À ATENÇÃO DO SENHOR PRESIDENTE MALAM BACAI SANHÁ

 

Fernando Casimiro (Didinho)

didinho@sapo.pt

01.10.2009

Fernando Casimiro (Didinho)Exa. Senhor Presidente da República da Guiné-Bissau, Malam Bacai Sanhá.

O povo guineense votou maioritariamente em si, por isso, respeito essa escolha soberana, apesar de, para mim, o senhor não ser a pessoa consensual, capaz de projectar um novo rumo para a Guiné-Bissau.

O senhor Presidente, para mim, faz parte do que se diz ser o "Sistema" e, por isso, também faz parte da extensa lista de responsáveis pelo descalabro da Guiné-Bissau!

Não é correcto responsabilizar todos os guineenses pelo estado em que se encontra o país, pois não foram todos os guineenses que se dedicaram aos assassinatos; não foram todos os guineenses que se dedicaram à delapidação do tesouro público; não estão todos os guineenses envolvidos no narcotráfico, etc. etc.

Nem todos os guineenses foram ou são indiferentes aos problemas do país!

Sempre houve  (continua e continuará a haver) guineenses que se afirmaram em defesa dos reais interesses do país e dos cidadãos e dessa memorável lista, desculpe-me, senhor Presidente Malam Bacai Sanhá, o seu nome não merece presença, certamente.

Dos valorosos filhos da Mãe Guiné que lutaram contra estes flagelos, muitos foram intimidados, perseguidos e abatidos. Foi assim desde a instauração da República, ou do Estado da Guiné-Bissau.

Nos dias de hoje, outros continuam a ser perseguidos, ameaçados de morte e abatidos onde quer que se encontrem...

O senhor Presidente Malam Bacai Sanhá conhece e bem o percurso da luta de libertação nacional; conhece e bem todo o percurso do pós-independência. Um combatente jamais se "reforma". O senhor Presidente Malam Bacai Sanhá "reformou-se" ao longo destes 36 anos de independência, pois esqueceu-se dos seus irmãos guineenses que eram perseguidos, torturados e assassinados; esqueceu-se da miséria por que tem passado todo o nosso povo; esqueceu-se do compromisso para com a Guiné-Bissau.

O que é que fez alguma vez para denunciar o "Sistema"?

Nada, porque fazia e faz parte dele!

Tem dito à boca cheia que vai fazer tudo para que se esclareçam os assassinatos do ex- Presidente João Bernardo Vieira e do ex- Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas Tagme Na Waie.

Hoje, disponibilizamos no nosso site www.didinho.org um artigo do nosso colaborador José Gama, cidadão angolano, que aponta várias pistas em relação ao assassinato do ex- Presidente João Bernardo Vieira.

Confesso que do que li neste artigo, há muito que ouvi de compatriotas guineenses residentes em Bissau e muito bem posicionados, semelhantes relatos. O senhor Presidente da República Malam Bacai Sanhá não teria ouvido o mesmo?!

O senhor Presidente Malam Bacai Sanhá não sabe realmente como e quem participou na barbárie que vitimou Nino Vieira?!

Se não sabe, há muito que devia falar directamente com a senhora Isabel Romano Vieira, viúva de Nino Vieira, que assistiu a tudo, não tendo dificuldades em apontar os nomes dos responsáveis pelo acto, pois o senhor Presidente Malam Bacai Sanhá até considerava o defunto Presidente um grande amigo e irmão de luta...

O senhor Presidente Malam Bacai Sanhá quer promover a reconciliação nacional sugerindo aos guineenses esquecer o passado, um passado que também lhe é incómodo em certa medida, pois que pactuou sempre com os desmandos, inclusive nos dias de hoje, pois se fosse na verdade um combatente pela liberdade e quiçá, pela Paz e Estabilidade, não teria reconduzido as chefias militares, porquanto estarem directamente envolvidas nos acontecimentos de 1 e 2 de Março que vitimaram Tagme Na Waie e Nino Vieira, bem como na "inventona" de 5 de Junho que culminou com os assassinatos de Hélder Proença e Baciro Dabó, assim como noutros actos de natureza criminosa.

Os guineenses conhecem as verdades sobre as matanças ocorridas em Março e Junho, no entanto, preferem "embarcar" no barco da indiferença e do silêncio, pois o timoneiro assim "ordena", só que, a Guiné-Bissau de hoje, não é só dos guineenses. A Guiné-Bissau de hoje é dos guineenses e de todos quantos a amam, independentemente das suas proveniências, o que equivale dizer que, haverá sempre vozes em defesa da Pátria de Amilcar Cabral!

Sei que o  Presidente Malam Bacai Sanhá nada fará para o apuramento da verdade dos factos relativos às matanças de Março e Junho, embora vá prometendo tudo fazer nesse sentido, tal como aconselhado por quem realmente detém o poder na Guiné-Bissau, que não ele...

Garantidamente, o senhor Presidente Malam Bacai Sanhá continuará a fazer parte do "Sistema", tal como no passado, pois só assim poderá continuar a ser mais guineense do que o comum dos guineenses...

Obrigado José Gama!

 

Os vídeos do assassinato  de  “Nino” Vieira

 

 

 José Gama *

Setembro de 2009

José Gama

O General Nino Vieira tinha o hábito de manter a sua casa vigiada por câmaras de segurança. No início da década de noventa, um especialista português, Jorge Quadros, instalou, para si, no palácio presidencial, um apetrechado sistema  interno de vigilância televisiva. A sua casa, na rua de Angola, onde veio a ser assassinado também tinha e o seu antigo assessor de informação, Baciro Dabó, era um dos poucos habilitados ao assunto. Logo após o seu  assassinato, “BassDabó, como também era conhecido,  foi à casa do Presidente, pegou os vídeos e fez chegar copia dos mesmos a  um sociólogo guineense  que vive temporariamente no Senegal.

Baciro Dabó  que era no governo, o  Ministro da administração territorial,  estava condenado a ter o mesmo destino de Nino Vieira, salvo se  mantivesse  calado. Ameaçou denunciar que as primeiras balas que perfuraram o corpo do falecido presidente saíram da arma do ex comandante militar da zona norte, Coronel  António Indjai,  hoje feito Vice-Chefe do Estado Maior das Forças Armadas da Guiné-Bissau.

Dez dias antes de Baciro Dabó ter sido assassinado, o comandante Zamora Induta retirou-lhe a segurança protocolar na sequência da sua saída temporária do governo para se dedicar à campanha  presidencial de que era candidato independente. Quando foi morto, os militares  vasculharam a sua casa sem que tivessem encontrado o pretendido. O “mais velho”, Samba Djaló que em  meios de “intelligence”,  se diz ser o oficial que disparou contra Baciro Dabó, foi feito por Zamora  Induta,  a figura que agora despacha os documentos dos Serviços de Informação do Estado (SIE). O Director-geral,  Coronel João Correia,  tinha sido detido/suspenso por ter recusado assinar um comunicado que denunciava  uma tentativa de Golpe de Estado em Bissau.

 A situação na Guiné-Bissau, pelo menos no circulo restrito, é assolada com o dilema do vídeo que mostra como Nino foi morto. Divulgar, implica  levar certas figuras à barra da justiça e que, em reação, podem retaliar. O novo Presidente, Malam Bacai Sanhá está apostado na reconciliação nacional. Confirmou o capitão Zamora Induta como  Chefe do Estado Maior-General das Forças Armadas e igualmente, António Indjai como seu Vice.  Chamou recentemente o Coronel Antero Correia para regressar ao SIE (Nunca foi exonerado do cargo de  DG). Este, por sua vez, recusa-se a trabalhar com o DG adjunto,  Samba Djaló. O Coronel Antero é um dos quadros letrados  na segurança, tem formação em direito. Do grupo dos detidos na sequência das mortes de Baciro e Hélder Proença, foi o único que não foi torturado pelas autoridades. Estava detido no Quartel da Marinha. Era próximo de Nino Vieira.  Já o seu adjunto,  o coronel Samba Djaló serviu a Junta militar de Ansumane Mané como responsável dos serviços de  segurança. Hoje, para além de ser o DG adjunto do SIE também  tutela os serviços da contra- inteligência militar.

Recentemente, houve pretensões de se postar no “Youtube” as imagens em referência. Os familiares do falecido Presidente, segundo se diz, não fazem gosto da  partilha do mesmo. Há relatos de que antes de torturarem Nino Vieira houve tentativa de abuso contra a primeira dama, Isabel Vieira, o que impulsionou o esposo a sair do seu esconderijo e render-se aos assassinos. Momentos estes antecedidos de um telefonema feito ao embaixador angolano, Brito Sozinho alertando que estava sem hipótese de fugir devido ao cerco que se observava na sua residência.

Sobre o episódio dos vídeos, também se dá razão aos que dizem que a história repete-se. No início da década de noventa, Nino Vieira desentendeu-se com o major Robalo de Pina, o então  chefe da casa militar da Presidência da República. Robalo apareceu morto no Gabinete presidencial. (Admitia-se que tinha sido baleado pelo próprio Nino).  Na altura, o então Secretário da propaganda do PAIGC, Hélder Proença, a pedido de Nino, contactou,  o especialista de imagens, Jorge Quadros para fazer a renovação do sistema de vigilância. Ao desmontar, este teria guardado duas cassetes dentre as quais a gravação do assassinato do major Robalo. Usou-as para chantagear em reação a falhas de pagamento dos seus serviços pela presidência. Em Agosto de 1993, Hélder Proença pediu-lhe as gravações em sua posse. Não foi a tempo de entregá-las. Quadros apareceu morto.

De entre todos os implicados na morte de Jorge Quadros, (Hélder Proença, capitão    «Bobo», da Contra-Inteligência Militar e outros três), estava, o coronel João Monteiro como  principal acusado, ao tempo, Chefe da segurança do regime. Tal como na cumplicidade da eliminação do especialista português, o coronel João Monteiro também  testemunhou a morte de Nino Vieira com quem esteve reunido quando a casa do presidente foi invadida pelos militares (comandados pelo coronel António Indjai e o major Tcham Na Man). Monteiro saiu ferido e mandou-se para o Senegal onde, de momento, vive.

 

* José Gama é  representante na África do Sul do Clube dos angolanos no exterior www.club-k.net

- Formado em Geofísica pela Tuks University em Pretória, com distinção em Física Moderna
- É  finalista do curso de Relações Internacionais pela University of South Africa.
- É articulista do Jornal Angolense e tem comentado para SABC Internacional, televisão sul africana  sobre política externa

 

 

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