20 de Janeiro para a História

 

 

 

Por: Ismael Silla *

llcoolisma@hotmail.com

20.01.2009

Ismael SillaO dia 20 de Janeiro entra, definitivamente, para a história da humanidade. Esta data já era significativamente importante para nós os africanos, nomeadamente os Guineenses e os Cabo-verdianos, uma vez que assinala a data da morte de Amílcar Cabral, considerado o pai destas duas nacionalidades. Hoje, passados 36 anos do trágico acontecimento de 1973 em Conacri, junta-se um outro acontecimento, desta feita, de cariz mais universal: a tomada de posse de Barack Obama.

Precisamente no mesmo dia em que Cabral é assassinado, separado no espaço e no tempo, é certo, um negro chega pela primeira vez, à presidência da nação mais rica e poderosa do planeta. Estes dois acontecimentos, divergem apenas, no sentimento e na emoção, mas entre os seus protagonistas, isto é, entre Amílcar Cabral e Barack Obama, há grandes semelhanças. Se a morte de Cabral despertou raiva, revolta e sobretudo tristeza nas pessoas, já a tomada de posse de Obama representa a esperança e é sobretudo um acontecimento de grande alegria, euforia e de orgulho para os milhões de negros espalhados pelo mundo e não só.

Contudo, Cabral e Obama convergem em muitos pontos: ambos os líderes foram capazes de renovar as esperanças dum povo e dar-lhes novo alento e a certeza num amanhã melhor, graças às suas habilidades, visão e estratégia. À partida, tanto um como outro tinham uma tarefa espinhosa, senão mesmo, impossível pela frente.

Para Cabral, conseguir a libertação da Guiné-Bissau e Cabo Verde, dois países de recursos quase inexistentes, era uma utopia, ainda para mais, se levarmos em conta que foi pela via armada, embora não fosse essa a ideia inicial. Mas com a sua coragem e acima de tudo, capacidade intelectual, conseguiu chamar atenção para a causa e mobilizar apoios vindos dos países do bloco soviético (URSS, Cuba, China, Bulgária etc.), dos países socialistas (Suécia e Dinamarca), dos demais países africanos então independentes (Guiné-Conacri, Senegal, Marrocos, Tunísia, Argélia, Gana etc.) bem como das mais diversas Organizações Humanitárias e ONGs. E, com efeito, concebeu uma das mais bem elaboradas lutas de libertação de que há memória.

Ainda na mesma linha de grandes feitos, surge Barack Obama, um negro, ou se quiserem um afro- americano, filho de um queniano e de uma americana. Chegar à Casa Branca para este homem, a priori, julgava-se um tanto ao quanto impossível. Isto tendo em conta o passado não tão longínquo dos negros naquele país, privados das mais elementares liberdades e sujeitos a uma das maiores barbáries da história – a segregação. Factos esses que levaram à emergência de grandes líderes como Martin Luther king e Malcom X e o consequente assassinato dos dois antes de verem os sonhos tornados realidade.

Estes tristes acontecimentos, embora superados em grande parte, deixavam e continuam a deixar marcas e vestígios na sociedade norte americana e é neste contexto que a tarefa de Obama se afigurava improvável. Mas este, graças às suas habilidades, assentes na boa capacidade de persuasão, de conciliador e visão do futuro, conseguiu despertar o sonho e as esperanças adormecidas de milhões de pessoas, superou as barreiras raciais e fez o povo americano e do resto do mundo ouvir as suas mensagens.

 Martin Luther King afirmara no seu famoso discurso na marcha sobre Washington que tinha o sonho de um dia ver os seus quatro filhos pequenos viverem num país em que não fossem “julgados pela cor da sua pele” mas sim pelo “carácter do seu conteúdo”. Infelizmente o destino não quis que ele vivesse o suficiente para assistir o início da realização do sonho, mas coube a Obama dar seguimento e tornar realidade o sonho americano.

Coincidência ou não, o destino juntou estas duas grandes personalidades nesta data tão célebre. O líder africano dizia que a luta armada e a consequente independência das suas pátrias não era o essencial, argumentava que o “objectivo maior” era o que fazer depois da independência. Tinha a noção clara não só do caminho a percorrer assim como do destino final da sua acção. Da mesma forma que Barack Obama também afirmou que chegar à presidência não era a meta mas sim a “oportunidade para proceder a mudança” que todos almejam. Ambos sonharam e deram tudo de si para que a “vida do homem se torne melhor no mundo” e acalentaram e continuam a acalentar o sonho e a inspiração de muitos de nós.  

 

  * Licenciado em Comunicação Social (Jornalismo) pela Universidade do Minho - Braga

 

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