A ABSTENÇÃO,  O QUE SIGNIFICA?!

(para um povo já sem lágrima)

 

Por: Bacar Queta *

quetaqueta2@yahoo.com.br

São Paulo, 07 de Julho de 2009

 

Nha mantenha!

O histórico de qualquer povo tem a sua peculiaridade que simplesmente é caracterizada pelos seus valores culturais, éticos e morais, principalmente dos seus dirigentes, da qual, serve, de maneira abstrata, de suporte principal para uma andança legal ao desenvolvimento, isto é, para construir a felicidade dum povo. Mas seria interessante dizer que a construção do desenvolvimento e da felicidade dum povo depende dos seus valores culturais, éticos e morais, mais ainda, da responsabilização assumida dos seus dirigentes.

A brilhante literatura da democracia que apresenta como foco principal a garantia da felicidade do homem, floresce num ambiente onde os valores supracitados são adotados principalmente por dirigentes. E sem estes pressupostos, haverá desigualdade social e econômica que permitem todo o tipo de infelicidade.

Triste é que o povo guineense tem passado anos a viver como estrangeiro na sua terra, sendo até, que o colonialismo chegou a caracterizar o status de guineense pelo artigo 2.º do Decreto n.º 1473, de 6 de Dezembro de 1922, o qual pregava que, «para efeitos do presente Estatuto são considerados indígenas os indivíduos de raça negra ou dela descendentes que, pela sua ilustração e costumes, se distinguiam do comum daquela raça; e não indígenas, os indivíduos de qualquer raça que não estejam nestas condições». Sem lembrar de outras humilhações desumanas.

Tudo isso e mais, com a brilhante inteligência do mais verdadeiro nacionalista guineense, Pai Grande, Amilcar Cabral, o País venceu orgulhosamente as ações opressoras dos colonialistas portugueses e foi conseqüentemente perspectivado um desenvolvimento do qual o povo viveria na felicidade e com um status de cidadão digno com liberdade de expressar e manifestar todo o seu sentimento no espaço da sua legitimidade. E assim estaria com honra no palco universal no qual seria um modelo referenciado para outros povos.

Cobiçosamente, mataram o Pai Grande; arrogantemente, negaram através da intriga e golpe sujo a unidade entre a Guiné e Cabo-Verde.  

Nos anos 90, com o início da transição democrática que fez com que desde o ano 91 o PAIGC tenha deixado de ser o partido único, realizando-se em 94 as primeiras eleições democráticas, os resultados têm sido desencorajadores para o povo que nasceu com dor no corpo e lagrimando.

No passo dia 28 de junho, o povo, através de 40% de abstenção julgou a vossa falta de honestidade, de cumprimento e de responsabilidade para com o desenvolvimento do País. Sujando, nas grandes manchetes, o país e a dignidade do povo que sempre espera de vocês um comportamento democrático no verdadeiro sentido de palavra.

Vamos sempre ter esperança, acreditando no arrependimento que esperamos ser mostrado através de ações concretas. Porque, com tudo isso que aconteceu nós nos orgulhamos de ser guineenses, a Guiné, para nós, é o único espaço onde conseguimos respeitar e repousar com felicidade. E isso alimenta a nossa esperança de vê-la  um dia desenvolvida.

Aos escolhidos para o dia 26 de Julho, esperamos ver uma mudança inédita  do  vencedor, através de ações para o desenvolvimento do País, porque todos vocês fazem parte da geração dos males responsáveis pelos sacrifícios dolorosos do povo.

Gostaria de findar este meu artigo com o poema de Fernando Correia Pina, poeta português.

 

SALDO NEGATIVO

 

Dói muito mais arrancar um cabelo de um europeu

que amputar uma perna, a frio, de um africano.

Passa mais fome um Francês com três refeições por dia

que um sudanês com um rato por semana.

 

É muito mais doente um alemão com gripe

que um indiano com lepra.

Sofre muito mais uma americana com caspa

que uma iraquiana sem leite para os filhos.

 

É mais perverso cancelar o cartão de credito de um belga

que roubar o pão da boca de um tailandês.

É muito mais grave jogar um papel ao chão na Suíça

que queimar uma floresta inteira do Brasil.

 

É muito mais intolerante o xador de uma muçulmana

que o drama de mil desemprego na Espanha.

É mais obscena a falta de papel higiênico num lar sueco

que a de água potável  em dez aldeia do Sudão.

 

É mais inconcebível a escassez de gasolina na Holanda

que a de insulina nas Honduras.

É mais revoltante um português sem celular

que um moçambicano sem livro para estudar.

 

É mais triste uma laranjeira seca num kibutz hebreu

que a demolição de um lar na Palestina.

 

Traumatiza mais a falta de uma Barbie de uma menina inglesa

que a visão do assassínio dos pais de um menino ugandês

 

E isto não são versos; isto são débitos

numa conta sem provisão do Ocidente.

 

Estamos vivos!

Bacar Queta

* Guineense, Presidente do FACOLSIDA,  Intercâmbista do Programa de Direitos Humanos da Conectas em São Paulo, Brasil


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