ÁFRICA, Um Eterno Sonhador

 

 

 

 

 

Cada dia a natureza produz o suficiente para nossa carência. Se cada um tomasse o que lhe fosse necessário, não haveria pobreza no mundo e ninguém morreria de fome. (Gandhi)

 

 

 

Por: Adulai Indjai

 

tokatchur02@hotmail.com

 

27.05.2009

 

Lá onde falta a razão existe a força, lá onde não existe a solidariedade, existe a desconfiança, lá onde a barriga está vazia, existe a fome, lá onde não habita a verdade, reside a mentira, lá onde a vida humana não tem valor, existe a ditadura…. A África padece destes profundas crises.

Comemorou-se no dia 25 de Maio o dia de África e o dia 10 de Maio é considerado em França como o dia da abolição da escravatura. Maio o mês do continente. Neste preciso mês de festa, em África quase 50% dos países estão em Guerra, com milhões de pessoas deslocadas e refugiadas. Guerras inúteis, infundadas, guerras sempre travadas sob o slogan de liberdade, justiça social para os mais carenciados. (Que pobreza!) As palavras açucaradas dos homens da Guerra.

As Guerras que têm obstaculizado por completo o processo de desenvolvimento, deixando de lado a maior batalha, contra inimigos mais ferozes, como o HIV/SIDA que hoje mata diariamente em África um número considerável de homens e mulheres, fazendo assim milhões de órfãos. Isto, sem falar das outras doenças, não menos mortíferas como o paludismo, a tuberculose, a cólera entre outras.

A taxa da mortalidade infantil em África era de 154% em 1990, aquando da assinatura dos oito objectivos dos milénio, altura em que foi  fixada a meta que consiste em reduzir esta taxa para 51% até 2015. Passados 9 anos, esta taxa baixou para 137%, o que representa uma baixa de 9.3% em vez dos 40% previstos de modo a cumprir este ponto dos objectivos dos milénio.  

Uma das principais razões para o atraso enorme neste processo é o progresso do VIH/SIDA. Esta doença afecta nações inteiras. Os jovens, o futuro de qualquer país, estão sendo infectados. Isso debilita o sector laboral afectando a produção e a produtividade do continente. As epidemias que se têm registado, produzem um profundo impacto no crescimento e acentuam a pobreza no continente negro.

Não podíamos estar a dar-nos ao luxo de não actuar. Os países mais afectados precisam de travar a destruição causada pela epidemia e proteger as gerações futuras. Não ignoramos a dificuldade de pôr em prática esta tarefa, porque, senão vejamos: o continente está todo em Guerra. Os que não estão em guerra armada estão a combater a miséria ou têm como adversários os corruptos congregados na máfia política. Para todos os países é evidente que estes objectivos devem ser reforçados mutuamente: a prevenção do VIH/SIDA, a sustentabilidade do sector educativo. Deve ser o momento para cessar as  guerras utilizando essa força para salvar a futura geração!

 

A Juventude Africana

 

A juventude tem valor em si mesmo; por aquilo que é, que pode dar hoje e que amanhã poderá dar. Mas, o continente negro não sabe dar valor aos seus filhos. Nos países africanos o desemprego juvenil e a falta de mão de obra qualificada afectam gravemente a economia do continente. Calcula-se que 133 milhões de jovens em África são analfabetos (constituindo a metade da juventude do continente), mais de 20% de jovens da África Sub-sahariana estão no desemprego, sem futuro, factores que contribuem muito para a emigração clandestina (suicídio) no largo oceano, nas pequenas pirogas, à procura do Ocidente, o EL DORADO que não existe. No mundo não há milagres, tudo tem o seu preço.

 

África vê hoje em dia o seu futuro, que podia ser limpo e coerente, bastante comprometido. A juventude está entregue à sorte do destino, por uma questão de ignorância dos dirigentes africanos, porque educar um povo é criar recursos necessários para o desenvolvimento durável. Em África a classe política tem medo de ver o aumento do nível de conhecimento da sua própria juventude, pensando que isto poderá vir a pôr em perigo as ideias medíocres e perturbar o sistema político falhado que lhes facilita a vida. A educação de todos pode vir a ser factor da desobediência social, levaria evidentemente à mudança ou poria fim aos anos de manipulação do poder público, pois um homem dotado de conhecimento tem todos os meios necessários para reivindicar os seus direitos e participar activamente na vida política do seu país e do seu continente.  

A democracia nunca conheceu o valor real, de sistema político que visa servir o povo e satisfazer as suas necessidades. Pelo contrário, tem estado a ser usada para servir um grupo de indivíduos, os que criam empresas políticas  e às quais dão nomes pomposos sob a bandeira de Partido Político. O intuito é simples: utilizar os meios do povo para atingir objectivos pessoais – riqueza fácil através de roubos aos pobres povos.

África tem que pôr ao serviço dos jovens os meios técnicos e académicos com programas de formação flexíveis que possam responder ao mercado de trabalho, implementar uma política de promoção da competência, dotá-la de meios necessários para contribuir para o crescimento económico e combater o desemprego no seio da juventude.

 

 África face à degradação da economia mundial !!

O homem africano é o lobo do seu próprio conterrâneo. O nosso continente é dos mais ricos do planeta e os povos mais pobres do planeta residem em África. Perguntamos: como é que o filho de um rico pode viver na pobreza? A razão é simples, é porque o seu pai é o ladrão da sua própria casa, é o que acontece sempre nos países africanos. Onde a corrupção é legalizada há um grupo de indivíduos, que tem sempre à testa da quadrilha o chefe do estado.

Foram apresentadas em França pela ONG Transparency International, que luta contra a corrupção, duas queixas-crime contra certos presidente africanos, que desviaram fundos públicos para colocarem ou investir no exterior. Nesta lista dos corruptos figura o nome do presidente Teodoro Obiang Nguema da Guiné-Equatorial, Denis Sassou-Nguesso do Congo e o velho Omar Odimba Bongo do Gabão. A lista é muito fraca se tomarmos em conta aqueles que já morreram como é o caso do nosso General Nino Vieira e sem esquecer Eyadema Gnassingbé do Togo, cujos filhos, Kpatcha e Faure Gnassingbé, lutam hoje pelo poder político num país dito democrático, que é governado pela família Gnassingbé há mais de 40 anos.

Apesar dos indicadores alarmantes das sucessivas crises de instabilidade no continente, a nossa economia conheceu bons momentos no ano de 2007, não atingindo o nível esperado de 7%, mas conseguindo chegar aos 5.7%. Não é suficiente, mas é um grande sinal de estabilização da economia do continente, que soube manter este nível de mais de 5% durante os últimos cinco anos sucessivos.

 

Hoje a economia mundial vive os piores momentos da sua história, África não ficou fora da lista dos afectados pela crise económica mundial. No ano de 2009 o continente africano vai conhecer um crescimento económico de 2.8% que será a metade dos últimos cinco anos, período em que conheceu um crescimento favorável. Segundo os economistas o crescimento vai aumentar para 4.5% em 2010.

 

O crescimento do produto interno bruto em volume na África Ocidental deve diminuir, atingindo somente 4.2% em 2009, contrariamente aos anos 2007 e 2008, em que foi de 5.4%; perdendo-se 1%, o que já não é mau, mas não vai aumentar muito no ano de 2010 porque vai ser de 4.6%.

 

Podemos elogiar os africanos pelos esforços feitos para relançar a máquina económica do continente. O momento é crucial, e cada país deve pôr em marcha uma política agressiva, positivamente falando, no sector económico, sobretudo a disciplina e o combate feroz à corrupção. Os estados africanos devem trabalhar em colaboração, utilizando eficazmente as diferentes organizações (CEDEAO, OUA, SADC), entre outras. Cada estado africano deve saber utilizar o espaço da sua liberdade económica, identificando as suas prioridades e reconhecendo bem as suas necessidades de acordo com as condições da sua população.

 

A economia africana deve tomar em consideração o seu sector informal, investindo na formação dos operadores desse sector, orientá-los para o mercado mais formal respeitando as suas actividades tradicionais e incentivando os jovens à criação de pequenas empresas no sector agrícola.

 

O continente vai de mal a pior. Ou, tudo está normal como dantes? Questionamos aos que hoje têm as rédeas do poder político mas que não têm vontade política suficiente para dirigir um povo que a fome e a miséria sufocam. Um povo cujos filhos  cansados de viver em plena instabilidade, mudam de país para país e de nacionalidade todos os dias à procura do que nunca tiveram na sua terra, à procura da paz, estabilidade política e económica. Conquistar o bem-estar no continente, é um combate que vai levar tempo, é de longo fôlego, de coeficiente de dificuldade superior.

 

É importante, uma vez mais, tentarmos perceber o que se passa, formularmos grandes objectivos, desenharmos todos os passos, a partir do chão que pisamos. Para conseguir alcançá-los temos que deitar mãos à obra. É fundamental. Como fazer? Persistir, repensar e experimentar sem pôr de lado o que Jeffrey D. Sachs, o pai dos  «Objectivos do Milénio», acordados pelos estados membros das Nações Unidas em 2000, disse: que os objectivos deverão ser concretizados até ao ano 2015.

 

Ele preconizou a redução para metade da pobreza e da fome no mundo; a escolaridade primária para todas as crianças, igualdade de direitos para as mulheres, redução da mortalidade materno-infantil; o combate global das doenças como a Sida e a malária, o desenvolvimento económico e ecológico e a parceria entre pobres e ricos.

 

É importante que haja a consciência de que já se passaram mais de 9 anos da assinatura deste pacto social, mas ainda há países que nem saíram da etapa teórica.

 

É urgente agir, não devemos apenas esperar os países do G8 cumprirem a sua parte dos deveres, também os pobres têm tarefas a cumprir, África em especial, porque ali se vivem horas de intolerância, corrupção, incompetência, e subdesenvolvimento.

 

O desenvolvimento económico, só pode realizar-se adequadamente quando há empenho de cada povo em colaboração com os outros povos, isto é, a solidariedade internacional. Mas, não basta somente a solidariedade internacional, o desenvolvimento exige sobretudo um espírito de iniciativa eficaz, que ajude a esclarecer e resolver os penosos problemas dos países africanos. Os males que assolam o continente africano serão vencidos quando os homens africanos compreenderem que o momento é para apostar no trabalho, na honestidade da gerência dos bens públicos, valorizando os recursos humanos e investindo na camada jovem, os dirigentes dos futuro.

 

A esperança reside na alma daqueles que acreditam no futuro, o homem não pode viver sem esperança, todos os homens esperam por alguma coisa, o coração de África espera sobretudo pela Paz, Estabilidade e Desenvolvimento durável…. Aos poucos África está a mudar, cantaram os "Africando", vamos continuar a sonhar. Dias de glória hão-de chegar.

 


PROJECTO GUINÉ-BISSAU: CONTRIBUTO - LOGOTIPO

VAMOS CONTINUAR A TRABALHAR!

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