A GUINÉ-BISSAU E A MONTANHA QUE NÃO QUER PARIR!


 

 

Filipe Sanhá *

filipesanha@iol.pt

19.01.2013

Filipe SanháA soberana Nação da Guiné-Bissau, tem sido acusada de tudo um pouco, de algum tempo a esta parte. Perguntemo-nos, o porquê dessa insistência?

 

É do conhecimento público que um pequeno território como é o nosso, teve a ousadia em dizer basta: queremos a nossa soberania e identidade próprias. Essa ousadia tem-nos custado fama e nomes impróprios. Foi uma lição de enorme aprendizagem.

 

A guerra colonial terminou em 1974, mas ainda continuam alguns, a teimar em tentar submeter-nos. Não somos criminosos, nem assaltantes, muito menos invasores. A Guiné – Bissau, em nome da solidariedade internacionalista, apoiou, de armas na mão, a consolidação de poderes noutros territórios, hoje membros da CPLP.

 

A gratidão que recebemos em troca, foi a tentativa do cerco que nos movem na actualidade. O nosso povo, humilde, guerreiro e trabalhador, regista com mágoa esta forma imprópria de gratidão. Normalmente, perdoamos aos nossos detractores, continuando a nossa vitoriosa caminhada para o desenvolvimento. Nos primórdios da nossa luta, sem quartel, participamos na grande epopeia, que também é cultural, com afinco e determinação na luta pela libertação do homem africano.

 

Os PALOP, como consequência, eclipsou a CONCP e por razões históricas nasceu a CPLP de que somos membros de pleno direito. Por razões ainda por desvendar, até somos apelidados, hoje, de NARCO – ESTADO! Como cidadão de pleno direito não - me conformo com este novo estatuto que alguns pretendem impor ao nosso POVO e País. A minha curiosidade em contornar as determinantes dessa designação, fez-me recorrer à sua significação na internet, para me documentar e informar. Encontrei – a, muito facilmente, em Wikipédia (2013-01-19). Cito: O termo narco-estado (de drogas : drogas e estado : conjunto de instituições) é um neologismo que se aplica a países cujas instituições políticas são significativamente influenciadas pelo comércio de drogas , e cujos líderes jogam simultaneamente posições como funcionários do governo e membros das redes de tráfico de drogas narcóticos ilegais, protegidos por seus poderes legais. O uso do termo começou a ser implementado em 1980 com o surgimento de organizações mafiosas poderosos em Colômbia .  Atualmente, são geralmente considerados dois exemplos, Kosovo  na Europa e Guiné-Bissau  na África , apesar de diferentes instituições terem alertado para o risco de outros países cairem sob esse tipo de governo”.

 

Ora, se o achado, aquí  retratado, por favor tirem as mãos do meu País. A GUINÉ-BISSAU, possui um solo bastante fértil, para semear e plantar árvores de fruto, mancarra, tubérculos de todas as espécies, mas não é conhecido nenhum agricultor de referência que se dedique à produção desse produto, muito menos empresarios com fábricas em qualquer canto do territorio para a sua transformação industrial ou laboratorial.

 

Durante a minha permanencia no territorio entre 2011 e 2012, nunca soube da existencia da sua produção, em nenhum cantinho do País. Na verdade somos um País esencialmente agrícola, com muito orgulho, mas que desenvolve esforços para uma industrialização sustentável. Eu próprio sou filho de agricultores. O “nosso estatuto de narco-estado” é um insulto a que me recuso aceitar. Encaixar-se-ia, perfeitamente, noutros territórios, a milhares de quilómetros das nossas fronteiras.

 

Esta perseguição desenfreada tem que acabar! Somos um povo livre, digno, trabalhador, corajoso, guerreiro, mas esta imposição estatutária, passa-nos ao largo e lado e devolvemo-la aos seus mentores. Recuso-me,aceitar, em meu nome pessoal e no do meu POVO, ese baptismo. Fere a nossa sensibilidade, dignidade e orgulho do que somos: GUINEENSES, da República soberana da GUINÉ-BISSAU. Há uma cabala, urdida e condimentada por gente que quer ver o País afundado, mergulhado numa permanente desestabilidade.

O prestígio que conquistamos, durante a Luta de Libertação, e na primeira fase do pleno gozo da nossa soberanía total, está a ser vítima de tentativa de assassinato! Estamos a ser perseguidos, com intenções, hoje claramente identificadas, para a nossa submissão e destruição!

 

Que me digam, os senhores intelectuais da desgraça alheia, qual o único Estado a nível Planetário onde não circulam e comercializadas as drogas proibidas e puníveis pelas leis nacionais. Sou acérrimo defensor da proibição legal deste produto nefasto para as Sociedades e destrutivo, fundamentalmente da Juventude, que é a garante do progresso e desenvolvimento das Nações!  Todavia que se desenganem aqueles que nos  querem carregar ese fardo, vampirescamente!

 

Definitivamente, a Guiné-Bissau não é um narco-estado! Precisamos de todos os nossos parceiros internacionais, porque hoje, não há Estado nenhum no Mundo que se possa orgulhar de viver e estar só e solteiro. Por favor, agradecemos, estimadamente aos que nos querem ajudar, por solidariedade altruista e, ou por exclusiva solicitação nossa.E, também, por favor procurem narco-estados  noutras paragens do Planeta, porque na GUINÉ-BISSAU, vive-se o dia-a-dia, trabalhando com honra, humildade, orgulho e dignidade, sem se deixar beliscar, por essas expressões infames. 

 

Aos nossos inimigos, aconselhava que tirassem as garras e unhas da Guiné-Bissau, por quererem meter no sagrado ventre da MÃE GUINÉ-BISSAU, a montanha a que não quer  dar a luz.

 

Os homens aparecem e desaparecem da cena política nacional e internacional, mas garanto-vos que a nossa Pátria continuará a existir, e presumo mesmo que continuará a sua Luta pelo Desenvolvimento,, para fazer jus aos ilustres Combatentes da Liberdade da Pátria, tombados e vivos,quiçá, fazendo, mesmo, inveja aos seus actuais detractores, que um dia nos pedirão desculpas, pelo seu comportamento desadequado, que como é  nosso timbre, avaliaremos e apreciaremos positivamente.

 

Filipe Sanhá 

 

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Caro irmão
Fernando Casimiro (Didinho)
A propósito da escassez de artigos de alguns dos habituais contribuintes do SITE, penso que tens toda a razão. Cada um terá as suas razões pessoais.

 

Na minha modesta opinião não se trata de medo, nem de "fuga", mas, provavelmente, falta de tempo, e, por vezes, a velocidade dos acontecimentos no País tornam os conteúdos, por vezes, obsoletos, inesperadamente.

 

No que me toca, não gosto de escrever por escrever. Entendo que, os artigos devem contribuir para a reflexão educativa e formativa, hoje, extensíveis a um futuro próximo, enriquecendo o debate pedagógico para o painel das grandes questões que ainda enfermam a nossa Sociedade.

 

Fui testemunho pessoal, no terreno, recentemente, da grande apreciação dos estudantes, intelectuais e a Sociedade em geral, pelo SITE, nos seminários e conferências, como convidado e orador. A isso, deve-se a qualidade produtiva dos artigos publicados pelos diferentes autores.

 

No que me diz respeito, tenho orgulho em ser um dos contribuintes activos no passado, embora, de facto, hoje com menos frequência, devidos aos meus fazeres, profissionais e académicos, em Portugal, porque como sabes os artigos com alguma profundidade exigem uma produção rigorosa e científica. Repito, o SITE é fundamental, para o desenvolvimento sustentável do País, sem dúvida.

 

Sem equívocos e elogios desnecessários e bajulantes, és um Combatente da Liberdade para o Desenvolvimento da nossa Soberana Nação Guineense, porque praticas, na essência um jornalismo de qualidade, prestativo. Sim, qualidade é o que reza em Bissau pelos leitores do SITE, nos meios em que movimentava, aquando da minha estada no País. Portanto, força, perseverança e determinação no teu trabalho, porque os resultados estão espalhados em todo o Território Nacional, e as pessoas agradecem-te imaculadamente.

 

Tenho recebido, com frequência, pedidos de apoio de estudantes, não só dos meus alunos da Universidade em Bissau, mas outros, que realizam investigações científicas, em Portugal, noutros Países e na GUINÉ-BISSAU. Ainda esta semana recebi mais um pedido de apoio de um compatriota, sobre as questões de Desenvolvimento Sustentável, consubstanciado, num artigo meu publicado pelo SITE, a que dera o nome de Desenvolvimento da Guiné-Bissau.


Um abração amigo.


Filipe Sanhá - 19.01.2013

 

Filipe Sanhá

 

Criança

 

  * Psicólogo, Mestre e Doutorando pela Universidade de Coimbra (Portugal)

 

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