A EDUCAÇÃO E A FORMAÇÃO PROFISSIONAL COMO PÓLOS DE DESENVOLVIMENTO SOCIAL E ECONÓMICO

 

 

Por: Filipe Sanhá[1]

 

 

14.01.2008

 

A educação é um dos pilares indiscutíveis do desenvolvimento económico, social e cultural das Nações. Quanto mais culto for um povo mais condições reunirá, para conceber, criar, planear e executar com elevada precisão os projectos nacionais, nos mais diversos sectores que compõem as sociedades. Relativamente à Guiné-Bissau, com uma taxa de analfabetismo em cerca de 57%, as dificuldades acentuam-se e avolumam-se. Nem todos os que sabem ler e escrever têm o domínio mínimo dos conceitos fundamentais da língua portuguesa (língua oficial). Sem descurar a educação, urge implantar uma rede nacional de centros de formação profissional, para, de uma vez por todas alinhavarmos o nosso projecto de crescimento e desenvolvimento.

A educação difere da formação profissional, apesar daquela ser a base de sustentação desta, portanto têm uma relação intrínseca. Alguns autores consideram a formação profissional como um subsistema da educação nacional, ao invés de outros que a consideram um sistema independente. Daí a sua subordinação a um determinado ministério, em função das opções políticas de cada governo e país. O importante é que haja formação profissional, capacitante e qualificante, de jovens e adultos, na utilização das mais diversas tecnologias de saber - fazer, que tanta falta  faz ao nosso frágil e quase inexistente tecido industrial e comercial, mas sobretudo aos investidores estrangeiros, que cada vez começam a povoar o nosso território. Num recente estudo da OCDE, parece haver uma relação directa entre a formação qualificante dos cidadãos com o crescimento do PIB.

No entanto, coloca-se-nos uma outra questão igualmente importante: língua nacional escrita. É uma questão que parece pouco preocupar os líderes africanos, na sua generalidade, mas é na verdade uma questão crucial, para o desenvolvimento do Continente. Ora vejamos: a Guiné - Bissau,  com os seus 43% de letrados quantos destes dominam os conceitos essenciais, em português? Poucos, muito poucos. É sabido que o domínio de conhecimentos fundamentais á inserção na vida activa, consubstanciam-se na apreensão e domínio correcto de conceitos. A quase totalidade das nossas crianças, na fase de iniciação escolar, só sabem falar a língua materna. É dela que raciocinam e exteriorizam as suas emoções, o que lhes cria enormes dificuldades na aprendizagem dos conceitos em português. Qualquer criança guineense fala, no mínimo duas línguas: a materna e o crioulo, e a transposição destas para o português, significa um triplo esforço.

 Em 1977, ainda na gestão do Ministério da Educação Nacional, por Mário Cabral, organizou-se um Encontro dos Ministros e Educadores dos Países de Expressão Oficial Portuguesa. Fui delegado pela Guiné-Bissau nesse encontro, tendo pertencido à comissão da Educação e desigualdades sociais. Bem me lembro que esta questão fora colocada por diferentes oradores, mas caiu em saco roto. Se reparamos, todos os países de economias emergentes, á data da sua colonização tinham uma língua nacional escrita, embora a revolução industrial lhes tivesse passado ao lado por razões históricas e da própria filosofia de colonização.

Trabalhei de perto com o saudoso Professor Paulo Freire, enquanto docente e Sub - Director da Escola de Formação e Superação de Professores, Máximo Gorki, em Có. A sua enorme sabedoria e da sua equipa, permitia -lhe utilizar a língua local cruzada com o crioulo gerando uma metodologia criativa de invejável sucesso, nos espaços que então chamávamos “ círculos de cultura”.

Para debater as dificuldades apontadas, deixaria algumas interrogações:

1             - Para o desenvolvimento do nosso país, que modelo social e económico devemos adoptar?

2             -     Que instrumentos pedagógicos, modelos e métodos para ensinar o português às nossas crianças?

3             -     Justifica-se investir na fixação do crioulo como língua nacional escrita?

4             -     Quais as áreas que devem ser assumidas como prioritárias na política de formação profissional, para o país?

 

 

 [1] Psicólogo, Mestre em Ciências da Educação, Doutorando em Gestão de Empresas (Universidade de Coimbra) e Quadro Superior do Instituto do Emprego e Formação Profissional (Portugal).

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