|

|

|

paulo cesa...

|

Caixa de Entrada

Hola Inácio. Sei que a tua situaçao em Portugal nao é a mais digna, mas também sei que a situaçao em que se encontra a Guiné Bissau nao permite que um jovem como tu, aproximadamente 33 anos, possa ser dono e controlador de todas as suas capacidades, e de desenvolver no sentido certo, acompanhado dos valores éticos e morais que qualquer cidadao do mundo deveria ter.

Sendo eu uma pessoa com bastantes contactos, quer na Universidade onde estudas quer na igreja Portuguesa conheço muito bem a tua situaçao, e como vez nunca te expus quanto a essa intimidade.

Sei também dos teus actos desesperados, nas aulas, em que exiges o reconhecimento de refugiado político que o governo português te tem negado.

Caro Inácio, lanço-te um aqui um convite para que nos encontremos em lisboa no próximo fim de semana, e convido-te para jantar, na presensa de quem tu quizeras se nao estiveres à vontade para te encontrares a sós comigo. Creio que se conhecermos os motivos um do outro, tudo pode ficar claro.

Caro amigo, deixo nas tuas maos o rasgo de lucidez necessário para avaliar a situaçao que te apresento.

Cumprimentos

 Paulo César.

O DRAMA DO ESPAÇO PÚBLICO

Meu caro Paulo César,

À partida, teria gostado de responder este teu e-mail através de uma análise corrida, mas, sinto-me bastante limitado para o fazer. O meu mundo é outro. Estou habituado a ele e não me apraz sair dele. Quem vive da cultura, só pode responder com a cultura e na cultura. É óbvio que não é um desafio que lhe faço, pois até agora, todos os seus actos têm revelado que possui tudo menos a cultura, mesmo quando se trata de uma palavra vagamente utilizada.

Dito isto, só me resta dizer-lhe que não vivo de boleias nem de favores de pessoas importantes e muito menos de pessoas como o senhor. O meu lema é trabalhar e trabalhar cada vez mais. Sabe porquê? Porque não acredito que o “deus” da sabedoria e do bem-estar seja uma propriedade exclusiva dos que se dizem fidalgos. Os meus trabalhos são provas disso e os meus cursos (formação) também.

Julgo que é inútil dizer que o Paulo César foi infeliz na sua invenção e na tentativa de conquistar o espaço público, pois se há coisa que o tempo e a honra não perdoam, esta coisa é justamente a futilidade. O espaço público é alérgico às pessoas sem retórica, sem capacidade de análise e sobretudo sem vocabulários. Quando três em cada quatro palavras utilizadas são insultuosas, não são os leitores que nos censuram, mas sim o próprio espaço público.

Agradeço e dispenso a sua oferta/convite, porque não estou habituado à mediocridade.

Inácio Valentim