ADEUS, PROF. VITAL INCOPTÉ

 

 

 

 Selo Djaló *

djaloselo@hotmail.com

28.08.2009   

 

Selo DjalóConheci Vital P. Incopté em Lisboa; mais precisamente, no Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas (ISCSP) da Universidade Técnica de Lisboa (UTL), na década de noventa do século XX. Eu a cursar Comunicação Social; ele, Gestão e Administração Pública, juntamente com o meu sobrinho Bubbas, Serifo (mais tarde colega de casa, no Cacém) e companhia. O seu carácter dócil, a sua simplicidade e inteligência aproximaram-nos desde logo.

Os anos foram passando, e ele cada vez mais embrenhado no maravilhoso mundo dos livros. A bem dizer, enamorado estava dos livros. E que enamoramento!

 Terminada a licenciatura, e depois de muitos cursos feitos e trabalhos realizados em Lisboa, bazou para a Guiné na esperança de ajudar a endireitá-la.

Assim que o vi – eu já com alguns anos de casa –, fiquei, confesso, com a estranha sensação de que jamais contara com o seu regresso à pátria. Vá-se lá saber porquê.

A Universidade Amílcar Cabral (UAC) juntou-nos de novo. A ADUAC (Associação dos Docentes da Universidade Amílcar Cabral) fez o resto, estreitando ainda mais as nossas relações e acabando por consolidar a boa ideia que sempre fizera dele. Não se poupava a esforços. Era vê-lo a participar, vezes sem conta, nos trabalhos da Associação.

Com a suspensão absurda da UAC, em nome dos caprichos da Universidade Lusófona, decidiu ficar de fora, na esteira de muitos docentes, da fraude que é a actual Universidade Lusófona da Guiné (ULG), revelando, assim, pela enésima vez, agudeza de espírito, probidade, respeito ao pai fundador, Amílcar Cabral, e guinéfilia.

O documento “Dos Problemas À Solução”, destinado a reivindicar o regresso ainda este ano da UAC, apresentado à Assembleia da República, através da sua Comissão Especializada para a Educação, e ao Ministério da Educação, nasceu do seu rico cérebro.

O Espaço Lenox era uma das suas poucas “casas”. Era vê-lo todas as tardes, munido do seu computador portátil e livros, a dirigir-se para aí, com um sorriso à flor dos lábios, a sua imagem de marca. Era também o nosso ponto de encontro para dois dedos de conversa sobre livros, cursos, política e, claro está, a Universidade Amílcar Cabral, a menina dos nossos olhos. Desses encontros, fiquei a saber que estava prestes a concluir o seu segundo mestrado e a preparar-se para o doutoramento na Inglaterra.

No Lenox, onde ainda se comprazia a pesquisar na net, a ler grandes obras de escritores consagrados, a escrever, emprestou-me: “Manual de Ciência Política e Sistemas Políticos e Constitucionais”, de Manuel Proença de Carvalho; “A Liderança Primacial” (?), de Daniel Goleman (autor da obra-prima, Inteligência Emocional) – livros cheios de anotações e sublinhados a lápis do estudioso dono – e “O Essencial de P. Drucker”, livro comprado de fresco numa das suas últimas viagens a Lisboa e que ainda se encontra comigo (não chegou a devorá-lo, como é timbre dos leitores inveterados. Espero devolvê-lo à família). Ficou de me emprestar “Ordem Para Matar; Dos Fuzilamentos Ao Caso Das Bombas Da Embaixada Da Guiné”, de Queba Sambu.

 

O Prof. Vital despediu-se, como se de um cão vadio se tratasse, no Lenox, do mundo dos vivos. E se tivesse luz eléctrica em casa, essa tragédia (mais uma, como muito bem faz notar Flaviano Mindela dos Santos no seu excelente artigo no www. africanidade.com) teria acontecido? Que seja feita a justiça possível! Paz à sua alma!

 

* Pós-graduado em Relações Internacionais pelo Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas (ISCSP) da Universidade Técnica de Lisboa (UTL); co-produtor e co-apresentador do programa o “Prazer da Leitura” na Sol Mansi.


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