A CENSURA NA COMUNICAÇÃO SOCIAL PORTUGUESA

 

 

 

A COMUNICAÇÃO SOCIAL PORTUGUESA NÃO TEM RESPEITO NEM CONSIDERAÇÃO PELO TRABALHO DE COMUNICAÇÃO ORAL OU ESCRITA, QUE CIDADÃOS LUSÓFONOS, NÃO ORIUNDOS DE PORTUGAL, DESENVOLVEM EM TERRAS PORTUGUESAS.

 

Fernando Casimiro (Didinho)

didinho@sapo.pt

04.03.2009

A Comunicação Social portuguesa, que reclama direitos entre os quais a liberdade de expressão e a valorização da sua classe, tem fingido ao longo de anos, não reconhecer que em Portugal existem cidadãos de países lusófonos como Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, São Tomé e Príncipe e Timor, que se dedicam individual ou colectivamente, a trabalhos de grande nível para a divulgação dos seus países.

A Comunicação Social portuguesa por diversas vezes tem mostrado apetite para usurpar a legitimidade de um suposto melhor conhecimento da realidade dos restantes países lusófonos, ao ponto de dispensar, na maior parte das vezes, a colaboração de pessoas capazes e com conhecimento de causa, para falarem dos seus países, que certamente conhecem melhor do que os jornalistas portugueses.

Fazer a cobertura de uma reportagem é uma coisa. Emitir opinião resumida é outra e, estar à vontade para falar de assuntos que podem requerer mais e melhores esclarecimentos, é outra!

Falando concretamente da Guiné-Bissau, tenho assistido a debates, lido artigos de supostos especialistas que, na maioria das vezes, só desinformam quem precisa de ser informado e, por assim dizer, esclarecido.

Porque gostam os jornalistas e analistas portugueses de escrever ou falar em nome dos outros, como se desses países, não houvesse ninguém, em Portugal, capaz de dar a conhecer melhor o que por lá se passa?

Continua-se a desconsiderar as capacidades dos que não são oriundos do espaço físico que é Portugal, mesmo sendo lusófonos?

Continua-se a apregoar um jornalismo livre, isento e respeitador dos princípios da liberdade de expressão, quando o que se vê é uma censura clara aos que não sendo oriundos do espaço físico que é Portugal, são marginalizados, sem espaço de voz ou escrita na Comunicação Social portuguesa, porquanto tidos como incapazes.

Por vezes tenta-se iludir as comunidades dos restantes países lusófonos residentes em Portugal, com participações em programas de rádio, sendo que essas participações são compensadas financeiramente com as ligações telefónicas pagas pelos próprios ouvintes, que não dão conta de estarem a pagar para falar a essa estação radiofónica! Isto é uma prática comum na Rádio Difusão portuguesa, através do canal RDP-ÁFRICA.

Da minha experiência pessoal desde que criei o Projecto Guiné-Bissau: CONTRIBUTO, sei que a maioria dos órgãos de Comunicação Social e muitos dos seus jornalistas, acedem ao site www.didinho.org para se informarem sobre a Guiné-Bissau, mas é essa mesma Comunicação Social que censura o Projecto Guiné-Bissau: CONTRIBUTO e finge não saber da sua existência no dia-a-dia.

Uma vez, a primeira que fui sondado para uma entrevista à RDP-ÁFRICA, quem me sondou disse-me logo: Olha, vamos entrevistar-te, mas não podes falar de política e ainda assim, vamos aguardar pela aprovação da entrevista por parte do Director.

 Tempos depois, lá me deram a informação de que não iria haver entrevista.

Decorrido mais um tempo e já com uma programação dedicada a um país africano lusófono por dia, fui sondado para uma entrevista no "Djumbai" orientado pelo jornalista guineense Waldir Araújo.

Pelos programas anteriormente realizados, todos os convidados a residir ou de passagem por Portugal, foram entrevistados em directo, nas instalações da Rádio e Televisão de Portugal.

Eu fui entrevistado por um repórter, num café na baixa lisboeta...

Foi-me pedido para não falar de política e, como o tema da entrevista era sobre o Projecto CONTRIBUTO, tudo o que disse para explicar as causas e as motivações que me levaram a criar o Projecto, foi cortado durante a reprodução da entrevista, sem que me tivesse sido dado a conhecer!

Conclusão:

Não fui convidado à entrevista em directo, para que não pudesse dizer abertamente o que penso e assim, depois de terem gravado a conversa, cortaram o que para eles era incómodo!

Que país é Portugal, que em pleno século XXI censura vozes que se dedicam simplesmente ao exercício da cidadania?

Fui igualmente convidado para o programa televisivo "Kandando" que passava na RTP2, mas como dias depois escrevi um artigo sobre Angola " O PECADO DA CUMPLICIDADE", o convite ficou sem efeito...

Também Flaviano Mindela, nosso colaborador, foi entrevistado pela RTP2 e na sua entrevista, previamente gravada, falou do Projecto Guiné-Bissau: CONTRIBUTO, dando-me a boa nova para ver na TV.

Surpresa? Não! Tudo o que falou sobre o Projecto CONTRIBUTO foi cortado!

Por 2 vezes enviei artigos de contra-resposta sendo um para o jornal Público e outro para o Diário de Notícias, sobre artigos de opinião relacionados com a Guiné-Bissau e escritos respectivamente pelos Professores Doutores portugueses Azeredo Lopes e Vital Moreira. Não fui considerado e os meus artigos não foram publicados, mesmo alegando direito de resposta aos assuntos abordados e que diziam respeito à minha terra!

Pela Comunicação Social escrita portuguesa destaco apenas 2 referências de participação em abordagens sobre a Guiné-Bissau e, digo-o sem problemas, que só foi possível porque num caso, foi o meu saudoso amigo Armando Rafael, enquanto esteve no Diário de Notícias, quem se interessou pelo tema da entrevista e achou que devia entrevistar-me por saber que eu estava à altura da matéria da entrevista e, mais recentemente, o Jornal de Notícias, por indicação do meu amigo e companheiro de luta Orlando Castro, sobre o alegado ataque de 23 de Novembro passado à residência de Nino Vieira.

No entanto, já fui entrevistado por diversas rádios fora de Portugal, tais como a Rádio Nacional de Cabo Verde, a Rádio France Internacionale, a Rádio Vaticano, Rádio KOA da Comunidade cabo-verdiana de Amesterdão e a Rádio Bombolom da Guiné-Bissau, todas elas, acompanhantes do Projecto Guiné-Bissau: CONTRIBUTO.

Porque será que em vários países europeus há espaços de rádio  para as comunidades de imigrantes, suportados pelos países de acolhimento e em Portugal, a RDP-ÁFRICA, por exemplo, que carece de conteúdos de interesse acerca dos nossos países, não cria emissões livres de rádio (1 ou 2 horas 3 ou mais vezes por semana) produzidas pelas diferentes comunidades lusófonos existentes em Portugal?

Falta de criatividade ou desconsideração?

Na segunda-feira dia 02 de Março, recebi uma mensagem da estação de televisão portuguesa TVI sondando a minha disponibilidade para um relato telefónico sobre a situação na Guiné-Bissau...

Não respondi nesse dia, até porque estava a trabalhar, mas será que para a Comunicação Social portuguesa só servimos para "tapar buracos" em alturas de crise e quando não há mais ninguém para falar?

Como é que se quer conhecer melhor os nossos países, quando se censura os que dele falam e escrevem abertamente, diariamente e com conhecimento de causa?

É por estas e por outras que quando algo acontece nos nossos países, a Comunicação Social portuguesa enquanto não coloca pessoas no terreno, limita-se a citar fontes de agências de informação de outros países, o que na verdade, é lamentável, porquanto a lusofonia sermos todos nós!

Ontem, 03.03.2009, concedi uma entrevista a um jornal belga De Morgen sobre a situação na Guiné-Bissau, publicada na sua edição de hoje. Falei com o jornalista belga Lode Delputte que me surpreendeu positivamente pelo à vontade com que se expressa em português, mas também, pelo respeito e consideração manifestados durante a entrevista, ele que me tinha contactado na véspera, por e-mail e conhecedor do site www.didinho.org.

Uns que nada têm a ver com a lusofonia demonstram saber dar valor à especificidade de assuntos a tratar nos seus próprios meios, o que só dignifica e prestigia as suas instituições, pois nada melhor do que pedir a quem sabe sobre determinado assunto, que fale ou escreva sobre esse assunto!

Em Portugal, infelizmente, ainda há quem queira continuar a escrever a História de outros países, puxando por uma qualquer teoria de conhecimento, que supostamente o capacita para falar do que muita das vezes não sabe, mas que julga  não se dar conta, por se estar num mundo de ignorantes armados em "chicos- espertos"!

Afinal, do que tem medo, ou de quem tem medo a Comunicação Social portuguesa?

Ou estamos apenas perante complexos de superioridade?

Oportunamente publicarei a versão traduzida da entrevista concedida ao jornal belga De Morgen.

Vamos continuar a trabalhar!

DIDINHO EM ENTREVISTA AO JORNAL DE MORGEN

 

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