dos efeitos práticos das nossas contribuições, pelo que mais, uma vez, agradeço ao DIDINHO, porque o nome dele merece ser escrito em maiúsculas.

 

* - 1- Psicólogo, Mestre em Ciências da Educação, Doutorando em Gestão de Empresas (Universidade de Coimbra) e Quadro Superior do Instituto do Emprego e Formação Profissional (Portugal).

 


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