A distância

 

Edson Incopté

 

07.08.2009

 

 

 

Fala quem não sente

Fala, porque não há quem o desminta.

Sabe-se de longe tudo o que ali se vive

Relatado pela boca de quem sobrevive

 

Ninguém faz mais do que discursar

Nunca esquecendo de julgar

Mesmo sabendo que não tem esse direito

Fá-lo, considerando-se indignado sujeito

 

De indignação raramente passa

Culpa do medo que continuamente o trespassa

Deixando no ouvido

Aquele receio de perder o presente vivido

 

Posso ser um emigrante clandestino

Mas também sei o que é ser legítimo sem destino.

Um filho da terra sem esperança

De fazer a diferença

 

Eu vivo longe

Mas peço memória ao Altíssimo

Para nunca esquecer o motivo

Nem as voltas que o mundo motiva

 

Pois, quanto mais longe do fogo, menos a ciência.

A distância arrefece-nos a consciência

Dispensa-nos de qualquer incumbência

 

As chamas são visíveis ao longe

Mas em nada nos afecta!

Fugimos de qualquer relação directa

Com quem ela infecta

 

Por vezes gritamos e soltamos choros

Mas sempre bem distantes

De modo a ficarmos obstantes

Às influências constantes  

 

Influencias de um berço que consideramos impuro

Onde ainda se vive no passado e se desconhece o futuro

Um berço cheio de ladainhas que insistimos em classificar de obscuros

 

Assim sendo

É preferível viver atrás do muro

Onde para muitos, significa viver por detrás do mais puro!

Tudo para além do muro se torna imundo

Mesmo quando esse tudo já foi o nosso mundo

 

Limpa-se da memória qualquer lembrança!

Mata-se qualquer esperança

De um dia aquele mundo impuro

Sorrir no futuro

 

Nada nem ninguém consegue derrubar

Aquele muro imenso e interior que se cria

Ninguém, além do próprio

Como forma de agradecimento ao seio impróprio

 

Porém, desengane-se aquele que pensar

Que o Atlântico lava a alma

Quando atravessado com o coração cheio pesar

 

 


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