A GUINÉ-BISSAU, COM REALISMO! (5)

 

Para chegarmos à verdade, temos que falar com as pessoas, temos que ouvir as pessoas, temos que analisar o que dizem as pessoas!

Por: Fernando Casimiro (Didinho)

didinho@sapo.pt

15.04.2009

Fernando Casimiro (Didinho)Contrariamente ao anunciado, este capítulo não será o da conclusão desta série de análises, por ter recebido ontem uma mensagem que merece da minha parte toda a consideração para um melhor esclarecimento  sobre o capítulo 4 deste trabalho. 

Hoje compete-me fazer uma argumentação, que espero, sirva para ajudar a interpretar correctamente esta minha frase: Toda e qualquer afirmação com carácter de denúncia deve ser tida em linha de conta para o apuramento da verdade, independentemente do passado ou do presente do seu autor, seja ele governante, político, militar ou simples cidadão guineense!

Percebendo-se a argumentação, perceber-se-á a frase e, por conseguinte, perceber-se-ão algumas passagens do capítulo anterior deste trabalho, sobre o Dr. Francisco José Fadul.

Quando em Maio de 2006 recebi e publiquei no nosso site o primeiro artigo de opinião do cidadão Norberto Tavares de Carvalho "O Cote", várias foram as vozes que se insurgiram contra a publicação desse artigo, não propriamente pelo conteúdo do mesmo, mas pelo nome do autor, com alegações de que Norberto Tavares de Carvalho teria pertencido à secreta guineense durante o regime do ex-presidente Luís Cabral e que, teria inclusive participado em acções concertadas de assassinatos e torturas de cidadãos guineenses.

Calma e serenamente fiz questão de dar a conhecer ao "Cote" as diversas reacções emitidas e a mim dirigidas, sobre o seu passado. Quero dizer-vos que nós trabalhamos assim neste Projecto. Não se esconde nada a ninguém!

O Cote recebeu muito bem as indicações que lhe transmiti, tomando uma atitude de elevada dignidade e coragem. Escreveu sobre o seu passado, abordou as situações concretas de diversas acusações à sua pessoa, como também relatou vários assuntos do seu conhecimento e relativos à Segurança de Estado.

O Cote não se ficou por aí, tendo-se tornado ao longo destes anos num autêntico biógrafo, escrevendo artigos de elevada qualidade histórica que, muito honestamente, constituem, na minha modesta opinião, fontes de informação e conhecimento para todos nós.

Hoje, certamente que muitos mantêm as suas posturas acusatórias sobre o Cote, mas já não questionam se os seus artigos devem ou não ser publicados no nosso Projecto, porque reconhecem que o facto de se ter dado voz ao Cote permitiu conhecer muitas outras realidades de várias áreas, dadas a conhecer precisamente pelo Cote!

Aquando do seu primeiro artigo, não saí em sua defesa, nem devia fazê-lo, mas posicionei-me sobre a questão  da seguinte forma: Para chegarmos à verdade, temos que falar com as pessoas, temos que ouvir as pessoas, temos que analisar o que dizem as pessoas! Se tivesse escrito: "O Cote pode vir a ser uma voz muito importante para se saber muitas verdades sobre a Guiné", certamente muitos discordariam, mas hoje,  há consideração pelos seus trabalhos, que, em boa verdade, têm qualidade!

Um outro exemplo, é o do cidadão António Óscar Barbosa, actual Ministro da Energia e dos Recursos Naturais, que foi colaborador do nosso Projecto entre 2005 e 2007.

O Sr. António Óscar Barbosa tem vários artigos em seu nome, bem como outros com pseudónimos por sugestão minha, no intuito de salvaguardar a sua pessoa, por residir em Bissau e em função do conteúdo desses artigos. Várias foram as pessoas que me escreveram ou telefonaram dizendo que o Óscar Barbosa "Cancan" tinha estado em todos os regimes, que era isto ou aquilo. Ouvi e registei, mas fui dizendo a todos que: Para chegarmos à verdade, temos que falar com as pessoas, temos que ouvir as pessoas, temos que analisar o que dizem as pessoas! E deixei sempre espaço aberto para a apresentação de qualquer acusação fundamentada ou não, contra a pessoa de Óscar Barbosa, que teria o direito de responder ou não, conforme entendesse.

Sabia que o Sr. António Óscar Barbosa tinha trabalhado de perto com os ex-presidentes Luís Cabral e João Bernardo Vieira, como também sabia, que se tinha tornado num próximo de Carlos Gomes Jr.

Para o nosso trabalho, importava registar os testemunhos do cidadão António Óscar Barbosa, pois ele é, ainda hoje, um dos profundos conhecedores das verdades ocultadas ao longo dos anos por diversos regimes.

Ficamos a saber muitas coisas através dos escritos do "Cancan", que no entanto, quis colaborar com o nosso Projecto apenas por questões estratégicas de âmbito partidário, já que é dirigente do PAIGC.  Só que o partido do Projecto Guiné-Bissau: CONTRIBUTO não é o PAIGC mas sim a Guiné-Bissau!

Se tivesse recusado dar voz, reproduzir os pontos de vista de Óscar Barbosa, estaria a negar a partilha de muitos dados que serviram para uma melhor compreensão do que se passou e se passa na Guiné-Bissau!

Se tivesse recusado dar voz quer ao Norberto Tavares de Carvalho, quer ao António Óscar Barbosa, estaria a negar o direito à liberdade de expressão a 2 cidadãos.

Mas perdemos ou ganhamos todos com os seus relatos aqui no nosso site?

Foram/são vozes/escritos importantes e úteis ou não?

Quando digo que fulano pode vir a ser uma voz importante, ou útil, é com base numa perspectiva de aproveitamento dos seus testemunhos, dos seus conhecimentos sobre determinado assunto, colocando-os ao serviço de toda uma comunidade.

Com estes 2 exemplos, quis mostrar-vos que todas as vozes, todos os registos, são importantes para conhecermos melhor o que se passou e o que se passa na Guiné-Bissau, independentemente do passado ou do presente da pessoa. Cheguei a dizer por diversas vezes que se o falecido presidente Nino Vieira quisesse defender-se, relatando a sua versão perante as acusações de que sempre foi alvo, nós estaríamos dispostos a ouvi-lo ou a reproduzir os seus escritos!

Se recusarmos ouvir ou ler,  bem como partilhar declarações orais ou escritas de alguém, estaremos a mostrar que continuamos a ser muito pequeninos.

Estaremos a demonstrar a nossa intolerância, o nosso egoísmo e, acima de tudo, estaremos a demonstrar que afinal, os que erram, não têm direito ao perdão e que perderam de vez a nossa consideração.

Creio que todos sabemos  quem é quem nos vários percursos e processos governativos da Guiné-Bissau e precisamente por isso, devemos saber reconhecer a importância e a utilidade da partilha de informações e relatos disponibilizados pelos que directa ou indirectamente fizeram ou fazem parte do "sistema".

Não nos compete exigir provas sobre as alegações dos declarantes, cabe isso aos visados nas trocas de acusações. A nós importa-nos ouvir, ler, analisar e tirar conclusões, em função da nossa leitura dos dados disponibilizados.

Ontem, recebi uma mensagem de um jovem compatriota, estudante na Rússia, que muito educadamente manifestou a sua discordância por algumas passagens do capítulo 4 deste trabalho nalgumas referências que fiz sobre o Dr. Francisco Fadul.

Se as pessoas têm dúvidas ou discordam das minhas análises, este é o melhor caminho para realmente ficarem mais esclarecidas. Importa-me ouvir a opinião de todos, sendo que, dou uma atenção especial aos nossos jovens e tal como o Alarba, com quem já tenho uma correspondência de longa data, são muitos os estudantes guineenses espalhados por todo o mundo que nos encorajam a prosseguir com este trabalho, concordando ou discordando das análises apresentadas.

De: Alarba Embalo
Enviada: terça-feira, 14 de Abril de 2009 21:30
Para: didinho@sapo.pt
Assunto: Res: www.didinho.org 14.04.2009

Olá, meu querido irmão Didinho

Em primeiro lugar gostaria de saber como estás. Nós por cá estamos bem de saúde.  Não tenho tido tempo para opinar sobre a situação política da Guiné, devido aos  preparativos dos exames. Estou no 3º ano do curso de Engenharia de Telecomunicações.
Meu querido irmão estou sempre de acordo com as suas ideias, mas sobre o Francisco José Fadul queria dizer que ele é um político ignorante de carreira ....(..)
Ele é traidor da nossa querida Pátria !!!

Mas podemos reconhecer que o trabalho dele e as suas ideias, foram boas  com  fins lucrativos.  Não posso esquecer do CIFAP. Até agora tenho aquela foto que me enviaste, gravada na minha memória ... (..) mas nós sabemos quem são os culpados desse acontecimento e foram criticados nos momentos mais quentes por Francisco josé Fadul, mas como é que ele tornou a ser amigo de um desses culpados?

Meu querido irmão eu não estou de acordo com a suas ideia  aqui nestas passagens:

O Dr. Francisco José Fadul, pode vir a ser uma voz importante, se na realidade quiser redimir-se das suas traições no passado.

Pode vir a ser uma voz muito útil na busca de esclarecimentos de inúmeros cenários de actos criminosos, quer a nível de crimes de sangue, quer nos relacionados com a corrupção, incluindo o narcotráfico!

Pode vir a ser uma voz muito útil estando no terreno, ou seja, na Guiné-Bissau, se quiser servir o país e os guineenses, até porque são poucos os políticos que ousam falar, dizer o que pensam e o que sabem, tal como o Dr. Fadul demonstrou ser capaz de fazer.

Não devemos "dispensar" uma voz como esta, tal como não devemos esquecer que o Dr. Francisco José Fadul tem a sua quota parte de responsabilidade no estado em que está a Guiné-Bissau!

Porque todos os estudantes guineenses gostam do seu trabalho, porque ele  tem o objectivo de esclarecer o povo e sensibilizar em prol do desenvolvimento. Ao  contrario do que faz o Fadul  !!!!

Ao Alarba e a todos os estudantes na Rússia, bem como a todos os leitores em geral, aproveito para esclarecer detalhadamente as passagens em causa:

"O Dr. Francisco José Fadul, pode vir a ser uma voz importante, se na realidade quiser redimir-se das suas traições no passado."

É muito importante considerar "pode vir a ser" repetido nas 3 referências ao Dr. Fadul.

Todos nós podemos vir a ser isto ou aquilo; todos nós podemos achar que este ou aquele pode vir a ser isso ou aquilo, em função de uma determinada abordagem, de um determinado contexto e numa perspectiva de interesse e desempenho pessoal de cada um.

O Dr. Francisco José Fadul, pelo que sei, até ter-se posicionado a favor do falecido presidente Nino Vieira na 2ª volta das presidenciais de 2005, era visto por um vasto número de guineenses como uma figura competente e capaz de ajudar a inverter o rumo dos acontecimentos na Guiné-Bissau.

Hoje, certamente muitos guineenses já não pensam assim em relação ao Dr. Fadul, mas creio que o que mudou não foi o facto de o Dr. Fadul ter passado a ser incompetente, mas sim, por ter-se aliado a Nino Vieira, a quem no passado tinha tecido inúmeras críticas e acusações graves!

Mas o Dr. Fadul é uma fonte de conhecimentos/testemunhos privilegiados sobre a Junta Militar, sobre Ansumane Mané, sobre Nino Vieira, sobre a guerra de 98/99, sobre os militares, sobre os vários governos da Guiné-Bissau e, se livre e conscientemente decidir partilhar, numa perspectiva construtiva, esses conhecimentos e testemunhos, alguém tem dúvidas que será uma voz importante na busca de esclarecimentos de inúmeros cenários de actos criminosos, quer a nível de crimes de sangue, quer nos relacionados com a corrupção, incluindo o narcotráfico?

Alguém tem dúvidas que o Dr. Francisco José Fadul pode vir a ser uma voz muito útil, estando no terreno, ou seja, na Guiné-Bissau, se quiser servir o país e os guineenses, até porque são poucos os políticos que ousam falar, dizer o que pensam e o que sabem, tal como o Dr. Fadul demonstrou ser capaz de fazer?

Reparem no seguinte: O governo de Carlos Gomes Jr. assim como o Estado-Maior das Forças Armadas já se decidiram por queixas-crime contra o Dr. Francisco Fadul, a propósito das declarações prestadas a vários órgãos de comunicação social em Portugal.

Ainda bem!

É sinal de que à partida haverá civismo e pela primeira vez na nossa história, poderemos ficar a conhecer a verdade dos factos através das acusações e defesas quer dos acusadores, neste caso quem apresentou queixa, ou seja o Governo e o Estado-Maior, quer do acusado, neste caso, o Dr. Francisco José Fadul.

Perante este cenário e perante a constatação de que o Dr. Francisco José Fadul sabe mais e melhor do que qualquer um de nós, o que até recentemente aconteceu na Guiné-Bissau, repito, sabe mais e melhor do que qualquer um de nós (quem discordar, que argumente a sua discordância), alguém duvida que pode vir a ser uma voz muito útil se quiser servir o país e os guineenses com as verdades que conhece?!

Ou devemos ignorar os conhecimentos e testemunhos do Dr. Francisco José Fadul, simplesmente porque somos divergentes com a sua postura e conduta enquanto político e governante?

Que o Dr. Francisco José Fadul tem a sua quota parte no estado em que está a Guiné-Bissau, isso todos sabemos!

Também creio que todos sabem e bem, a minha opinião sobre o Dr. Francisco Fadul e ele próprio sabe muito bem, que o que escrevi, não foi nenhum elogio à sua pessoa!

Espero ter conseguido ajudar numa melhor interpretação das passagens questionadas pelo nosso jovem Alarba Embaló, ciente de que, tal como ele, muitas pessoas fizeram a mesma leitura que ele.

Alarba, questiona sempre e sempre de forma educada. É este o caminho, ainda que, depois desta argumentação, possas continuar a achar que não consegui convencer-te.

Muito obrigado por me teres possibilitado o trabalho de hoje.

Vamos continuar a trabalhar!

Nota: O próximo capítulo será o de conclusão desta série de 6 análises sobre a actual situação na Guiné-Bissau. Analisarei as reacções do governo guineense e do Estado-Maior às entrevistas concedidas por Francisco Fadul a diversos órgãos de comunicação social em Portugal e falarei do impacto desta crise e as suas consequências para o governo de Carlos Gomes Jr.

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