AFINAL "NÓS SOMOS MEMBROS DA CPLP..."  E TAMBÉM, JÁ AGORA, DA CEDEAO E DA ONU, DIGO EU!

 

 

A Guiné-Bissau, nos dias de hoje, até está muito bem representada na CPLP. O Secretário-Executivo da CPLP, o Eng.º Domingos Simões Pereira, de quem nos orgulhamos, é guineense; o Director-Geral da CPLP, o Dr. Hélder Vaz Lopes, que também merece a nossa consideração é guineense... Não se compreende a incompreensão das boas intenções apresentadas pela CPLP às autoridades da Guiné-Bissau!

 

Por: Fernando Casimiro (Didinho)

didinho@sapo.pt

22.06.2009

Fernando Casimiro (Didinho)Registos da guerra civil de 1998/99 demonstram-nos que a dada altura da guerra e com as negociações de paz em curso, a então Junta Militar liderada pelo Brigadeiro Ansumane Mané e, pela voz do seu porta-voz José Zamora Induta, actual Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas interino, estaria disposta a aceitar uma Força de Interposição da CPLP na Guiné-Bissau...porque, na altura, segundo Zamora Induta, «nós somos membros da CPLP»...

É claro que hoje estamos num contexto diferente: Na Guiné-Bissau não há nenhuma guerra civil; não há zonas demarcadas por ninguém, nem há tropas de países vizinhos em território nacional.

Perante a degradação do Estado de Direito Democrático e os receios da alienação da soberania nacional em função de um vasto número de razões fundamentadas pela evidência da transformação da Guiné-Bissau num narco-Estado;

Perante os assassinatos de 1 e 2 de Março, de 5 de Junho;

Perante os sucessivos desmandos com marcas de barbárie e sempre impunes, porquanto, justificadas como atribuídos a "grupos de desconhecidos", grupos esses, no entanto, que utilizam uniformes das Forças Armadas da Guiné-Bissau, movimentando-se em viaturas militares com matrículas do Estado-Maior das Forças Armadas da Guiné-Bissau...

Perante um Estado em permanente estado de alta tensão;

Perante receios e sofrimentos de um povo refém dos seus piores filhos;

Importa considerarmos se esse mesmo povo não tem o direito de questionar sobre a sua segurança, porquanto os representantes que escolheu não garantirem nenhuma segurança às populações?!

Se em 1998 por fazermos parte da CPLP poderia aceitar-se o envio de uma Força Militar formada por efectivos da CPLP, porque razão hoje, continuando a ser membros da CPLP, da CEDEAO e da ONU e, não estando em guerra entre irmãos, não aceitamos o envio de uma Força Militar e Policial, sob mandato da ONU e que fosse ainda assim, apenas constituída por efectivos da CPLP?

Qual é afinal o receio do envio de uma Força Militar e Policial, numa altura ideal, pois uma Força do género não se destina a participar em guerras, mas sim, estar no terreno para prevenir a guerra?!

Não tenhamos dúvidas de que a Guiné-Bissau estará sempre em "pé de guerra", enquanto recusarmos admitir que não somos capazes de nos entender por nós próprios!

Vejamos quanto ódio, quanto intolerância, quanto divisionismo existe entre nós...!

Vejamos quem realmente é beneficiado com o clima de insegurança no país...!

Estamos a poucos dias das eleições presidenciais e obviamente que ninguém pode garantir se haverá eleições... Na Guiné-Bissau tudo pode acontecer de um momento para o outro. Não tenhamos ilusões sobre um eventual clima de festa com a realização destas eleições.

Ninguém quer perder e os que estão convencidos de que ganharão, não aceitarão outro resultado que não a vitória. Sejamos realistas, vejamos o perigo que estas eleições representam para a Guiné-Bissau, ao invés de olharmos única e exclusivamente para a reposição da legalidade constitucional através da eleição do Presidente da República.

É certo que isso deve ser feito, mas deveria ter-se pressionado na questão da garantia de segurança para a realização destas eleições, até porque todos sabemos que elas só se realizam nesta altura, porque devido à insegurança, o Presidente da República foi assassinado, assim como outras altas figuras do país.

Quem garante a quem, que até à realização das eleições não poderemos vir a presenciar actos de barbárie contra um ou outro candidato, no sentido de impedir que as eleições se realizem, caso a tendência de voto seja a favor de um candidato que não o candidato do actual governo no poder, por exemplo?!

A acontecer algo de grave, as eleições ficam sem efeito e quem beneficia com isso, em primeira instância, é o actual regime, desde o Presidente da República interino, passando pelo Governo e as chefias militares!

Não sejamos ingénuos ao ponto de acreditarmos numa suposta boa-fé de um regime de terror que foi instalado desde os acontecimentos bárbaros de Março passado.

O actual governo dirigido por Carlos Gomes Jr., pretende manter José Zamora Induta como Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas e só o candidato do PAIGC, partido do governo, apoia essa pretensão.

Quem acha que Zamora Induta aceitará deixar o actual cargo de Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas...logo ele que tudo fez para chegar onde chegou;

Logo ele que corre sérios riscos de vir a ser acusado de participação nas matanças, intimidações e agressões ocorridas na Guiné de Março passado à data presente...

E o governo chefiado pelo Senhor Carlos Gomes Jr.?!

Estará receptivo a uma coabitação com um Presidente da República que não irá submeter-se a qualquer relação hierárquica do tipo dirigismo partidário?!

Estejamos atentos igualmente, a posicionamentos de candidatos que se insurgem contra o envio de uma Força Militar e Policial Internacional para a Guiné-Bissau.

Se é certo que alguns se posicionam contra, por uma questão de "alinhamento" estratégico (soa bem um pretenso nacionalismo), outros há que, sabem que uma presença Militar e Policial Internacional torna-se num grande obstáculo às suas tentações de assalto ao poder pela via da força e, por isso, são e serão sempre contra, para que possam continuar a alimentar a instabilidade na Guiné-Bissau. Tenhamos muito cuidado com as declarações do não ao envio de uma Força Militar e Policial para a Guiné-Bissau!

Os criminosos sabem que tal como está a Guiné hoje, continuarão a estar impunes e serão sempre eles, os porta-vozes oficiais para a justificação das confusões, das matanças etc., etc.

Os criminosos também sabem que tal como outros criminosos, não serão eternos donos do poder na Guiné-Bissau. O único e verdadeiro dono do poder na Guiné-Bissau é o povo guineense!

Vamos continuar a trabalhar!

 

O ministro Jaime Gama manifestou o desejo de que «as duas partes cessem as hostilidades, para que a missão tenha algum efeito prático»

«Continuamos apostados em fazer prevalecer uma lógica de paz sobre uma lógica de guerra», declarou o ministro português, manifestando ainda o desejo de que, «para o exercício desta missão, as partes cessem as hostilidades, para que esta tenha algum efeito e impacte práticos».

Os militares revoltosos, entretanto, «inverteram a ordem» das exigências colocadas para negociar com o Governo como gesto de boa vontade. Segundo o seu porta-voz José Zamora Induta, contactado telefonicamente a partir de Lisboa, a Junta Militar pretende, antes das negociações, que seja acordado um cessar-fogo, ou pelo menos uma trégua, e que seja colocada uma força de interposição entre os dois beligerantes. Só depois exigirá a retirada das tropas estrangeiras que estão a apoiar o Presidente João Bernardo Vieira.

O porta-voz da Junta reiterou a proposta de que a eventual força de interposição seja composta por efectivos da CPLP, invocando o facto de que «nós somos membros da CPLP». Rejeitou a «outra variante», a de um contingente da CEDEAO. «Temos aqui presença de forças senegalesas e guineenses, que são membros e talvez chefes da CEDEAO. Que outras forças da CEDEAO é que querem cá pôr?», perguntou.

Induta afirmou ainda que a Junta Militar se reunirá, «possivelmente no sábado», com o grupo de contacto, em local que ontem estava ainda por confirmar. A delegação da Junta, acrescentou, deverá ser chefiada pelo seu líder, Ansumane Mané, retomando basicamente as propostas apresentadas há cerca de um mês à mediação luso-angolana.

Jaime Gama escusou-se a comentar as alterações nas posições dos militares revoltosos, afirmando que o grupo iria «apreciar a situação. Mas numa iniciativa deste género há que distinguir entre o que é dito publicamente e o que depois é a realidade no plano negocial».

 
Sexta-feira, 24 de Julho de 1998 - In «Diário de Notícias»

 COMENTÁRIOS AOS TEXTOS DA SECÇÃO EDITORIAL


Cultivamos e incentivamos o exercício da mente, desafiamos e exigimos a liberdade de expressão, pois é através da manifestação e divulgação do pensamento (ideias e opiniões), que qualquer ser humano começa por ser útil à sociedade! Fernando Casimiro (Didinho)

PROJECTO GUINÉ-BISSAU: CONTRIBUTO - LOGOTIPO

VAMOS CONTINUAR A TRABALHAR!

Projecto Guiné-Bissau: CONTRIBUTO

www.didinho.org