ACENDAMOS VELAS PARA ILUMINAR A FUTURA ESCURIDÃO DO NOSSO PAÍS 

 

 

 

Por: Adulai Indjai

 

tokatchur02@hotmail.com

 

19.01.2009

 

Adulai Indjai, jornalista guineense

 

“A esperança é a base desta nação. Crença e o nosso destino não são escritos por nós, mas por todos nós, por todos os homens e todas as mulheres que não estão contentes com o nosso mundo tal como ele é neste momento, mas que têm a coragem de reconstruir o mundo como ele deve e deveria ser."

- Barack Obama, presidente eleito dos EUA.

 

A Guiné-Bissau, o país de cabeça confusa, composta de diversidade étnica e cultural, amiga da instabilidade política, hóspede do mundo do Narcotráfico, que se esqueceu dos sons do gumbé que fazia esconder a sua a tristeza profunda nos finais de semana na nossa praça.

 

A Guiné-Bissau vive hoje mergulhada na incerteza, colocando a esperança na vitória do PAIGC, vitória que é a expressão da união do povo perante os valores mais sagrados da sua própria existência. Foi uma decisão certa no momento preciso e em que o país se encontra em grandes dificuldades. Ficou provado que o único poder válido é a voz do povo, que através das urnas julgou os maus servidores e deu novas oportunidades a outros actores.

“Yes We Can!” (Sim nós podemos) disse Barack Obama. Estas palavras deviam ser adoptadas por todos nós como slogan para fazermos face aos nossos próximos desafios.

 

A vitória eleitoral de Carlos Gomes Júnior e do PAIGC é comparada pelos citadinos de Bissau com a de Barack Obama e o Partido Democrático nos EUA. Concordo com esta comparação, sem esquecer que fazemos parte do mesmo planeta, «Terra». Usufruímos todos do sistema político “democracia” mas não possuímos o mesmo estilo, a mesma forma de aplicar a democracia. A democracia americana, já amadurecida, uma das mais velhas do mundo, já está consolidada.

Nos EUA há mais de cem milhões de eleitores, dois candidatos presidenciais finais e apenas dois partidos principais. A nossa democracia é ainda uma “menina na escola” que está a aprender as técnicas de fazer política. A Guiné-Bissau tem menos de quinhentos mil eleitores, mais de 25 partidos e para as presidenciais de 2005, por exemplo, inscreveram-se 21 candidatos, tendo sido aprovados 14, todos sedentos do poder, com programas eleitorais irrealistas.  

 

Continuando na esfera da comparação (das duas eleições me seja desculpada a ousadia), os dois povos têm um ponto em comum: o Patriotismo. Para um Americano a crise económica constitui uma ameaça enorme não somente aos seus bolsos ou à sua conta bancária, mas também, constitui uma ameaça à soberania e ao poder da América como a primeira potência mundial. O povo reuniu-se à volta de um projecto político dirigido pelo carismático Barack Obama, esquecendo as diferenças baseadas na cor da pele, escolhendo-o como homem ideal para fazer face e até para resolver o grande problema mundial.

 

O povo da Guiné-Bissau voltou a confiar o poder ao Senhor Carlos Gomes Júnior e ao seu partido, PAIGC, pelas mesmas razões, mas a crónica crise guineense afecta todos os sectores da vida social e política do país. Não podemos acentuar o ponto maior na crise económica, desta já estamos habituados desde 14 de Novembro de 1980, com o triste golpe de Estado do General Vieira que afundou, ao longo de todos estes anos, os grandes projectos económicos iniciados no regime deposto.

 

O país navega hoje num oceano de crises em que se destaca a instabilidade política e institucional nascida em 1998 com a guerra inútil dos generais do Poilão de Brá, que até hoje, continua a influenciar negativamente todos os projectos de desenvolvimento.

A diferença entre Carlos Gomes Jr. e Barack Obama reside na coragem e na vontade de servir o povo. O

Presidente americano eleito demitiu toda a equipa administrativa do seu antecessor, construindo um Governo para bem servir o povo americano. “Depois das eleições temos que esquecer as cores dos partidos: democrático e republicano, para dar lugar à competência e ao saber fazer dos intelectuais respeitados neste país” - Barack Obama.

Na Guiné-Bissau, o líder do partido eleito em sintonia com o seu partido, fizeram tudo ao contrário desse espírito.

No entanto, devemos ter este espírito: Sim, nós podemos! 

O povo acreditou e o povo confiou-lhes o destino da Pátria de Cabral nos próximos quatro anos. O povo elegeu o PAIGC, mas afinal não elegeu o PAIGC de Cabral, o que estamos a ver é um PAIGC que mais parece um clube de amigos do que um representante legitimado nas urnas.

Os “camaradas” do PAIGC, os novos governantes, não devem esquecer que a crise económica mundial numa determinada altura era virtual mas hoje começamos a sentir os seus vírus atacarem a economia real. Nesta ordem, é imperativo não esquecer que em tempo de fome ninguém dá esmola.

A Guiné-Bissau com toda a sua riqueza foi transformada em mendiga (numa altura em que podia estar a oferecer muita coisa aos seus filhos e não só, incluindo saúde e bem-estar), vive na miséria total e padecendo de uma dependência crónica da ajuda externa.

 

Vários países de África conheceram algum crescimento macro-económico, mas a Guiné-Bissau conheceu um outro modelo de crescimento, a Instabilidade política e militar, sem falar do progressivo aumento do narcotráfico.

 

Hoje, em vez de um governo reduzido, com elementos capazes de fazer face aos gritantes problemas actuais, temos um governo com figuras de reconhecida incompetência e de honestidade duvidosa. Um governo de quantidade e não de qualidade, um governo de 21 Ministérios e 11 secretarias de estado num pequeno país que carece de tudo e mais alguma coisa!

O PAIGC não estará a trair o povo guineense?

 

Do PAIGC o povo não espera sentimento de pena, nem de mãos cheias de esmolas ou de ideias conflituosas dos seus dirigentes para sobreviver face aos enormes problemas de que sofre, mas de acções concretas para que o seu dia-a-dia seja melhorado. Essas acções passam por reformas realistas e concretas sobretudo a nível da educação e saúde, como pilares do desenvolvimento. O novo governo estará à altura de resolvê-los?

 

O sonho de cada “fidju di tera” pela nossa querida Guiné-Bissau é que haja justiça social, uma economia justa, igualdade e respeito pelos direitos humanos e prosperidade num ambiente de paz e tranquilidade.

Por isso, acendamos velas, formulemos os melhores votos para que os próximos quatro anos sejam menos duros para o nosso povo, e que este governo não se sirva do povo, mas sim, que sirva o povo minimamente.

 

O Sr. Carlos Gomes Júnior, enquanto político experiente, sabe quais são os deveres fundamentais do detentor do poder executivo. É trabalhando pelo bem da sociedade que se pode salvaguardar os direitos fundamentais de cada cidadão. É justamente por causa dessas premissas que os direitos do poder não podem ser entendidos noutra base que não seja a do respeito pelos direitos do homem, que passa por dar uma vida condigna aos que estão sob a alçada do poder. O bem comum que a autoridade do Estado distribui, só se realiza plenamente quando todos os cidadãos acedem e estão seguros dos seus direitos. Sem isso, o que acontece é o desmoronar da sociedade.

O povo guineense não pode voltar a sofrer de novo.

 

Por isso, desde já, acendamos velas pela paz desejada por todos e pela esperança, que anima, faz viver e encoraja o Povo, pedindo a Deus que nos ajude a sair desse sistema democrático falhado e infestado de políticos mesquinhos.

 


PROJECTO GUINÉ-BISSAU: CONTRIBUTO - LOGOTIPO

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