A GUINÉ-BISSAU, COM REALISMO! (2)

 

 

Por: Fernando Casimiro (Didinho)

didinho@sapo.pt

12.04.2009

Fernando Casimiro (Didinho)Sim, somos todos culpados indirectos, ou morais, se quiserem, pelo que tem acontecido na Guiné-Bissau. Cada um de nós pode ter sido ou tem sido um impulsionador indirecto das acções criminosas, a todos os níveis, cometidas por alguns irmãos nossos contra a nossa terra e o nosso povo, devido à nossa indiferença e ao nosso silêncio, que escondem o medo de dizermos o que sentimos, o que pensamos, o que sabemos e o que queremos.

Mas há culpados directos e esses, terão que ser responsabilizados e julgados pelos seus crimes em conformidade com a lei!

Preferimos ao longo dos anos embarcar na onda da indiferença e do silêncio.

Uns, dos que estão na Guiné, porque sempre temeram represálias e o exemplo de gente incómoda que foi assassinada ao longo dos anos foi sempre o espelho-conselheiro para se optar por viver no cativeiro do silêncio e da indiferença.

Outros, dos que vivem no exterior, não tendo o argumento tão forte da perseguição, intimidação ou assassinato, por viverem em países mais seguros do que a Guiné-Bissau e onde as instituições funcionam para garantir as liberdades dos cidadãos, também se refugiaram na indiferença e no silêncio perante um percurso por demais evidente, de destruição das conquistas de todo um povo, de imposição de uma cultura de medo, da renúncia do Estado ao cumprimento dos seus deveres para com o cidadão, não lhe garantindo sequer o pagamento do seu salário para garantia de uma sobrevivência humana já de si ameaçada por inúmeros atropelos cívicos.

Os que vivem no exterior, optaram pela indiferença e pelo silêncio por inúmeras razões, que vão desde a garantia de entrada (o regresso ainda que seja para passar férias) na Guiné-Bissau, sempre que o desejassem, sem que fossem importunados pelo regime; outros, da elite intelectual e de profissionais altamente qualificados, porque muitos deles ocupam altos cargos em organismos internacionais, tendo recebido dos senhores do regime de Bissau apoios nas candidatura para esses cargos e, noutros casos, por terem sido contemplados directamente com bolsas de estudo para formação superior em vários países de referência, inclusive com apoio financeiro especial de governantes. O falecido Presidente Nino Vieira sempre usurpou bolsas de estudo concedidas ao Ministério da Educação Nacional, para presentear pessoas de listas específicas, contra todos os princípios a favor da igualdade entre os guineenses, sendo que todos esses beneficiários até hoje devem reconhecimento a Nino Vieira e sempre lhe prestaram vassalagem em vida.

Os guineenses preferiram a indiferença e o silêncio ao longo de quase 36 anos de independência, porque o egoísmo prevaleceu sempre em detrimento da solidariedade; porque o medo transformou os guineenses, povo honesto, em adeptos da mentira, ainda que uma mentira associada à cumplicidade na omissão de factos que, se tivessem sido denunciados e divulgados em devida altura, teriam contribuído, sem dúvida, para a consciencialização do nosso povo e também dos nossos próprios governantes, fazendo-os repensar nos seus actos.

Os guineenses preferiram ignorar que a verdade é um valor universal,  partilhável e indispensável à sobrevivência de qualquer Estado ou povo!

Hoje, pelo que consigo vislumbrar após os acontecimentos de 1 e 2 de Março, algo tende a mudar de forma mais participada do que até então. Há vontade, há intenção clara de uma responsabilização, designando nomes de pessoas que de facto tiveram e ou têm responsabilidades directas na desgovernação da Guiné-Bissau e, consequentemente, na degradação de todo o património nacional, entre valores humanos e materiais.

Hoje, ainda que de forma confusa, os guineenses estão a despertar para uma nova realidade, assente na defesa dos direitos humanos; assente na solidariedade humana; assente na verdade e numa consequente responsabilização e acção judicial sempre que se justifique. Isto é muito importante para se acabar com os desmandos e a impunidade no país!

É chegada a hora de os guineenses reporem em suas mentes que a vida humana vale mais do que tudo neste mundo!

Nota: Nos próximos capítulos deste trabalho intitulado "A GUINÉ-BISSAU, COM REALISMO", farei o ponto de situação sobre o que está a acontecer no país, tendo em conta as diversas declarações e posicionamentos de governantes, políticos e militares. É preciso analisar a actual situação da Guiné-Bissau tomando como ponto de referência a defesa do interesse nacional, que tem no povo guineense a sua expressão maior e não a defesa dos interesses de qualquer elite de poder. Quem quer mudanças para a Guiné-Bissau deve respeitar a Constituição da República e o povo guineense!

Vamos continuar a trabalhar!

A GUINÉ-BISSAU, COM REALISMO! (1) 06.04.2009

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